Análise Arkade: Yomawari – Night Alone é terror japonês de primeira para PC e PS Vita
Prepare-se para se tornar uma garotinha indefesa, sozinha em uma cidade mal-assombrada sinistra! Yomawari: Night Alone é um jogo de terror diferente, imersivo e horripilante! Confira nossa análise!
Uma noite de terror
Yomawari: Night Alone começa com uma garotinha passeando com seu cachorro. Já nos primeiros minutos do jogo algo bizarro assusta o cão, que foge. A garotinha volta para casa triste carregando só a coleira de seu amigo. Ela conta o que houve para sua irmã mais velha, que decide sair e procurar o cãozinho.
Várias horas se passam e nenhum dos dois volta para casa. Preocupada, a garotinha decide sair sozinha na busca pelos dois. Ela de fato consegue encontrar a irmã em um terreno baldio, mas algo está errado ali. A irmã pede para a garotinha fechar os olhos, e, depois de alguns sons sinistros (e tela escura), só o que sobrou da garota mais velha é a lanterna.
Resignada, a garotinha junta a lanterna e decide continuar sua busca sozinha, no meio da noite. O problema é que a cidade se tornou um verdadeiro pesadelo, com fantasmas, monstros e assombrações por todos os lados. Sobreviver a esta noite será um desafio que envolve fôlego e muita coragem.
Yomawari: Night Alone não tem realmente uma história. O que ele te dá é mais uma premissa, uma motivação. Não há um roteiro super elaborado, nem longas cutscenes ou diálogos explicativos. O que você precisa é de uma razão para explorar, e a razão é simplesmente esta: encontrar seu cachorro e sua irmã.
Cidade de pesadelo
Ao contrário da grande maioria dos jogos de terror atuais, que adotam perspectivas em primeira ou terceira pessoa, Yomawari se apresenta em uma perspectiva isométrica, algo pouco comum no gênero. E o visual dele — da protagonista, pelo menos — é super fofinho, o que pode passar uma falsa impressão de que este é um jogo “bonitinho”.
Não se engane: a atmosfera de terror deste jogo é extremamente forte, imersiva e perturbadora. Ele é o tempo todo escuro, e a total ausência de música potencializa os efeitos sonoros que realmente importam: o som dos seus passos, o cricrilar dos grilos, o sopro do vento… e as batidas do seu coração. Contrastando com o visual “bonitinho”, os efeitos sonoros são realistas e horripilantes. Aliás, é altamente recomendável que você use um bom par de fones de ouvido para mergulhar no pesadelo sensorial que o game entrega.
O fato deste ser um jogo tipicamente japonês também contribui com este clima sinistro, afinal, a gente sabe que quando os japoneses querem, eles sabem criar coisas bem horripilantes, não é? As assombrações em si são bem diferentes umas das outras, de sombras humanoides à criaturas abstratas, passando por enormes darumas e cabeças de gato gigantes (?!), o terror aqui é deveras bizarro.
Alguns exemplos das criaturas sinistras que te esperam no game:
O gameplay é surpreendentemente simples, e se limita a caminhar, mirar o facho da lanterna, correr (consome a barra de stamina), coletar itens/interagir com elementos do cenário e se esconder. Sem firulas ou rodeios, Yomawari é um jogo mecanicamente simples, que se aproveita de sua atmosfera para ditar o clima e envolver o jogador.
Sendo bem honesto, a atmosfera de Yomawari me lembrou muito um mix do primeiro Silent Hill com o sempre tenebroso Amnesia: você explora uma cidade sombria, deserta e cheia de monstros e assombrações (como em Silent Hill), e está o tempo todo indefeso (como em Amnesia). Só o que você pode fazer neste jogo é fugir e se esconder. Se qualquer criatura do mal encostar em você, é morte certa.
Seguindo seu coração
Lembra que eu falei dos fones de ouvido ali em cima? Pois é, o som de Yomawari é perturbador, mas ele também é um grande aliado. Considerando que a escuridão te torna refém do (curto) alcance do facho da lanterna, você acaba percebendo que em muitos casos é mais fácil confiar nos seus ouvidos do que nos seus olhos.
O coração da protagonista também ajuda um bocado: os batimentos cardíacos da garotinha são sua principal “pista” de que está se aproximando de alguma criatura maligna. Eles vão ficando mais altos e aceleradas conforme ela “sente” o perigo, e podem te ajudar a evitar certos caminhos… ou pelo tomar coragem antes de seguir em frente.
