E o primeiro episódio do The Last of Us da HBO, hein?
Enfim, The Last of Us chegou. Carregada por um caminhão de expectativas, a série da HBO contava com a promessa de que, enfim, seria uma adaptação de games que respeitaria ao máximo a obra original. Tanto que Neil Druckmann, um dos grandes nomes da série, esteve envolvido de forma direta na produção do seriado.
É injusto dizer que toda produção baseada em games é esculachada, e que traz coisas esquisitas em relação a obra em que vai adaptar. Pra um Street Fighter 2 – O Filme ou para as bizarrices envolvendo Resident Evil, tivemos um Mortal Kombat, aquele filme B de 1995, mas que pelo menos trazia a essência dos jogos, ou o recente anime de Cyberpunk 2077, que não é a oitava maravilha do mundo, mas é bem competente. The Witcher também é um bom exemplo, além da série de Halo ou outras que estão vindo aí, como Gears of War ou Assassin’s Creed.
Mas o que foi feito no primeiro episódio do The Last of Us, realmente conseguiu agradar todo mundo. Sei que existem os fãs mais fervorosos (e os de TLOU são demais), e que apreciaram com muita alegria cada momento das uma hora e vinte de episódio. Mas mesmo quem não é um grande fã da série, ou mesmo quem é totalmente alienado a games e viu o seriado apenas porque chamou a atenção lá na HBO Max, também viu uma boa produção, feita com muito cuidado e capricho.
Já que essa é uma série sobre uma história que completa 10 anos de vida neste ano de 2023, spoiler não é algo com que muitos estão se preocupando. Mas sei que tem quem ainda não jogou o game, ou até vai querer jogar após ver a série, ou quem quer ter uma experiência mais apropriada com o seriado. Então, se qualquer spoiler for sensível pra você, volta aqui depois.
Pra começo de conversa, não achei nada tão arrastado como falaram, não. Os primeiros dez, quinze minutos, apesar de ser mais pra apresentar personagens do que pra mostrar “pra quê a série veio”, até que funcionou muito bem. Das uma hora e vinte, uns vinte e cinco minutos mostram mais do que um game poderia mostrar sobre os dias antes do caos no mundo de The Last of Us. Não é aquele começo “chato” e que inventam algo pra tapar buraco de tempo. Vemos sim os personagens vivendo suas vidas comum, como deveria ser, e uma “sombra de ameaça” discreta, mas presente. Afinal, o mundo já havia mudado, só os personagens não sabiam disso ainda.
Além disso, pequenos detalhes que a dinâmica de um jogo (mesmo The Last of Us que gosta de tudo “explicadinho nos mínimos detalhes”) não pode oferecer aparecem no seriado, expandindo a compreensão do drama de Joel e a perda da sua filha Sarah. Uma coisa muito interessante é ver que ampliaram os 16 minutos da cutscene original do game em quase meia hora de vídeo, mantendo a essência e até levantando de forma melhor algumas questões que fãs adoravam discutir por anos.
É legal ver também que Joel já começou a conviver com situações que seriam corriqueiras pelos próximos anos de sua vida, durante a fuga inicial do caos em Austin. As “coisas que não estão no jogo”, também cumprem bem o seu papel, pois foram planejadas para ampliar a interpretação da série para o fã, e mostrar pra quem não conhece a franquia mais sobre a conexão entre os personagens, como a “tal da” última cena, em que mostra os laços paternais de Joel, que não quer ver o seu sofrimento de perder a filha acontecer de novo, e que vai guiar a “road trip” pelos EUA na companhia da jovem Ellie.
Sobre o lado “terror”, The Last of Us até foi apresentado como tal, lá pra 2013, mas o tempo foi direcionado a franquia para algo mais focado no drama. Sim, o jogo e a série tem as suas coisas esquisitas e seres carniceiros, mas o que vemos aqui está muito distante de qualquer coisa que se relacione ao terror. E, pelo visto, os próximos episódios seguirão focando mais nas relações entre os personagens, especialmente Joel e Ellie, do que em infectados e demais criaturas presentes.
O negócio é o seguinte: quando um fã de um game sabe que uma adaptação do jogo preferido vai rolar, eles querem apenas uma adaptação decente. Os fãs até aceitam uma alteração ou outra, mas não custa nada em manter a essência. Porém, foram anos vendo a essência dos jogos sendo trocadas por ideias absurdas e sem noção. Eu nem vou citar exemplos pois você já está com vários na sua mente.
The Last of Us faz o arroz com feijão, e muito bem feito. Eu não sou um fã fervoroso da série, logo você não vai ver por aqui palavras mais emocionadas. Entretanto, vendo e conversando com fãs da série, que realmente estavam muito empolgados neste último domingo, e ficaram satisfeitos com o que viram, fica a lição de que não é preciso muito para se fazer uma boa adaptação. Basta começar com respeito ao game original.
Respeito esse que é visto nos detalhes, como recriações perfeitas de cenas de jogos, ou mesmo o fato da dublagem brasileira contar com as mesmas vozes dos jogos. É algo muito simples, muito “besta” até se for observar bem, mas que a indústria audiovisual, seja lá o motivo, raramente se dá ao trabalho de observar estas questões.
O mais interessante aqui é que, mesmo quem nunca viu um game da série, e nem sabe que a franquia existe (e acredite, existe muita gente pelo mundo distante dos games), consegue curtir um seriado excelente. Que manteve a essência do jogo original, trouxe novidades narrativas que fazem muito sentido e que trouxe um cartão de visitas bem interessante, já garantindo que todo domingo os fãs fiquem esperando a exibição do episódio, para discutir enredo, teorias e procurar easter eggs.