Análise Arkade: Amnesia: The Bunker renova a série com terror de primeira qualidade
A icônica série de terror Amnesia, uma das principais responsáveis pela evolução deste gênero nos últimos anos, lançou um novo game com um escopo e proposta diferentes de seu padrão, mas entregando uma experiência verdadeiramente única e genuinamente assustadora, na forma de Amnesia: The Bunker!
Então prepare-se para encarar a escuridão e ser encarado de volta, e venha conosco conferir nossa análise completa do game!
Mudando a fórmula, mas sem abandonar suas origens
A série Amnesia, da Frictional Games, tem três características principais compartilhadas por todos os seus games: A primeira está no fato de que todos os seus protagonistas estão sofrendo de amnesia (que é de onde sai o nome da série), precisando explorar seus arredores e desvendarem o que aconteceu ali e como estão envolvidos em tudo. A segunda está em seu estilo em primeira pessoa, com alto foco em interação com objetos e resolução de puzzles. E a terceira característica está na fragilidade do protagonista, incapaz de enfrentar os monstros que encontrar, devendo esconder-se até que o perigo se afaste.
Há ainda uma quarta característica que infelizmente não está presente em todos os seus games, que pra mim foi a principal razão pelo sucesso de seu primeiro game, Amnesia: The Dark Descent – trata-se do medidor de sanidade, que vai se deteriorando progressivamente quando você fica no escuro, olha diretamente para monstros ou eventos sobrenaturais, e quando é atacado. Apenas The Dark Descent e Amnesia: Rebirth, o antecessor de The Bunker utilizam o sistema de sanidade, que cria uma verdadeira atmosfera de terror e urgência.
O segundo game, Amnesia: A Machine for Pigs, infelizmente foi muito aquém do nível de seu antecessor, descartando o medidor de sanidade e praticamente mal contendo puzzles, além de ser extremamente linear. A experiência, como um todo, foi mais próxima a um Walking Simulator de terror, com pouquíssimo desafio.
Com isso, quando Amnesia: Rebirth foi lançado, um dos objetivos era trazer a série de volta a suas origens, trazendo a volta de cenários labirínticos e uma progressão não linear, a volta do sistema de sanidade, bem como sendo diretamente ligado aos eventos de The Dark Descent, ao passo que A Machine for Pigs era uma sequência indireta.
Com isso, quando Amnesia: The Bunker foi anunciado, com seu primeiro trailer mostrando que poderíamos usar armas de fogo, minha reação inicial foi torcer o nariz, já que nas poucas vezes que a série tentou mudar, não deu muito certo.
Felizmente, meu receio era injustificado, pois o que foi entregue foi algo realmente muito bom, sendo 100% um legítimo “Amnesia“, mas ao mesmo tempo sendo uma experiência totalmente nova, utilizando as características principais da série de forma bem criativa.
Assim, permita-me definir o game com base em tais características. Amnesia: The Bunker possui um protagonista que perdeu a memória. É totalmente focado na resolução de puzzles. Possui um protagonista frágil, mas que desta vez pode se defender, apesar de não poder derrotar monstros. E não possui sistema de sanidade, compensando isso com um excelente uso de sistemas de luz e escuridão, sons e silêncio.
E é o terror que o game proporciona que deixa tudo muito bom, sendo no mesmo nível de qualidade de The Dark Descent e Rebirth, ou ainda maior, ouso dizer. Sendo assim, vamos falar sobre todo o terror que o game oferece mais adiante e com mais calma.
Um Bunker mergulhado na escuridão
Amnesia: The Bunker é ambientado no auge da primeira guerra mundial, no ano de 1916 (cerca de 20 anos antes dos eventos de Rebirth), em meio a um conflito entre soldados franceses e alemães. Nós controlamos o soldado francês Henri Clement no meio de um tiroteio nas trincheiras.
Logo, Henri se encontra num campo devastado, onde se depara com uma enorme e profunda cratera. Lá embaixo, está seu melhor amigo, o soldado Augustin Lambert. Henri desce até lá para resgatá-lo, mas as tropas alemãs os encontram e iniciam um bombardeio, que acaba ferindo os soldados, com Henri ficando inconsciente.
E então, ele acorda em uma maca, dentro do Bunker que seu esquadrão usa como base de operações, mas duas coisas estão erradas: Ele não tem memória alguma do que aconteceu antes do bombardeio, e não há ninguém no bunker.
Não demora muito para ele entender o porquê: Há um monstro dentro do bunker, movendo-se por túneis atrás de paredes e matando todos ali dentro. Ele precisa fugir dali, mas a saída do bunker está barrada por pedras. E assim, a missão de Henri fica clara: Achar uma forma de abrir a saída para fugir.
E para sobreviver ao monstro, ele deve se virar com uma lanterna mecânica e barulhenta, e uma pistola com munição extremamente limitada, enquanto vasculha o bunker em busca de itens para sobreviver, como mais munição, granadas, suprimentos médicos e principalmente combustível para manter o gerador de energia ligado.
Essa é a premissa do game, sendo bem simples e sem complicação. O game nos coloca num mapa bem pequeno para ser explorado, mas que mesmo assim consegue gerar muitas horas de jogatina, sem falar em fator replay, pois Amnesia: The Bunker possui posicionamento de itens e armadilhas totalmente aleatória! Você pode ter uma jogatina com itens posicionados de forma extremamente conveniente ou, como foi no meu caso, um início completamente miserável sem quase nada de munição e combustível!
