Análise Arkade: o novo God of War reinventa a série com maestria no PS4

20 de abril de 2018

Análise Arkade: o novo God of War reinventa a série com maestria no PS4

God of War. É provável que qualquer gamer que tenha passado pela geração Playstation 2 conheça essa franquia, e tenha passado bons momentos espancando deuses, degolando medusas e eviscerando minotauros nos últimos anos.

Um recomeço digno

Com 7 jogos no currículo — não perca as contas: temos GoW I, II e III + Ascension, Ghost of Sparta, Chain of Olympus e Betrayal (este último para celulares) –, Kratos é um dos personagens mais emblemáticos do mundo dos games… mas essa fama toda não impediu o pessoal da Sony Santa Monica Studios de virar o mundo do personagem de cabeça para baixo, reinventando-o completamente para este novo jogo que não chega a ser um reboot, mas sem dúvida é um recomeço para a série.

Depois de acabar com os deuses gregos, um Kratos mais velho e calejado visita a mitologia nórdica, e ele não está só: seu filho Atreus será seu companheiro em uma jornada que mistura aventura e sobrevivência em um universo extremamente rico, belo e misterioso.

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Sem entregar grandes spoilers, o que rola é que Atreus perdeu sua mãe, e, quando o perigo literalmente bate à sua portaKratos percebe que é hora de ensinar seu filho a se virar. Assim, ele vai aproveitar o último desejo de sua falecida esposa para sair pelo mundo com o garoto e prepará-lo para a vida.

A relação de Kratos com Atreus é tensa, conturbada — repare como ele mal chama o filho pelo nome na maior parte do tempo –, mas irá se fortalecer graças aos perigos que eles terão que superar juntos. A história em si é simples, mas é o amadurecimento da relação de pai e filho o que realmente se destaca no game.

Precisava ser o Kratos?

Quando este novo God of War foi anunciado, lá em 2016, confesso que torci o nariz para a ideia de transformarem o personagem em um “pai de família”. O Kratos que eu conheço era raivoso, visceral, só queria saber de vingança. Estava óbvio para mim que estavam aproveitando o nome de uma franquia famosa (e de seu protagonista) para emplacar o game.

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O tempo passou, o jogo continuou sendo promovido e, embora eu continuasse reticente com esta virada na vida do espartano, o hype ia crescendo simplesmente porque o jogo parecia incrível.

Pois bem, depois de jogar, fico feliz em constatar que sim, o jogo é incrível, e não, o que fizeram com o Kratos não deixa aquela sensação de que forçaram a barra: o passado de Kratos está latente neste novo game. De onde ele veio e quem ele é são pontos importantes da trama, e sua eterna luta para não ser consumido pela raiva é o que molda essa “nova fase” de sua vida, afinal, ele não quer que seu filho siga pelo mesmo caminho.

Convenhamos: o Kratos de antigamente era um personagem raso, bidimensional, praticamente uma criança birrenta. Só sabia esbravejar e soltar jargões tipo “I want my revenge”. Já se vão 13 anos desde o início da franquia, e neste meio tempo, o público amadureceu, e Kratos amadureceu conosco.

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Kratos agora é “pai de família”, mas também traz aquele conflito tipo o Hulk/Bruce Banner: ele tenta controlar sua raiva para não se tornar um monstro sanguinário e irracional na frente do filho, que parece conhecê-lo tão pouco.

Talvez mais tarde a gente possa debater melhor esta mudança de foco da franquia e a evolução do personagem — o que acha de um Além do Review especial God of War? –, mas por hora, eu só gostaria de deixar claro que (felizmente) este novo Kratos é um personagem profundo e interessante, que consegue ser diferente do “antigo Kratos” sem que seu passado raivoso seja simplesmente ignorado.

Machado & Arco

God of War antigamente era um jogo de câmera fixa, e as Blades of Chaos/Athena/whatever permitiam que o jogador perpetrasse uma carnificina acrobática e estilosa, rodopiando pelo cenário enquanto deixava rastros de chamas, sangues e partes de inimigos pelo caminho.

