Análise Arkade: as novidades de The Last of Us Part II Remastered no PS5
The Last of Us, uma franquia que tem mais remakes e remasterizações do que jogos originais, está voltando. Desta vez, vamos revisitar o incrível (e controverso) The Last of Us Part II, que chega remasterizado ao Playstation 5 nos próximos dias.
Antes de mais nada…
Um pouco de contexto: The Last of Us Part II foi um jogo difícil de engolir. Sei que vai parecer drama, mas jogá-lo antes do lançamento (sem poder conversar sobre o jogo com ninguém, por questões de embargo), em pleno início de pandemia (meados de 2020), em isolamento, e passando por diversas questões psicológicas/pessoais foi uma experiência bem desgastante.
Apesar da experiência como um todo ter sido meio traumática, reconheço The Last of Us Part II como um dos melhores jogos que já joguei. E falo isso especialmente por sua narrativa, por sua coragem. Ele é áspero, incômodo, amargo… mas também é brilhante, e constrói seu enredo de um jeito que não seria possível em nenhuma outra mídia.
Na época em que publiquei minha análise, havia severas restrições do que eu podia ou não comentar. Nem pude falar da Abby, por exemplo, e olha que a gente passa quase metade do jogo com ela! Apesar disso, fiz o melhor que pude. Minha análise (SEM SPOILERS) está no link abaixo:
Algumas semanas depois, quando o jogo já havia sido lançado e boa parte do público já tinha jogado, elaborei um novo texto, da nossa coluna Depois do Fim, para poder falar abertamente (COM SPOILERS) sobre tudo: a trama, as duas protagonistas, as reviravoltas e todas as polêmicas que cercaram uma sequência que definitivamente não era bem o que boa parte dos fãs esperava.
Foi ótimo escrever essa “pós-análise” para fazer justiça ao jogo do jeito que eu acho que ele merece. Ainda me orgulho muito desse texto, que você pode relembrar clicando aí embaixo:
Por que estou dizendo tudo isso antes de falar sobre a versão remasterizada que chega esta semana? Bom, basicamente porque esses textos seguem válidos. Hoje, não vou esmiuçar a história ou as mecânicas do jogo.Isso tudo permanece igual. O foco aqui são as novidades e aprimoramentos da versão PS5. Então, se quiser um pouco mais de contexto, recomendo que clique nos links acima. 😉
Dito isso, acho justo começarmos este papo com uma pergunta deveras pertinente:
Precisava de um The Last of Us Part II Remastered?
Olha, existem diferentes perspectivas que devem ser analisadas para responder a essa pergunta. Então, eu diria que por um lado, não. Mas por outro, sim.
O lado do público
Pensando pelo lado do público, meio que não precisava. Afinal, o lançamento original nem tem tanto tempo assim. The Last of Us Part II ainda é um jogo super recente, e já era um primor técnico em 2020, levando o PS4 ao limite do que seu hardware podia oferecer.
Sem contar que, como o PS5 tem retrocompatibilidade com o PS4, a versão original ainda é perfeitamente jogável. Não é como se o jogo tivesse ficado “preso” em uma plataforma obsoleta — caso de alguns clássicos de PS3, por exemplo.
Para mim, o que mais “dói” nessa história toda é ver como a Naughty Dog — um estúdio extremamente criativo e talentoso — ficou presa a The Last of Us. Na verdade, nos últimos anos, só o que ela lançou foram remakes e remasterizações de suas principais franquias (Uncharted e The Last of Us).
Eu falei brincando lá no começo, mas é verdade: The Last of Us é uma franquia que tem mais remakes e remasterizações do que jogos propriamente ditos. E isso me deixa chateado. Eu queria ver essas mentes brilhantes criando algo novo, original, diferente, e não apenas “requentando” seus maiores sucessos…
O lado da Sony
A Sony, por sua vez, tem muitos motivos para querer relançar The Last of Us Part II. E nem falo por questões financeiras, embora, claro, isso não possa ser descartado. Mas, em 2024, há muitas outras questões envolvendo “a marca” The Last of Us.
