Análise Arkade – a triste decepção de Aliens: Colonial Marines (PC, PS3, X360, Wii U)
A história nos mostra que jogos baseados em uma licença oriunda do mundo cinematográfico normalmente têm mais chances de falhar do que de dar certo. Aliens: Colonial Marines foi o mais recente grande jogo a encarar neste desafio, e agora você pode conferir a análise completa da Arkade do game!
A franquia Aliens é uma das mais amadas pelos fãs de ficção cientifica e terror, sendo tão icônica que é possível notar inspirações em qualquer outra forma de entretenimento: filmes, seriados, animações e até outros jogos se apropriam do clima claustrofóbico da famosa cinessérie.
Tudo começou com Alien: O Oitavo Passageiro, lançado em 1979 e dirigido pelo famoso Ridley Scott. A continuação foi anunciada logo depois graças ao imenso sucesso que o primeiro filme conseguiu: Aliens: O Resgate chegou em 1986, dirigido por James Cameron,e se tornou um novo sucesso, se afastando um pouco do terror para favorecer a ação e a interação da protagonista Ripley e o grupo de soldados que iam para o planeta LV-426 e investigar a repentina perda de comunicação da colônia que vivia lá.
De lá para cá outros dois filmes foram lançados, mas isso não vem ao caso. Agora vamos para o ano de 2006, quando a Sega, em associação com a 20th Century Fox, anunciou Aliens: Colonial Marines, jogo que seria desenvolvido pela Gearbox Software e que iria – pela primeira vez – continuar a história original a partir do final do icônico segundo filme.
O esforço de se trazer um filme para videogames já era difícil e desta vez o desafio era ainda maior, visto que estamos falando de uma grande franquia, com milhões de fãs ardorosos em todo o mundo. Felizmente (para a Sega e para a Gearbox), boa parte destes fãs ainda tinham esperança que o jogo poderia dar certo, ou pelo menos funcionar sem arruinar a intrincada cronologia da série Aliens.
Seis anos se passaram e Aliens: Colonial Marines finalmente chegou, depois de ter sido adiado inúmeras vezes pela Gearbox. Infelizmente, a decisão de lançar Aliens: Colonial Marines foi uma das piores que a empresa já tomou, e estamos incluindo nesta conta o igualmente enrolado lançamento de Duke Nukem Forever!
Verdade seja dita, Aliens: Colonial Marines parte de uma ótima premissa: o game coloca o jogador no controle de Christopher Winters, um colonial marine que faz parte da equipe de reconhecimento para resgatar três supostos sobreviventes da espaçonave U.S.S. Sulaco. Estes sobreviventes são ninguém menos que Ellen Ripley, Dwayne Hicks e Rebbeca Jorden (mais conhecida como Newt), personagens que qualquer fã de Aliens que se preza conhece bem.
Durante a procura, uma infestação imensa de xenomorphs (este é o “nome científico” dos Aliens, para quem não sabe) surge para atacar a equipe de Winters. No meio da confusão, eles descobrem que a corporação Weyland-Yutani está por trás do incidente com a U.S.S. Sulaco e, para manter segredo sobre suas questionáveis ações, a empresa decide enviar mercenários para acabar com o restante da equipe de Winters, selando seus segredos para sempre.
Com este clima de tensão todo, a primeira missão do jogo é extremamente tensa e captura perfeitamente a essência de como um jogo baseado em Aliens deve ser: existe aquele mistério claustrofóbico na nave, e a aparição do primeiro xenomorph demora para aparecer, mas é sugerida com diversos detalhes, o que já deixa a adrenalina do jogador lá em cima.
Infelizmente, esta sensação de mistério inicial termina rapidamente, e logo o jogo entrega vários xenomorphs “de bandeja” para que Winters e seu parceiro O’Neal pratiquem tiro-ao-alvo em suas carcaças reluzentes.
Ok, o clima de tensão se foi, mas os alienígenas oferecem algum desafio pelo menos? Não muito. A experiência piora muito por conta da péssima inteligência artificial dos xenomorphs. Os inimigos são tão previsíveis e inteligentes quanto uma porta, utilizando os mesmos padrões de ataque de novo e de novo.
