Análise Arkade – Undisputed não é um nocaute perfeito, mas mostra potencial para ser um grande simulador de boxe
Desde sempre gostei de jogar um jogo de boxe aqui, outro ali. Quem foi criança nos anos 80 e 90 sabe bem do que estou falando, pois tínhamos Rocky Balboa nos cinemas, e pugilistas do calibre de George Foreman, Evander Holyfield e o icônico Mike Tyson, lembrando também do agora saudoso Maguila e de Popó, que representaram bem o nosso país nos ringues.
Como o boxe era “o UFC” do passado, quando digo de popularidade e interesse do grande público, vários games do esporte pipocavam nos mais variados consoles. Joguei bastante o Rocky do Master System, e o Super Punch Out no Super Nintendo, lembrando também que queria muito ter um Dreamcast, em 1999, pra jogar Ready 2 Rumble. Todos jogos de boxe, mas cada um ao seu estilo, uns mais “realistas”, outros mais abraçados com a insanidade arcade. Mas, ultimamente, estes jogos são muito escassos, já que o boxe foi perdendo popularidade e o interesse das produtoras.
Por isso, Undisputed tem sido visto como uma boa promessa desde que entrou no acesso antecipado no ano passado, já que o game foi anunciado, desde o início, como o simulador de boxe mais realista do momento. Além disso, o game também busca celebrar suas lendas, com Muhammad Ali e Roy Jones Jr. disponíveis. E, como o gênero está escasso, então ficava a pergunta: como que um game de boxe pode se sair em 2024? Hora de conferir!
O principal elemento de um game de boxe é a sua jogabilidade. Na história, cada game escolheu o seu próprio caminho, para colocar as lutas dos ringues nos games. Mas, raramente, tivemos algo que buscasse levar o realismo dos combates para os consoles e computadores. Por isso, o começo de Undisputed é um longo, longo tutorial, onde você aprende não apenas a dar socos, mas como se defender e esquivar, além de movimentos mais avançados.
É possível fazer muito mais do que apertar o botão de soco, já que seu pugilista pode efetuar várias sequências de golpes, quase como em um jogo de luta, mas sem os poderes especiais, obviamente. Isso faz com que as lutas não sejam nem um pouquinho “arcade”, exigindo o mesmo do cara que sobe lá no ringue pronto para uma luta: visão estratégica e estudo do oponente, antes de sair apertando o botão de soco aleatoriamente para “ver no que vai dar”.
É claro que o jogo não tem hadoukens e nem shoryukens, mas existe sim uma barra de especial, ou algo do tipo, para ganhar uma “força sobrenatural” e bancar um “Rambo no ringue” pronto para encher de porrada um oponente cambaleante. Não faz tanto sentido algo deste tipo em um simulador, mas a opção está lá para quem quiser um pouco de diversão nas lutas.
Este sistema pode afugentar jogadores mais ansiosos e que queriam apenas um “esmaga botões”, mas é muito bem vindo para quem gosta de explorar e conhecer todas as mecânicas de um game que se apresenta como simulador. Como o jogo é focado na estratégia do ringue, sabiamente os lutadores são diferentes uns dos outros, para valer toda esta proposta de gameplay, para que você desenvolva a sua melhor técnica, e saiba lidar com as técnicas dos rivais.
A ideia é até interessante, pois o jogo te coloca em contato com uma riqueza de movimentos diferentes, para entregar uma experiência realista do boxe. O problema é que tudo isso se apresenta de uma maneira muito truncada. Jogos de boxe nunca foram tão realistas assim, e jogando Undisputed a gente pode entender os motivos.
É muita coisa para se fazer, e que ainda por cima é confuso, e que deixa as lutas um tanto “travadas”. É muita coisa para se fazer, apenas com o objetivo de socar um adversário. Entendo que o boxe é um esporte muito complexo, mas assim como futebol, basquete e até o baseball conseguem simplificar seus fundamentos em um jogo, talvez o mesmo valesse a pena aqui. É tudo “realista” demais, e nos games, a gente já viu esse filme muitas vezes: jogos realistas demais, salvo um ou outro, ficam estranhos demais.
Ao menos o jogo entrega combates mais próximos da realidade, ou seja, nada de nocautes antológicos. Em Undisputed, o nocaute mais comum é o técnico, que é aquele onde o oponente é derrubado com contagem aberta por três vezes, com um sistema de recuperação que é fácil no começo, mas vai se dificultando com o passar da surra, caso seja você o saco de pancadas, até o nocaute. Mas, se o game tem um “boost”, não seria nada mal usar ele para um nocaute mais cinematográfico, uma vez aqui, outra ali.
Dominando os comandos, o jogador terá um modo carreira decente à disposição. Dá pra escolher lutadores famosos da história, assim como personalizados, distribuindo pontos de atributo, para melhorar os seus melhores aspectos no ringue. Dá pra treinar, negociar luta e até escolher associações, tudo para o caminho rumo ao cinturão.
E, para aproveitar isso, temos um game que traz um trabalho gráfico excelente. Undisputed conta com ricos detalhes dos lutadores e do ambiente do boxe. Os danos são realistas, você vê os lutadores suando mais conforme a luta se desenrola e até o rosto deles vão se deformando, com as pancadas. Na parte visual, o game realmente dá show e mostra muita qualidade em todos os aspectos essenciais em um jogo de boxe, dos ringues até os atletas.
Undisputed é um bem vindo simulador de boxe, mas que ainda precisa ser melhor lapidado. Não dá pra exigir muito do game, especialmente de seu gameplay travado, pois trata-se de um game pioneiro, que tomou coragem de fazer por si só as suas ideias de simulação, sem ter um norte ou uma referência. Mas agora eles terão, seja com o know-how do primeiro game, ou com o Feedback da comunidade. O mais importante, no entanto, é que enfim temos um novo game de boxe para curtir.
O visual do game é realmente impressionante, e conseguem entregar uma boa imersão na vida do boxe. Se o esporte não tem mais o mesmo furor de público do passado, isso não quer dizer que o boxe profissional não evoluiu, e que não entrega uma experiência de esporte e entretenimento incrível nos nossos dias, e isso o game entrega muito bem. Apenas espero, de verdade, que tudo isso entregue um game ainda melhor, em uma potencial sequência. Pois, apesar dos problemas deste primeiro jogo, tenho certeza de que ele terá um público fiel, e que uma sequência será realizada, pois o boxe merece.
Undisputed já está disponível para PC, PS5 e Xbox Series X|S, mas ainda falta uma bem vinda legenda em português, que seria bacana vir em uma próxima atualização.
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