Análise Arkade: Black The Fall e a obscura luta pela liberdade

14 de julho de 2017

Análise Arkade: Black The Fall e a obscura luta pela liberdade

Parece que o “estilo Playdead” de produzir games anda se multiplicando e — felizmente — dando bons frutos. Este ano já tivemos o excelente Little Nightmares, e esta semana chegou Black The Fall, game estiloso e desafiador, confira nossa análise!

Fugindo do comunismo

Seguindo a cartilha da Playdead, aqui não há uma história propriamente dita, mas uma premissa que move o jogador ao longo da campanha. Estamos em uma espécie de fábrica/campo de concentração decorado com o emblema da foice e do martelo comunistas. E devemos dar o fora dali.

Análise Arkade: Black The Fall e a obscura luta pela liberdade

Não dá para saber exatamente o que é aquele lugar, mas boa coisa não é: há pessoas fazendo trabalho escravo, câmeras de vigilância e armas automáticas que estão prontas para eliminar qualquer um que resolva ir contra o sistema e quebrar a sinistra rotina que impera ali.

Confira abaixo os primeiros 30 minutos de jogo:

Como em Limbo, Inside e outros jogos do gênero, nenhuma palavra é dita no decorrer do jogo. Tudo é bem interpretativo e subjetivo, e cabe ao jogador explorar aquele mundo e tentar dar algum sentido a ele.

Segundo o press release o game é inspirado em “experiências da vida real” e representa a luta dos cidadãos da Romênia contra o Comunismo. Isso não faz parte da nossa realidade, então o apelo acaba se perdendo um pouco, mas sem dúvida a atmosfera opressiva do game funciona para todos.

Stealth mode, ativar

Black The Fall é um jogo 2.5 D onde devemos basicamente seguir para a direita o tempo todo, como nos bons e velhos jogos de antigamente. Porém, nem sempre será fácil fazer isso, pois existem câmeras de vigilância, robôs de patrulha e outros perigos, e é quase impossível de fugir caso você seja visto.

Análise Arkade: Black The Fall e a obscura luta pela liberdade

Aprender a agir em modo stealth e usar elementos do cenário para se esconder é fundamental. Devemos “fazer de conta” que trabalhamos para enganar câmeras, e mais  adiante do jogo até o som de pássaros assustados levantando voo deve ser usado para distrair a mira dos enormes robôs que parecem saídos diretamente da série Metal Gear Solid.

Felizmente, o jogo gera checkpoints bem próximos e o load time é quase inexistente, de modo que a morte não chega a ser tão dolorosa. Se por ventura você acabar morrendo — spoiler: você vai morrer bastante aqui — basta recomeçar do checkpoint e experimentar uma abordagem diferente.

Quebrando a cabeça

Além disso, temos também puzzles. Muitos puzzles. Black The Fall é um jogo cheio de puzzles muito bem integrados ao cenário, e alguns são bem difíceis e demandam atenção e sagacidade. Ativar um botão que abre uma porta, redirecionar um feixe de energia para acionar um elevador ou descobrir como derrubar uma parede estão entre os desafios do game, e isso é só para citar o básico.

Análise Arkade: Black The Fall e a obscura luta pela liberdade

Já no começo de nossa jornada, o personagem consegue uma manopla que emite um laser, e que lhe permite dar ordens para outros trabalhadores e criaturas. Então você precisa sempre visualizar como os NPCs podem lhe ser úteis, seja distraindo sentinelas ou acionando válvulas e mecanismos.

Confira um destes momentos no vídeo abaixo:

Mais adiante encontramos um simpático cãozinho-robô que também obedece ao laser, e ainda pode interagir com painéis de controle e servir de “banquinho” para que possamos alcançar lugares mais altos. E o peso dele também deve ser levado em conta, pois faz com que ele seja capaz de acionar botões e/ou direcionar plataformas.

Com tudo isso, quero dizer que Black The Fall é um jogo com puzzles bem criativos e diferentes entre si. Como estamos falando de um jogo bem minimalista em termos de vocabulário, não espere dicas ou tutoriais: aqui temos que aprender tudo “na marra”, o que invariavelmente nos deixa travados sem saber o que fazer nos puzzles mais difíceis. Nessas horas, admito que apelei para guias de internet, e se precisar, sugiro que faça o mesmo; do contrário sua jornada será bem frustrante.

Audiovisual

O visual de Black The Fall lembra muito Inside; um 2.5D caprichado e bem modelado, que não abusa das cores mas oferece uma profundidade impressionante. A câmera do jogo é bem dinâmica, alterando a perspectiva e a maneira como contemplamos o belo e sombrio universo do game. Quando passamos por áreas abertas, o jogo fica mais claro e colorido, mas as onipresentes sentinelas e o clima de desolação constante mantém a atmosfera lúgubre no ar.

Análise Arkade: Black The Fall e a obscura luta pela liberdade

O departamento sonoro é incrível, e contribui muito com a imersão, tão fundamental neste tipo de experiência. Como em Limbo, há uma parte totalmente escura, onde devemos prosseguir simplesmente com base nos sons ambientes, que nos dão pistas do que há pela frente. Temos poucas músicas aqui, em uma decisão claramente pensada para não gerar ruídos desnecessários, que “tirem” o jogador de dentro do game.

Conclusão

Black The Fall segue o modus operandi da Playdead em muitos aspectos, mas consegue oferecer uma experiência satisfatória graças ao seu universo estiloso e à engenhosidade de seu level design. Em alguns momentos o jogo é quase difícil demais, mas considerando que a jornada aqui não é tão longa, ficar um pouco travado acaba fazendo parte da experiência.

Análise Arkade: Black The Fall e a obscura luta pela liberdade

Acho que ele não consegue ser tão emblemático ou marcante quanto Inside ou Little Nightmares simplesmente porque sua proposta não é necessariamente original. Mas mesmo assim, o game tem qualidades de sobra para agradar quem curte este tipo de experiência.

Considerando que este é o primeiro jogo do Sand Sailor Studios — que inclusive foi apadrinhado pela Square Enix, e lançado sob o selo indie da empresa, Square Enix Collective –eu diria que Black The Fall representa um começo muito promissor para estes caras.

Black The Fall foi lançado em 11 de julho, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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