RetroArkade: As Férias Frustradas do Pica Pau foi uma das primeiras iniciativas 100% nacional
Um game 100% hoje é comum, mas nos anos 90 a história não era bem assim. Mas o suporte nacional, que era gigante, nos permitiu conhecer As Férias Frustradas do Pica Pau, um projeto totalmente nacional, oferecido pela incansável Tec Toy (sim, na época se escrevia o nome da empresa em separado, e a citaremos nesta forma durante a matéria) dos anos 90.
O Pica Pau na época, tinha o mesmo efeito do Chaves na mídia. Com animações dos anos 50, 60 e 70 reprisadas à exaustão no SBT (hoje os desenhos passam na Record), os episódios continuaram extremamente populares durante a década de 90, o que inclui personagens como o Andy Panda e o Picolino. Tal popoularidade fez com que a Tec Toy, que já havia explorado outras franquias anteriormente, produzisse um novo game de personagem popular por aqui, porém, desta vez, fazendo o jogo do zero, ao invés de reaproveitar jogos já lançados pela Sega anteriormente.
O know-how e as mãos na massa
Quem viveu os anos 90, com certeza vai se lembrar dos esforços da Tec Toy em ser relevante no mercado nacional de games, e, entre jogos com caixa e manual em português, e iniciativas como a tradução completa de Phantasy Star, também tivemos games desenvolvidos pela empresa, que utilizava jogos lançados anteriormente pela Sega, mas adaptava o enredo e personagens, para chamar atenção do público, nascendo assim, jogos com a Turma da Mônica e o Chapolin Colorado.
Com o know-how em mãos, hora de buscar o ok da Sega, para produzir o jogo, e da Universal, a detentora dos direitos do personagem. Com as devidas autorizações, hora de colocar a mão na massa, em uma produção que levou, de acordo com registros encontrados na Internet, quatro anos, e que contou com tudo produzido pela empresa: do desenho dos personagens e cenários até o design das fases. Foi então que, em 1996 o jogo foi lançado, apenas aqui no Brasil, para Mega Drive e Master System, console que iria receber, um ano depois, uma versão exclusiva de Street Fighter 2, o que mostrava a popularidade do console por aqui.
Para explicar as razões do Pica Pau no jogo, um enredo tipicamente noventista explicava que, durante as férias do voador, Zeca Urubu, por inveja de não ter sido convidado, sequestra todos os amigos do personagem e os leva para diferentes lugares, os quais precisam ser resgatados pelo nosso amigo, que enfrentará outros vilões da série, como o Zé Jacaré e o Leôncio. Curiosamente, esta história é muito semelhante ao que a Sega apresentou em Sonic Generations de 2011, com a diferença de que os amigos do azulão ficaram presos em eras diferentes do tempo, que representam as fases clássicas de seus games antigos.
Rumo ao resgate!
O jogo é bem simples de se jogar, sendo bem parecido aos inúmeros jogos de plataforma de sua época. O Pica Pau tem que ir avançando pelas fases, desviando dos obstáculos e enfrentando os inimigos, além de alguns chefes. O jogo é basicamente o mesmo para Mega Drive e Master System, com as óbivas diferenças de gráficos e som.
Vemos, logo de cara, o cuidado da Tec Toy em oferecer um visual bastante colorido, com personagens que se destacam da tela, mas também podemos observar cenários bastante simples e que lembram muito os jogos da primeira fase do Mega Drive, lá de 1989. Outro problema aqui estava quanto a movimentação do personagem, que também não era lá essas coisas, mas o som estava ok, mesmo não extraindo tudo o que o Mega podia oferecer. Na versão de Master, já vemos algo mais próximo aos lançamentos de sua época, uma vez que o console já era veterano nesta época, e muito já havia sido feito até esta época.
No geral, o jogo consegue sim oferecer algo interessante, se levarmos em consideração que era o primeiro trabalho da Tec Toy feito do zero, que envolveu negociações com direitos autorais de personagens e a reunião de uma equipe para construiur tudo. Vale lembrar também que a Tec Toy também sempre apostava firme nos anos 90, e não tinha medo de dar a cara a tapa, em uma postura que a acompanha até hoje, entre seus vários lançamentos, sendo os mais atuais, a volta do Atari e o próximo Mega Drive, com lançamento agendado para junho deste ano.
“Mas eles levam jeito pra aprender a beijar rapidinho”
Esta frase foi citada pela inesquecível Marjorie Bros na Super Game Power 22, de janeiro de 1996, que deu nota mediana ao game, mas observou o esforço e viu potencial na Tec Toy como desenvolvedora de games para o futuro. A mídia, como um todo, reconheceu o esforço de se incluir todos os personagens queridos no jogo, assim como a iniciativa de se produzir jogos no país, mas, claro, apontou os problemas do jogo, que no fim, se não mostrou ser um primor, pelo menos não compromete a diversão das crianças, o público alvo do jogo.
E, não podemos esquecer que, iniciativas como esta, foram responsáveis por alavancar o nosso mercado nacional de desenvolvimento. A Tec Toy já era referência no mercado nacional e se o game não foi tudo o que era aguardado, pelo menos a mídia da época fez com que mais pessoas se interessassem em desenvolver jogos. A própria Tec Toy continuou em sua jornada e ofereceu anos mais tarde Castelo Rá-Tim-Bum, para o Master, além da conhecida versão do Show do Milhão, para o Mega. E hoje, os brasileiros vão muito bem, obrigado, entre os desenvolvedores de games nacionais. Iniciativas como Horizon Chase foram dignas de prêmios e a nossa criatividade é sempre alvo de elogios mundo afora.
Por isso, a lição que fica para todos nós é a de encarar os seus desafios e não ter medo de cara feia e nem recepção ruim. É fazendo que se aprende e seguindo em frente que você consegue ir, pouco a pouco, realizando todas as suas metas. É, a Marjorie acertou em sua previsão, mas seu acerto foi em uma proporção maior do que ela imaginaria.