Análise Arkade: System Shock Remake é uma excelente viagem ao passado

1 de junho de 2023
Análise Arkade: System Shock Remake é uma excelente viagem ao passado

System Shock, um dos mais icônicos e importantes FPS da história, finalmente teve seu remake lançado esta semana pela Nightdive Studios, trazendo esse clássico para um público mais novo com uma nova “roupagem”, mas de forma religiosamente fiel a seu original.

E é hora de conferir nossa análise completa do game, por isso equipe-se bem, gerencie seus implantes cibernéticos e prepare-se para encarar a cruel S.H.O.D.A.N., seu inseto humano!

System Shock e seu contexto histórico

Análise Arkade: System Shock Remake é uma excelente viagem ao passado

System Shock era um game que me intimidava. Nunca na vida eu joguei a série, mas a icônica face da inteligência artificial S.H.O.D.A.N. (Vamos chamá-la simplesmente de SHODAN, para facilitar), com seu olhar sádico, sorriso malicioso e “veias” e “cabelos” de circuitos eletrônicos sempre ficou marcada em minha mente desde a primeira vez que a vi.

System Shock foi lançado originalmente em 1994, no mesmo ano de Doom 2, a “Era de Ouro” dos First Person Shooters, que ainda eram uma novidade, mas ofereciam tanta variedade e criatividade que deslumbravam qualquer jogador. E, além disso, o game era um novo marco para os PC Games, ousando e elevando o nível das criações para a plataforma.

Análise Arkade: System Shock Remake é uma excelente viagem ao passado

Sendo um FPS da década de 90, esse era um game verdadeiramente gigante, com mapas enormes e labirínticos e nenhuma instrução sobre o que você devia fazer ou para onde devia ir. E, além disso, o game possuía muitos detalhes e “segredos” interativos que facilmente passam despercebido se o jogador não prestar atenção nos cenários, seja um painel na parede que revela alguma sala importante, algum item que se mescla com elementos do cenário, ou, principalmente, itens, textos ou arquivos de áudio que ajudam a descobrir o que você precisa fazer.

Com tudo isso, o primeiro contato com System Shock é intimidador, não apenas em sua exploração, mas em seu combate, pois é muito fácil sentir-se despreparado para os desafios que encontrar, principalmente porque este não é como os FPS atuais, em que você progride a medida que seu personagem vai ficando melhor equipado. Aqui, você progride, e ponto. Se você estará preparado ou não, isso é inteiramente responsabilidade sua.

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Dessa forma, entrar em seu mundo cyberpunk pela primeira vez, principalmente nos dias de hoje, é (com o perdão pelo trocadilho) um verdadeiro choque de sistema. Mas, diferente do medo que eu tinha de encarar o game, temendo me deparar com um game antigo sem direcionamento algum, sem qualquer explicação de o que devo fazer ou mesmo como fazer, jogar o remake me surpreendeu de forma enormemente positiva, pois o que temos aqui é um remake totalmente fiel a seu original, mas mais amigável com jogadores novos.

Fuja de um inferno na forma de uma estação espacial

System Shock nos leva a um futuro que atualmente nem é tão distante assim, ambientado no ano de 2072, em um mundo cyberpunk que tira inspirações visuais bem diretas de filmes como Blade Runner, com um estilo Neon Noir bem vivo.

Neste mundo, você controla um personagem silencioso, conhecido apenas como “O Hacker”, que acaba sendo preso ao tentar invadir o sistema da TriOptimum Corporation e roubar dados de um implante cibernético secreto. O Hacker é então levado até a Estação Cidadela, uma gigantesca estação espacial orbitando o planeta Júpiter, propriedade da TriOptimum.

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Lá, ele conhece Edward Diego, um dos executivos da corporação, que lhe propõe um acordo: Todas as acusações contra o Hacker serão apagadas, e o implante que ele tentou roubar será dado a ele, se ele realizar um simples serviço: Hackear a inteligência artificial SHODAN, que controla toda a Cidadela, e desligar suas restrições éticas. Ele aceita, mas imediatamente após isso é traído e colocado para “dormir”.

Seis meses depois, ele acorda sozinho em uma das salas de cirurgia da Cidadela e se encontra num verdadeiro inferno: Sem suas restrições éticas, SHODAN tomou controle de toda a estação e iniciou um verdadeiro massacre, caçando todos os humanos residentes na estação e realizando experimentos, transformando-os em mutantes grotescos ou em ciborgues assassinos. Ela fez tudo isso para alcançar um terrível objetivo: Destruir a humanidade e escravizar aqueles que sobrevivessem, tornando-se uma deusa e colocando todas as formas de vida da Terra sob seu terrível jugo.

