Análise Arkade: Tokyo Dark, um envolvente thriller policial com elementos sobrenaturais

7 de setembro de 2017

Análise Arkade: Tokyo Dark, um envolvente thriller policial com elementos sobrenaturais

O selo Square Enix Collective (criado para dar suporte aos desenvolvedores independentes) vem apoiando jogos que estão tendo seu valor reconhecido, tais quais Black the Fall e Children of Zodiarcs que já analisamos aqui na ArkadeTokyo Dark é o mais novo produto proveniente dessa iniciativa que ao misturar elementos de muitos gêneros consegue entregar um produto final surpreendentemente acima da média, confira nossa análise!

A surpresa se faz presente porque apesar do estúdio Cherrymochi (fortemente inspirado por cultura pop japonesa, estética de anime e aventuras ocidentais) não criar nenhum conceito realmente novo, ele consegue unir organicamente elementos normalmente usados em outras produções de uma forma coesa e gradual. É um brinde à boa narrativa. O projeto foi financiado pelo Kickstarter e arrecadou quase seis vezes o valor da meta inicial gerando assim uma expectativa interessante sobre o produto. Mas afinal, do que se trata Tokyo Dark?

Uma complexa visual novel situada em Tóquio

Em Tokyo Dark, acompanhamos a detetive Ayami Itõ, que está em busca de seu parceiro, Kazuki Tanaka, desaparecido há alguns dias. O que inicialmente parecia uma busca padrão acaba escalonando e se tornando um  sinistro pesadelo, que a faz confrontar seu passado e questionar sua sanidade.

Essa é a sinopse oficial, mas creio que esse breve resumo necessite de um aprofundamento porque a história é muito mais complexa. É claro que os desenvolvedores não vão entregar os grandes momentos da narrativa na sinopse, mas o enredo me agradou de tal forma que acho válido dar leves spoilers da primeira hora do jogo para que você possa se sentir mais instigado, ok?

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“O que o seu distintivo está fazendo em um lugar assim?” – Itõ procurando por seu parceiro.

Caso essa descrição já seja o suficiente para você (é muito válido começar sabendo apenas a sinopse) sugiro que pule para o próximo tópico da análise, mas saiba que Tokyo Dark é muito mais que um game de investigação. Quem gosta de uma pitada de elementos sobrenaturais vai curtir muito! 😉

Tudo começa nessa jornada de Itõ em busca de Tanaka. O celular do detetive desaparecido começa a tocar em determinado local e assim o departamento de polícia pode rastreá-lo. Itõ, sendo informada da localização, se encaminha para lá e chega em um antro noturno de bares e locais para entretenimento adulto. Ela encontra o celular de Tanaka na lixeira e é instigada a ir até o esgoto do local.

Chegando lá, encontra seu parceiro de joelhos, com um saco na cabeça. Atrás dele, uma garota empunha uma faca e pressiona-a contra sua garganta. Há muita dualidade na cena, pois Itõ aparentemente conhece a garota de outrora, mas no momento tende a não se preocupar com isso e sim com a situação de seu parceiro. Depois de uma longa conversa e algumas escolhas a garota corta a garganta de Tanaka.

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Toda escolha tem uma consequência

Depois disso jogamos dentro de um flashback, seis meses antes, época em que Tanaka está seguindo o rastro de um assassino e Itõ o ajuda na caçada em determinado momento. Tanaka pede ajuda e quando Itõ chega ao local vê uma garota subjugando outra, ameaçando-a com uma faca em seu pescoço. Itõ, em um momento de descontrole, atira e mata a suspeita e aparentemente tudo fica bem apesar do ato impensado.

O louco é que a garota que irá matar Tanaka no esgoto seis meses depois é a mesma garota que foi morta por Itõ naquele momento, em uma cena quase parecida. A partir daí a detetive parte em uma longa jornada para saber o que realmente está acontecendo, se algo fora do comum realmente está pairando sobre Tóquio ou se tudo isso é fruto de sua sanidade abalada pelos acontecimentos.

Muita conversa e pouco gameplay?

Tokyo Dark é classificado como um point and click de aventura com elementos de puzzle e foco nas escolhas (que assim como nos games da Telltale, têm consequências), estética de anime e uma característica robusta de visual novel. É inegável que todos esses elementos estão lá, mas a proporção que cada um tem faz muita diferença na experiência.

A exploração dos cenários é relativamente simples, pois os mesmos não são complexos em sua estrutura. Normalmente são áreas compostas de três a cinco locais que podemos explorar, resolver puzzles extremamente simples e o foco é mais evidente nas escolhas que fazemos.

