RetroArkade: Você jogou Sonic Adventure, o melhor Sonic 3D já feito?
Em meio aos tempos de glória de Sonic, a Sega ao lançar seu Dreamcast trouxe de maneira definitiva seu mascote ao mundo 3D. E hoje é dia de relembrar Sonic Adventure, seus personagens e segredos.
Contar a história de Sonic Adventure é contar um pedacinho dos últimos anos de glória da Sega, que havia acabado de dar a sua cartada final em 1998 com o Dreamcast, no melhor estilo “ou vai ou racha”. Também é lembrar dos momentos áureos do 128 bit da Sega, que chegou agradando muito e poderia ter sido um grande sucesso, se não fosse os problemas que já sabemos bem quais são.
E como um grande console precisa de um grande game para chegar com tudo, a escolha da Sega foi óbvia: usar seu mascote, o Sonic, em um game 3D, para mostrar todo o poder de processamento do console. Querido por alguns, odiado por outros, mas respeitado como uma boa referência a jogos em três dimensões, nosso convite hoje é para que você relembre conosco o Sonic Adventure.
As tentativas frustradas de um Sonic em 3D
Mario 64 chegou em 1995 (1996 nos EUA) e virou a indústria de videogames do avesso, definindo até hoje como se jogar em três dimensões. Vários games em 3D estavam nascendo naquela época, mas foi o bigodudo da Nintendo quem criou e melhorou padrões para a jogatina, incluindo o stick analógico, peça que hoje é obrigatória em qualquer console.
A Sega, que vivia em pé de guerra com a Nintendo, estava começando a perder o braço de ferro nesta época, com o seu Saturn perdendo para o Playstation em vendas e com a sombra da Nintendo aparecendo, por isso fez o que podia para lançar seu ouriço no universo das três dimensões.
Começou tentando pegar os elementos clássicos da série em um game de visão isométrica que poderia ser jogável no Mega Drive e no Saturn, o Sonic 3D Blast, que não agradou, apesar de ser um jogo divertido. Porém o jogo não podia ser considerado um título em 3D, já que além da visão ser semelhante a games como Rock’n Roll Racing, também se trata de um game de plataforma, sem muita liberdade.
No meio disso, tinha também a tentativa da Sega de adentrar ao universo tridimensional com o Sonic X-Treme, jogo que pode ser considerado um dos mais problemáticos já produzidos, tanto é que nem lançado foi. Seria um game em 3D autêntico, com elementos que acabaram sendo utilizados em adventure, mas inúmeros problemas de todos os tipos, envolvendo doenças, brigas internas, confusão entre a Sega japonesa e a americana e até quase morte de programador — e que merecem uma RetroArkade por si só — acabaram fazendo com que o game fosse cancelado em 1996, ano em que seria lançado.
Por fim, Yuji Naka, criador de Sonic e tranquilo com o sucesso de Nights e de sua Sonic Team, preparou para o Saturn o Sonic Jam, uma interessante coletânea que trazia vários games do azulão para o Mega Drive e com bastante conteúdo extra, se considerarmos que é um game em CD, incluindo comerciais e a abertura de Sonic CD em alta qualidade. Para acessar os modos do game, você controlava o Sonic em 3D em um mundo pequeno, que também serviu de laboratório para testar elementos que estariam presentes em Sonic Adventure.
Enfim, nasce o Sonic em três dimensões
https://www.youtube.com/watch?v=G7al41LVYog
Após todo esse processo conturbado, que era reflexo de uma Sega doente e que aos poucos estava deixando de ser protagonista da indústria de videogames, eis que em 1998 o mundo recebeu o Dreamcast e Sonic Adventure, o legítimo primeiro jogo 3D do porco espinho, que prometia elevar os games do Sonic a um novo nível, oferecendo muito mais do que chegar do ponto A ao B, embora esta mecânica ainda fazia parte da jogabilidade.
Começando pelo enredo, mais elaborado e melhor explicado. Era o fim da era em que o enredo vinha junto com o manual, com as sequências estilo cinema contando detalhes da história a medida em que o jogador avançava nas fases, com muito mais drama e trazendo mais urgência em parar Eggman pelo bem da humanidade. E com isso, tivemos também as vozes dos personagens, que deram ainda mais identidade, como Ryan Drummond, ator que foi a voz de Sonic por muitos anos, colaborando no ar mais jovial para o personagem.
