Análise Arkade: Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remastered
Demorou. Demorou demais, mas finalmente a série Legacy of Kain está de volta! Pelo menos, com os dois primeiros games da saga Soul Reaver finalmente recebendo um bem-vindo tratamento e sendo disponibilizado para as plataformas atuais! Venha então conferir nossa análise completa de Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remastered!
“Raziel. You are worthy.”
A série Legacy of Kain nasceu no ano de 1996 com Blood Omen: Legacy of Kain. Esse game acompanhava o recém transformado vampiro Kain em uma jornada para restaurar os pilares de Nosgoth, nove imensos pilares que representam diversos elementos que formam a vida. Três anos depois, em 1999, sua sequência, Legacy of Kain: Soul Reaver foi lançada, dando continuidade aos eventos do primeiro game, agora nos apresentando a um novo protagonista: O vampiro transformado em espectro Raziel.
É impossível falar de Soul Reaver sem spoilar Blood Omen, dessa forma, já aviso de antemão que precisarei abordar o final do game original para prosseguirmos. Soul Reaver se passa mais de 1000 anos após o primeiro game, com Kain, após recursar-se a se sacrificar para restaurar os pilares, transformou-se no mais poderoso vampiro de todos, tornando-se praticamente o líder de Nosgoth, com seu trono formado nas ruínas dos Pilares.
Raziel, o primeiro de seu tenentes, humanos transformados em vampiros, é morto por Kain após ter superado seu mestre ao desenvolver asas e a habilidade de voar. Ele é executado sendo jogado no abismo, no fundo do lago dos mortos, com seu corpo sendo queimado enquanto ele afundava na água (uma das fraquezas dos vampiros). Porém, ele não foi completamente aniquilado, sendo ressuscitado por uma entidade incrivelmente poderosa, o Elder God, uma gigantesca massa de tentáculos e olhos que habita o fundo do lago.
Trazido de volta a vida, com seu corpo permanentemente desfigurado, Raziel agora é um novo tipo de vampiro, um que não se alimenta de sangue, mas das almas de seus inimigos mortos. E embarca em sua missão de vingança contra Kain por tê-lo condenado ao sofrimento eterno.
Uma história extremamente madura e complexa
Games com temáticas mais maduras já existem há muito tempo. Mas foi nos anos 90 que o mundo passou a consumir mais games com foco na história. Legacy of Kain: Soul Reaver é uma dessas séries, apresentando uma trama muito envolvente e complexa.
Inicialmente uma trama de vingança, quanto mais Raziel explora e confronta seus inimigos, ele aprende mais e mais não só sobre Kain, mas sobre todo o mundo de Nosgoth, de sua situação atual até eventos passados que, sem que ele saiba, influenciam sua vida (ou pós-vida). A série como um todo resgata elementos de Blood Omen, apresentando a cada game laços de história que são propositalmente deixados em aberto para serem reatados em suas sequências, montando uma história complexa mas coesa, e muito legal de se acompanhar.
Os dois games da coletânea, Soul Reaver 1 e 2 contam parte dessa história, mostrando Raziel voltando à vida e explorando o decrépito mundo de Nosgoth, eras após a sua morte, com seus irmãos transformados em monstros e seus descendentes perdendo os traços de humanidade que os vampiros originalmente possuíam, tornando-se feras grotescas e brutais.
E, após isso, levam Raziel de volta ao passado, para confrontar o passado de Nosgoth e diversas sequências de eventos que influenciaram tudo, por eras e eras depois, inclusive a própria existência de Raziel. E ambos os games contam sua história de forma bastante clara e coesa, com o próprio Raziel narrando a aventura, e com o mesmo perdendo a paciência e exigindo respostas quando personagens são propositalmente evasivos.
Infelizmente, a história contada desde Blood Omen até hoje não foi concluída, com o último game da série, Legacy of Kain: Defiance sendo lançado em 2003, há mais de 20 anos, jamais recebendo uma sequência.
Assim, a coletânea Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remastered nos traz parte da história, com seu início e final incompleto deixados de lado. Talvez a ideia seja reviver a série de forma definitiva caso essa coletânea se torne um sucesso comercial. E honestamente? Eu espero muito que isso aconteça, pois essa é uma série que merece ser conhecida por todos!
Diversas melhorias, mas mantendo tudo dos originais
A coletânea traz principalmente melhorias visuais para seus dois games. Soul Reaver 1 e 2 receberam novos gráficos, incluindo adição de mais expressões faciais para os personagens e modelos novos, principalmente com Soul Reaver 1, com todos os monstros e chefões recebendo modelos novos e mais animados.
Kain e Raziel foram obviamente os personagens mais beneficiados por essas melhorias. Em Soul Reaver, Kain possuía um modelo simples sem animações de rosto, agora, ele tem um novo corpo com expressões faciais e movimentos labiais. E principalmente os chefões do primeiro game: Melchiah, Zephon, Rahab e Dumah, estão incríveis e muito mais grotescos do que antes!