Caso você se aproxime muito de algum bicho, ele vai te perseguir implacavelmente. Porém, a barra de stamina da menininha desce MUITO rápido quando ela está assustada, de modo que você só vai efetivamente conseguir fugir das criaturas mais lentas. Uma coisa que você pode fazer é atirar pedras ou chutar latas, criando sons que podem distrair os monstros. Se nem isso funcionar e você acabar sendo visto, também é possível se esconder, e aí seu coração também te ajuda.
Quando você se esconde — geralmente em uma moita — a garotinha fecha os olhos, de modo que a tela fica toda preta, mas as batidas do coração dela funcionam como uma espécie de “sonar”, lhe dando uma direção aproximada de onde está a criatura que estava te perseguindo está, representado como uma névoa vermelha (imagem acima). Na pior das hipóteses, isso te ajuda a sair em disparada para o lado oposto.
Um jogo que não te pega pela mão
Uma coisa que muita gente reclama é como os jogos hoje em dia estão fáceis demais. Há tutoriais demais, dicas para todos os lados, saves automáticos e outros elementos “facilitadores”. Yomawari não tem nada disso. Ele te ensina o básico nos primeiros minutos de jogo e já em seguida te larga sozinho no meio da cidade para se virar.
Isso é bom, mas também acaba deixando o jogo um pouco complicado. Ele não tem necessariamente puzzles, mas você invariavelmente vai encontrar lugares pelos quais não pode passar, portas trancadas que precisam de chaves, itens que você não sabe como (ou onde) usar, bilhetes enigmáticos, celulares com mensagens sombrias e muito mais.
No decorrer do game você vai encontrar diversas tranqueiras aleatórias, e vai levar um tempinho até você descobrir o que fazer com cada uma delas: são bonecas, cartas, ossos, sapatos, panfletos, bolas… descobrir para que eles servem (ou não servem) é um verdadeiro exercício de determinação.
Vi em em um review gringo um cara dizendo que mal levou 3 horas para zerar o game. Na boa, não acredito nisso. Eu demorei 3 horas só para descobrir como entrar na escola, e isso mal corresponde a 1/3 do jogo! Como o game já está disponível no Japão desde o ano passado, com certeza já existem detonados e walkthroughs aos montes por aí, mas quem decidir ir na cara e na coragem (como eu) certamente vai gastar um bom tempo perambulando a esmo pela cidade e coletando itens sem saber o que fazer fazer com eles.
Algo que também torna sua vida um pouco mais difícil é a distribuição de save points. Existem estátuas espalhadas pela cidade que servem como quick saves (desde que você doe uma moeda): se morrer, você volta da estátua. Mas o save “de verdade” mesmo você só faz na casa da garotinha, dentro do quarto dela. Se por ventura você parar de jogar, ficar sem bateria no Vita, fechar o jogo ou qualquer coisa assim, o último save que vale é o feito na casa, não os quick saves das estátuas. Tenha isso em mente antes de parar de jogar, senão pode acabar perdendo várias horas de progresso (e muitos itens do inventário).
Conclusão
Yomawari: Night Alone é um jogo de terror diferente do tradicional, mas nem por isso menos assustador. Seu visual contrasta muito com sua temática, e ainda que seja mecanicamente simples, ele é complicado e desafiador justamente por não te entregar tudo mastigadinho. Você precisa ser curioso e perseverante para prosseguir. Só não seja curioso demais, pois a escuridão esconde coisas sinistras neste jogo!
Não lembro de outros jogos recentes de terror para o Vita, mas ouso dizer que o que temos aqui é um dos melhores títulos do gênero que já pintaram na telinha do portátil da Sony. Infelizmente, acho pouco provável que ele tenha o reconhecimento que merece no ocidente (talvez a versão PC atraia mais gente), mas acho louvável o esforço da NIS America em trazer o jogo para estas bandas.
Se você está lendo isso, não se deixe enganar pelas aparências: Yomawari: Night Alone é um daqueles jogos pra se jogar de luz acesa. É aquele tipo de jogo que te deixa tenso, que te assusta, te desafia e respeita a sua inteligência. Seja no PC ou no Vita, se você tem a mente aberta para curtir um terror diferenciado, sem dúvida não vai se arrepender.
Yomawari: Night Alone será lançado amanhã (25/10) para PS Vita e PC. O jogo conta com menus e legendas em inglês.