Editorial: será que teremos muitos remasters, e até “remaster do remaster” na próxima geração?
Na última geração, uma das palavras que mais ouvimos foi “remaster”. Muitos, mas muitos jogos mesmo, ganharam versões remasterizadas. Algumas bem feitas, que, de fato, mostram um empenho da empresa em lançar algo melhorado e atualizado, aproveitando o hardware atual. Mas também temos casos de games que foram desenvolvidos “de qualquer jeito”, querendo apenas tirar uma grana fácil, sem nenhum compromisso com a qualidade.
Dito isso, podemos nos perguntar: teremos remasters na próxima geração? A resposta é quase que óbvia: sim! Mas, gostaria de levantar uma outra questão: será que teremos também, “remaster do remaster”? Será que nós teremos, uma versão remasterizada da versão remasterizada de The Last of Us, de 2013, por exemplo? Não podemos ver o futuro, mas podemos observar os comportamentos dentro da indústria, para imaginarmos o que pode acontecer.
Bom, remaster não é uma coisa nova, afinal
Remasters não são uma novidade do mundo dos games. A ideia de lançar um game de uma plataforma anterior para outra já vem desde os primórdios dos videogames. Um exemplo famoso de antigamente é o Super Mario All Stars, que reúne os três Super Mario Bros. de NES, com visual adaptado e melhorado no Super NES.
O Game Boy Advance também foi um “epicentro” de remasters. Recebeu versões melhoradas de Final Fight, Super Street Fighter 2, e da série Donkey Kong Country. Além de diversos games de NES, e de alguns games da franquia Final Fantasy. A geração 128-bits também recebeu algumas destas versões melhoradas.
O GameCube, por exemplo, tem Metal Gear Solid: Twin Snakes, versão melhorada graficamente do original de Playstation, que usava muitos dos recursos de Metal Gear Solid 2. E, no Japão, o Playstation 2 recebeu diversas versões atualizadas de jogos do Saturn. Mas foi na geração seguinte, que os remasters começaram a ganhar mais força. Xbox 360 e Playstation 3 começaram a receber “HD Versions” de games da geração passada.
Se aproveitando dos novos recursos, como visual HD e TVs em alta definição, que davam aos games uma “nova visão”, vários games chegaram neste formato: a série Splinter Cell, a série Metal Gear Solid da era 128-bits, os dois primeiros God of War e Beyond Good & Evil, para citar alguns exemplos. Como venderam bem, a iniciativa aumentou em ofertas na geração atual.
Se existem remasters hoje em dia, é por uma razão simples: tem quem compre. A versão remasterizada de The Last of Us, com a introdução do Photo Mode, entre outras melhorias, vendeu 10 milhões de cópias. O remaster da trilogia de Crash Bandicoot também vendeu uma dezena de milhão de cópias. Isso sem mencionar GTA V, que não deixa de ser, também, um remaster. Pois a sua versão original, de 2013, saiu para Playstation 3 e Xbox 360. O game da Rockstar é, “apenas”, o produto de entretenimento mais lucrativo da história.
Retrocompatibilidade poderia “remasterizar” qualquer game
Mas, temos uma coisa para observar aqui. A indústria dos games é movida a dinheiro. A iniciativas que maximizem o lucro, em torno do valor investido. E neste ponto, a próxima geração pode ter um “remaster” diferente: o próprio game, original, melhorado pelo console. O Xbox One já faz isso com alguns games. Assassin’s Creed, de 2007, ganhou melhorias no console, e fica incrível rodando no Xbox One X, com texturas em 4K.
Há muita expectativa, neste sentido, no Xbox Series X. Com as novidades apresentadas pela Microsoft, e a promessa de que os games sejam otimizados para ele, além do Smart Delivery, há a boa expectativa de que os games antigos da família, que irão rodar nativamente no novo console, rodem ainda melhores do que em suas versões originais. Com direito a HDR e outras melhorias.