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Neste novo God of War, isso mudou: uma das novidades mais óbvias do novo game é a grande mudança que houve em seu gameplay, que agora traz uma câmera em terceira pessoa, ininterrupta, que está sempre acompanhando os acontecimentos do ponto de vista do Kratos. Nunca há cortes, estamos sempre “ao lado” de Kratos no decorrer do game, um artifício “simples” que torna a jornada como um todo muito mais pessoal, tanto para Kratos quanto para o jogador.

Saem as lâminas e labaredas, entram o machado Leviathan (com poderes de gelo) e o arco, as principais armas de Kratos e Atreus. Os botões de ataque no R1 e R2 causam uma estranheza — e remetem a Dark Souls –, mas dá para se habituar… ou trocar para o modo Clássico, que foi o que eu fiz. Embora bem menos acrobático, o combate continua estiloso e visceral, com cabeças sendo partidas e finalizações gloriosamente sangrentas.

E se você não acredita nisso, pode conferir o desfecho violento desta minha batalha contra um troll:

Atreus está o tempo todo oferecendo suporte ao pai, mas ao contrário de outros jogos do tipo, aqui somos nós que orientamos seus ataques, o que torna tudo ainda mais intenso, afinal, nos coloca para “controlar” dois personagens diferentes no calor do combate. Claro que a IA cuida da movimentação básica do pequeno Atreus, mas nós coordenamos seus ataques, e podemos inclusive upar seus equipamentos e habilidades.

O combate deste novo God of War é um pouco menos hack ‘n slash e um pouco mais Souls-like: é mais cadenciado, pesado, e aprender a se defender e esquivar é tão importante quanto saber atacar.

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O machado Leviathan tem um “peso” incrível, mas mesmo sem ele, Kratos faz um estrago e tanto na carcaça dos inimigos usando seus próprios punhos. Intercalar o arremesso da arma com os ataques de Atreus e os golpes de escudo, socos e chutes, torna os combates muito dinâmicos, mas estratégicos ao mesmo tempo.

O lado RPG

Outra grande mudança: enquanto a série “antiga” trazia jogos lineares onde o máximo de customização que tínhamos eram upgrades em magias e armas, neste God of War vemos que a série se aventura por novos horizontes, trazendo um maior nível de customização e manutenção de equipamentos.

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Kratos agora possui stats como força, sorte, vitalidade e defesa. Para upar essas estatísticas, devemos equipar armaduras melhores, que podem tanto ser encontradas em baús quanto forjadas nas “lojinhas” de anões ferreiros, que utiliza metais e minérios que você coleta pelo mundo para forjar ou melhorar seus equipamentos.

A qualidade dos materiais lembra um pouco o que vemos em Destiny, com materiais comuns, exóticos e raros sendo reconhecíveis por suas cores. Também é possível acoplar encantamentos aos seus equipamentos, e além de darem um boost nos seus stats, elas também concedem propriedades mágicas e elementais aos seus golpes.

Tem mundo aberto? E side missions?

Mais ou menos. O que temos aqui lembra o que tivemos em The Evil Within 2 e Uncharted: The Lost Legacy: a jornada em si é majoritariamente linear, mas vez ou outra chegamos em ambientes muito mais abertos, que podem ser explorados em busca de tesouros e side missions. Gaste o tempo que quiser ali — inclusive tempo nenhum, se não quiser — e siga em frente quando estiver a fim.

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A principal dessas áreas abertas é o chamado Lago dos Nove. Quando estiver nele, você pode levar seu barquinho para qualquer lugar, e há muitas ilhas e locais “secretos” nos quais você pode atracar, descer para explorar. Algumas ilhas possuem apenas um tesourinho escondido, enquanto outras possuem desafios, NPCs pedindo favores e até mesmo dungeons inteiras para você explorar.

Em se tratando de missões secundárias, não espere o exagero de um The Witcher 3 da vida, mas temos aqui um punhado de objetivos secundários decentes. Os mais comuns são os “favores”, nos quais alguém te pede para cumprir alguma missão, ou buscar algum item. Quase tudo isso fica concentrado no Lago dos Nove, e enquanto você explora o lago, deixa a história em stand by.

