Análise Arkade – A hora dos Vikings chegou em Assassin’s Creed Valhalla
Quando Origins chegou, em 2017, a série Assassin’s Creed mudou. Saiu de cena o jogo de ação, com cidades a serem exploradas, e entrou em seu lugar um RPG de ação, maior, grandioso, e com conteúdo para meses de gameplay. Odyssey, sua sequência, trouxe na odisséia de Kassandra e Alexios uma imersão na Grécia Antiga nunca antes vista em um videogame. Mas, houve quem gostou, e quem não gostou desta nova fórmula.
Assim, em meio a boas vendas (Odyssey foi o jogo da série mais vendido na geração), mas com o desafio de agradar os fãs mais antigos da franquia que resmungaram deste novo formato, e ainda com uma nova geração de consoles em frente, a Ubisoft foi visitar a cultura Viking, e seu episódio histórico de incursões na Inglaterra, para tentar agradar a todos. Assim, estreando uma nova geração, Assassin’s Creed Valhalla chega, tentando não só manter a grandiosidade de seus últimos games, como também tentar trazer algo do passado, para um gameplay que busque algum equilíbrio entre o passado e o presente.
Um mais do mesmo, mas mais profundo
Assassin’s Creed já abordou diversas eras da humanidade. Do Egito Antigo, passando pela Grécia, viajando pela Idade Média e Renascimento, até a Revolução Francesa, Revolução Industrial Inglesa e até a Revolução Russa, agora é a vez dos Vikings contarem suas relações entre assassinos e templários.
Em Valhalla, você é o Eivor, ou a Eivor, membro (ou membra) do clã do Corvo, um clã nórdico que sai da Noruega rumo à “nova” Inglaterra, em busca de dias melhores. Assim como em Odyssey, você escolhe se prefere jogar com o protagonista homem ou mulher. Mas, diferente de seu antecessor, não são dois personagens distintos, e sim, uma versão masculina e feminina do mesmo personagem. A explicação, de acordo com os produtores, é explicada no jogo, e uma “surpresa”. Porém ainda há uma terceira opção, a “padrão”, na qual o jogo ajusta esta questão para você.
Uma coisa interessante no game é a forma a qual os Vikings são apresentados. Apesar dos games da série, mesmo usando de elementos históricos, não ser 100% comprometida com a realidade, preferindo explorar elementos fantasiosos, pelo bem da narrativa, os personagens do game não são os bárbaros incultos que fazem parte da narrativa popular. Eles são inteligentes, vivem bem em comunidade e contam com um forte apelo de progresso. Algo que é possível ver, naturalmente, nas nações que os sucederam, como a Suécia, Dinamarca, ou Noruega.
Uma vez no game, você começa na Noruega e depois, viaja para a Inglaterra. O mundo, em comparação com Odyssey, é menor. Mas nem por isso, menos vivo. A grata novidade aqui está nas atividades do mapa. Independente do nível de dificuldade de exploração, você tem no mapa, apenas alguns pontos, que vai exigir do explorador visitar ponto a ponto no mapa, para descobrir do que se trata. Pode ser um item para coletar, uma maldição para quebrar, erros do Animus, pessoas do mundo do game para interagir e muito mais.
Inclusive, o jeito a qual as missões secundárias acontecem são bem interessante. Não há mais, em algumas missões, o “vá ali” ou “faça isso”, o jogo te mostra, de maneira intuitiva, o que fazer. Viu um personagem andando? Siga ele. Viu uma casa pegando fogo e uma pessoa pedindo ajuda? Obviamente que o que você tem que fazer é entrar na casa. Um “padre” fala que não tem apego a bens materiais? Sim, você pode roubar tudo dele, para ver o que acontece. Este formato de missões se mostra bem interessante, e aprofunda mais o jogador no rico mundo do game.
Mundo este que está em guerra. A progressão do game também é um pouco diferente. É preciso ir dominando a Inglaterra do game, firmando alianças com os reinos disponíveis. Como um domínio de mapa, sua progressão acontece com a escolha de uma região, e o cumprimento de suas missões, todas elas apresentando mais tanto sobre os personagens, quanto sobre os reinos e cidades visitadas. Ainda há barcos, mas se limitam aos dracares, barcos usados nos lagos ingleses para as incursões. Porém, apesar de menor o mapa, ainda é recomendado ir desbloqueando os pontos de viagens rápidas.
E ainda há muito mais a se fazer em Valhalla: praticar incursões para saquear recursos, administrar seu assentamento, construindo mais locais de atividades, que vão de padarias até peixarias, disputar concursos de bebidas, praticar repente, paquerar, e diversas outras atividades, incluindo elementos envolvendo os Assassinos, que prometem prender o jogador por meses, se ele quiser explorar tudo o que o game tem para oferecer.
Olha um pouco de Assassin’s Creed clássico aqui…
É importante observar também que, desta vez, alguns elementos de gameplay dos games antigos da série voltaram. Sim, o game ainda é “mundão aberto”, mas aquela sensação de grandiosidade de Odyssey buscou um ponto de equilíbrio com os games mais antigos. Por exemplo, os loots, que incluem armaduras e armas, já não são tão extensos assim, incentivando até, a melhora do que você já possui, com elementos saqueados.
O stealth “velha escola” também está de volta, mesmo que mais sutil do que o esperado. Há locais as quais você não é bem vindo. Assim dá pra, como nos “velhos tempos”, se misturar entre a multidão, sentar em locais para despistar inimigos, planejar melhor como assassinar seus alvos, e usar um sistema de combate mais completo. O sistema de controle é semelhante aos de seus antecessores, mas é mais brutal.
