Análise Arkade – A obra-prima da RGG Studio se chama Like a Dragon: Infinite Wealth

23 de janeiro de 2024
Análise Arkade - A obra-prima da RGG Studio se chama Like a Dragon: Infinite Wealth

Quando Yu Suzuki dizia que queria contar a história de Shenmue, com mais de dez capítulos, confesso que achei estranho na época. Histórias de filmes ou jogos, quando são bem amarradas, contam com três ou quatro jogos, a menos que o criador resolva esticar a linha do tempo, caso de Metal Gear Solid. Porém, com jogos, nunca imaginei que isso poderia dar certo, por faltar assunto. Mas aí veio Yakuza e provou que Suzuki estava certo.

Desde o primeiro jogo da série, o clássico de PS2, até o Infinite Wealth que iremos falar hoje, são 23 jogos em 19 anos, entre jogos principais, spin-offs e remakes. Todos usando uma estratégia que deu muito certo: atualize a engine, mantenha todos os locais de sempre, trazendo um upgrade aqui e ali, e foque na história. Assim temos uma série fácil de se fazer, tecnicamente falando, como se fosse um seriado de TV, com muitos capítulos e uma evolução interessante.

Mas mesmo em águas confortáveis, a série apostou e se deu bem com Yakuza: Like a Dragon, que pegou tudo o que a série já tinha de excelente e colocou dentro de um RPG bem interessante, que ainda conseguiu abraçar de vez o bizarro através dos olhos de Ichiban Kasuga, um protagonista que se provou carismático e conquistou os fãs da série, sempre acostumados com personagens de cara fechada e expressão de caras bravos.

Pois bem, com o sucesso deste RPG a Ryu Ga Gotoku Studio resolveu evoluir tudo o que tinha direito em um game, e trouxe para todo fã da franquia Yakuza/Like a Dragon: Infinite Wealth, um game que cumpre várias funções: faz um elo entre passado e futuro da série, traz uma infinidade de atividades para o jogador, sai mais uma vez da zona de conforto ao trocar as ruas japonesas pelas praias havaianas e oferece uma jornada que, ao mesmo tempo que mantém as Yakuzices de sempre, se expande dentro de um game como nunca visto antes.

Aloha!

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Digamos que este é o especial de Acapulco, mas da série Yakuza/Like a Dragon

Começando pelo Havaí. Já começo te dizendo que se você acha, pelas propagandas, que o jogo se passa apenas em beira de mar havaiano, pode ir tirando isso da cabeça. O jogo vai evoluindo e levando o protagonista nos mais variados lugares, o que inclui uma rica Honolulu com praias, shopping center, hotel, muitos restaurantes e até um resort, que falaremos melhor mais para a frente.

A ambientação do game é a mesma que você já viu em outros jogos, mas no Havaí a coisa evolui um pouco. Começando pelo mapa, que é um pouco maior do que o costume e vai fazer você usar mais as viagens rápidas. Eu raramente usava os táxis do jogo, mas aqui usei bastante o serviço. Além disso, patinetes elétricos (que precisam ser recarregados regularmente) também ajudam a se movimentar pelas ruas de forma mais rápida.

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Tem um “Crazy Taxi de Uber Eats” muito bom aqui

As missões secundárias, com pessoas aleatórias que oferecem histórias e tarefas continuam, se unindo ao clima turístico e praiano do local. E, junto com elas, uma tonelada de mini-games para aproveitar mesmo a sua estada no “paraíso”: você pode entregar comida no melhor estilo Crazy Taxi, pode fotografar tarados na rua para a polícia em um mini game que lembra muito jogos de tiro, pode testar seus conhecimentos sobre a SEGA na escola técnica ou ainda pode atuar como dublê, correndo feito louco na rua desviando de carros. E isso é só algumas das coisas que você pode fazer no jogo.

