Cinema: resenha do filme Sherlock Holmes 2 – O Jogo de Sombras
Um fato sobre Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras é: se você gostou do primeiro filme, com certeza vai gostar deste. Os disfarces bizarros, as deduções mirabolantes, o humor na medida certa, a ótima química entre os protagonistas, as cenas de ação estilosas, as pancadarias muito bem coreografadas… tudo isso está de volta, junto com um vilão muito mais interessante que o do primeiro filme, e uma direção mais com o estilo característico de Guy Ritchie.
Quem assistiu ao primeiro filme já sabia o que esperar desta sequência (se você não viu o primeiro filme, cuidado com os eventuais spoilers): Professor Moriarty – o maior vilão do universo de Holmes – seria o vilão da vez e Watson teria (novamente) que deixar sua vida conjugal de lado para ajudar o famoso detetive a deter o vilão. Aliás, pobre do Watson, que mal se casou e já se vê envolvido em outra aventura detetivesca ao lado de Holmes.
O principal atrativo do novo filme é seu antagonista: o professor Moriarty (vivido por Jared Harris) e sua relação com Sherlock são simplesmente incríveis. Por ser um acadêmico renomado, Moriarty não levanta grandes suspeitas, e a maneira brilhante com que limpa os rastros de seus crimes faz com que só mesmo o paranoico Holmes desconfie dele.
Desconfiança que é totalmente fundamentada, afinal, Moriarty é o idealizador de uma intrincada trama de crimes e assassinatos, todos ligados para formarem um grande plano maquiavélico. O interessante porém, é a relação entre os antagonistas: Holmes não possui provas contra Moriarty, então os encontros entre eles não são violentos, mas astutos, uma afiada troca de farpas (e elogios) que rende diálogos ótimos e um show de interpretação dos atores.
E não é só isso: se Holmes é um gênio dotado de brilhante capacidade de dedução, Moriarty é tão bom nisso quanto ele, o que o torna uma ameaça infinitamente maior do que o vilão Blackwood do filme anterior. Justamente por esses traços em comum, a animosidade dos dois é temperada com uma dose de “respeito” mútuo que enriquece a relação entre eles.
Mas a química maior ainda é a que existe entre Sherlock Holmes e Dr. Watson. O diretor (e os atores) sabem disso, entregando atuações ainda mais inspiradas e diálogos ainda mais divertidos. Toda a pirotecnia e os efeitos especiais são importantes em uma obra deste porte, mas a alma do filme é mesmo a ótima parceria de Holmes (Robert Downey Jr.) com Watson (Jude Law).
A inclusão de novos personagens tem dois lados: se o bizarro irmão mais velho de Holmes (Mycroft, interpretado por Stephen Fry) é muito bem-vinda, a cigana Sin (vivida por Noomi Rapace) cumpre o seu papel (que é importante até demais) na trama, mas não é uma personagem muito bem desenvolvida, ficando muito aquém da bandida Irene Adler (interpretada por Rachel McAdams).
As cenas de ação estão maiores e mais explosivas do que antes. Guy Ritchie continua usando efeitos de câmera lenta de maneira exemplar, com destaque para a cena de perseguição na floresta – lá para o final do filme – que é simplesmente incrível. A cena do trem também merece destaque, não só pelo fato de Holmes estar com seu melhor (ou seria pior?) disfarce, mas também pelas ótimas e criativas maneiras que o detetive arranja para derrubar seus inimigos.
Por se tratar de um filme de época, vale ressaltar também a qualidade do visual da obra. Desde os figurinos até os carros e barcos, tudo foi recriado com um capricho extremo, o que faz com que o filme se torne bem imersivo. A trilha sonora – novamente assinada por Hans Zimmer – também se destaca, com músicas marcantes e divertidas.
Algumas decisões do roteiro podem ser questionáveis, mas, como Holmes mesmo diz, alguns sacrifícios são necessários para que haja uma vitória. Moriarty não deixa pontas soltas em seus planos, e o roteiro tenta fazer o mesmo, deixando tudo bem amarradinho e dando aquela explicação acompanhada de flashbacks ao final para garantir que todos saiam da sala entendendo tudo ao final da projeção. O clímax é especialmente interessante por jogar quase toda a responsabilidade nas costas de Watson, que deve por em prática tudo o que Holmes lhe ensinou enquanto o detetive se ocupa de Moriarty.
Para dizer a verdade, o que menos me agradou ao final do filme foi a já famosa obrigatoriedade de uma sequência. Não ligo que haja um terceiro filme (desde que ele seja tão bom quanto os primeiros), mas a maneira como o filme entrega isso é um tanto forçada.
Se a projeção acabasse 5 minutos antes – e se os produtores fossem mais corajosos (e menos gananciosos) – teríamos um final realmente pesado, que poderia tanto encerrar a carreira deste novo Holmes e transformá-lo em um mártir que realmente vai até as últimas consequências para deter uma ameaça, quanto deixar uma brecha para uma possível sequência.
Do jeito que o filme acaba, com uma piadinha que escancara as portas de um terceiro filme, o sabor de um desfecho épico é perdido, mas isso não tira todos os outros méritos do filme, apenas prova (mais uma vez) que Hollywood pensa mais nos lucros do que na emoção.
Termino esta resenha afirmando a mesma coisa que disse no início: se você curtiu o primeiro filme, é certo que vai gostar de Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras.
http://youtu.be/tKQ90H6q54c
Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras estreia em todo o Brasil nesta sexta-feira, dia 13 de janeiro.