Além do Review Arkade – Unepic no PS Vita foi um companheiro para todas as horas

21 de maio de 2016

Além do Review Arkade - Unepic no PS Vita foi um companheiro para todas as horas

Nossa coluna especial para debater um pouco mais a fundo sobre jogos que nós gostamos está de volta! E na Além do Review de hoje, trago-lhes um RPGzinho simplesmente épico: Unepic!

Antes de falar do jogo em si, gostaria de brindá-los com um pouquinho dos…

Bastidores do Jornalismo Gamer

Eu não sei se você, leitor, se dá conta disso, mas o que fazemos aqui no Arkade é trabalho. Manter o site sempre atualizado, publicar resenhas de jogos (muitas vezes antes do lançamento), tudo com o “padrão de qualidade Arkade, dá trabalho. Muito trabalho.

Eu sei que para muita gente “trabalhar jogando videogame” é um sonho, mas tem horas que tudo o que você quer é se desligar um pouco desse mundo e curtir um pouco a vida offline. Seja para viajar, curtir a família, ficar com a namorada/esposa ou simplesmente ficar de bobeira, tem horas que mesmo jogar videogame pode cansar caso isso seja “uma obrigação”.

Além do Review Arkade - Unepic no PS Vita foi um companheiro para todas as horas

Foi num desses momentos de “estafa gamer” que Unepic apareceu: eu estava prestes a entrar em férias (cuidadosamente planejadas para eu não perder o timing de Quantum Break e Uncharted 4) e viajar com minha namorada quando a assessoria da distribuidora do game me enviou um código para teste. Eu reconheci o nome e, usando a busca do site, lembrei não só que Unepic é um jogo já antiguinho e já está disponível para várias plataformas. A gente até já falou sobre ele, e inclusive entrevistamos o criador do game, Francisco Tellez. A novidade era apenas a chegada do game para PS4 e PS Vita.

Por conta disso, tentei declinar educadamente. Expliquei que estava entrando em férias e não poderia jogar durante minha viagem; disse que já havíamos falado sobre o jogo e que ele não era necessariamente novidade. A assessora foi compreensiva, mas disse algo tipo “bom, você sempre pode jogar no Vita enquanto viaja”.

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E, apesar de meio contrariado, percebi que ela tinha razão. Não queria levar “trabalho” para as férias, mas invariavelmente iam acabar rolando dias de chuva, noites sem sono ou horas de espera em aeroportos que poderiam render umas horinhas de jogatina. Por conta disso, instalei o game, botei o Vita na mala e caí na estrada.

Esta acabou se tornando uma escolha inteligente, e, mesmo já tendo quase 5 anos de vida, Unepic se tornou — para mim, atrasado que estou — uma das melhores surpresas de 2016.

Uma (un)épica jornada

Para quem não sabe, Unepic narra a história de Daniel, um nerd absolutamente comum que estava jogando um RPG de mesa com seus amigos quando precisa ir ao banheiro. O caminho até lá é escuro, e o banheiro parece que não chega nunca… quando resolve acender o isqueiro para entender o que está acontecendo, Daniel percebe que está em um castelo medieval sinistro.

Ele não sabe como foi parar lá, e já de cara tem seu corpo possuído por um espírito do mal, Zera, que na verdade nada mais é que um inimigo de level baixo, e acaba se tornando (contra vontade) seu guia pelo imenso castelo de Harnakon. Logo você descobre que existem espíritos puros aprisionados pelo castelo, e você precisa derrotar os “generais” de Harnakon se quiser liberar estes espíritos e (quem sabe) voltar para casa.

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Assim, acompanhado do mal humorado Zera, você irá explorar esgotos, masmorras e muito mais, em incontáveis corredores cheios de armadilhas e perigos, enquanto coleta tesouros, armas, pergaminhos e tranqueiras variadas, conversa com NPCs pra lá de esquisitos e combate hordas de goblins, orcs, esqueletos, vermes, plantas carnívoras, magos e outras ameaças em sua busca por Harnakon.

