Arkade VR: Hubris tem ficção científica de primeira na realidade virtual
Nos últimos anos os games em realidade virtual tem recebido uma espécie de “padronização” de desempenho decorrente da popularidade do Meta Quest 2. Nada é ambicioso ao ponto de exigir demais do aparelho de realidade virtual mais popular do mercado. Entretanto, exceções a essa regra existem, como é o caso de Half-life Alyx, de 2020 e agora, de Hubris em 2022.
Comparar o Hubris ao popular game da Valve não é nem de longe um exagero. Isso porque o jogo da Cyborn B.V. sai da mesmice apresentando um gameplay repleto de mecânicas muito imersivas, uma história de ficção científica séria e interessante e, principalmente, visuais de cair o queixo. Muitos podem até duvidar que se trata de fato de um game em realidade virtual tamanha a qualidade visual que o jogo apresenta. E vamos falar de todos os erros e acertos do título nessa análise completa.
Um recruta no lugar errado
A história de Hubris se passa em um futuro sem datas, com o jogador na pele de um recruta da chamada OOO (do inglês Order Of Objectivity), uma organização paramilitar responsável por pesquisas de desenvolvimento tecnológico e responsável pela segurança no sistema. Enquanto estávamos a caminho do centro de treinamento com nossa piloto Lucia, recebemos a missão de auxiliar uma agente da OOO em um planeta gêmeo intrigante.
Entretanto, ao chegar na órbita desses planetas, somos atingidos por outra nave em fuga e acabamos caindo. Daí em diante, precisamos seguir ordens da piloto Lucia a fim de entender o que está acontecendo nestes planetas e como podemos alcançar a agente especial Cyana, a qual fomos designados a auxiliar. O jogo assim se desenrola através de cerca de 8 horas de campanha, com diversos desafios diversificados e personagens misteriosos pelo caminho.
No final, temos uma história clichê de ficção científica mas que cumpre seu papel com excelência aqui. A complexidade da história acompanha muito bem a curva de complexidade de mecânicas de jogo, dando à experiência de Hubris como um todo um ritmo orgânico muito palatável e até bem viciante. Claro que o ritmo dessa história, na prática da jogatina, gira em torno de você alcançar um local, resolver problemas que te impedem de continuar para assim alcançar outro local e repetir o processo.
Entretanto, mesmo que soe um tanto repetitiva nesse quesito, a soma de uma narrativa séria e concisa com mecânicas de movimentação, combate e interações com o ambiente muito imersivas e, como cereja do bolo um visual estupendo, torna a experiência basicamente incrível.
Imersão como toda realidade virtual deveria ter
Muito se fala sobre o visual estupendo que Hubris apresenta e realmente é digno de nota. Diversas vezes eu fiquei de queixo caído com os efeitos de lux e reflexo do jogo, além da caracterização, movimentação e visual dos personagens humanos. É realmente surpreendente o nível técnico que os desenvolvedores conseguiram aqui. Porém, o jogo poderia ser simplesmente uma vitrine em realidade virtual caso só tivesse gráficos. E definitivamente esse não é o caso aqui.
Hubris possui inúmeras mecânicas de interação muito imersivas que juntam o melhor do que foi feito em games de realidade virtual nos últimos anos. E o jogo consegue fazer isso surpreendentemente sem mostrar o corpo completo do nosso avatar, tendo somente mãos e braços visíveis. Desde o início do jogo podemos nadar usando movimentação dos braços muito realistas, escalar usando mecânicas de parkour excelentes, coletar recursos manualmente, vistoriar caixas e coletar itens.
Como sua progressão foi construída de forma muito inteligente e orgânica, você começa a entender aos poucos tudo o que é possível fazer no jogo. E isso é importante de ser mostrado aos poucos mesmo, pois foge bastante da regra do que vemos nos últimos tempos em games de realidade virtual. Hubris não é um jogo de mundo aberto, mas a liberdade que temos em cada cenário para interação e movimentação fazem você esquecer as barreiras do jogo.
Acho digno de nota aqui a física de escalada e de natação, que são de longe as mecânicas mais imersivas e realistas que já vi em um game de realidade virtual até hoje. Fora isso, temos todo um arsenal de mecânicas de coleta de recursos, crafting e puzzles no decorrer da jogatina que se alternam com combates para dar uma experiência bem completa ao jogador. Mais uma vez, a única comparação válida aqui é com o já citado Half-life Alyx.