Seu esquadrão também é bem tapado: os soldados aliados se enroscam em paredes e objetos do cenário, começam a andar somente se você estiver na frente e – em um notável momento de desnível de forças – atiram incessantemente nos xenomorphs mas não matam nenhum, colocando você para fazer o trabalho todo. Para quem uma equipe, se fazemos todo o trabalho sozinhos?
Se os soldados não matam os inimigos, eles também não dão bola para seu esquadrão: por algum motivo, os xenomorphs atacam exclusivamente o protagonista! Muitas vezes eles até parecem que vão atacar um aliado, porém mudam de alvo repentinamente e resolvem te atacar, o que seria tenso, se não fosse extremamente previsível após a primeira meia hora de jogo.
Por tudo isso, o combate vai do frustrante ao tedioso várias vezes, e a exploração não melhora a situação: um aliado pode ficar enroscado na porta que você precisa passar, travando seu progresso. Já os xenomorphs continuam aparecendo aos montes, mas sempre de formas estúpidas e sem nenhum instinto de sobrevivência: os predadores ágeis e inteligentes dos filmes se tornaram um bando descontrolado, que se atira na frente da câmera apenas para explodir em ácido verde sob seus tiros.
Temos ainda a adição dos mercenários da Weyland-Yutani que estão lá para “limpar o lugar”. O que em tese torna o jogo mais desafiador, na prática faz parecer que estamos jogando um FPS genérico no lugar de um jogo baseado em Aliens.
As primeiras três missões dão a impressão que o jogo é diversificado, colocando somente xenomorphs em uma fase, soldados em outra e depois mesclando ambos para deixar tudo bem caótico. Porém, a partir daí Aliens: Colonial Marines entra em um círculo vicioso e sem criatividade, colocando os mesmos soldados e xenomorphs em novos cenários, enquanto você os fuzila e luta para ir adiante na confusa história.
O lado relativamente bom do gameplay é que nada é tão tosco a ponto de tornar Aliens: Colonial Marines impossível de jogar. É como diz o ditado, “se não está quebrado, não conserte”: sua mecânica segue à risca a cartilha de praticamente todos os outros FPS atuais. É basicamente correr, mirar e atirar o tempo todo, sem nada de novo, mas pelo menos estas ações básicas funcionam bem.
Com a intenção de nos salvar um pouco de sua inteligência (ou seria burrice?) artificial, a Gearbox decidiu implementar um modo cooperativo de até quatro jogadores na campanha principal.
Isto sem dúvida torna o jogo menos frustrante na maioria das vezes, porém os cenários não foram pensados para a ação cooperativa: não temos grandes áreas ou múltiplos caminhos, apenas corredores apertados que acabam se tornam claustrofóbicos de uma maneira negativa – não para criar um clima de terror, mas pela falta de espaço, mesmo.
Aliens: Colonial Marines também conta com uma vasta lista de opções para quem quiser personalizar seu arsenal: miras, munições especiais, pinturas diferenciadas para as armas e até novas formas de atirar podem ser adquiridas, o que vai agradar os fãs de uma boa customização.
Este sistema de compras é baseado em níveis: toda vez que o jogador completa um desafio pré-definido, ganha pontos para aumentar seu ranking, e cada ranking oferece novas opções de melhoria ou personalização de suas armas.
A customização é divertida e ajuda a deixar o jogo mais divertido, pois é recompensador melhorar aquela sua escopeta preferida para ver o estrago que ela é capaz de fazer na carcaça dos xenomorphs. Isso fica ainda melhor se considerarmos que seu nível é compartilhado tanto no multiplayer quanto no singleplayer e na campanha cooperativa, o que permite que você leve seu arsenal para qualquer tipo de jogo, uma ótima adição que mais jogos do gênero deveriam adotar.
Um dos elementos que podem salvar o jogo para alguns fãs é o modo multiplayer: a Gearbox conseguiu adaptar com maestria a mecânica de jogo de um xenomorph para o multiplayer, pois controlá-los é muito bacana e divertido. Para melhorar, tanto aliens quanto soldados contam com suas próprias listas de customização e habilidades desbloqueáveis.
Porém, sejamos realistas: o grande motivo do multiplayer funcionar é justamente a falta de personagens e inimigos controlados pela péssima IA do jogo: controlados por outros jogadores, todos se tornam imprevisíveis, e os mais habilidosos realmente conseguirão se tornar os predadores ágeis e perspicazes que os aliens do cinema são.
