A SEGA voltou? Boas ideias trazem a empresa de volta a seus dias de glória
Quem viveu os anos 90, sabe da força que a SEGA teve nesta época. Eram tempos incríveis para a empresa, que brigou de igual pra igual com a Nintendo, vencendo, inclusive, em alguns locais. O Master System, o Game Gear e o Mega Drive são exemplos claros de como a empresa conseguiu se transformar em um gigante da indústria. Obrigando a Nintendo a nunca abaixar sua guarda, fazendo com que todos os gamers ganhassem com isso.
Entretanto, a empresa passou por momentos difíceis, após o problemático trabalho feito com o Saturn. O console, que apesar de querido e lar de jogos incríveis, como Nights, sofreu muito com decisões equivocadas, que refletiu, inclusive em um dos desenvolvimentos mais traumáticos da história dos videogames: Sonic X-Treme.
A empresa ainda voltou a viver dias bons, com o nascimento do Dreamcast. Mas, decisões erradas novamente fizeram com que a Sega decidisse abandonar os consoles, focando apenas em games. Assim, Sonic, Crazy Taxi, Shenmue e diversas outras IPs da companhia acabaram figurando em Xbox, Playstation 2 e Gamecube, em um formato que segue assim até hoje. Isso serviu, inclusive, para salvar a empresa, que vivia época de altos prejuízos com o Dreamcast.
Há uma aura de que “a Sega voltou”, embora ela nunca tenha ido embora. A empresa nunca faliu, e nunca ficou um ano sem fazer videogames. Porém, todos percebemos — e muito bem — que, nos útlimos anos, decisões corretas e um bom uso de suas antigas propriedades trouxeram a empresa de volta aos holofotes, assim como era antigamente. Com a coroação vindo em forma de Sonic Mania, venha comigo ver alguns fatores que fizeram, de fato, a “Sega voltar”.
Tratamento decente para o Sonic
Desde Sonic Adventure 2, lançado em 2001 para o Dreamcast, a Sega meio que se atrapalhava a cada jogo novo do seu personagem principal. Sonic Heroes, de 2003, ainda tinha um pouco da aura de seus antecessores, mas, depois disso, vimos um vendaval de jogos ruins. Enquanto Mario continuava seu rico legado com os jogos Sunshine e Galaxy, Sonic virava lobisomem (?!) em Sonic Unleashed. E conseguia a proeza de estragar o seu querido primeiro game, em uma versão horrível para o Game Boy Advance.
Mas a sorte do azulão começou a mudar em 2010. Sonic Colors, para o Wii, trazia elementos novos, mas também tinha muito dos fatores que fizeram com que o personagem fosse um dos preferidos dos anos 90. O jogo era muito divertido e, apesar de moderno, tinha a aura dos games clássicos. Mais tarde, em 2011, Sonic Generations misturava passado e presente, com fases que homenageavam toda a história da série.
A confiança com o personagem estava sendo restaurada, e mesmo games de corrida, como o Sonic & Sega All-Stars Racing divertiam. Mas foi com Sonic Mania, de 2017, que o amigo azul dos gamers retornou, de vez, a seus dias de glória. Com fases criativas, e forte inspiração nos jogos de Mega Drive, o game fez muito sucesso, foi bem avaliado e figura, com méritos, as listas mais recentes de Top 10 do Sonic.
A Sega precisava fazer algo a respeito de sua franquia principal. Sonic é praticamente um “sinônimo” de Sega, e pegava muito mal pra empresa ter seu nome associado a produtos tão ruins. Rever os conceitos e, da maneira adequada, trazer jogos bons com o personagem, foi, com certeza, um dos elementos importantes para a nova fase da companhia.
Respeito com seu catálogo retrô
Nos dias de hoje, muitos gamers querem, de alguma forma, revisitar games antigos. Pela nostalgia ou pelo conhecimento de coisas novas, há muito no mundo clássico dos videogames pra se explorar. Entretanto, sabemos que, na maioria dos casos, apenas a emulação resolve.