Confira abaixo meu gameplay com um pouco da exploração do Lago dos Nove:

Além disso, temos os “trabalhos”, que são desafios que vão sendo completados no decorrer da jornada. São coisas do tipo “mate x inimigos do jeito y”, “crave x inimigos na parede” ou “encontre x murais”. O game também nos colocar para buscar tesouros, com base em um desenho que nos dá uma noção geral de sua localização (lembra das Chocographs de Final Fantasy VII? É tipo isso).

No geral, estas novidades agregam mais conteúdo ao jogo — e background mitológico àquele universo em si –, mas não são realmente indispensáveis ao conjunto da obra, podendo inclusive ser totalmente ignoradas.

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God of War poderia tranquilamente ser um jogo 100% linear, mas traz essas doses de RPG e mundo aberto até para ganhar mais conteúdo e não parecer “muito curto”. O jogo até traz uma dose de MetroidVania, com passagens e baús que você terá que revisitar depois que tiver um item/habilidade específica.

Falando honestamente, eu gostaria que esses “extras” de God of War fossem mais esparsos no decorrer do jogo, pois concentrar tudo em uma mesma área acaba deixando o jogador compulsivo preso ali até completar tudo. Ok, tudo é opcional, e o Lago dos Nove é um lugar importante e a gente passa mais de uma vez por ali, mas não deixa de ser muito conteúdo espremido em uma área só.

Audiovisual

Aqui não tem nem o que dizer, né? God of War entra fácil para a lista de jogos mais bonitos dessa geração, com sua releitura fantástica da mitologia nórdica. O realismo da pele de Kratos, suas veias, suas rugas e sua barba são tão impressionantes quanto a beleza das florestas, templos e masmorras meticulosamente criados por onde passamos.

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Quem jogar no PS4 Pro vai poder curtir o game “quase” em 4K e com suporte à HDR, podendo escolher curtir o jogo de 2 maneiras: o modo Resolução mantém os 30fps e mantém uma resolução próxima do 4K, enquanto o modo Performance deixa o jogo em Full HD, mas aumenta a taxa de framerate para uma média de 45fps. Mas, mesmo no PS4 padrão, o game não decepciona, afinal, sua direção de arte deslumbrante vai muito além de aspectos técnicos.

A trilha sonora não aproveita nada dos épicos temas clássicos da série, combinando com a nova pegada da franquia para trazer um clima mais intimista na maior parte do tempo. Apesar disso, ela arruma espaço para tornar-se grandiosa quando a situação demanda. O game chega ao Brasil 100% em português brasileiro, com dublagens competentes e localização de qualidade.

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Ah, e aos amantes da “fotografia” gamer: o jogo foi lançado sem um Photo Mode, mas a Sony Santa Monica deve lançar um patch que adiciona este recurso ao game em breve. Como fã de Photo Mode, mal posso esperar por esse patch! De qualquer modo, mesmo sem Photo Mode o game é deslumbrante.

Conclusão

God of War consegue a façanha de reinventar com maestria um dos personagens mais icônicos do mundo dos games. O novo Kratos é um personagem muito mais interessante que o “antigo”, e sua relação com Atreus é o que mais cativa nesta jornada nórdica. Tal qual Joel & Ellie em The Last of Us, temos aqui uma dupla incrível de protagonistas, que provavelmente irá viver mais aventuras no futuro.

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Quem é fã do espartano desde os tempos do Playstation 2 precisa vir de cabeça aberta, pois a experiência aqui é muito diferente do que tudo o que a série já nos ofereceu, trazendo temas muito mais complexos do que a ira e a vingança que norteavam a série “antiga”.

Essa evolução, somada ao primor técnico e artístico do game, fazem deste novo God of War um jogo que todo mundo que tem PS4 deve ter na estante. Mas você já sabia disso antes mesmo de ler esse review, né? 😉

God of War está sendo lançado hoje, exclusivamente para o Playstation 4. Este review foi feito com base em uma cópia que recebemos antecipadamente da Sony Playstation Brasil para fins de análise.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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