No geral, tudo o que você viu na aventura original de Kasuga continua por aqui, mas com muito mais intensidade e conteúdo. O Havaí fez bem para a turma da criação, que rendeu as mais diversas ideias, usando recursos de jogos que a própria SEGA fez no passado.

Mas e as lutas?

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Like a Dragon acertou muito bem na forma em que se apresentou como RPG e Infinite Wealth fez ainda melhor. Aqui nós mantemos o que veio no jogo original, como os golpes de fantasia, dentro da imaginação de Kasuga, com armas imaginárias e magias baseadas no contexto de cada personagem. Como você contará com vários personagens no seu time durante a jornada, você verá uma rica variedade de golpes e “magias” para se usar.

Para evoluir o combate, você pode fortalecer os vínculos com seus amigos. Além dos “veteranos” Adachi e Namba, o jogo também coloca o lendário Kiryu, o “homem sem nome” na ação, além de dois interessantes novos personagens: o taxista Tomizawa e a herdeira Chitose. Puxando conversa na rua, dando presente ou lutando juntos, os laços se fortalecem, puxando conversas no bar do game, onde você fica sabendo mais sobre a vida dos personagens, e fortalece laços na hora da briga.

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Infinite Wealth é um jogo que te recompensa em tudo o que você fizer, e isso vale também nas amizades. Fortalecer os vínculos é essencial para desbloquear mais possibilidades na luta, como golpes conjuntos, complementos de ataque ou especiais que podem ser feitos ao completar uma barra e que são feitos em dupla, entre Kasuga e outro membro da equipe.

No geral, o jogo está mais convidativo no seu RPG, sendo mais fácil de evoluir, com inimigos variados (com alguns que fugiram da Carreta Furacão, aliás) e a possibilidade de “upar” mais fácil visitando locais com inimigos com nível mais baixo e nem lutar com a opção “massacre” dando a vitória instantânea. Além disso, há inimigos em locais específicos do mapa, que exigirão mais de você para serem vencidos, mas que entregam bons pontos de evolução e alguns itens. E ainda há o “Labirinto”, local que pode te testar pra valer, em troca de muitos itens e evolução.

O bacana de Infinite Wealth é que parece que tudo no jogo se conecta, com uma simples missão secundária aumentando a roda de atributos de Kasuga, seja em seu intelecto ou carisma, e tudo o que você faz no jogo se reverte em melhorias na batalha, onde o jogo te entrega uma experiência mais fácil, se você aceitar o seu convite de explorar cada canto de seu jogo.

Uma pausa pro Stardew Dragon

Sim, você também pode jogar “Stardew Valley” neste game. Ou mais ou menos isso. Em certa parte do jogo, Kasuga conhece a Dondoko Island, e ele pode visitar ela sempre que quiser. A ilha é um resort abandonado e coberto de lixo em que nosso herói, assim como no jogo da fazendinha, pode transformar aquele lixão em céu aberto em um resort 5 estrelas, sendo praticamente um game dentro de outro.

Nele, Kasuga pode limpar o lixo na base do taco, pode construir itens, pode evoluir o espaço e lidar com invasores indesejados, nos mesmos moldes do game de fazenda. Aqui, os conceitos de gameplay mudam, com o ciclo de dia, os corações de energia que se recuperam com o descanso, com a possibilidade de capturar insetos ou peixes, além de coleta de recursos como madeira ou pedra.

Não duvido que teremos jogadores que irão esquecer por um tempo da história principal para tocar o resort primeiro, mas independente disso, a ilha é simpática e soma positivamente em um jogo que oferece, como o próprio nome diz, um “infinito” de conteúdo. Se você considera o conteúdo de um jogo pelo valor que paga nele, este aqui se paga, e muito bem, por oferecer vários jogos em um.

E a história?

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Dá pra conhecer mais seus companheiros no melhor lugar: na mesa do bar.

