Análise Arkade: Blackwood Crossing é uma viagem cheia de emoção e sentimento
Certos jogos não tem o intuito de ser apenas diversão sem compromisso. Eles vão além, e levam o jogador por uma jornada capaz de emocionar e ensinar muita coisa. Blackwood Crossing é um desses jogos.
Muito mais que uma viagem de trem
Blackwood Crossing se passa quase todo em um trem. Nossa protagonista, a adolescente Scarlett, acorda um tanto desorientada, e logo se vê envolvida pelas ações de seu irmão Finn, um garotinho criativo e cheio de energia que está o tempo todo inventando jogos e brincadeiras.
Porém, conforme você explora o trem, vai encontrar um garotinho com uma bizarra máscara de coelho, bem como outras pessoas usando máscaras variadas. Elas formam uma espécie de link com o passado dos jovens irmãos. E não é só isso: o trem está longe de ser um trem “normal”, pois vagões inteiros se transformam em jardins, e árvores varam o teto dele para levá-lo até uma simpática casa na árvore.
Ainda que seja linear e simples, a história deste game é seu principal mérito, e quero fazer o possível para não lhe entregar spoilers e você possa absorver a experiência por si mesmo, caso decida jogar. Ela é triste, mas ao mesmo tempo passa uma mensagem positiva, nos moldes de That Dragon, Cancer.
Sem entrar em detalhes, posso lhe dizer que Blackwood Crossing trata basicamente de família e amadurecimento, mas também trata de perda, alegria, raiva, confiança, separação. Há muitos elementos fantásticos envolvidos, mas as emoções representadas ali são muito humanas, afinal, a vida não é um mar de rosas para ninguém, e todos nós podemos nos identificar com o que é apresentado.
Explorando
Blackwood Crossing é um adventure em primeira pessoa do tipo “story-driven”, o que faz dele um jogo bem linear e direto. É possível terminá-lo “de uma sentada”, em cerca de 4 horas. Pode ser pouco para os padrões “gamers”, mas a duração é adequada para que ele nos conte sua história.
O gameplay em si é super simples: você caminha com Scarlett pelos ambientes, podendo interagir com alguns pontos de interesse — abrir portas, pegar objetos –e de vez em quando pode até participar de alguns diálogos. Você não escolhe o que ela vai dizer, mas o tom em que será dito: sarcástico ou gentil, por exemplo.
Interagir com as figuras mascaradas constitui uma parte importante do game. É um puzzle simples mas meio trabalhoso onde você ouve fragmentos de conversas que elas estavam tendo, e precisa então, ligar uma pessoa à outra, o que lhe permite ouvir um trecho maior da conversa e obter um pouco mais do background da situação representada. Você deve basicamente “conversar” com as pessoas e prestar atenção ao que elas dizem. Converse com duas na ordem certa e elas irão desaparecer, reaparecendo juntas e liberando um trecho adicional de diálogo.
Fora isso, você também vai fazer coisas para Finn, tipo reunir materiais para ele montar um brinquedo, ou descobrir a senha para que ele te deixe entrar na casa da árvore. Há ainda momentos onde você deve transportar fogo, ou carregar uma “gosma preta” até uma fonte de luz para eliminá-la. Na prática, o que temos aqui é um “walking simulator” com puzzles simples e foco na exploração.
Audiovisual
Blackwood Crossing tem um visual incrível. Os personagens — Finn, principalmente — é tão fofinho que parece saído diretamente de uma animação da Pixar, ou da Dreamworks. E se o jogo começa com o visual simples do interior do trem, logo ele extrapola estas fronteiras para te colocar em um bosque exuberante, à beira de um lago ou mesmo na estufa de seu avô.
O jogo faz um ótimo contraste entre claro e escuro, justamente para potencializar momentos opressivos, divertidos e otimistas. Em certos momentos, você ainda ganha a habilidade de “dar vida” às coisas, e fazer uma borboleta de papelão ganhar vida e sair voando é algo realmente mágico.
Um detalhe curioso e que vai divertir os fãs de cinema é como o jogo brinca com pôsteres de muitos filmes famosos, colocando Finn e outros personagens em imagens muito emblemáticas que marcaram a sétima arte. Deixo abaixo alguns exemplos:
Não há uma verdadeira relevância narrativa para estes pôsteres — mas você ganha um troféu se “inspecionar” todos — e acho que estão ali apenas para fins de referência/easter egg, mesmo, mas não deixa de ser um adendo bacana.
As dublagens — em inglês com forte sotaque britânico — são muito boas, e conseguem transmitir toda a emoção e a dramaticidade que a narrativa demanda. A trilha sonora é daquelas que acerta “right in the feels”, conduzindo as emoções do jogador ao longo de toda a jornada. Infelizmente o jogo não está localizado, então se quiser embarcar nesta jornada, é bom que esteja com seu inglês em dia.
Conclusão
Talvez este review não tenha sido muito informativo, mas é simplesmente difícil falar de um jogo tão pautado por sua história sem entregar spoilers. Blackwood Crossing é um jogo que mexe com as emoções, e isso é algo íntimo e pessoal, que fica difícil de colocar em palavras. Você precisa jogar e se deixar levar por aquele mundo para senti-lo como ele deve ser sentido.
Blackwood Crossing trata de temas pesados, mas faz isso com muita sensibilidade. Desde já coloco-o ao lado de Unravel e de outros jogos que são mais para serem “vividos” do que jogados, como o excelente Journey ou Brothers: A Tale of Two Sons. Todos são jogos mecanicamente simples, mas que nos contam histórias poderosas, e conseguem realmente tocar o coração de cada um que se deixa levar pela experiência.
Por mais melancólica que seja a história como um todo, no fim das contas, ela passa uma mensagem positiva e otimista. Blackwood Crossing fala de perda, mas fala principalmente de aceitação, de seguir em frente. Isso é algo que poucos games abordam, e esse aqui faz isso muito bem.
Blackwood Crossing foi lançado em 4 de abril, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.