Análise Arkade: Dream Alone é um clone de Limbo que deu errado

4 de julho de 2018

Análise Arkade: Dream Alone é um clone de Limbo que deu errado

Não é de hoje que Limbo vem gerando clones pelo mundo dos games. Alguns deste clones são bons, outros não conseguem atingir o mesmo nível. Dream Alone, infelizmente, faz parte do segundo grupo.

Dream Alone pega a temática dark de Limbo e tenta levá-la um pouco além. Controlamos um garotinho cujo vilarejo foi acometido por uma doença misteriosa que deixou todos em coma.

Para salvar seus familiares e amigos, ele deve sair em uma perigosa jornada para encontrar Lady Death, feiticeira que, supostamente, pode trazer todo mundo de volta à vida. E aí, encara este desafio?

Uma jornada punitiva

Dream Alone traz um visual com poucas cores, que foge do estilo “silhuetas” de Limbo, mas mesmo assim consegue ser extremamente sombrio. Gosto do character design à la Tim Burton e da temática obscura do game, mas infelizmente estes elementos não trabalham em prol da imersão.

Análise Arkade: Dream Alone é um clone de Limbo que deu errado

Veja bem: quando sombras e penumbra são utilizadas em prol da ambientação, beleza. Mas aqui temos um problema: o jogo parece ser escuro apenas para sacanear o jogador. Não apenas escuro; a imagem é chuviscada, cheia de ruídos. Some isso a um level design zoado,e o que temos é uma experiência que pode se tornar bem frustrante.

Explicando: o capim alto, as raízes das árvores, ou mesmo elementos em primeiro plano na tela podem esconder armadilhas que simplesmente não conseguimos ver. Precisamos morrer ali para, na próxima tentativa, darmos um jeito de desviar.

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A morte é bem sangrenta em Dream Alone

Isso não é level design inteligente, é um jeito tosco de fazer o jogador descobrir as coisas. Jogos como I Wanna Be The Guy e Trap Adventure 2 fazem isso de propósito, mas essa é a proposta deles. Dream Alone não é esse tipo de jogo, então ele se torna mais difícil do que deveria por decisões questionáveis de game design.

O próprio comportamento errático de certas criaturas complica a nossa vida: aranhas grandes e pequenas se movem em velocidades diferentes, e muitas vezes elas se cruzam em padrões que torna impossível evitá-las. Sem contar o fato de que elas também desaparecem na relva, podendo matar o personagem sem que a gente sequer entenda o que aconteceu.

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Alguém falou em Limbo?

Deste modo, o que poderia ser um jogo de plataforma 2D com pitadas de puzzle logo se torna uma enfadonha jornada de tentativa e erro, que em muitos casos demanda mais sorte do que habilidade do jogador.

E não para por aí

Mesmo quando tenta inovar e ser mais criativo, o game dá suas escorregadas. Conforme avançamos, ganhamos novas habilidades, como a possibilidade de gerar um clone (útil para manter botões pressionados ou alavancas acionadas para o jogador), ou viajar para uma outra dimensão.

Até aí tudo bem. O problema é que o game não nos mostra realmente quando esses poderes devem ser usados. Pior: usá-los consome uma barra específica que NÃO se regenera automaticamente, de modo que, se usá-los demais na hora errada, você pode acabar sem ter como usá-los quando elas forem realmente necessários.

Análise Arkade: Dream Alone é um clone de Limbo que deu errado

A outra dimensão deixa tudo meio alaranjado, mas não melhora muito a visibilidade

Isso reverbera na questão da escuridão: há cavernas e outros ambientes que são absolutamente escuros, e que só podem ser cruzados se você usar com parcimônia sua habilidade de criar um orbe de luz. Porém, se ficar sem energia para usar esta habilidade, você vai ficar preso em uma dessas cavernas, olhando para uma tela totalmente preta e tentando adivinhar o que pode haver no seu caminho.

Conclusão

Se somarmos a escuridão exagerada, o level design sacana, as habilidades mal utilizadas e as mecânicas duras, que não oferecem a fluidez e a precisão desejadas, o que temos aqui é uma cópia de Limbo que deu errado.

Confesso que fui cativado pelo estilão meio Tim Burton do game — reforço queseu character design é interessante, mas mesmo isso se perde na escuridão e na chuva incessante — mas infelizmente nem o lado artístico consegue sustentar o game.

Análise Arkade: Dream Alone é um clone de Limbo que deu errado

Dream Alone claramente partiu de uma premissa bacana — e os jogos que lhe serviram de inspiração são excelentes –, mas o estúdio perdeu a mão no processo, e acabou entregando uma experiência capenga e frustrante, que não diverte nem entretém, apenas irrita.

Gosto muito de Limbo e Inside, e já joguei um punhado de “clones” decentes destes dois jogos — destaque para o ótimo Little Nightmares, mas há outros jogos legais do tipo. Infelizmente, Dream Alone não faz parte deste time, então é melhor você ficar com Limbo mesmo, ou buscar algo similar, mas de melhor qualidade.

Dream Alone foi lançado em 28 de junho, e está disponível para PC e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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