Entre puzzles e plataformas
Para além da exploração, coleta de recursos e combates, Hubris me chamou bastante atenção por apresentar por praticamente toda a sua jogatina momentos nos quais precisamos resolver puzzles e, principalmente, superar obstáculos com mecânicas de jogos de plataforma. Esses pra mim foram os momentos mais brilhantes do game, que trouxeram um frescor muito bem vindo para a jogatina “mais do mesmo” que a realidade virtual às vezes cai.
Existem momentos de escaladas em paredões de pedra, momentos que precisamos nadar por cavernas submersas, saltar entre plataformas que se eletrificam alternadamente, se equilibrar em canos sob um abismo ou então se pendurar em tubulações para superar obstáculos. A forma como o game consegue juntar puzzles com plataformas e ao mesmo tempo traduzir de forma tão divertida tudo isso para a realidade virtual é excelente.
Mas os combates também não deixam muito a desejar, com um sistema de evolução de armas através de três árvores que, mesmo que básicas, cumprem seu papel. Além disso, não precisar se preocupar com munição é um ponto alto para mim, uma vez que a arma recarrega de forma automática sempre que você deixa ela na posição vertical ao lado de sua cabeça. Um sinal auditivo e de vibração inclusive te indica que a arma foi recarregada sem que você precise olhar pra ela.
Os inimigos por sua vez começam bem básicos e passivos, mas com o tempo aumentam em variedade e complexidade, com muitos deles surgindo ao mesmo tempo e se movimentando livremente pelo cenário. Os combates dão uma liberdade de movimento que achei muito interessante e prazeirosa, mesmo que alguns problemas de taxa de quadros atrapalhem aqui e ali. E bom, chegou a hora de tirar o elefante branco da sala e falar sobre isso.
A maldição da má otimização
Até o momento deu pra notar que Hubris me trouxe uma experiência incrível que há muito tempo eu não vislumbrava na realidade virtual, certo? Pois bem, aqui chega o momento que a gente deixa todos os pontos positivos do jogo de lado um pouco para apontar algo gritante: os inúmeros problemas de otimização que o jogo possui. Inclusive, problemas estes que influenciaram a minha espera para postar essa análise, uma vez que ao receber o game antes do lançamento ele estava praticamente não jogável.
Mas com as atualizações do dia de lançamento do jogo ele voltou a ser jogável e consegui desfrutar de bons momentos com ele. Antes, eu havia conseguido jogar apenas uma hora e meia dele, por conta de quedas de taxa de frames que faziam o jogo literalmente ficar a 2 frames por segundo impossibilitando até o fechamento do mesmo. Felizmente após o lançamento quedas tão absurdas não aconteceram mais, porém as quedas de taxas ainda existem.
Elas ocorrem de forma aleatória e passam igualmente do mesmo modo. Os momentos mais frustrantes, sem dúvida, são quando as quedas de frames ocorrem durante combates ou então quando você está tentando saltar entre plataformas. As quedas de frames são tão aleatórias que uma mesma cena repleta de inimigos estava completamente travada em uma tentativa minha para na seguinte se mostrar completamente fluida e sem problemas. É realmente uma roleta russa que pode ou não atrapalhar a sua jogatina.
Como se não bastasse essas quedas consideravelmente frequentes na taxa de quadros do game, temos também alguns bugs de objetos que inclusive me fizeram morrer diversas vezes. Isso porque quando você sobe em alguma plataforma móvel, quando está em um trem em movimento ou então em um elevador, corre-se o risco do seu personagem atravessar o chão ou uma parede e ser arremessado para fora do veículo. Isso aconteceu quatro vezes em três momentos cruciais da jogatina comigo, o que causou certa frustração.
Potencial para ser um dos melhores games VR dos últimos anos
Jogar Hubris me deu um mix de sensações diferentes. Depois de anos jogando títulos em realidade virtual, fazia tempo que eu não me surpreendia tão positivamente com um game assim. Entretanto, não dá pra dizer que o jogo é perfeito, mas sim que ele pode ser. Isso porque dependemos de futuras atualizações da Cyborn B.V. para que o game fique livre dos problemas técnicos que, felizmente não o impedem de ser jogado, mas atrapalham.
De qualquer modo, Hubris é um respiro muito proveitoso em meio a tantos lançamentos não tão bons que tivemos esse ano na realidade virtual. Ele se junta com títulos como Half-life Alyx, Red Matter, Pixel Ripped e outros mais no panteão dos melhores games em VR até hoje. Uma jogatina obrigatória para os amantes de imersão, mas que precisa de alguns ajustes da desenvolvedora para se mostrar verdadeiramente impecável.
Hubris foi lançado no dia 7 de dezembro de 2022 para PC via Steam e possui legendas em português brasileiro. Versões do jogo para o Meta Quest 2 e para o PlayStation VR2 já foram confirmadas, mas sem datas ainda.