A Sony ainda não falou de maneira mais direta sobre este tema. Apenas sabemos que alguns games de PS4 terão suporte para rodar no PS5. E o fato de que a tão falada SSD, que promete loadings quase nulos, será eficaz nos games antigos. O que podemos esperar, neste sentido, é de que os próprios consoles “remasterizem” os games antigos. O que, para as empresas, é uma boa oportunidade de negócios. Afinal, podem seguir lucrando com games antigos, mas sem investir esforços em recriações dos mesmos.
Call of Duty: Modern Warfare 2 é um bom exemplo. O game, de 2008, quando chegou à retrocompatibilidade do Xbox One, foi um dos games mais vendidos de agosto de 2018, dez anos depois de seu lançamento original, e dois anos antes de sua versão remasterizada. É cedo para afirmar. Mas, com as lojas virtuais ativas, e as boas possibilidades com os games antigos rodando em consoles modernos, será que alguns estúdios não irão, ao invés de investir em um remaster, apostar em apenas fazer promoção de seus games antigos, que podem ter alto potencial de venda?
E as edições especiais, e coletâneas?
Mas, por outro lado, temos a fórmula utilizada pelos estúdios, para promover suas versões remasterizadas. Saints Row: The Third, por exemplo, teve muitos de seus elementos, como carros e armas, redesenhados, além de um novo sistema de iluminação. Assassin’s Creed: Ezio Collection, colocou, de uma só vez, a trilogia de Ezio em um produto só. E é muito comum ver versões remasterizadas chegarem com todo o conteúdo no pacote, incluindo as DLCs.
Assim, creio que, de verdade, possamos ter até o seguinte cenário: a Sony, querendo explorar mais The Last of Us, uma franquia que é boa em vendas, poderia lançar uma “Definitive Edition”, com seus dois games. O segundo game, que chega neste mês, teria um remaster. Mas, o game original, de Playstation 3, teria, assim, um “remaster do remaster”. Pois, não creio, nesse cenário hipotético, ser necessário um “remake” do game de 2013.
É importante lembrar também que estas versões trazem um ar de “novidade”. O próprio Modern Warfare 2, que seguia vendendo bem com sua versão original no Xbox One, ganhou um remaster. Afinal, o dono de Playstation 4 não tem acesso ao game original. E o jogador de Xbox One pode aproveitar o game com visual ainda melhor.
Edições especiais são queridas por colecionadores (no caso de mídias físicas), e trazem mais conteúdo do que o jogo original. Então, mesmo com um possível cenário de que os consoles “remasterizem” sozinhos os games, ainda assim, é possível que tenhamos sim um bom número de remasters na próxima geração. Só restará saber como a indústria verá tudo isso, e se acharão válido apostar em novas versões de games antigos, ir direto para a tentativa de remakes, ou contarem apenas com as vendas de suas versões originais, que rodam nos consoles atuais.
O “formato” Shadow of the Colossus pode ser a “bola da vez”
Acredito que, um exemplo em especial seja a escolha de muitos estúdios. Shadow of the Colossus chegou em 2005, para o Playstation 2. Em 2011, deu as caras no Playstation 3, com visual HD, suporte a som surround 7.1 e ao 3D. E, em 2018, ganhou uma versão ainda melhor, para o Playstation 4, usando, e muito, os recursos do console atual da Sony.
Creio que teremos dois cenários para a próxima geração, em relação a remasters. Estúdios que só pensam em “melhorar texturas”, apostarão nas melhorias dos próprios consoles, talvez lançando atualizações com melhorias para estes consoles. E, quem apostar em remaster, vai trabalhar no game na base do redesenho. Não chegando a ser um remake. Mas aproveitando ao máximo os recursos oferecidos, para melhorar o seu game antigo.
O que significa uma coisa só: os games seguem querendo ser jogados. Muitos dizem que games antigos devem ficar no passado. Mas não é isso o que diz o mercado, com uma oferta imensa de games remasterizados, e altas vendas de alguns destes títulos. Os games antigos seguirão presentes na próxima geração, e isso é um fato. Só resta saber, agora, como que eles serão distribuídos e apresentados. Eu fiz as minhas apostas. E as suas? Quais são? Teremos uma nova enxurrada de remasters, com direito a “remaster do remaster”, ou o fato dos próprios consoles poderem melhorar os games antigos, farão com que os estúdios “puxem o freio”?