Sem dúvida é nas partidas multiplayer que o jogo faz valer nosso investimento, visto que, além dos já mencionados problemas de inteligência artificial, a alardeada trama que se passa logo após o segundo filme é extremamente simplória, não conseguindo ser melhor do que fanfics e obras de fãs espalhadas pela internet.
É uma grande decepção a forma que a história é contada. Um dos motivos que o filme Alien é tão importante para a indústria cinematográfica é pelo jeito que os soldados são retratados: nos filmes, os humanos sempre parecem arrogantes e indestrutíveis antes de conhecer seu inimigo, mas logo que a ameaça mostra suas capacidades, os humanos se borram de medo e o que era uma aventura se torna uma luta desesperada pela sobrevivência.
Aliens: Colonial Marines faz exatamente o contrário: o game glorifica a ideia de matar todos os xenomorphs possíveis, com um estoque aparentemente ilimitado de munição. Mesmo em óbvio menor número, os soldados continuam marchando, metendo bala em todo mundo, sem se preocupar com suas vidas. O “clima” da cinessérie some por completo nesta matança desenfreada.
O jogo também não se importa em fazer o jogador gostar dos personagens: a maioria deles não gera qualquer empatia, e s só está lá para morrer brutalmente. Os poucos soldados que parecem criados para gerar empatia com o jogador – como o O’Neal, por exemplo – acabam se tornando mais chatos e irritantes do que amigáveis.
É realmente uma pena que este jogo tenha sido tratado como um novo capítulo oficial (em termos de história) para a franquia Aliens, visto que ele não possui nem de longe o mesmo brilho. A trama em si parece um gigantesco erro de continuidade à série, o que nos faz questionar como a 20th Century Fox autorizou uma história tão fraca quanto esta a integrar o cânone da série.
Na esperança de agradar os fãs da franquia, Aliens: Colonial Marines é repleto de easter eggs que fazem referência aos filmes: em toda missão é possível pegar uma “arma lendária” que já foi vista em algum filme. Por exemplo, a escopeta que Hicks empunhou, a S.M.A.R.T. Gun de Vasquez – com seu lenço e assinatura característicos – e até mesmo o famoso lança-chamas empunhado por Frost podem ser utilizados pelo jogador.
Todas estas armas são mais poderosas que as comuns e podem ser utilizadas durante o jogo inteiro, embora não seja possível customizá-las. Esta sem dúvida é uma adição muito bacana para os fãs, mas é triste ver que apenas isso – um punhado de armas – é o que realmente remete aos filmes. Aliens é muito mais do que isso!
Além destas armas, outros objetos e cenários dão aquele senso de nostalgia: uma das primeiras coisas que vemos ao adentrar a U.S.S. Sulaco é metade do corpo do android Bishop, que foi rasgado ao meio na batalha final de Aliens: O Resgate. Podemos encontrar ainda várias dog tags de personagens dos filmes, como Vasquez e Hudson.
Todo esse fan service sem dúvida consegue tirar um sorriso dos fãs mais ardorosos, mas se um jogo só consegue agradar por suas referências, é porque definitivamente há algo errado com ele. E aqui, infelizmente, há muita coisa errada.
Aliens: Colonial Marines é um jogo que irá agradar poucas pessoas. Mesmo que o público alvo seja grande (os fãs de Aliens), o jogo sequer conseguirá a simpatia deste pessoal, visto que não faz jus à mitologia da série, tornando-se uma dolorosa decepção para os fãs da cinessérie Alien e de seu rico universo.
Novamente, esperamos vários anos na esperança de termos um jogo divertido e quebramos a cara. Aliens: Colonial Marines é um jogo repleto de erros, com uma campanha sem graça, jogabilidade genérica, inteligência artificial nula e um clima frenético que não combina em nada com o medo e a tensão dos primeiros filmes.
Quem achava que Aliens: Colonial Marines iria revitalizar a franquia, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Como diria o soldado Hudson em Aliens: O Resgate, “game over man, game over”! No caso de Aliens: Colonial Marines, porém, o jogo bem que poderia ter acabado antes mesmo de começar.