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O game conta sua história através de arquivos de áudio e texto encontrados ao explorar a Cidadela. E encontrar esses arquivos é essencial para entender toda a história, o porquê de tudo estar acontecendo e o que SHODAN fez com os habitantes da estação espacial. Felizmente, System Shock não oferece arquivos quilométricos de texto para serem lidos, assim, fica muito mais tranquilo de absorver sua história.

System Shock Remake ainda oferece níveis de dificuldade customizáveis que vão da dificuldade 1 a 3, com quatro quesitos principais que você define antes de iniciar um novo save:

Combate: Define o nível de desafio dos inimigos. Quanto maior o número de dificuldade escolhido, você encontrará inimigos mais fortes e em maior quantidade.

Missão: No nível 1, o game identifica no mapa para onde você deve ir, e você não corre o risco de dropar itens chave por engano. No nível 2, o nível padrão, você não possui nenhum tipo de ajuda, ou seja, o game não te mostra para onde ir e você pode perder itens chave. E por fim, no nível 3, você tem apenas 5 horas para terminar o game, e se morrer, o save é apagado.

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Ciber: Essa dificuldade é relacionada ao trechos de exploração do ciberespaço da estação. Em alguns trechos do game, você acessa o ciberespaço em busca de informações importantes, itens chave, ou então para desbloquear certas passagens, explorando um ambiente 3D com movimentação livre, como se você estivesse voando. Quanto maior o nível, mais inimigos você encontra e, se morrer no ciberespaço, morre no “mundo real” do game.

E, por fim, Enigma, que define o nível de dificuldade dos puzzles principais para avançar a narrativa, como por exemplo painéis elétricos que você precisa mexer para direcionar fluxos de energia.

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Explorando o ciberespaço

Em minha jogatina para este review, joguei com todos os quesitos na dificuldade 2, ou seja, joguei a experiência base que o game oferece, e a mais indicada para quem nunca jogou System Shock. Sendo assim, joguei sem que o game jamais me oferecesse uma única ajuda, tendo que me virar sozinho para sobreviver, encontrar o caminho certo e descobrir o que precisava fazer.

A Cidadela é gigantesca, com seu mapa dividido em níveis. Cada nível possui suas próprias características e perigos, e todas possuem seus próprios mapas completos. Você pode explorar a Cidadela inteira da forma que desejar, a única restrição é encontrar os elevadores que conectam cada um de seus níveis.

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Além disso, você precisar ficar de olho no seu inventário, pois ele tem um tamanho limitado. Todo tipo de item pode ser coletado aqui, itens de cura e buffs, armas, armas quebradas e lixo. Usar um item de cura, por exemplo beber um refrigerante, gera lixo. Você pode vaporizar itens inúteis para abrir espaço em seu inventário, e pode então reciclar a sucata produzida com a vaporização em estações especiais, o que gera dinheiro para você. Ou você pode carregar itens inteiros para reciclagem, que valem um pouquinho mais. Com esse dinheiro você pode comprar itens, armas e munição em lojinhas especiais espalhadas pela estação. Porém, os pontos de venda estão bem espalhados pelo mapa, sendo assim, é importante também gerenciar o seu trajeto, para evitar ficar rodando o mapa excessivamente.

System Shock não é um FPS de alta velocidade, como outros games do mesmo estilo em sua época. Seu foco está na exploração e resolução de puzzles. Porém isso não significa que há poucos inimigos aqui, existem muitos deles, e eles ficam progressivamente mais fortes. Para enfrentá-los, você precisa encontrar armas pela Cidadela, de canos de metal, chaves inglesas a pistolas, rifles de plasma, granadas e etc.

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Os inimigos não são muito espertos, mas eles são fortes. Mutantes apenas caminham em sua direção até estarem próximos o suficiente para atacar. Ciborgues equipados com armas escondem-se e conseguem mirar em você pelo menor dos vãos, isso sem mencionar inimigos mais fortes como robôs e andróides, que causam um estrago realmente grande e são muito perigosos de se enfrentar frente a frente.

Para que o jogador não seja um vaso frágil durante todo o game, quase a ponto de morrer a cada ataque sofrido, em sua exploração você conseguirá achar diferentes itens que o auxiliam em combate, desde implantes cibernéticos que geram escudos que reduzem o dano, a munições alternativas que causam dano maior.