A mais óbvia é a premiada série da HBO — e a repercussão que ela gerou. Do ano passado para cá, milhões de pessoas passaram a conhecer The Last of Us por conta da série. Com a nova mídia, chega um novo público em potencial, ávido por saber mais.
Com uma segunda temporada garantida — que já até contratou os intérpretes de muitos personagens famosos, como Abby e Dina — manter o nome The Last of Us fresco na cabeça do público é uma forma de não deixar o hype morrer.
Além disso, existe também uma questão de coesão artística. Por mais questionável que seja a existência do The Last of us Part I (o remake), é fato que ele mudou um pouco a visão daquele mundo, que, afinal, foi criado em 2013 para o já antigo PS3.
A Ellie adolescente ganhou traços mais realistas, e todo o elenco passou por uma “plástica”, com modelos atualizados e muito mais detalhados.
A iluminação e a paleta de cores sofreram alguns ajustes. O motor gráfico foi atualizado, para deixar tudo mais condizente com o hardware atual. O remake do primeiro jogo “conversa melhor” com a estética do segundo.
Dá uma olhada nos pôsteres abaixo. É como se eles se completassem, fossem duas metades de um todo.
Somado a tudo isso, tem, obviamente, o apelo de mais este título de peso no catálogo do PS5. E, considerando o remake do primeiro jogo e a remasterização do segundo, o PS5 passa a ser “o melhor lugar” para se ter a experiência completa de The Last of Us.
E não estou falando isso só para te convencer de que essa remasterização era necessária. Como jogador, ainda acho que não era. Porém, é importante deixar claro que a Sony e a Naughty Dog têm seus motivos para apostar nessa nova versão.
Tá, mas e as novidades?
E aqui está algo que sem dúvida deixa os fãs minimamente curiosos. Junto com The Last of Us Part II Remastered, foram incluídos materiais extras muito apetitosos, com destaque para algumas fases que foram descartadas, um novo modo de jogo roguelike chamado Sem Volta, e mais algumas surpresinhas.
Falemos um pouco mais sobre cada umas dessas novidades:
As fases perdidas
Aqui temos 3 trechos não finalizados que acabaram sendo cortados do jogo final. Elas não foram incorporadas à campanha, e são acessadas individualmente pelo menu principal. Elas são jogáveis, mas estão em diferentes estágios de produção. O próprio diretor, Neil Druckmann, gravou uma introdução para cada uma delas.
A primeira fase “perdida” se passa em uma noite de festa no vilarejo de Jackson. É a mais “crua” das três, e não possui nem dublagens. O destaque vai para uma brincadeira de pega pega na qual as crianças injetam um pouco dos terrores do mundo em que vivem.
A segunda é uma incursão pelos esgotos de Seattle. É um trecho praticamente sem combate, que envolve uma série de environmental puzzles: Ellie precisa dar um jeito de driblar a força da água, ou arrumar rotas alternativas para ir do ponto A ao ponto B. Prepare-se para rastejar um bocado por ambientes insalubres.
Por fim, temos uma cena da Ellie caçando um javali, que está relacionada aos transtornos de PTSD da peronagem. Esta é a fase mais “concluída” das três, e inclui até mesmo uma breve cena de encerramento. Gravei um pouco do meu encontro com o bicho, confira abaixo:
Os comentários dos produtores — explicando onde esses trechos entrariam e porquê eles foram cortados — são bem interessantes, e trazem um bom contexto para quem gosta de bastidores. Mas, em termos de gameplay, não espere muito conteúdo: é possível jogar todas as “fases perdidas” em cerca de meia hora.
