O retorno da tecnologia 3D
Depois de alguns anos em “hibernação”, a tecnologia 3D voltou à tona em 2009, principalmente nas salas de cinema. Visto como o principal trunfo do cinema contra a pirataria, as salas com tecnologia 3D se popularizaram. E isto não é só: televisores 3D estão previstos para chegar no mercado já em 2010 e até mesmo os videogames já estão se preparando para a tecnologia em três dimensões.
A história do 3D
As primeiras experiências com imagens em três dimensões aconteceram em 1840, com o inglês Sir Charles Wheatstone. Pouco tempo depois, em 1853, o alemão Wilhelm Rollmann inventou o primeiro método de captura de imagens anaglifas, que necessitam dos óculos anaglifos (aqueles com uma lente vermelha e outra azul) para criar o efeito 3D. Existem registros de que visualizadores de fotografias 3D não-anaglifas já existiam alguns anos depois, por volta das décadas de 1860 e 1870.
Fotografia não-anaglifa 3D de Nova Iorque
Ambas técnicas alcançaram fama por volta da década de 1950, quando virou moda utilizar imagens anáglifas em quadrinhos, pinturas e até mesmo filmes. No entanto, sua precária qualidade com o tempo acabou prejudicando a popularização do 3D. Durante os anos 1980, aconteceu outra tentativa de resgate do 3D, principalmente por meio de simples filmes e máquinas fotográficas. Entretanto, novamente a baixa qualidade dos equipamentos e da tecnologia sabotou o crescimento do 3D.
Contudo, nos anos 2000, com tecnologias e equipamentos muito mais avançados, a tecnologia 3D está tendo seu terceiro e, aparentemente, definitivo revival, graças aos cinemas, televisores e videogames em 3D.
Como funciona?
A tecnologia 3D na verdade é uma grande ilusão. Sim, não se trata de algo real e sim uma “peça” que é pregada na sua mente. A imagem em três dimensões é gerada por um efeito chamado estereoscopia. Parece complicado, mas não é: trata-se apenas da projeção de duas imagens da mesma cena, só que de pontos de vista ligeiramente diferentes. Seu cérebro automaticamente funde as duas imagens em apenas uma e, nesse processo, obtém informações quanto à profundidade, distância, posição e tamanho dos objetos, gerando uma ilusão de visão em 3D.
Para que isso seja possível, no entanto, a captação dessas imagens não é feita de uma forma qualquer. Lembre-se que o efeito 3D é composto por duas imagens projetadas em pontos distintos. Logo, na captação, devem ser filmadas duas imagens ao mesmo tempo (1). Essa correção de enquadramento é feita, em tempo real, por softwares específicos, que reduzem as oscilações na imagem, deixando a composição mais realista (2). Os óculos “filtram” a informação transmitida por cada uma das imagens, de modo a formar a ilusão de uma imagem tridimensional (3).
A câmera estereoscópica simula a visão humana: as lentes são postas a 6 centímetros de distância, pois essa é a distância média entre os olhos de uma pessoa. Ainda são calculados zoom, foco, abertura, enquadramento (que deve ser o mesmo pras duas lentes) e o ângulo relativo entre elas.
Cinema 3D
O cinema tem tudo para ser o grande beneficiado deste revival da tecnologia 3D. No Brasil, as salas de cinema chegaram a receber 250 milhões de espectadores anualmente na década de 70, mas, com a popularização e expansão da TV e, posteriormente, do home video nos anos 90, este número chegou a cair para 70 milhões. No início dos anos 2000, no entanto, a situação começou a se reverter, chegando a marca dos 100 milhões.
Com os filmes em 3D, a tendência é que este número aumente mais ainda, pois a pirataria e as televisões populares de hoje em dia não possibilitam este tipo de tecnologia. Se algum engraçadinho tentar filmar as imagens de uma sessão em 3D, ele conseguirá apenas borrões coloridos na tela, pois somente os óculos especiais conseguem criar o efeito.
No Brasil, a primeira sala que possuía a tecnologia foi inaugurada em São Paulo em 2006, juntamente com a estreia do filme “A Casa Monstro”. Hoje, já são mais de 100 salas com projetores 3D espalhadas por todo o país, além dos dois cinemas IMAX do país, um em São Paulo e outro em Curitiba.
Televisão 3D
O próximo passo na popularização da tecnologia 3D será as televisões. Na recente International Consumer Eletronics Show (CES), realizada entre 07 e 10 de janeiro, a Panasonic anunciou a primeira televisão Full HD com tecnologia 3D que fará com que imagens filmadas em 2D se tornem em três dimensões.
O aparelho também já trará os famosos óculos 3D, mas nada daqueles óculos com lentes azul e vermelhas. Os novos televisores trarão lentes de cristal líquido, que possuem sensores infravermelhos que permitem que os óculos se conectem sem fio com seu televisor ou display. Os óculos com lentes de cristal líquido são chamados óculos ativos, pois eles alternam os dois conjuntos de imagens que formam o 3D a velocidades incríveis, diminuindo a quantidade de informação que a TV tem que processar.
Games 3D
A terceira mídia responsável pelo “boom” do 3D neste novo século é o videogame, que aproveitam o impulso dado pelos televisores 3D. Em janeiro de 2009, a Nvidia, famosa por suas placas de vídeo para PCs, lançou o 3D Vision, um óculos 3D feito para games em 3D. O acessório é uma combinação de óculos sem fio de alta tecnologia com softwares avançados para transformar centenas de jogos em 3D estereoscópico. Também é possível assistir filmes e fotos digitais em 3D com qualidade enorme. No entanto, para poder usufruir do 3D Vision, o gamer precisa de uma placa de vídeo e um monitor compatíveis com gráficos 3D.
Agora, em 2010, a Sony já se pronunciou a respeito da tecnologia 3D e lançará duas atualizações de firmware para o PlayStation 3: a primeira capacitará o console a rodar todos os jogos já lançados e os futuros lançamentos com gráficos 3D, e a segunda possibilitará ao dono do PS3 ver filmes em Blu-Ray também com gráficos 3D.
Conclusão
Já é a terceira vez que a tecnologia 3D retorna para o nosso cotidiano e desta vez parece ser para valer. Pelo menos nos cinemas, já vemos uma grande quantidade de filmes feitos com o uso desta tecnologia: Up!, Avatar, Os Fantasmas de Scrooge, o recém lançado Alice no País das Maravilhas, entre outros. Os televisores e os videogames também não devem deixar por menos, com duas grandes empresas (Panasonic pras TVs, Sony pros games) já se mobilizando em prol da tecnologia 3D. Vai valer a pena? Não sabemos, mas 2010 promete esclarecer muitas de nossas dúvidas em relação ao retorno do 3D.
Este texto foi publicado originalmente na edição número 7 da Revista Arkade.