E então, enfim chegou a hora de falarmos do terror de Amnesia: The Bunker. No game, você explora livremente o bunker, não levando muito tempo até que você consiga liberar o acesso para as outras áreas do local. Nas áreas novas, você precisa coletar seus mapas para poder conseguir localizar-se melhor. Porém, você não tem acesso ao mapa via inventário. Ele fica localizado na única sala segura do game, sendo assim, você precisa memorizá-lo.
O monstro que está dentro do bunker detesta luz, por isso, você precisa deixar o gerador ligado o máximo que conseguir durante suas saídas, mas sempre tomando cuidado com o nível de combustível. Para isso, você possui um cronômetro (como item equipável) que faz contagem regressiva de quanto tempo de luz você ainda tem. Se o gerador desligar, tudo ficará escuro, e aí o monstro sairá dos túneis nas paredes com muito mais frequência, e vai caçá-lo de forma muito mais constante e agressiva.
Além da luz e da escuridão, os sons que você produz atraem o monstro. Se você correr, fazer barulho com objetos e usar sua lanterna mecânica, que é muito barulhenta, produzirá sons altos. E da mesma forma as “paredes tem ouvidos” (literalmente), você precisa ficar sempre atento aos sons a seu redor. Você ouvirá o monstro correndo por trás das paredes a todo momento, e poderá até ver rastros de poeira caindo pelos caminhos que ele tomar.
Nesses momentos, silêncio é essencial, pois qualquer barulhinho entregará sua localização. E, se isso não fosse o bastante, o posicionamento do monstro é aleatório. Ele correrá para todos os lados e, se sair dos túneis, seguirá em direção de qualquer coisa diferente que veja e de qualquer som que escute. E se ele te ver, se prepare, pois ele o caçará implacavelmente.
E, como já mencionado, não é possível matá-lo, você pode somente atordoá-lo brevemente, mesmo usando armas de fogo. Munições, granadas, sinalizadores, coquetéis molotov, etc são muito escassos, toda e qualquer forma de defesa que você possui, mesmo se for possível fabricá-las manualmente, são limitadas. Se você jogar de forma descuidada, encontrará morte atrás de morte, e se isso já não fosse o bastante, correrá o risco de ficar sem combustível para evitar a escuridão absoluta.
Outro perigo é a presença de ratos, que sofreram terríveis mutações, ficando maiores e muito violentos. Eles constantemente aparecem em locais com cadáveres de soldados, e o atacarão se você se aproximar demais. Além de, dependendo das condições do Bunker, como estar escuro por muito tempo, poderão surgir em qualquer lugar para te atacar.
Esse game genuinamente me causava terror a casa saída para explorar o bunker, ao ponto de me fazer cadenciar meu próprio progresso, imediatamente correndo de volta para a sala do gerador para salvar o game após resolver algum puzzle ou pegar algum item importante. Somente com o tempo, e principalmente graças a um gerenciamento melhor de inventário, ao encontrar mais munição e combustível, que passei a me arriscar mais, inclusive tentando a sorte no escuro total, em que tudo fica mais perigoso.
Audiovisual
Amnesia: The Bunker possui um visual muito bem feito, que graficamente não é muito diferente de Amnesia: Rebirth, sendo bem “econômico”, por assim dizer. Mostrando que não são apenas gráficos de ponta que tornam um game visualmente bem feito.
Modelos de personagens humanos, ratos e de objetos são bastante simplórios. Mas o monstro possui um visual bem aterrorizante. É difícil conseguir observá-lo em detalhes, visto que o contrate de luz e escuridão é grande, mas ele é realmente horrendo, e simplesmente vê-lo passar por perto é o suficiente para causar aquele surto de adrenalina no terror do momento.
Levando em consideração que o game possui um mapa bem pequeno, se comparado com seus antecessores, além de uma duração menor, essa sensação de que o game é “econômico” fica bem evidente, o que honestamente não é problema algum, e mostra que para se fazer um terror bom não é necessário muita coisa junta, mas sim uma ideia e uma atmosfera muito bem construída.
E a atmosfera desse game é excelente, totalmente baseado nos sons ambientes, que geram tensão constante a todo momento. Sons de explosões da guerra na superfície, fazendo todo o bunker tremer, os sons de ratos nos corredores, os seus próprios sons de passos ecoando para todo lado, bem como os grunhidos e arranhados do monstro atrás das paredes. Alie isso aos sons de tiros, que são incrivelmente estridentes, afinal estamos disparando dentro de um lugar completamente isolado e fechado.
O game possui pouquíssimas músicas, que tocam somente em momentos específicos, sendo assim, sua trilha sonora acaba passando bem despercebida. Mas seus sons ambientes são onipresentes e assustadores.
Amnesia: The Bunker possui localização em português brasileiro em seus menus e legendas, com um trabalho de tradução excelente, inclusive ao ler placas. Quando você olha uma placa na parede, por exemplo, uma legenda surge com sua tradução, deixando tudo muito mais fácil e acessível.
Conclusão
Amnesia: The Bunker é quase um spin-off da série, tanto em termos de duração quanto de desenvolvimento de enredo, sendo bem simples e sem complicação. Mas ainda assim, é mais um game que complementa o seu lore, formando assim uma quadrilogia.
E, acima de tudo, esse game mostra que a série ainda tem muita força, e tudo o que ela realmente precisa é um bom direcionamento e foco. The Dark Descent é uma obra prima. Justine foi uma DLC divertida, ainda que menos aterrorizante. A Machine for Pigs sacrificou muito de sua própria identidade e seu terror, resultando numa experiência um tanto apática. Rebirth trouxe a série de volta ás suas origens de forma excelente. E agora The Bunker foca menos no universo e mais naquilo que o primeiro game acertou em cheio: Como causar terror.
Amnesia: The Bunker foi lançado no dia 6 de junho com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Xbox Series X/S.