Microsoft Kinect – Testamos o sensor de movimentos do X360
Enquanto a Nintendo dominava o mercado dos jogos sensíveis ao movimento com o Wii e a Sony desenvolvia o PlayStation Move, a Microsoft foi criando uma tecnologia que levaria esta briga a um novo patamar: o famoso Project Natal – hoje conhecido por Kinect, que permitiria aos gamers jogarem sem a necessidade de um controller.
Tudo começou em 2009, na Electronic Entertainment Expo (E3), quando a Microsoft divulgou o primeiro vídeo do então Natal. O trailer mostrava um menino conversando com seu próprio Xbox 360 e desferindo golpes no ar contra um adversário virtual. Em seguida, uma família imitando uma equipe de Fórmula 1: o filho pilotando o carro, o pai trocava os pneus, etc. Basta dizer que, ao final do vídeo, o mundo estava de boca aberta com o que a empresa de Bill Gates prometia.
Logo após o espanto diminuir, os céticos abriram a boca: como que esta tecnologia funcionaria? Como diminuir o delay na captura e detecção de movimentos se até mesmo um controller com fio tem um atraso na resposta? Além disso, a Microsoft não demonstrou o projeto ao vivo, nem liberou a câmera para testes dos jornalistas – o que aumentou ainda mais as dúvidas e o ceticismo acerca do projeto.
Veio a E3 de 2010 e o Natal novamente era o destaque da Microsoft. Em junho, ele ganhou o seu nome oficial – Kinect, uma mistura de kinetic (cinese/movimento) e connect (conectar) – e demonstrações ao vivo que puderam confirmar as dúvidas iniciais. O aparelho realmente contava com um delay notável, que prejudicava bastante a jogabilidade, mas não interferia na reação das pessoas: era incrível ver um game finalmente respondendo aos seus movimentos sem a necessidade de um controller.
A tecnologia
Toda esta revolução promovida pelo Microsoft Kinect traz consigo uma tecnologia inovadora, ainda que um pouco rudimentar. O pessoal do site iFixit desmontou o Kinect e descobriu tudo o que compõe a câmera do Xbox 360, desde sua carcaça até mesmo seu “cérebro”.
O Kinect é composto por três câmeras (duas infra-vermelho e uma tradicional, RGB). As câmeras infra-vermelho são utilizadas em conjunto com um diodo transmissor de IV para detectar a profundidade da sala/quarto em que você está jogando, enquanto que a câmera tradicional (de resolução 1600×1200) é utilizada para reconhecer o jogador e seus arredores. Ela é mais próxima de uma webcam (tanto no formato quanto na qualidade das imagens) do que de uma câmera de celular, por exemplo.
O grande destaque da composição do Kinect, no entanto, é o chip Prime Sense PS1080-A2, que permite à câmera captar as imagens, processá-las e transmitir uma imagem com profundidade e cores para o Xbox 360. Resumindo, o chip PS1080-A2 é o que faz o Kinect ser o Kinect. Ele ainda traz 64MB de memória RAM interna.
O aparelho ainda traz quatro microfones – o que surpreendeu por ser um dos primeiros dispositivos a conter um sistema com quatro microfones, pois o comum é ter apenas dois. Ele ainda traz uma ventoinha para resfriamento, condizente com a história de problemas da Microsoft com o resfriamento do Xbox 360.
Outra característica do Kinect é a presença de um acelerômetro e um motor, que causa estranheza em uma primeira impressão. Na verdade, o motor faz com que a câmera se mexa na hora de escanear o corpo do jogador, enquanto que o acelerômetro ajuda o motor a ter mais precisão de movimento quando se mexe.
O Microsoft Kinect, apesar de revolucionário, é uma tecnologia ainda um pouco rudimentar, mas de fácil desmontagem. Eventuais consertos do Kinect poderão ser um pouco complicados, tendo em vista que a Microsoft não elaborou um manual de consertos para o periférico. Mesmo assim, já existem relatos de Kinects hackeados e/ou modificados, mostrando que nem mesmo toda a segurança da Microsoft foi suficiente.
Na prática
Apesar de todo o ceticismo em volta do Kinect, uma tecnologia como esta só é propriamente entendida se for testada pra valer. Por isso, nós, em parceria com a loja Proximo Games (que vende o aparelho por R$599) conferimos o Kinect em primeira mão, testando dois de seus jogos de lançamento – Joy Ride e Kinect Adventures.
A primeira impressão que o periférico passa é boa. Utilizá-lo no painel do Xbox é um prazer, pois a resposta beira o 1:1, sendo bastante fiel e rápida. No entanto, os comandos por voz ainda parecem ser um pouco falhos, pois o Kinect demorou para reconhecer o que lhe era falado ou então sequer reconhecia.
Na hora dos jogos propriamente ditos, porém, a experiência foi outra. O primeiro jogo testado foi Joy Ride, um game de corrida bastante colorido. Apesar de ser um jogo de corrida, curiosamente não se pode jogar sentado, pois o Kinect não consegue identificar os jogadores direito. A resposta do jogo é péssima, demorando um bom tempo para realizar os comandos do jogador – aspecto este que também foi notado em menor escala no game Kinect Adventures.
Em Adventures, o jogador participa de uma série de minigames no melhor estilo Olimpíadas do Faustão. Feito para ser o Wii Sports do Kinect, Adventures peca por enjoar fácil – em cerca de uma hora você pode conferir todos os minigames e dar a experiência como encerrada. Mesmo assim, o jogo se mostra um excelente aperitivo para o que o Kinect trará para os games.
Um crítica levantada é relativa à quantidade de espaço e que é necessário para se aproveitar o Kinect. Mesmo jogando a uma distância de 2 metros da câmera e numa sala de 4 metros de largura, nós ainda encontramos problemas para jogar, principalmente multiplayer. Por isso, é muito mais simples jogar sozinho e alternar os jogadores.
Os jogos
A linha de jogos inicial do Kinect é bastante óbvia e um pouco decepcionante. Os destaques são os jogos first-party, tais como Kinect Adventures, Kinect Sports e Kinectimals. Além da linha própria da Microsoft, os principais jogos são Dance Central, da Harmonix (mesma desenvolvedora de Rock Band) e Your Shape: Fitness Evolved, da Ubisoft. Aliás, o Kinect mostra um potencial enorme para jogos de fitness e dança, maior até do que pioneiros nos gêneros, como o Wii Fit e Dance Dance Revolution.
A tecnologia do Microsoft Kinect é sensacional, sem dúvidas quanto a isto. O que era visto só em filmes até alguns anos atrás hoje pode acontecer na sua sala de estar ou no seu quarto. A impressão que fica, entretanto, é que as desenvolvedoras ainda não estavam prontas para o Kinect, pois os jogos ainda pecam em qualidade e variedade. Ainda assim, o potencial está aí. Resta ele ser aproveitado melhor.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 17 da Revista Arkade.