Bom, eu sempre digo que Yakuza é uma espécie de novela mexicana com mafiosos japoneses (e acredite, falo isso como um elogio), e por aqui as coisas não vão muito diferente disso não. Dentro do que é justo compartilhar com você, posso te dizer que você terá as boas e velhas viradas de mesa, intrigas, descobertas de submundo e algum dramalhão que quem já acompanha a saga conhece bem.

Escrever uma história para um jogo longo é difícil, mas aqui tudo foi, na medida do possível, bem distribuído. É normal que isso faça com que ela fique “desbalanceada”, com algumas situações sendo menos interessantes do que outras, mas como tudo te leva para o ponto central do enredo, vale a pena conferir tudo.

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Gostei muito como que, etapa por etapa, o jogo vai nos conduzindo mais profundamente para a sua história central, enquanto desenvolve o seu paralelo também. Tem muita, mas muita coisa acontecendo, e é realmente impressionante ver um jogo tão longo, com uma história bem amarrada, mesmo quando “foge” do tema principal.

Enredo é um dos pilares da franquia Yakuza/Like a Dragon e, de forma geral, aqui ela foi muito bem entregue. Seja com Kasuga e seu carisma, ou com Kiryu, que aqui vive o seu drama pessoal, sendo sequência direta do game do ano passado, temos sim uma boa história, um pouco mais tocante, por abordar, em seus muitos capítulos, os mais variados temas. E se você se permitir ir além da jornada principal e vasculhar mais o game, irá se surpreender por uma riqueza ainda maior em seu enredo.

Vale a pena conhecer o Havaí

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Eu não gosto muito de cravar que tal game “vale a pena” ou não, afinal minha tarefa aqui é apresentar o game para você e fazer você tomar a sua decisão, dentro do que vi no jogo e compartilhei neste review. Entretanto, como fã da franquia Yakuza/Like a Dragon, eu posso dizer, tranquilamente, que ele é obrigatório para todo aquele que gosta da série da RGG Studio.

Infinite Wealth, seja como RPG ou como “jogo Yakuza“, expande a série a níveis bem elevados, mantendo tudo como o jogador já conhece há anos, mas trazendo boas ideias e boas evoluções. Os momentos divertidos do enredo ou os “games dentro do game” te mantém engajado no jogo e ajudam naqueles momentos em que a história principal cansou temporariamente.

Os combates estão melhores do que nunca, pois foram corrigidos erros e coisas chatas, como aquela coisa de “tropeçar” em inimigo do jogo anterior, e com maior interação entre os membros do grupo. O game também é bem generoso com quem aceita seu convite para a total exploração, recompensado com uma jornada mais facilitada e agradável, mas ainda assim desafiante e divertida.

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Os “problemas” que o jogo tem pode ser mais sobre a não compreensão de quem “é de fora” do que pelo fã da série, pois sim, o jogo pode ser tedioso ás vezes, para quem não está acostumado com o jogo, ou para quem quer jogar apenas a campanha. Inclusive, não faça isso. É um desperdício você ter acesso a um game como este e jogar “apenas” uns 35% dele focado apenas na história principal. Prepare-se para mais de 50 horas de gameplay, isso se você não se apegar na ilha Dondoko e passar das 100 horas de jogatina.

Infinite Wealth traz o melhor da série, seja em combate RPG, história ou conteúdo, e merece ser jogado o máximo possível. A RGG Studio prometeu uma “obra prima” e cumpriu sua promessa, entregando não só um dos melhores jogos da série Yakuza/Like a Dragon, como um RPG muito competente, que merece ser experimentado até por quem gosta do gênero, mas nunca jogou um jogo desta série da SEGA.

E no fim, como falei no começo, Yu Suzuki estava certo. Reciclar o essencial, evoluir o que você tem de melhor e contar uma boa história pode render sim uma série longeva e especial. Shenmue não teve esta sorte, mas felizmente, Yakuza contou com esta honra.

Like a Dragon: Infinite Wealth chega no dia 26 de janeiro, para consoles PlayStation, consoles Xbox e PC.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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