Carisma e muitas referências

Como eu já disse, não estava realmente a fim de jogar Unepic — férias, preguiça de jogar um RPG-retrô, vários motivos –, mas, cara, o game me cativou já nos primeiros minutos. Os diálogos são hilários, e cheios de referências a filmes, games, quadrinhos e outros elementos da cultura pop. Como bom nerd “do mundo real” que Daniel é, ele conhece Star Wars, Senhor dos Anéis, Castlevania, X-Men, e tudo isso é colocado no jogo de formas muito divertidas.

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E o mais legal é que as legendas em português brasileiro são muito boas, e em muitos casos trazem piadas até melhores que as originais. Ok, a localização do game dá umas escorregadas bem absurdas — algumas frases e descrições de itens simplesmente aparecem em inglês –, mas no geral a equipe de tradução e localização fez um trabalho incrível em adaptar (quase) todas as piadas.

Confira abaixo alguns destes momentos. É tanta referência que o Capitão América ficaria orgulhoso:

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Em nossa entrevista com Francisco Tellez, ele afirmou que Daniel acabou absorvendo um pouco de sua personalidade. E, aparentemente eu (e provavelmente você também) tenho muito em comum com ele(s), pois o humor do game realmente funcionou comigo, e eu dei muitas risadas sinceras, principalmente nas conversas entre o protagonista e Zera.

Gameplay repetitivo, mas funcional

Passada a “animação” inicial com humor geek do game, logo ficou claro que Unepic é um jogo que se prende à convenções e mecânicas que acabam se tornando repetitivas com o passar do tempo, e seu teor MetroidVania deixa isso ainda mais evidente.

Ok, você pode equipar dezenas de armas diferentes — espadas, martelos, machados, arcos, lanças, adagas, cetros, etc. — e há toda uma alquimia envolvida na hora de criar poções e feitiços, mas no geral o game se resume a ir para lá e para cá, coletando (e cumprindo) quests enquanto destranca portas e tenta dar cabo de todos os tipos de monstros que aparecem em seu caminho. Monstros estes que também são meio genéricos, mas condizem com o estilo medieval meio Dungeons & Dragons do game.

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Felizmente, o criador do jogo pensou em muitas formas de facilitar um pouco a vida do jogador: mesmo jogando no Vita, é possível criar vários atalhos que serão muito úteis para trocar de armas, lançar feitiços, usar poções ou se teleportar. Existem até itens que te teleportam para locais específicos do castelo (como a cozinha, ou a loja de itens), o que também é uma mão na roda.

Muitas quests são pentelhas porque exigem que você colete um número X de itens pelo cenário, mas você não precisa necessariamente fazer todas. Eu fiquei muito tempo “travado” em uma quest do Poseidon lá no começo do jogo, e só graças ao Google descobri que há uma espécie de bug que te impossibilita de achar a última peça da estátua que deve ser montada. Felizmente, há um lugar secreto (muito bem escondido) que contém uma peça extra para te salvar.

Fora isso, você precisará ficar bem atento, pois a escuridão do castelo pode esconder armadilhas e/ou inimigos que atacam à distância e são capazes de lhe envenenar, queimar e causas outros tipos de status negativos. Acenda todas as tochas, velas e candelabros que encontrar — a luz é sua grande aliada na exploração — e nunca corra desvairadamente, pois o piso está cheio de mecanismos que ativam armadilhas.

Unepic ainda tem algumas ideias realmente interessantes: depois de uma rápida passagem pelos esgotos, vi que minha energia estava sendo drenada aos poucos, mas os antídotos não surtiam efeito, pois não havia nenhum tipo de veneno. Acontece que havia sanguessugas grudados no personagem, e eles vão parar no seu inventário, então a única forma de se livrar deles é removendo-os por lá.

Audiovisual

Todo esse universo que mistura fantasia medieval com humor geek se apresenta na forma de um RPG 2D com forte apelo MetroidVania e um pouco de plataforma. O visual lembra um pouco clássicos como Castlevania e Ghouls and Ghosts, mas possui um “requinte” nos detalhes, um algo mais que mantém o clima “jogo de Super Nintendo, mas ao mesmo tempo consegue surpreender, especialmente na iluminação e nas sombras geradas pelo zippo de Daniel.

