Análise Arkade: 2064: Read Only Memories é um point and click cyberpunk que honra os clássicos do gênero

18 de janeiro de 2017

Análise Arkade: 2064: Read Only Memories é um point and click cyberpunk que honra os clássicos do gênero

Chegou a hora de matarmos a saudade dos point and click como eles eram antigamente. 2064: Read Only Memories é um adventure cyberpunk retrô cheio de personagens interessantes e com uma história muito bacana!

Contextualizando

2064: Read Only Memories é uma nova versão de um jogo lançado em outubro de 2015 apenas via Steam, apenas como Read Only Memories. O conceito do jogo era essencialmente o mesmo, mas este relançamento traz ótimas novidades, como diálogos reescritos e dublados (por um elenco estrelado, diga-se de passagem), puzzles novos (e alguns antigos reimaginados), novas passagens de roteiro, e mais.

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Quem já tinha o jogo original no Steam recebeu o pack de melhorias na forma de um update gratuito. A versão PS4 do game, que foi lançada ontem e é a que utlizamos para este review, já é a mais atual, e conta com todas as novidades descritas acima.

Um jornalista e seu robô

2064: Read Only Memories se passa na cidade de Neo San Francisco no ano de 2064, uma época em que seres humanos aprimoram ciberneticamente seus corpos (no melhor estilo Deus Ex) e robôs participam ativamente da sociedade, trabalhando ao lado dos humanos em diversas atividades.

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Você assume o papel de um jornalista, que certa manhã recebe uma visita inusitada: Turing, um robô tipo ROM — sigla para Relationship and Organizational Manager — avançadíssimo, dotado de uma inteligência artificial tão poderosa que lhe torna o primeiro robô senciente (capaz de sentir raiva, alegria e outras emoções).

Claro que Turing não está ali por acaso: seu criador, o famoso cientista Hayden, amigo de nosso protagonista, desapareceu misteriosamente. Turing está ali porque precisa de ajuda para encontrar seu criador, e acredita que os instintos de jornalista investigativo do protagonista (e do jogador) irão ajudá-lo nesta missão.

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Juntos, você e Turing irão passar pelos 4 cantos de Neo San Francisco buscando pistas, angariando aliados e conversando com gente de todo tipo, tendo que fazer favores (alguns até ilegais) em troca de informações, para ir montando o imenso quebra-cabeça que é o sumiço do cientista.

O poder da narrativa

Ainda que mantenha um tom leve e divertido na maior parte do tempo, 2064: Read Only Memories possui uma trama densa e muito bem escrita, que acha espaço para abordar temas controversos, polêmicos e até delicados, no que o estúdio Midboss chama de “lado negro da tecnologia”.

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Uma sociedade tão dependente das máquinas e da inteligência artificial possui diversas vantagens, mas é claro que isso tem um preço: existem grupos anárquicos que são contra o uso descabido destas tecnologias, megacorporações capazes de tudo para atingir seus objetivos, isso sem falar em um amplo mercado negro de troca e venda de ROMs e aprimoramentos cibernéticos.

A trama de 2064: Read Only Memories se desenvolve sem pressa, alongando-se por quase 10 horas enquanto passeia por espionagem industrial, chantagem, extorsão, assassinato, conspirações maquiavélicas e muito mais. Você vai encontrar gente do bem fazendo coisas ruins, gente má fazendo coisas boas, e sua participação ativa nos diálogos e decisões abre um enorme leque de possibilidades.

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Confira abaixo um breve momento de gameplay onde devemos usar um disfarce para invadir uma empresa e ganhar tempo para que Turing possa hackear uma porta:

Muito do jogo envolve esse tipo de situação, e uma escolha errada pode colocar tudo a perder (essa mesma situação poderia ter acabado de outras maneiras). Obviamente, isso abre várias possibilidades de finais, e você até construir — ou destruir — relacionamentos com NPCs de acordo com a forma como você interage com eles.

Há até espaço para questionamentos inusitados: em dado momento, Turing questiona por que você se refere a ele com um pronome masculino — “he”. Na real, é simplesmente por ele ser azul, cor geralmente associada a meninos. Inicia-se então uma singela discussão sobre o gênero do robozinho, que por mais avançado que seja, não sabe se é “he” (ele) ou “she” (ela). Será que um dia chegaremos ao ponto em que os robôs terão tal identidade sexual?

Elenco de peso e personalidade

Mecanicamente, 2064: Read Only Memories é um point and click da forma mais pura possível. Suas ações limitam-se a interagir com objetos do cenário, conversar com outros personagens, carregar itens em uma mochila, e vez ou outra resolver algum puzzle. No melhor estilo Full Throttle, temos uma roda de ações que conta com ícones para olhar, mexer, falar e consultar inventário. Tudo bem simples, tudo bem old school.

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Como já dito, a força do game é seu roteiro, que conta com diálogos afiados e obriga o jogador a tomar decisões o tempo todo, e suas escolhas vão moldando os rumos que a história toma, e afetam os relacionamentos que você constrói com o enorme rol de personagens secundários do game.

Personagens este que são muito bem dublados: 2064: Read Only Memories possui um elenco estreladíssimo de dubladores, capaz de deixar muito jogo Triple A com dor de cotovelo. Só para você ter uma ideia, Turing é dublado por Melissa Hutchinson — a voz da Clementine, em The Walking DeadTOMCAT é dublado por Erin Yvette, moça que atuou em vários jogos da Telltale e também em Firewatch e Oxenfree. O Dr. Yannick Fairlight, outro personagem importante do game, ganha voz através de Adam Harrington, que foi o Bigby na elogiada série The Wolf Among Us.

O trailer abaixo apresenta o excelente time de dublagem do game:

Ainda que o jogo tenha essa vibe retrô-pixelada para manter o clima old school, o visual como um todo é bacana e com bastante personalidade. O fato de o game usar apenas uma pequena área da tela pode parecer estranho, mas é condizente com essa vibe retrô, emulando os jogos que nunca rodavam fullscreen.

Um ponto negativo — ao menos para nós, brasileiros — é a total ausência de suporte ao nosso idioma: o jogo está 100% em inglês. Considerando que ele se apoia em toneladas de diálogos, descrições e escolhas, é fundamental que você tenha um bom conhecimento do idioma para não ficar perdido na história.

Conclusão

É difícil aprofudar-se em um review de 2064: Read Only Memories sem entregar spoilers, pois suas mecânicas são super simples, e o que realmente se destaca é sua narrativa envolvente e o carisma de seus personagens. Este é um point and click “de raiz” indicadísismo para quem cresceu jogando Gabriel KnightFull Throttle, Monkey Island e outros clássicos do tipo.

Análise Arkade: 2064: Read Only Memories é um point and click cyberpunk que honra os clássicos do gênero

Para a galera mais jovem quem tem nos jogos da Telltale sua referência de point and click, 2064: Read Only Memories talvez pareça arrastado e monótono. Mas, para quem é da “velha guarda” e cresceu curtindo os clássicos do gênero, não tem erro. O que temos aqui é um legítimo adventure old school, tão carismático e envolvente quanto o gênero precisa ser.

2064: Read Only Memories foi lançado ontem (17/01) para PC e Playstation 4. O game está 100% em inglês.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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