Análise Arkade: fatiando tudo no frenético reboot de Strider (PC, PS3, PS4, X360, XOne)
Enquanto um novo Mega Man não acontece, a Capcom resolveu ressuscitar um outro personagem relativamente famoso: é o ninja Strider que está de volta, mais rápido e letal do que nunca! Confira nossa análise do novo Strider na sequência!
Embora para muito Strider seja somente um coadjuvante do elenco de Marvel Vs. Capcom, os gamers da velha guarda certamente já conhecem Hiryu de longa data. Em março de 1989, Strider debutou nos arcades, em um jogo de ação e plataforma 2D que mais tarde ganharia versões para Master System, Mega Drive e outras plataformas.
No ano seguinte, o game recebeu uma (tosca) sequência não oficial pelas mãos da Tiertex e, 10 anos depois, em 1999, a Capcom lançou o Strider 2 oficial, com versões para arcades e o Playstation 1.
Eis que agora, em 2014, a Double Helix (produtora que cuidou do reboot de Killer Instinct) uniu forças com a Capcom para trazer de volta o ninja Strider, em um game que é parte remake, parte reboot, mas, mais do que tudo, uma aventura frenética e desafiadora.
A trama segue os moldes do game original: no ano de 2048, o maníaco vilão Grandmaster Meio subiu ao poder e anda perpetrando o caos pelo mundo, valendo-se de um exército interminável de soldados e robôs para proteger sua base, em Kazakh City.
No papel de Hiryu, um dos mais hábeis ninjas do clã Strider (não, Strider não é o nome dele), sua missão é basicamente se infiltrar em Kazakh City e destruir todo o império do mal do Grandmaster, valendo-se basicamente de sua estilosa espada Cypher, de uns poucos gadgets, e de suas notáveis habilidades acrobáticas.
Uma premissa genérica, mas que serve como pretexto para o que o jogo oferece de melhor: ação desenfreada. Você até vai encontrar alguns coadjuvantes e conversar com eles, mas é tudo bem rápido e superficial. Como nos games da década de 80, o foco aqui está na jogabilidade, não na história.
Embora seja indiscutivelmente um jogo novo, Strider está cheio de referências ao game original para fazer os fãs pirarem. A breve introdução, que mostra ele chegando à Kazakh City em sua asa-delta modernosa é idêntica à do game original, e certamente vai trazer um sorriso ao rosto dos mais nostálgicos.
Dali para frente, as referências continuam aparecendo aqui e ali: os chefes, os power-ups, o level design, até alguns momentos emblemáticos do game original – como a câmara sem gravidade onde enfrentamos a “bolota” Gravitron, ou o gorila-robô gigante – estão de volta, familiares, mas ao mesmo tempo reimaginados.
Outra coisa que soa bem familiar é o gameplay: embora esteja (muito) mais acelerada, na prática a jogabilidade do novo Strider ainda é a mesma. O herói pode aplicar cortes multidirecionais com a Cypher, saltar (virando aquela clássica estrelinha no ar) e se dependurar por tetos e paredes. Claro que isso é só o começo, pois logo você ganhará novos gadgets e habilidades, bem como upgrades que deixarão sua espada ainda mais letal.
O Strider de 1989 era um jogo de ação relativamente rápido, mas aqui isso foi elevado à uma nova potência: frenético é a melhor palavra para descrever o novo Strider. Sem tempo para descanso, você estará o tempo todo correndo, pulando, escalando, deslizando e – principalmente -, fatiando as infindáveis hordas robóticas do Grandmaster.
Para quem curte um bom e velho beat ‘em up (ou seria hack n’ slash?) 2D, isso é o bastante para garantir muita diversão. É uma vibe diferente do game original, mas nem por isso ruim. E não é só isso, pois temos ainda momentos extremamente desafiadores de plataforma 2D, com corredores repletos de lasers e outras armadilhas.
Todos esses desafios ficam distribuídos em um mapa enorme, que é contínuo, mas sub-dividido em diversas áreas. Os ambientes variam do topo de arranha-céus até laboratórios secretos, passando por templos escondidos e ferro-velhos. Como temos um protagonista extremamente ágil, tenha em mente que os cenários podem ser explorados tanto pelo chão quanto pelo teto ou pelas paredes.