Você tem à disposição ataques comuns e especiais. Pode trocar de armas nas mãos durante a luta, e prepare-se para a violência extrema. O jogo até pergunta, no começo, se você se incomoda com a violência. Se não se importar, poderá pisar na cabeça dos inimigos, arrancar cabeças, empalar soldados nas suas lanças, entre outros atos extremamente brutais, típicos do jeito Viking de ser.
Isso não significa que o game é um “Assassin’s Creed 2 para a nova geração”. O game ainda não oferece muitos elementos da série no game. Dá até pra imaginar que este jogo, sem o conceito e contexto dos assassinos, seria exatamente igual. Mas mostra que a Ubisoft ouviu algumas reclamações, justas, de quem diz que, de alguma forma, a série “perdeu a sua alma original”, e introduziu elementos interessantes, que deixam o game com aquele “gosto do passado” sim.
Nova x Velha geração
Assassin’s Creed Valhalla também marca um novo momento no mundo dos games. O game está disponível tanto para a já antiga geração, Playstation 4 e Xbox One, como para a nova geração, com Playstation 5 e Xbox Series X|S (além de PC, e Google Stadia). Joguei as versões de Xbox Series S e Playstation 4 e é possível ver muitas diferenças. Entretanto, não percebi apenas as diferenças comuns entre os games, mas sim uma falta de capricho com a geração passada.
Em Watch Dogs Legion, por exemplo, o game, que também está disponível para ambas as gerações, se mostra muito bonito no Playstation 4. Mas Valhalla, no Playstation 4, tem texturas simplórias, uma ambientação mais pobre, e um loading muito, mas muito demorado. Neste ponto, o SSD da nova geração já se mostra muito útil. E o Quick Resume, dos consoles Xbox, se mostra ainda mais necessário, e ajuda a otimizar o gameplay, para jogar mais e esperar menos.
No geral, ambas as gerações estão ok, e contam com o mesmo conteúdo, e a mesma qualidade de gameplay. Entretanto, é claro que na nova geração, há muitos mais detalhes, e belezas visuais para apreciar. Garanto que você usará as viagens rápidas o mínimo possível, para apreciar uma Inglaterra bem construída, com cidades bem diferentes umas das outras, além de paisagens variadas, que vão de pântanos para colinas, ou de montanhas geladas para áreas com muito sol.
O interessante é que dá pra compartilhar saves entre os dois sistemas, através da nuvem da Ubisoft. Tudo funciona muito bem, mas há alguns poréns. Por exemplo: se houver diferença de versões, a versão “inferior” não recebe o conteúdo, como armaduras bônus, por exemplo. E, o save só atualiza o jogo, não oferecendo conquistas e troféus junto. Explico: se você conquistou algumas conquistas no Xbox, e abrir o save compartilhado no Playstation, você atualiza o jogo, mas não desbloqueia os troféus correspondentes. O recurso é muito bom, mas atrapalha quem busca por conquistas em ambos os sistemas. Seja agora, ou em um futuro, caso haja interesse da troca de sistema.
Um bom game mas com sabor de “poderia ter mais”
Assassin’s Creed Valhalla é um bom jogo, e com certeza, tem tudo para agradar os fãs da franquia. Mas por vários fatores, ao jogar você sente falta de um “algo a mais”, que poderia estar presente. Por exemplo: este é o game, historicamente falando, mais próximo do primeiro game da série, de 2007. Mas, poderia ter mais elementos que encaixassem um game no outro, o que mostra uma oportunidade perdida.
O próprio conceito dos Assassinos, que também poderia ser melhor explorado, foi “jogado de canto”, como uma quest específica. É mais do que os outros dois games anteriores, mas ainda pouco perto do aguardado. Sim, disse que tem um pouco dos jogos originais do jogo, e isso é bom, mas dá pra ver, enquanto se joga, que poderia ter mais disso também. Outra oportunidade perdida.
E a história em si, apesar de interessante, não é do mesmo quilate da vida de um Ezio Auditore, por exemplo. O ou a Eivor, apesar de ser um personagem interessante, não tem o carisma de uma Kassandra, e não entraria nos Top 5 Assassinos dos fãs, salvo algumas exceções. O enredo, segue aquela de “história Viking de dominação com toques de Casos de Família no meio, com alguns momentos de Assassinos no meio”.
Entenda: o game não é ruim. Pelo contrário, as adições de gameplay da Ubisoft deixaram o game extremamente divertido e gostoso de jogar. O formato de exploração, como mencionei anteriormente, é uma das coisas que mais gostei. Entretanto, Assassin’s Creed também é conhecido por uma boa história e uma rica mitologia, trazendo elementos históricos combinados com as situações de Assassinos e Templários, além da situação global, dentro da mitologia do jogo. E é um tanto desapontador ver que a Ubisoft não dá mais uma boa atenção para este elemento, de um universo tão rico.
Isso significa que: tire o tema de assassinos do jogo e mantenha tudo como está. Este é o Valhalla. Que um jogador pode nunca ter jogado nenhum game da série, mas encontrar um ótimo game para curtir. Porém, ao invés de só reclamar, consigo sim ver alguma tentativa de reintroduzir elementos interessantes da franquia no game, o que dá a esperança que da próxima vez, poderemos ter, enfim, um perfeito equilíbrio entre o atual momento da franquia, e também da Ubisoft, com seu “padrão de jogo”, com os elementos que os fãs aguardam “voltar” por algum tempo.