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Seu detetive vai resolver na diplomacia ou na porrada? Você decide!

Que escolhas são essas? Por exemplo: temos que extrair uma informação de um NPC, podemos ser diplomáticos ou incisivos como um legítimo “bad cop”. Basicamente o gameplay resume-se a isso no âmbito micro, ou seja, isso representa algo em 30% da experiência. No resto do tempo o lado visual novel — com linhas aparentemente infinitas de diálogo — é o que compõe a maior parte do jogo.

Então é bom saber em que tipo de experiência se está entrando. O elemento de point and click é ínfimo se compararmos com outros adventures como The Walking Dead ou Life is Strange (que já não tem lá muito gameplay, diga-se de passagem). Quem não tem um bom conhecimento de inglês e/ou não gosta de ficar lendo longos diálogos é bom passar longe desse título. Em cada conversa trivial os NPCs tem linhas de diálogo com mais de trinta frases tranquilamente. Pode-se dizer que por ter esse estilo acaba se tornando um produto de nicho, que no Japão é apreciado, mas que no ocidente não é tão cultuado.

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Ainda que o ritmo de visual novel possa terminar a experiência um tanto cansativa, a qualidade do roteiro faz tudo valer a pena. Gostei muito de Tokyo Dark porque apesar de contar com diálogos exageradamente grandes, todos são muito bem construídos. É impressionante como todas as conversas tem um teor adulto, verossímil e sempre com uma reflexão implícita.

Mas apesar do gameplay em si não ser o foco, há um sistema muito interessante chamado S.P.I.N. Podemos dizer que são os atributos da personagem que aumentam ou diminuem de acordo com nossas decisões durante a campanha. Temos 4 medidores (imagem acima) que mostram como estão os níveis de sanidade, profissionalismo, habilidade de investigação neurose de Itõ. Por exemplo: quando você toma uma decisão eticamente questionável (tipo arrancar uma informação de alguém à força), seu nível de profissionalismo cai, mas o de investigação aumenta. E a barra de sanidade está sempre instável, o que é um perigo para a personagem.

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Se sua sanidade ficar muito baixa você pode alucinar e ter colapsos, mas tomar os remédios te deixa meio chapado e diminui suas habilidades investigativas.

Manter as estatísticas do S.P.I.N. minimamente ajustadas é um exercício extremamente complexo, dado o alto nível de imprevisibilidade das situações. E como o jogo está dando auto-save o tempo todo, não tem essa de “não gostei, vou refazer essa parte”. Tome suas decisões e conviva com as consequências delas… como na vida real, oras!

E o audiovisual?

Para os cenários do game, foram usados locais reais de Tóquio como inspiração para a construção da arte 3D dos ambientes. O resultado é muito bonito, e possui forte a identidade de uma metrópole que consegue moderna e um tanto obscura, sem deixar de lado suas raízes.

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O design dos personagens principais é muito interessante, pois parecem oriundos de animes. Acho que a única crítica que tenho ao jogo é o design de personagens terciários. Na medida em que Itõ tem olhos grandes como é comum no traço japonês, alguns NPCs tem o design muito ocidental, o que fica meio destoante, e dá a impressão que são personagens de mundos diferentes. Mas é algo pequeno, no geral o visual do game é satisfatório.

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Até escolhas simples tipo Recusar ou Pedir um drink afetam seu medidor de S.P.I.N

A trilha sonora é original e foi composta por Matthew Steed e casa muito bem com a proposta do game, misturando temas misteriosos com faixas de suspense e terror que não devem nada para as que ouvimos nas melhores obras do gênero. O game possui poucas vozes, de modo que os diálogos se desenrolam mesmo é na leitura de textos. A falta de legendas em português — e o volume de diálogos — torna indispensável um bom nível de inglês para quem não quer ficar boiando.

Conclusão

Tokyo Dark é uma grata surpresa de 2017 e possivelmente estará na lista dos melhores indies do ano. O trabalho da Cherrymochi foi impecável em praticamente todos os aspectos: os diálogos são muito bons, a história é muito rica em sua mitologia, os personagens são profundos e têm emoções muito humanas. Enfim, é uma bela obra, e mais um ótimo game a integrar o já excelente catálogo do selo Square Enix Collectives.

Ah, e vale lembrar que o jogo possui nada menos que 11 finais diferentes! Considerando que cada jogatina pode levar entre 6 e 8 horas, se você quiser ver todos os possíveis desfechos da aventura sobrenatural de Itõ, o fator replay desse game é enorme.

Tokyo Dark está sendo lançado hoje, 7 de setembro, na Steam para PC e Mac.

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