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Embora o jogo sozinho tenha quase todo sido produzido por um cara só, o talento de outras pessoas ajudou a dar forma ao universo do game. Ainda que o idioma original do game seja o espanhol, as dublagens em inglês são muito boas e condizentes com a personalidade de cada personagem. A trilha sonora mantém a mesma qualidade, e apresenta músicas em loop tocadas com instrumentos de verdade, uma evolução natural ao que tínhamos na geração 16-bits.

Um RPG para todas as horas

Unepic chegou à família Playstation totalmente compatível com o recurso cross-play, ou seja, é possível jogar no Vita, fazer um save “na nuvem” e continuar jogando no PS4, e vice-versa. Este recurso é muito interessante, mas eu confesso que joguei muito pouco do game no PS4, ele me fisgou mesmo foi no Vita.

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Como a tela do Vita é pequena e estreita, rola uma boa enxugada nas informações que ficam no rodapé, e o visual do jogo fica bem mais clean. Tudo ainda pode ser acessado pelos menus, mas sem ficar na tela o tempo todo, o que (na minha opinião) deixa na tela só o que é necessário.

Compare abaixo:

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Essa é uma screenshot do Vita

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E essa é uma screenshot no mesmo lugar, mas tirada no PS4.

Viu como no Vita o jogo fica bem mais limpo, sem todos aqueles menus e atalhos na parte inferior da tela? Isso sem contar que os personagens já são pequenos, então em uma TV grande tudo acaba ficando muito pequeno e confuso.

A evolução do personagem é demorada, pois você precisa evoluir separadamente diversos aspectos, criando mais afinidade com determinados tipos de armas, feitiços e até mesmo trajes. Como em todo bom RPG, temos chefes gigantes, os quais você precisa “decorar” os padrões de ataque para não se dar mal. Bem retrô.

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O game ainda teve um apelo especial no Vita porque, como eu disse, ele tende a se tornar meio repetitivo com o tempo. Assim, eu acabei curtindo mais Unepic ao jogá-lo aos poucos: um pouquinho na hora do almoço, mais um pouco no busão, na cama antes de dormir. Acho que o estilo do jogo combina muito bem com a praticidade que um portátil oferece.

Conclusão

Para um jogo que eu nem estava muito a fim de começar a jogar, Unepic me surpreendeu e muito: ele é simples em suas mecânicas, mas profundo dentro do gênero “RPG 2D de plataforma”. O carisma dos personagens e a maneira descompromissada com que a história se desenrola são muito bem-vindos, e afastam o game de todos os outros RPGs sisudos, grandiosos e politizados que dominam o mercado.

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Sei que Unepic não é novidade para muita gente, mas eu ainda não havia tido a chance de jogá-lo, e sua chegada aos consoles da Sony veio em boa hora, e sem dúvida podem apresentar o game a toda uma nova gama de players atrasadinhos como eu, que não experimentaram o game nos PCs, no Wii U ou no Xbox One.

É como diz o ditado: “antes tarde Duke Nukem do que nunca”. Eu fiquei muito feliz por ter a chance de jogá-lo agora, e o Vita realmente se mostrou a plataforma perfeita para eu poder curtir o jogo no meu próprio ritmo, um pouquinho de cada vez, a qualquer hora, em qualquer lugar (e, quem diria, mesmo durante as férias).

Eu sabia que o jogo era simpático e bem conceituado, mas não esperava que ele me cativasse tanto. Eu me identifiquei muito com Unepic, e sei que há mais geeks mundo afora que certamente se identificarão também, independente da plataforma escolhida.

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Agora se me dá licença, eu vou retornar ao castelo de Harnakon, pois há alguns desafios que ainda precisam ser cumpridos para eu conseguir 100% no jogo. Se você vai ficar por aqui, não deixe de conferir nossa entrevista com Francisco Tellez.

E obrigado à assessora de imprensa que representa o pessoal d’A Crowd of Monsters“insistiu” para eu assumir o game. Aliás, também é deles o excelente adventure noir Blues & Bullets, já leu nossas impressões sobre o game? 😉

Unepic chegou ao PS Vita e PS4 em 29 de março. Além disso, o game já está disponível há tempos para PC, Mac, Linux, Wii U e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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