Isso pode até gerar certa confusão até o jogador se habituar: como o mapa só vai surgindo conforme você explora, pode acontecer de você ficar meio perdido por conta do level design, que avança horizontalmente e verticalmente. Strider pode “se teleportar” para cima ou para baixo de certos tipos de piso, e as vezes você deve escalar paredes enormes para encontrar seu objetivo. Nem sempre isso fica claro, cabendo ao jogador descobrir como chegar ao seu objetivo.
Aliás, se você estava com saudade de um bom game estilo Metroidvania, Strider é um prato cheio: você vai passar por dezenas de portas e passagens que só poderão ser abertas posteriormente, quando você obtiver um item ou habilidade específica. E muitas destas portas não são opcionais, ou seja, invariavelmente Strider irá descobrir que precisa de uma nova habilidade para alcançar uma nova área e progredir com sua missão.
São estas novas habilidades que trazem o frescor da jogabilidade: a espada de Hiryu agora possui quatro variações que afetam consideravelmente o gameplay. Temos uma lâmina vermelha capaz de ricochetear projéteis, outra alaranjada cujos cortes podem explodir coisas, uma terceira azul que é congelante e uma quarta, roxa, que abandona a mão do ninja e funciona como um bumerangue.
Estes diferentes tipos de armas acrescentam uma leve dose de estratégia aos combates, e à exploração: não tardam para surgir inimigos com escudos que só podem ser destruídos por uma lâmina específica. Além disso, um inimigo voador congelado torna-se uma plataforma por alguns segundos, permitindo que você use-o para alcançar locais de difícil acesso.
Strider também acrescenta ao seu arsenal os kunai – aquelas faquinhas de arremesso, tipo as do Naruto – que possuem suas variações de acordo com a lâmina empunhada, ou seja, temos kunais explosivos, kunais magnéticos, kunais que ricocheteiam, etc.
Outra habilidade nova que é muito útil é o Catapult, uma espécie de dash/teletransporte que leva o personagem alguns centímetros para qualquer direção. Conforme evolui, este artifício ganha status de ataque, podendo congelar, explodir ou simplesmente ferir os inimigos “atravessados” no trajeto.
Existem arcos que potencializam o Catapult – permitindo que você “voe” por grandes distâncias – e dominar esta habilidade será essencial para você se esquivar dos tiros inimigos ou vencer abismos que seu salto comum não dá conta. Em sucessões excepcionalmente complexas de plataformas e lasers, a chave para o sucesso é unir pulos simples e duplos ao Catapult – que possui um breve tempo de recarga e deve ser usado com sabedoria.
Embora não seja um jogo absurdamente difícil, Strider oferece um bom desafio na busca por power-ups e itens secretos e também nos chefes: se a maioria dos inimigos comuns não dá muito trabalho, quase todos os chefes são bem apelões, enchendo a tela de projéteis e se teleportando, o que demanda uma boa estratégia na hora do combate.
Para dar uma força nestas batalhas, Hiryu conta com alguns aliados nostálgicos: durante a campanha, você irá reencontrar sua pantera robótica, bem como uma águia de metal e um par de robozinhos luminosos; todos oriundos do game original.
O legal é que, além de serem úteis nos combates, estes “mascotes” também ajudam na exploração: a pantera serve como uma espécie de fast travel, permitindo que você viaje instantaneamente entre pontos pré-determinados do cenário. Infelizmente seu uso é bem restritivo (você só pode ativá-la em locais específicos), pois o estilo Metroidvania demanda idas e vindas que poderiam ser otimizadas por um fast travel mais útil.
Já Eagle, a águia robótica ataca com suas garras enquanto, fora de combate, pode carregar Strider para lugares inacessíveis (este recurso também só pode ser utilizado em locais específicos). Por fim temos os Satellite Bots, robozinhos que, quando não estão disparando lasers nos inimigos, podem ser usados para hackear sistemas e operar mecanismos.
