O que aconteceria se o Atari Jaguar e o 3DO tivessem sido um sucesso?
Se nos anos 70 e 80 praticamente qualquer empresa inventou de tentar um espaço no nascente mercado dos videogames, nos anos 90, apesar da consolidação da indústria, e da liderança de Nintendo e SEGA, ainda havia empresas de tecnologia buscando o seu lugar ao sol dos games. A Sony, como todos sabemos, investiu no segmento e se tornou uma gigante do setor.
Mas a mesma sorte não acompanhou outras companhias, como a Atari ou a 3DO Company, uma ousada companhia que unia nomes como Electronic Arts, Panasonic e LG. A Atari, que outrora liderava o mercado, apostou suas últimas fichas com o Jaguar, e perdeu por apresentar um console confuso, problemático, e com ausência das grandes publishers do momento. Já o 3DO, apesar de ser um ótimo console para a sua época, tropeçou no preço inicial, e pagou o preço de sair antes de PlayStation e Saturn, que ofuscaram o videogame.
Entretanto, uma decisão acertada aqui e outra boa iniciativa ali e os dois videogames poderiam ter tido uma sorte melhor. Por isso, nesta edição do nosso “o que aconteceria se”, vamos visitar o “multiverso dos games” mais uma vez, imaginando um mundo no qual consoles da 3DO e da Atari tivessem sido o oposto do que foram. Ou seja, um grande sucesso.
O EA Console: It’s the game!
Lembre-se que uma das empresas interessadas no sucesso da 3DO Company era a Electronic Arts. Encabeçada pelo mesmo Trip Hawkins que fundou o estúdio de jogos (e que contamos sua história aqui), o possível sucesso do 3DO poderia render, no futuro, o videogame que a Electronic Arts sempre sonhou em ter.
A EA brigava, no início da sua história, com as fabricantes de console. O caso mais conhecido é os dos cartuchos de Mega Drive, no qual a empresa usou engenharia reversa para criar seus próprios cartuchos, não pagando taxas que Trip considerava abusivas, e vendendo-os quase que como jogos piratas, porém oficiais.
Assim, se a EA dos anos 90 julgava que o monopólio dos cartuchos de SEGA e Nintendo traziam custos abusivos para seus projetos, o sucesso do 3DO, com a praticidade do CD, poderia acender a luz verde na EA para que seus games fossem lançados apenas para o console o qual ela possuía participação. Desta forma, todos os jogos esportivos, que são até hoje a maior fonte de receita da companhia, seriam exclusivos dos consoles 3DO.
Hoje em dia, já com o 4KO (se você entendeu, entendeu), o console mais atual da empresa, franquias como Battlefield, FIFA, Fórmula 1, The Sims ou Need for Speed, estariam disponíveis apenas para os consoles da 3DO Company, que competiria diretamente com os consoles disponíveis atualmente, usando de exclusivos e formatos multimídia, uma vez que o primeiro console nasceu com essa proposta, e teria investimentos neste sentido.
Talvez, poderíamos ter consoles 3DO de dois formatos: um poderoso, com capacidades 4K e todos os recursos possíveis atualmente, e outro em formato stick, como uma Fire TV ou um dispositivo da Roku, com games por streaming e acessibilidades multimídia como acesso a apps de filmes e música.
Um outro felino poderia mudar tudo
A Atari da época do Jaguar não era a mesma Atari dos anos 70. Já distante dos dias dourados do Atari 2600, e após tentativas com sucesso abaixo do esperado, a companhia tentava recuperar espaço no mercado de consoles. Como sabemos, a escolha foi o Jaguar, um console de 64-bits, mas que não era, necessariamente, de 64-bits. Era um console problemático, com um controle confuso e sem apelo nenhum para o jogador, que já vivia os dias da “guerra SEGA x Nintendo“.
Entretanto, houve outro console que estava em desenvolvimento: o Panther. Desenvolvido desde 1988, ele seria o concorrente dos consoles 16-bits, ao oferecer a praticidade dos games com a potência dos computadores, neste caso, o Atari ST. No campo da hipótese, tal lançamento poderia ter sido, no final, se não um grande sucesso, pelo menos traria algum resultado positivo, que motivaria a companhia a se manter.
E este cenário poderia trazer um desenvolvimento de um sucessor com menos pressão interna. Assim, o Jaguar poderia ter sido lançado sem as promessas furadas da Flare (que foi a empresa que prometeu as parafernalhas tecnológicas que não foram entregues), o que poderia ter resultado em um Jaguar mais robusto, completo e com melhores acordos com estúdios parceiros.
O que poderia render para a Atari, se não o mesmo impacto de antes, talvez a manutenção de sua presença no cenário de consoles, onde poderia aproveitar o século XXI e construir a sua comunidade própria, na qual conseguiria sustentar até os dias atuais o seu sistema de jogos, usando o passado com o futuro em um projeto bem interessante.
Teria lugar para cinco competidores hoje em dia?
A resposta depende do ponto de vista de cada companhia. Nos anos 90, era mais natural a sede por “vender o máximo possível” e, assim, atingir a sonhada liderança. Mas atualmente, a tal da “liderança”, tão falada em redes sociais e canais Internet afora, não é tão necessária. Hoje vivemos os dias das comunidades e se uma companhia consegue se manter sustentável com seus clientes mais fiéis, está tudo bem.
Casos de Nintendo, que mantém a sua base satisfeita com seus jogos, da Sony que, mesmo vendendo muitos consoles, mantém um bom relacionamento com cerca de 20% de seus clientes mais fiéis com seus exclusivos, ou da Microsoft que, desde o primeiro Xbox, construiu uma base de jogadores, através da Xbox Live e seus jogos, que se sentem satisfeitos com os seus serviços.
Assim, 3DO e Atari teriam sim espaço nos dias atuais. Pelo menos com uma base de fãs construída. Imagino que a 3DO Company, por contar com diversas empresas envolvidas, incluindo a EA, poderia ter melhor sorte, batendo cabeça com Sony, Microsoft e Nintendo como uma quarta força. Com a vantagem de, como contava com várias companhias dentro do mesmo projeto, novos consoles variados, assim como o mundo do PC, poderiam ampliar ainda mais as possibilidades.
Já para a Atari, talvez o seu lugar fosse, atualmente, o de uma empresa que, assim como a Nintendo, mantém uma base fiel com seus jogos (o que inclui clássicos e possíveis novas séries que poderiam chegar) e se manteria sustentável com eles.
A Atari de hoje busca unir o legado do passado com elementos do futuro, como o uso de criptomoedas e NFT. Talvez, com um console e posição no mercado, a postura pudesse ser a mesma, mas com um produto que pudesse ser a porta de entrada para este mundo.