Sem Volta
Aqui temos a Naughty Dog brincando com o gênero roguelike. Vamos encarar uma série de “arenas” com diferentes tipos de inimigos e objetivos. Em alguns casos, somos o caçador; em outros, a caça. O objetivo pode ser acabar com um número X de inimigos, ou sobreviver até que o tempo termine.
Entre uma rodada e outra, voltamos ao acampamento para comprar novas armas ou fazer upgrades que valerão por toda a partida. Ao final de uma série de desafios, há o confronto com um chefão. Morrer, a qualquer momento, reseta e reinicia tudo.
Eu não sou realmente o público-alvo desse tipo de experiência roguelike pautada por repetição, mas joguei algumas partidas e me diverti. O mais legal é a possibilidade de desbolequearmos vários personagens com os quais nunca pudemos jogar, como Tommy, Lev, Dina e Jesse. E cada personagem possui trajes únicos e uma trilha de desafios específica para ele.
Acredito que, até pelo sucesso do gênero roguelike em si, muita gente vai adorar. E, né, é um modo de jogo com fator replay praticamente infinito, o que aumenta consideravelmente a longevidade do game.
Prática de violão
Se você gostou de tocar violão com a Ellie, vai gostar de saber que, nesta versão remasterizada, foi incluído um modo livre de prática musical, acessado diretamente pelo menu principal.
A ideia aqui é dar espaço para os jogadores brincarem e fazerem covers mirabolantes, mas acredite: mesmo aqui há algumas surpresas bem curiosas. Por exemplo: que tal tocar banjo com o próprio Gustavo Santaolalla, premiado compositor que assina a trilha sonora do game?
Diferentes ambientes (que afetam a acústica), variações de instrumentos, pedais de distorção e até mesmo outros personagens são alguns dos recursos desbloqueáveis deste modo.
Recursos do PS5
Já falei um pouco disso lá em cima, quando falei sobre a coesão estética, mas não custa reforçar: The Last of Us Part II está mais bonito do que nunca no PS5. Na nova geração, ele roda em 4K nativo no modo Fidelidade, e também pode ser jogado sem restrição de framerate (em televisores compatíveis) no modo Performance. As texturas estão em maior resolução, as sombras têm mais definição, o alcance da visão foi ampliado… a lista de pequenas melhorias técnicas é longa.
A verdade é que The Last of Us Part II nunca foi um jogo feio ou bugado, e esta versão remasterizada mantém o patamar lá em cima no que diz respeito à sua qualidade técnica e audiovisual. As dublagens brasileiras seguem acima da média, e os loadings estão super rápidos e discretos.
Digna de nota é a utilização do DualSense, o controle do PS5. O jogo faz um bom uso do feedback háptico para aumentar a imersão do jogador, e os gatilhos adaptáveis emulam a resistência de gatilhos, cordas e alavancas. Nada é realmente inédito (especialmente se você jogou The Last of Us Part I Remake), mas são pequenas sensações que acrescentam um pouco mais de “textura” à experiência.
Conclusão
E aqui volta aquela pergunta: The Last of Us Part II Remastered precisava exisitir? Não necessariamente. Porém, acho que, ao longo deste artigo, te ajudei a entender um pouco a razão dele existir.
Mas, deixando questões mercadológicas e a marca em si de lado, uma coisa é fato: The Last of Us Part II é um jogo incrível. Indigesto, pesado, cruel… mas incrível. E ter uma “desculpa” para jogá-lo novamente, em um momento menos conturbado, só me fez valorizar ainda mais sua história, seus personagens e a coragem de seu roteiro.
Como o preço do upgrade é bem acessível (quem já tem o The Last of Us Part II de PS4, pode pagar apenas R$ 50 para ter a versão remasterizada no PS5), fica a seu critério decidir se vale do investimento ou não. Mas, uma coisa é fato: as melhorias e os novos conteúdos fazem desta a versão definitiva de um dos melhores jogos dos últimos anos.
The Last of Us Part II: Remastered será lançado no dia 19 de janeiro, exclusivamente para PS5.