Cine Arkade Review – Corações de Ferro
O cineasta que escreveu Um Dia de Treinamento e dirigiu Os Reis da Rua retorna ao cinema com um épico filme sobre a Segunda Guerra Mundial, estrelado por Brad Pitt, Logan Lerman e Shia LeBouf. Confira agora a nossa resenha de Corações de Ferro!
Corações de Ferro é mais um filme de guerra retratando os últimos momentos da Segunda Guerra Mundial com o avanço dos aliados em cima da Alemanha nazista em 1945. Mas assim como todo bom filme, a mensagem por trás de Corações de Ferro é muito mais valiosa e significativa para o espectador.
O filme, dirigido e escrito por David Ayer, nos dá um certo otimismo e um pouco de ceticismo sobre o quão bom ele pode ser. Ayer é mais conhecido pelo seu trabalho no roteiro de Dia de Treinamento, além de dirigir filmes como Marcados para Morrer, Os Reis da Rua e o mais recente Sabotage, que foi considerado um fracasso comercial e crítico. E como você pode ver, o diretor tem um certo padrão em seu trabalho pelos filmes realistas sobre policiais, crimes e guerra em geral.
Corações de Ferro conta a história do sargento de um regimento armado de divisão blindada chamado Don “Wardaddy” Collier (Brad Pitt), comandante de um tanque M4 Sherman intitulado Fury, e acompanhado de sua equipe formada pelo atirador do canhão Boyd “Bible” Swan (Shia LeBouf), o carregador e mecânico Grady “Coon-Ass” Travis (John Bernthal), e o piloto Trini “Gordo” Garcia (Michael Peña).
O filme é centralizado nos tripulantes e de um novato que aparece um pouco depois. Este novato se chama Norman Ellison (Logan Lerman) e é mais um cara normal recém chegado à guerra e que foi mandado para tomar o lugar do quinto companheiro do tanque Fury, morto na ultima missão. Assim, Corações de Ferro trilha o caminho de Norman e a evolução de “ser um cara que tem medo de atirar em um nazista mesmo com ele tentando matá-lo” até um verdadeiro soldado que segue a triste mas verdadeira mentalidade de “matar ou ser morto” da guerra.
Corações de Ferro consegue construir um contraste entre Norman e Don, com o sargento veterano que esta vivenciando a guerra ao lado de seus companheiros desde as primeiras investidas no norte da África em 1942, até o caminho final rumo a Berlim, em 1945. E mesmo assim, existem momentos em que Don está visivelmente com medo, tendo reações similares a ataques de pânico simplesmente pelo sargento ter chegado ao ponto crítico de sua psique; Enquanto isso temos o inicio de tudo, da inocência e o medo que Norman têm ao enfrentar a guerra de frente.
É claro que mesmo sendo uma equipe, o filme foca mais nos personagens de Brad Pitt e Logan Lerman para apresentar este conflito pessoal de ambos os personagens, sem falar que os dois têm uma química maior e criam um elo mais poderoso do que com os outros soldados do tanque. Mas isto não quer dizer que o restante da equipe foi deixada de lado, com atuações surpreendentes, particularmente de Shia LeBouf e seu personagem, Bible.
A conexão entre o sargento e o novato é intensa e existem vários momentos que foram feitos para construir ambos os personagens, no entanto os outros três soldados ganham uma quantidade menor de tempo para este mesmo desenvolvimento, mas vejo que somente Shia LeBouf que conseguiu realmente usar todo o tempo possível para levar o seu personagem ao mesmo patamar que os protagonistas, ainda que utilizando a metade do tempo disponível em cena.
John Berntal e Michael Peña, que interpretam Coon-Ass e Gordo respectivamente, fazem um bom trabalho para capturar a emoção de seus personagens, o grande problema nos dois é que eles são vazios por dentro, faltando ambição e motivação para mostrar como o passado afetou ambos, assim dando uma única emoção para atuar.
Enquanto isso, temos Shia LeBouf interpretando Bible, o religioso atirador do canhão de Fury. Tendo uma interpretação impressionante pelo quão complexo seu personagem é, afinal um homem religioso que preza pelo bem das pessoas não estaria sorrindo no momento que um nazista morre graças ao seu tiro de canhão. Esta dualidade é bem interessante e dá uma dimensão a mais para Bible, algo que dá para ver que Shia LeBouf trabalhou arduamente para demonstrar em suas ações durante o filme.
Assim como os personagens, o cineasta fez questão de capturar cenas surpreendentes para retratar os últimos momentos da guerra. O único problema que encontro é que o tema já foi desenvolvido inúmeras vezes em todas as formas de mídia, então fica um pouco mais complicado de enviar uma mensagem que todos nós já sabemos qual é, mas Ayer consegue criar um filme visualmente impressionante mesmo com esta penalidade de não existir algo muito novo para se aprofundar.
O que me leva para um segundo ponto, que é o quão grotescas e pesadas são as cenas de combate. Com um fator visceral que somente filmes de guerra conseguem fazer, Ayer não perde tempo para mostrar tripas, cabeças explodindo, e corpos pegando fogo ou sendo metralhados sem dó nem piedade. Mas a parte sangrenta não chega a ser feita de mal gosto, sendo manuseada de uma forma que horrorize o espectador para enviar uma mensagem necessária e desenvolver o filme como um todo.
Corações de Ferro é um filme que mostra a camaradagem, a honra e o que acontece com um pessoa quando ela vê os horrores da guerra em primeira mão, com o senso de moral perdendo o seu valor a cada pessoa morta vista pelo caminho. David Ayer faz um trabalho estupendo neste quesito e também nas cenas de ação, que são explosivas e extremamente viscerais.
É interessante ver como a Segunda Guerra Mundial ainda tem muito conteúdo para ser atacado em filmes, séries e jogos. E Corações de Ferro é um ótimo exemplo de que a ambientação desta guerra continua forte e pesada, graças ao ótimo trabalho do diretor e do estupendo trabalho de Brad Pitt, Logan Lerman e Shia LeBouf.
Corações de Ferro estreou em todo Brasil no dia 5 de Janeiro.