Todos estes novos e velhos elementos tornam o gameplay de Strider bem acessível, embora exija certo empenho para ser dominado plenamente. Felizmente, a curva de aprendizado e o nível de dificuldade são bem equilibrados, permitindo que você melhore e aprenda enquanto progride. Espere por um desafio cabeludo na reta final, com batalhas intensas e desafiadoras.
Nos aspectos técnicos, temos altos e baixos: experimentamos as versões PS3 e PC do game, e ambas possuem um visual bacana. A versão PC/next-gen oferece resolução 1080p, 60 frames por segundo e efeitos de luz dinâmicos (faíscas, explosões) muito mais ricos. No PC, podemos ter dez inimigos na tela se movimentando e agindo de diferentes formas, enquanto drones voam atirando em sua direção e você salta freneticamente para escapar dos disparos e conseguir o ângulo exato para um corte com a Cypher… tudo isso sem uma queda de framerate sequer. Mas mesmo a versão PS3 – que roda em 720p à 30fps – não decepciona.
Mesmo que conte com uma direção de arte competente, personagens bem modelados e ótimas animações, Strider é um jogo demasiadamente escuro. Tudo é colorido em tons metálicos de roxo, cinza, azul e verde. Quando não estiver enclausurado em laboratórios, templos ou naves, um constante céu cinzento e chuvoso mantém a mesma escassez de cores.
Temos ainda um onipresente efeito scanline que deixa tudo ainda mais soturno. Salvos os feixes de laser e o modernoso lencinho de led que esconde o rosto do herói, nada é muito claro ou luminoso. Uma paleta de cores mais quente e variada certamente valorizaria o visual do game como um todo.
Já o departamento sonoro conta com dublagens que cumprem seu papel, mas não surpreendem. A parte de efeitos, por sua vez, é muito boa, com uma boa variedade de gritos, cortes, tiros, explosões. A trilha sonora acerta quando se vale da nostalgia e revisita temas clássicos da franquia; fora isso ela não se destaca e quase passa despercebida. Apesar dos trailers em português, o game não conta com áudio nem legendas em nosso idioma, o que atualmente pode ser considerado uma pequena mancada, visto que a própria Capcom anda se esmerando na localização de seus títulos.
Uma coisa que faz falta é um placar, ou pelo menos um contador de hits. Como estamos sempre fatiando alguma coisa, seria legal se tivéssemos um score, ou quem sabe um sistema de pontos por estilo, como Devil May Cry. Em Strider você não ganha pontos por nada, e sua posição nas leaderboards leva em conta somente o tempo que você leva para concluir o game.
Falando nisso, a duração do game varia de acordo com o seu ritmo. Eu demorei pouco mais de sete horas, me dedicando um pouco à arte de coletar segredos e power ups. Porém, o primeirão das leaderboars globais zerou o game em menos de 2 horas, provavelmente em um speed run alucinado que ignorou todo o lado Metroidvania opcional. Fica a seu critério como proceder.
Entre os colecionáveis opcionais temos artworks, informações sobre os personagens e o desbloqueio de outros Striders para jogar, que são basicamente skins diferentes do mesmo personagem. Coletando segredos você também habilita os modos extras Beacon Run, com desafios de velocidade, e Survival Mode, onde você deve sobreviver à hordas de inimigos.
Em resumo, Strider é um reboot frenético de um game que já era bem mais ágil que a maioria dos games de ação e plataforma dos anos 90. Aqui isso foi elevado à um novo patamar, em um amálgama que é parte remake, parte reboot, parte algo totalmente novo.
Se você e um fã antigo do ninja Hiryu, possivelmente vai curtir essa mistura de nostalgia com modernidade, e vai se divertir muito fatiando o exército maligno do Grandmaster Meio. Se você não conhecia o personagem, este novo jogo sem dúvida faz um bom trabalho em apresentá-lo para as novas gerações, entregando um resumo turbinado e feroz do que é ser um Strider: rápido, letal, ágil e incansável.
Strider já está à venda nas redes PSN, Xbox Live e Steam, com preços que variam entre 15 dólares (lojas gringas) até 30 reais (lojas brasileiras).