Texto do leitor: A exploração sobre temas humanos em The Red Strings Club
Sentimentos são voláteis, ou seja, sujeitos a mudança muito facilmente. Vivemos numa sociedade onde sentimentos como ansiedade, euforia e medo são parte do nosso cotidiano e não é incomum procurar de escapismos em redes sociais ou bebidas. É sobre isso que The Red Strings Club se trata, sobre a hipocrisia gerada por nossa inconstância psicológica.
Não é a primeira vez que a Deconstructeam, desenvolve um jogo tratando sobre humanidade. Gods Will Be Watching, de 2014, trabalhava temas semelhantes sobre como é tão fácil deixarmos de sermos nós mesmos em momentos difíceis e que por mais que tenhamos boas intenções, estamos longe de alcançarmos o bem geral. Em The Red Strings Club por sua vez é um jogo que se passa num mundo cyberpunk onde é possível a instalação de implantes que permitem gerar novas aptidões em humanos. Tal qual carisma, sex appeal dentre outros. Obviamente a empresa que gera esses implantes tem algum plano utópico para sociedade e que por N motivos vai por jogo a liberdade individual. Um tanto clichê? Sim, mas é essa trama que gera os questionamentos que espelham com o nosso dia a dia no mundo real.
A maior parte da trama se passa no bar com o nome do game. É lá o local onde você vai conhecer os personagens que vão ser importantes para a trama e fazer os drinks para elas. Esses drinks tem a capacidade de engatar um certo sentimento em quem estiver bebendo, seja desejo, euforia, ansiedade, medo, etc. De acordo com a emoção alcançada é possível extrair alguma informação da pessoa. O simples ato de conseguirmos mudar o que a pessoa sente dilui toda sua personalidade. Fazer o personagem se sentir mais ambicioso o torna suscetível a deslizes, enquanto gerar medo o faz se fechar por completo.
É o ato de usarmos máscaras. Pessoas tem máscaras para diversas ocasiões. Enquanto no trabalho você é uma pessoa, numa festa você é outra. Mas essas máscaras são frágeis e podem ser facilmente quebradas e expor outro lado nosso. Temos como exemplo uma personagem que demonstra apenas seu lado alegre e cheio de desejo durante o tempo que conseguimos falar com ela. Por mais que oferecemos um drink com um tom mais triste a ela, a mesma ainda se mantém bem, além de demonstrar se desinteressada em implantes. Mais tarde descobrimos que a personagem é transsexual, e o que isso tem de mais? Exatamente, nada. É alguém que conseguiu alcançar a própria felicidade por seus próprios méritos e faz questão de não usar máscaras.
É visto com maus olhos revelar a identidade de uma pessoa pré-processo transsexual, coisa que acontecia no game, o que fez com que muitas pessoas acusarem o game de ser transfóbico. O que fez com que Paula Ruiz, responsável pelo sound design do game e publicamente transexual, criar uma thread no Twitter afirmando ter visto de perto todo o desevolvimento do projeto e saber de tal ato e como isso fazia parte da aceitação da personagem como transexual. É clara a diversidade dentro daquele mundo cyberpunk e como ser transexual, bisexual, homosexual, hetéro entre outros não é nada incomum como fazem questão de parecer na realidade. Problemas maiores são tratados e buscar um objetivo é muito maior do que rotular pessoas.
A decisão de The Red Strings Club de tocar em assuntos reais e por isso são tão obscuros e pesados me fez em certo momento ficar parado sem saber que ação tomar em relação às escolhas que me apareciam na tela. O personagem principal tem suas convicções, mas é escolha sua fazê las valer. Eu me via no personagem em certo nível, então foi natural que minhas escolhas batessem com as deles. Eu defendia que pessoas terem depressão faz parte de nós como humanos e portanto cabe a nós sobrepuja-las. Defendia também que deveríamos ter liberdade em nossos atos e portanto as suas consequências. Tal escolha minha levou a um questionamento por parte de uma personagem, no qual a mesma perguntava se a tecnologia por trás dos implantes pudessem evitar o abuso sexual a mesma deveria ser aplicada. Minha escolha foi sim e portanto a essa personagem me taxou de hipócrita e ela não estava errada. Nossas convicções sobre algo duram apenas até sermos postos contra a parede e vermos que nada é 100% e tal qual se aplica a nossa inconstância sentimental.
A exploração sobre temas humanos em The Red Strings Club é o fator que facilmente nos bota contra a parede em diversos momentos por estarmos tão ligados a eles e vivenciarmos esses dilemas diariamente. Aquele mundo ficcional é apenas um reflexo da realidade atual e por tanto não é difícil nos imaginarmos nela.
Artigo escrito pelo leitor Gabriel Barbosa