Mas, para os fãs da Sega, opções oficiais para curtir seus games nunca faltam. Desde a época do Saturn, com Sonic Jam, a empresa traz relançamentos bacanas. Este mesmo, para o 32-bit da Sega, vinha com comerciais, além de introdução e final de Sonic CD. Na era 128, outra coletânea, ainda mais completa, agradou.
Na era do Playstation 3 e Xbox 360, mais uma coletânea apareceu, ainda com mais jogos, incluindo Phantasy Star, e entrevistas exclusivas. No Playstation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC, chegou neste ano o Sega Genesis Classics, que, desta vez, trouxe para o ocidente versões japonesas bem interessantes, como o Bare Knuckle 3, o Streets of Rage 3 “original”, com o enredo mais complexo, e melhorias na jogatina.
Além do Sega Forever, que falaremos mais tarde, ainda temos a Sega Ages. Que, levava ao Playstation 2 japonês jogos de Saturn, como Virtua Fighter 2. E hoje leva para o Nintendo Switch games como Phantasy Star para o Master System. Com direito a mapa na tela e tudo. Lembrando também dos games Yakuza, e Shenmue, contam com diversos jogos clássicos, que podem ser jogados nos arcades de suas cidades.
Tudo isso, somado a disponibilidade de jogos como Nights e Daytona USA para consoles modernos, ou os relançamentos dos dois games Shenmue, mostra o quanto a Sega valoriza de maneira adequada o seu catálogo. Com o passar dos anos, este cuidado foi se mostrando ainda melhor, com adaptações adequadas e boas ideias. E foi outro elemento importante para manter a Sega entre as mais queridas da atualidade
Yakuza no ocidente
Ryū ga Gotoku é a querida série da Sega que tem Kazuma Kiryu, que existe desde 2005. A série conta com uma história que cativa o jogador, de várias formas. Trazido para o ocidente um ano depois, dublado e localizado, o game chamou muita atenção em sua época. Mesmo sendo um game projetado e focado para o público japonês.
Porém, o interesse com os games da franquia, que é considerada uma evolução espiritual de Shenmue, foi aumentando. Um primeiro “boom” para a série no ocidente foi a localização, três anos depois de seu lançamento no Japão, de Yakuza 5. O game, que trazia um gameplay imenso, vários personagens controláveis (incluindo um modo bem diferente com a Haruka Sawamura) fez bastante sucesso. E abriu as portas para os novos jogos da série que viriam.
Assim, tivemos Yakuza 6, que ganhou boas notas e contou com um bom desempenho no ocidente, além de Yakuza Kiwami 1 e 2, remakes dos games originais, que evoluiam ainda mais os conceitos presentes nos jogos, mostrando que a Sega não queria apenas sair lançando jogos pra fazer dinheiro fácil.
A presença de Yakuza no ocidente foi fundamental para levar para as pessoas que a Sega não vive só de Sonic. E que, assim, ainda produz coisa nova. Mesmo sendo um jogo bem japonês, e feito para poucos por estes lados, a simples existência dos jogos aqui dão essa sensação. Além disso, agregaram um valor considerável para a companhia.
Sega Forever
Lançado em 2017, o Sega Forever foi a forma que a Sega encontrou para explorar o já consolidado mundo dos smartphones. A empresa já havia lançado versões interessantes para iPhones e Androids, como os dois primeiros Sonic de Mega Drive remasterizados. Além de Sonic 4, que também desembarcou nos smartphones.
Mas, com o Sega Forever, a companhia deu a oportunidade dos interessados jogarem, gratuitamente, diversos games clássicos. Ou, mediante a uma compra, você pode aproveitar os jogos sem anúncios e com save local. Sem a necessidade de conexão com a Internet. Através do serviço, temos acesso aos dois primeiros Sonic, os dois primeiros Streets of Rage, Phantasy Star II. Além de muitos outros games, que contam com suporte a vários controles, e gameplay co-op via bluetooth.