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Em resumo, preste atenção nos cenários, explore e enfrente os perigos da Cidadela com sabedoria. Fazendo isso, o gigantesco mapa de System Shock será bem menos intimidador (mas jamais deixará de causar uma sensação de insegurança constante).

Audiovisual

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Desde seu anúncio, até seu lançamento, System Shock Remake passou por um desenvolvimento conturbado, e o visual atual está bem diferente daquele mostrado em seus primeiros trailers. Inicialmente o game tinha um estilo bem sombrio e mais puxado para o terror, e o seu visual de lançamento é mais colorido e muito mais próximo do visual do game original de 1994.

Não apenas isso, mas todo o game simula o visual original de forma muito legal. Ele é todo construído com modelos novos em alta resolução, muitos detalhes extras e um excelente sistema de iluminação, mas se você observar bem de perto, verá que todas as paredes, itens e o próprio HUD são construídos por pixels de baixa resolução, criando um contraste muito interessante. A melhor forma de explicar isso é como se a Nightdive tivesse apenas pego as texturas de cenários e objetos do game original e meramente adicionado uma modelagem 3D de alta qualidade sobre eles. Falando parece até que o game é feio, mas pelo contrário, ele é muito bonito!

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Repare nos pixels em baixa resolução no item que o Hacker está segurando!

A Cidadela é composta por muitos corredores e salas com visuais muito distintos, salas de tetos baixos, computadores e luzes a todo lado que se olha, e muita carnificina, com manchas e trilhas de sangue por todo lado, restos de corpos destroçados e ainda úmidos, máquinas destruídas e etc. A Cidadela conta sua história não só pelos arquivos de texto e áudio, mas visualmente, quando se observa bem o que aconteceu em cada uma de suas salas e corredores.

O destaque vai principalmente para a iluminação, que está verdadeiramente excelente. A Cidadela é cheia de Neon e luzes coloridas, que criam uma atmosfera única e inconfundível, daquelas que qualquer pessoa que bata o olho saiba que aquilo é System Shock.

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Sua trilha sonora é bem ao estilo Synthwave, porém não é muito presente, visto que o game é focado na construção de sua atmosfera através de sons ambientes. A todo momento você ouvirá bipes de computadores, rangidos de tubulações, sons de eletricidade correndo, de elementos mecânicos e eletrônicos e, é claro, os sons de inimigos próximos. Desde sons de Mutantes devorando os mortos, a ciborgues repetindo ordens e louvores a SHODAN.

System Shock Remake ainda possui localização em português brasileiro em seus menus e legendas! O trabalho de localização ficou excelente. Porém, por algum motivo estranho, ao jogar em português brasileiro as fontes dos textos ficam diferentes da fonte original em inglês. É apenas um detalhes de formatação, mas fica bem visível.

Conclusão

Análise Arkade: System Shock Remake é uma excelente viagem ao passado

Antes de jogar System Shock Remake eu temia me deparar com um game muito arcaico e complicado, ou então me deparar com um game exageradamente facilitado e destoando de seu original. Felizmente, o que me deparei aqui não é nenhum desses casos!

Este é um remake excelente, que segue a risca o que o original entregou (e inovou) lá em 1994, mas o faz de uma forma convidativa e bastante interativa. As opções de customização de sua dificuldade são um excelente atrativo para novos jogadores poderem experimentar este clássico renascido sem medo. Você pode, por exemplo, deixar todos os inimigos e puzzles no nível máximo, mas desativar as ajudas de missão. Pode jogar com tudo no nível fácil, mas em modo permadeath. System Shock Remake te deixa jogar como você preferir.

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E não só isso, mas System Shock é uma parte importante da história dos video games, em especial da história dos FPS, sendo um game que eu, que tive meu primeiro contato apenas com este remake, acredito que todos deveriam experimentar pelo menos uma vez na vida, tanto por suas muitas qualidades, quanto por sua importância histórica.

Mas, ressalvo que este é um FPS muito diferente do que estamos acostumados hoje em dia, e que certamente causará estranheza em seu primeiro contato, principalmente entre o público mais jovem, acostumado a tiroteio frenético em sessões rápidas de jogo. Mas, se você se permitir a experiência, certamente sairá marcado de alguma forma, seja por gostar do game, ou até mesmo ao contrair um poderoso medo da SHODAN.

System Shock Remake foi lançado no dia 30 de maio com versões para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.

Renan do Prado

Amante de Metal Gear, platinador de Soulsborne e exímio jogador online (quando o lag não atrapalha).

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