Alice Madness Returns (PC, PS3, X360) Review: uma bela e bizarra aventura

20 de julho de 2011

Alice Madness Returns (PC, PS3, X360) Review: uma bela e bizarra aventura

American McGee’s Alice chegou às prateleiras há mais de 10 anos e não foi necessariamente um grande sucesso, mas ao longo do tempo adquiriu o status de game cult, aquele tipo de jogo meio obscuro, que nem todo mundo jogou, mas quem jogou, aprovou. Uma década depois, McGee’s nos leva para uma nova e imprevisível viagem por sua versão distorcida do País das Maravilhas.

A trama acompanha a mesma Alice do primeiro game, mas se você não jogou, não se preocupe, pois a história dá uma recapitulada nos acontecimentos anteriores e a nova trama funciona bem de forma independente. Ainda criança, a pobre Alice viu seus pais morrerem queimados vivos em um incêndio que devastou sua casa. Isso a deixou completamente perturbada, e sua escapatória desta trágica realidade é o País das Maravilhas, que fica em sua mente. Em uma trama que mistura as sombrias ruas de Londres com o imaginário de Alice, o jogador a acompanha em uma busca para descobrir o quê ou quem iniciou o fogo que lhe tirou a família e a sanidade.

A primeira coisa que fica evidente assim que o game começa, é que Alice Madness Returns possui um visual único. O experiente American McGee (sim, esse é o nome do designer) nos apresenta personagens e cenários extremamente criativos, com um visual onde o belo e o bizarro se unem para compor figuras realmente impressionantes.

Alice Madness Returns (PC, PS3, X360) Review: uma bela e bizarra aventura

O rico visual é um deleite para os olhos e as dezenas de desenhos conceituais e artworks destraváveis merecem ser vistas. As cutscenes também contribuem com isso, pois possuem um estilo bem peculiar e deixam o jogo com um ar teatral; parecem feitas de papel, com camadas que vão se sobrepondo para formar uma imagem completa.  O único problema é que toda esta riqueza visual acaba comprometida por diversos bugs gráficos.

Não que Alice Madness Returns seja um jogo feio, muito pelo contrário. O problema é que os gráficos são apenas bons, e isso não é o bastante para fazer jus ao delirante mundo do game. As texturas são pobres, as explosões são pixeladas e em diversos lugares é possível ver a “emenda” que une duas partes do cenário. Considerando que o jogo foi feito em cima da Unreal Engine – a mesma engine usada em games como Batman: Arkham Asylum e Gears of War – é impossível não pensar que a culpa destes bugs foi a preguiça (ou a pressa) dos programadores.

Uma coisa que não é um bug, mas incomoda bastante neste jogo são as famigeradas paredes invisíveis. Embora os cenários sejam amplos, muitos lugares você não pode ir simplesmente porque há uma barreira invisível que não lhe deixa passar. Isto é particularmente desagradável quando do outro lado da parede existe a continuação de um caminho que, em teoria, deveria poder ser acessado. Apesar disso, é fato que Alice: Madness Returns é um jogo bonito, mais pelo seu design do que por sua execução.

Alice Madness Returns (PC, PS3, X360) Review: uma bela e bizarra aventura

O som possui seus altos e baixos. A trilha sonora composta pelo roqueiro Chris Vrenna (um dos fundadores da banda Nine Inch Nails) é bem variada e combina muito bem com a atmosfera insana do game. Já a qualidade das dublagens é inconsistente: alguns personagens possuem uma ótima interpretação, mas outros – como a própria Alice – deixam a desejar, não demonstrando toda a emoção que deveriam.

A jogabilidade é sólida e funciona muito bem no estilo do jogo, que é basicamente ação em terceira pessoa com pitadas de plataforma. Seguindo um estilo consagrado por games como God of War e Darksiders, Alice possui um botão para ataques fracos e outro para ataques fortes, que podem ser alternados para desencadear combos que são poderosos e realizados com bastante fluidez de movimentos pela personagem. A esquiva foi substituída por uma espécie de teleporte curto, que além de visualmente bonito é bastante eficiente e vai salvar sua pele nas batalhas mais intensas.

Em seu arsenal, Alice conta com algumas armas bem incomuns. Além da faca que é sua arma padrão, ela ainda pode utilizar um moedor de pimenta (?!) como metralhadora, um bastão com uma enorme cabeça de cavalo na ponta e até mesmo um bule de chá que dispara bombas incendiárias! Todas as armas são passíveis de upgrades, e para adquirí-los você deve coletar dentes, que são a moeda corrente do jogo.

Alice Madness Returns (PC, PS3, X360) Review: uma bela e bizarra aventura

Há uma boa variedade de inimigos ao longo do jogo, com a ressalva de que, como a trama é dividida em capítulos, você vai acabar encontrando muitos inimigos iguais em uma mesma área. Para dar uma variada nas batalhas, temos ainda algumas criaturas mais poderosas que são pseudo-chefes e oferecem um bom desafio, precisando de algumas táticas específicas para serem derrubados.

Quando não estiver enfrentando criaturas bizarras, você estará explorando os amplos cenários do País das Maravilhas. Os jogadores que gostam de ficar procurando e coletando itens vão se deliciar com Alice Madness Returns, pois dentes e fragmentos perdidos da memória da personagem podem ser encontrados nas brechas mais escondidas. Embora não sejam essenciais para o desenvolvimento da trama, estes fragmentos de memória reconstituem a memória de Alice, e são fundamentais para quem quer entrar de cabeça no bizarro universo da personagem.

E já que falamos em brechas, vale lembrar que o game apresenta um recurso muito bacana que permite que Alice diminua de tamanho, para vasculhar lugares que seriam inacessíveis com seu tamanho normal. Muitos destes lugares contém surpresas e quando está pequenina, Alice pode ver coisas escondidas e sinalizações indicando para onde deve ir em seguida.

Alice Madness Returns (PC, PS3, X360) Review: uma bela e bizarra aventura

Outras habilidades podem ser conseguidas no decorrer do game. Nos momentos de plataforma – que são muitos, alguns totalmente 2D – Alice poderá realizar pulos duplos e até mesmo utilizar seu vestido para planar e alcançar as plataformas mais distantes.

A campanha principal de Alice: Madness Returns dura cerca de 15 horas e só peca por ser um pouco repetitiva. Isso acontece porque, como o game é dividido em apenas cinco capítulos, as fases acabam ficando um pouco longas e cansativas. Além disso, o game não oferece a liberdade de um mundo aberto, as fases são independentes, com cada capítulo se passando em uma região específica do País das Maravilhas. Dada a grandeza dos mapas, seria bacana se as paredes invisíveis tivessem sido trocadas por passagens que permitissem a livre circulação entre os cenários.

Alice: Madness Returns é sem dúvida um grande game. Os entusiastas de games artísticos vão se deliciar com o estilo único do jogo e os fãs de uma boa aventura passarão boas horas desvendando os segredos do País das Maravilhas. A falta de polimento nos gráficos e a repetitividade ofuscam o conjunto da obra, mas não conseguem tirar totalmente o brilho de um game que alia com sucesso o design inspirado à altas doses de ação e violência.

Este review foi originalmente publicado na edição 25 da revista Arkade.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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