Personagem este que estava bem diferente do Sonic de 1991. O azul continuava lá, os sapatos vermelhos também, mas o personagem sofreu uma leve “reforma”, deixando o ar mais infantil, para definir o visual mais descolado que vinha adquirindo durante os últimos jogos. Sonic agora era um game acompanhado de rock pauleira, muita atitude e muita adrenalina, já que os loopings por aqui ficaram muito mais insanos, se aproveitando de certa forma, do sucesso de Tony Hawk Pro Skater, game de mesma época.
E assim como o rival bigodudo, Sonic Adventure era um game que oferecia certa liberdade ao jogador, embora as fases seguiam em sequência. Locais como uma cidade, uma cachoeira e tantos outros traziam um lado de exploração interessante, embora limitado, mesmo para a sua época. E embora você ainda tinha que ir do começo ao fim das fases, desta vez com visão por trás e não lateral, as possibilidades das fases se ampliaram.
O fator “explore meu game” era ainda maior ao trazer a possibilidade de se jogar com mais personagens além de Sonic, cada um com história e finais próprios. Sonic, Tails, Knuckles, Amy Rose, Big the Cat e E-102 Gamma tem motivações próprias, e por isso, contam com missões e enredos específicos. Além disso, é óbvio que cada personagem tem virtudes e fraquezas que influenciam no gameplay. Curiosamente, o remake de Mario 64 para Nintendo DS oferecia a possibilidade de se jogar com Luigi, Wario e Yoshi, com suas diferenças em relação ao protagonista Mario.
E por fim, já ao final da era Tamagochi (pelo menos para nós, brasileiros, já que no Japão os bichinhos virtuais são febre até hoje), era possível criar os Chaos resgatados nas fases com o seu VMS, e transferí-los de volta ao console para desbloquear novidades.
Quero jogar Sonic Adventure hoje. Como proceder?
Com o passar da história, todos sabem que a Sega deixou de ser a poderosa fabricante de consoles e ideias para ser coadjuvante na indústria, porém isso democratizou mais o acesso aos games clássicos da companhia, que ajudam a pagar as contas até hoje. E em 2002 mesmo, a Nintendo, já ex-rival, recebeu a versão DX do game em seu GameCube, que sendo a versão do diretor, trazia melhorias e algumas mudanças. E também traziam os clássicos de Game Gear do azulão.
E com o passar do tempo, a consolidação de Xbox e Playstation como as grandes forças dos videogames, além dos meios digitais de distribuição de jogos, usuários da PSN e da Xbox Live podem comprar o game em versão atualizada e com gráficos adequados para se jogar em consoles HD. E também é legal mencionar que em Sonic Generations, que comemora os 20 anos do primeiro Sonic, entre as fases homenageadas dos jogos, temos referências ao game também.
O começo do fim
Mas infelizmente, este game, que poderia significar uma nova era de ouro para a Sega — imagine nós podendo jogar um console atual da Sega com uma Seganet atualizada e tudo o mais — acabou é sendo o começo do fim de uma companhia que tanto nos abençoou com seus games inovadores. Em 2000, Sonic Adventure 2 chegou e trouxe os mesmos conceitos, além da inesquecível trilha sonora (CITY ESCAPE ROCKS!).
Porém, após isso, a Sega parou com a produção de consoles e após versões de seus clássicos para Dreamcast tentou sempre “revitalizar” a série, lançando um jogo ruim atrás do outro, com raras exceções — pra mim, Colors e Generations. E o pior é que a Sega faz isso até hoje, querendo refazer a série e fracassando em todas as tentativas, como a mais recente, Sonic Boom.
O mascote azul ainda rende um caminhão de dinheiro para a Sega e seus dois primeiros games ainda são os mais vendidos nas App Stores da vida. Porém, com PS4 e Xbox One oferecendo milhares de recursos, além do forte apelo do personagem e de seu universo, não seria melhor, ao invés de continuar inventando moda, produzir um Sonic Adventure 3 de maneira épica? Se Shenmue 3 virou realidade, não custa sonhar um pouco mais…