Era, finalmente, uma possibilidade de curtir os games Sega, sem recorrer a emuladores. Era a empresa, disponibilizando, gratuitamente, alguns clássicos (ainda aguardo Outrun, dona Sega), prontos para a jogatina. Isso faz com que o nome “Sega” sempre apareça, na App Store, ou Google Play. Com seus jogos figurando entre os mais baixados.
Exemplo a ser seguido, mesmo com o serviço disponibilizando menos games do que o esperado (repito: cadê o meu Outrun?), temos aqui uma ótima alternativa de disponibilizar uma biblioteca. Que pode render dinheiro com venda de jogos e anúncios. Além de funcionar como ferramenta de marketing.
O “fator Tectoy”
Uma das coisas que a Sega sabia nos anos 90, era que só poderia ganhar da Nintendo, se atacasse localmente. Respeitando as peculiaridades de cada país, a empresa foi se destacando em alguns países europeus. E no Brasil, contou com o apoio da Tectoy. Que disponibilizava games adaptados, traduzidos, e um atendimento que até hoje serve de exemplo.
Inclusive, a Tectoy segue mantendo a chama Sega acesa no Brasil. A empresa nunca ficou sem disponibilizar versões de Mega Drive ou Master System em seu catálogo. Incluindo modelos bem curiosos, como aquele Mega Drive 4, que vinha com guitarra e jogos em java adaptados. Hoje em dia, a empresa conta com o Master System Evolution. Além de uma versão plug and play só com o controle, e uma portátil.
Além disso, relançou o Mega Drive, com suporte a cartuchos, e uma porta para cartões microSD. E até trouxe para o Brasil a linha oficial de camisetas da Sega e do Sonic, aproveitando o forte apelo que o personagem sempre teve, e hoje está ainda maior. Tudo isso, com o aval da Sega, que sempre permitiu que sua marca fosse explorada, para atingir mais territórios. Incluindo os quais ela não teria interesse de agir por si só.
Assim, a empresa que adaptou jogos da série Wonder Boy e transformou-o em Turma da Mônica na Terra dos Monstros, segue firme e forte, com total apoio da companhia japonesa, a manter o legado por aqui, a ponto de relançar o jogo da Mônica em cartucho. A At Games tem licença semelhante em outros países. E também desenvolve os seus próprios Mega Drive, além de versões portáteis.
Isso traz a empresa mais próxima do jogador. Só para comparar, um Super Nintendo Classic custa no Brasil, em lojas oficiais, cerca de R$ 999 (estou focando apenas lojas oficiais, pontos de venda comum para a massa, não citando locais como o Mercado Livre ou o eBay). Enquanto isso, o Mega Drive nacional sai por R$ 449. Preços discutíveis e críticas da comunidade à parte, é bem claro ver como que a presença local faz bem ao produto. E como a Sega, sabendo disso, segue próxima, mesmo décadas mais tarde, de nós brasileiros. Assim como ocorre em outros locais.
A Sega voltou?
Verdade seja dita: ela nunca foi, pra ter voltado. O que aconteceu foi um distanciamento da marca com seu público. Seja com jogos de qualidade inferior, ou menos iniciativas fora do Japão, a impressão era, afinal, de que a empresa “sumiu”.
Mas, observamos também que, com boas direções, boas ideias e respeito a seus fãs, a companhia “voltou” com tudo. Oferecendo jogos novos e clássicos de forma inteligente. A prova é que, mais do que nunca, os jogos Sega vivem forte nas memórias dos gamers. Assim, novos Yakuzas são aguardados com boa expectativa. A Sega Forever vive cheia de sugestões. E o Mega Drive segue forte como nunca, com jogos novos e tudo.