Os cenários do game também receberam uma repaginada completa, deixando tudo muito mais bonito, mas sem perder sua essência de desolação e desespero, que permeiam cada canto do mundo de Nosgoth.
Soul Reaver 2 recebeu melhorias mais sutis. Os personagens receberam novos modelos, mas mantiveram suas animações originais. Os cenários receberam poucas modificações, com pouca diferença vista entre o original e a versão remasterizada, exceto em modelos 3D de maior complexidade, como estátuas e esculturas.
O mais legal de tudo é que você pode alternar entre o visual original e o remasterizado a qualquer momento com o apertar de um botão, com os gráficos mudando instantaneamente. Enquanto jogava, eu usei muito esse recurso para poder ver toda a evolução que a remasterização trouxe aos dois games, deixando a nostalgia me consumir enquanto jogava!
Um ponto que infelizmente não recebeu melhorias, ou talvez seja um problema exclusivo da versão de console da coletânea, é o gameplay. O gameplay manteve-se o mesmo dos clássicos, apesar de adicionar controles de câmera melhorados, o que é algo imensamente bem vindo. Porém, jogando tanto Soul Reaver quanto Soul Reaver 2 sofri bastante com inputs não registrados. Especialmente em combinações de botões, como correr e pular, usar a habilidade de planar e agachar e pular alto. Esse é um problema constante, em que você não consegue fazer certas ações numa velocidade muito rápida, pois o segundo botão que você apertar não será registrado. Essa é minha maior reclamação dessa coletânea.
Por outro lado, ambos os games receberam uma bússola e acesso aos mapas, indicando para onde o jogador deve ir. Porém, não há nenhuma seta indicando para onde você deve ir. Em Soul Reaver, ao acessar o mapa, vemos um texto com a próxima missão que devemos cumprir, ajudando a ter um direcionamento mínimo. A bússola, pelo menos para mim, não teve utilidade, mas ela é uma ferramenta útil, se o jogador souber usá-la. Por exemplo, se em certo momento você precisar ir ao sul, pode usar a bússola para se guiar. Mas, qual caminho ao sul você deve tomar, aí é você que deve descobrir.
Uma tonelada de extras
Além dos dois games, Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remaster possui muitos conteúdos extras, muitos mesmos! Em um menu dedicado a apresentar tudo, temos resumos em texto dos dois games, incluindo de Blood Omen: Legacy of Kain. Temos também vídeos de bastidores de sua produção, com seus dubladores gravando as vozes dos personagens e muito mais.
Há diversos vídeos, trilha sonora, textos e, o mais legal de tudo, fases cortadas dos games originais, que podemos jogar e explorar livremente! Uma adição muito legal é a batalha contra Turel, um dos irmãos de Raziel, que originalmente deveria acontecer no primeiro Soul Reaver, mas foi cortada e inseria em Soul Reaver 2. Podemos não só explorar o mapa em que Turel seria encontrado, sua arena de batalha, como também o próprio vampiro em seu visual original!
A quantidade de extras presentes no game parece até com conteúdos lançados em versões Deluxe de games de antigamente, que vinham com CDs de extras dentro de edições de colecionadores. Uma coisa que essa coletânea mostra muito é um verdadeiro respeito e amor por essa série que infelizmente ficou jogada no esquecimento por mais de 20 anos e finalmente está retornando!
Ei Crystal Dynamics, que tal um novo game da série? E um remake?
A série Legacy of Kain finalmente retornou após décadas. Apesar de seus games sempre terem estado disponíveis para compra (algo infelizmente raro com outros clássicos cujos estúdios parecem não ligar para preservação), a série estava realmente caída em esquecimento.
No passado até tentaram criar um reboot para a série e um Moba ambientado em Nosgoth. Felizmente nenhuma dessas ideias vingou, pois honestamente, destoavam completamente da saga de Kain e Raziel. Mas felizmente, essa coletânea é um verdadeiro presente para os fãs da série. Mas, ela deixa pontas soltas, assim como Legacy of Kain: Defiance.
Existem diversas razões para o lançamento de remasterizações: Seja o simples fato de preservar clássicos ou, mais comumente, usar essas remasterizações como uma “pesquisa de mercado” para avaliar o interesse do público em certas obras, possivelmente usando seus resultados de vendas para planejar novas criações para o futuro.
Se esse for o caso, deixo aqui meu principal desejo: A continuação de sua história até sua conclusão, que há 20 anos muitos jogadores esperam. E, quem sabe, alguns remakes viriam muito bem! Talvez não de Soul Reave, já que recebemos essas novas remasterizações, mas talvez de Blood Omen: Legacy of Kain. Quem sabe? A única certeza que tenho é que a série Legacy of Kain não é cultuada a toa, e o mundo de Nosgoth ainda possui muitos lugares e histórias a serem exploradas!
Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remastered foi lançado no dia 10 de dezembro com versões para PC, Playstation 4 e 5, Xbox One e Series X/S, e Nintendo Switch.
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