Análise Arkade – Cuphead: The Delicious Last Course, um extra muito saboroso
Nem parece, mas já fazem quase 5 anos desde que o maravilhoso Cuphead foi lançado, em setembro de 2017. Falamos bastante do jogo — e da sua dificuldade “absurda” — em um Além do Review especial, e é com prazer que revisitamos o mundo de Xicrinho e Caneco (e, da Srta. Cálice) no delicioso DLC The Delicious Last Course.
Uma nova ilha
Como a gente bem sabe, Xicrinho e Caneco vivem em um pequeno arquipélago. Na campanha principal de Cuphead, visitamos três das ilhas que compõem a região, encarando chefões insanos e fases lineares de ação e tiroteio.
The Delicious Last Course nos permite explorar uma quarta ilha. Porém, o novo conteúdo não é desconectado do jogo original, nem acessado pelo menu principal. Ganhamos acesso à nova ilha diretamente pelo mapa do mundo do jogo principal. Para poder acessá-la, devemos, no mínimo, liberar um dos mausoléus da campanha principal.
Feito isso, um barqueiro (um tanto sinistro) aparecerá no mapa, falando sobre uma ilha misteriosa. A Srta. Cálice estava em uma missão secreta por lá, buscando ingredientes para que o Chef Pitadinha pudesse criar sua maior iguaria: a Tortuprema.
Infelizmente, a Srta. Cálice pereceu em sua missão, mas pode voltar à vida se os irmãos Xicrinho e Caneco puderem ajudá-la com os ingredientes. E, existe um biscoito mágico que permite que ela volte à vida temporariamente — ocupando o lugar de um dos protagonistas –, fazendo dela uma terceira personagem jogável!
Bem-vinda, Srta. Cálice!
A verdade, porém, é que ela não é uma personagem selecionável… pelo menos não da forma tradicional. O que acontece é que, se um dos protagonistas come um biscoito mágico, pode trocar de lugar temporariamente com a Srta. Cálice: ela entra no mundo físico, enquanto um dos irmãos vira fantasma.
Este biscoito chega na forma de uma relíquia equipável, ou seja: para jogar com a Srta. Cálice em qualquer fase (é possível inclusive voltar para as ilhas do jogo base com ela), você precisa deixar o biscoito equipado no slot de relíquia… o que acaba sendo uma faca de dois gumes, afinal, algumas relíquias do jogo principal eram realmente úteis– como aquela que transforma o dash em um teleporte, ou a que dava mais um coração de vida.
Para contornar isso, a Srta. Cálice já vem “de fábrica” com alguns perks bem maneiros. Para começar, ela já tem 1 coração de vida a mais do que os irmãos. Além disso, possui pulo duplo e uma “rasteira” que a deixa invencível enquanto desliza. Para completar, seu dash tem a função de parry, útil para se livrar de projéteis e elementos cor-de-rosa que vêm em sua direção.
As novidades de gameplay são sutis, mas mudam bastante a experiência de jogo. Xicrinho e Caneco não têm pulo duplo, por exemplo, e seu parry deve ser feito “quicando” sobre os tiros cor-de-rosa com o botão de pulo. Vai de cada um, mas eu realmente acho que as habilidades da Srta. Cálice compensam o fato de perdermos o slot de relíquias para jogar com ela.
É mais Cuphead – e isso é ótimo!
Independente do personagem, uma coisa é fato: The Delicious Last Course traz um panteão incrível de novos chefes, e é focado apenas nisso. Esqueça as fases do tipo “Run N’ Gun” que eram uma gordurinha do jogo base: aqui só o que temos são chefes, e eles estão mais incríveis e desafiadores do que nunca.
A nova ilha mantém a tradição dos chefes enormes, que vão sofrendo mutações e ganhando novos ataques e padrões de comportamento ao longo das batalhas. Há magos de gelo que viram geladeiras, insetos dançarinos, cães montados em aviões, vacas com aspiradores de pó, e muito mais. Cada chefe é único, visualmente incrível, e rende um combate intenso e desafiador!
Destaque para as batalhas opcionais que são focadas em parry. Nelas, não podemos atacar diretamente estes chefes, apenas rebater seus ataques. Estes confrontos são específicos para a Srta. Cálice, pois demandam seu dash + parry exclusivo. É uma abordagem diferenciada que funciona muitíssimo bem, e também rende grandes duelos. Vou deixar aí embaixo um trechinho de um desses bosses. Repare que o ponto fraco dele é a crina cor-de-rosa:
Além de novos chefes e um bom punhado de boss battles opcionais, este DLC traz novas armas e relíquias para comprarmos, bem como alguns segredos bem interessantes. O cemitério, por exemplo, esconde um puzzle que leva a um chefe secreto. Porém, os jogadores recebem pistas diferentes sobre a resolução do enigma das lápides, ou seja, buscar uma solução online talvez não seja tão simples (acredite, eu tentei).
É engraçado porque eu nunca vi Cuphead como um jogo que a gente associaria com puzzles, mas ele faz isso até que muito bem. O que temos aqui é um quebra-cabeça simples, mas deveras engenhoso. O fato das dicas serem randômicas só torna isso ainda mais interessante, pois mostra que os criadores realmente se empenharam em criar sabe-se lá quantas possíveis soluções, com base em tantas possíveis combinações de dicas.
A melhor dica que eu posso te dar é: para tentar resolver o puzzle do cemitério, mude o idioma do jogo para inglês. As pistas são jogos de palavras bem específicos, e fiquei com a impressão de que, apesar do trabalho de localização como um todo ser excelente, a sutileza das pistas perde-se na localização, tornando o enigma em si ainda mais confuso.
Mais lindo do que nunca
Falar disso é “chover no molhado”, né? Cuphead já era um jogo visualmente estonteante, e o DLC mantém o mesmo nível de qualidade. Cada frame do jogo é desenhado à mão, em um estilo artístico que emula animações dos anos 1930, com ruídos na imagem, som chiado e tudo.
É uma identidade visual muito rica, feita com um nível de capricho que beira o absurdo. Cada animação, cada transformação de um chefe, cada movimento, cada detalhe do cenário, foi criado com máximo esmero. Simplesmente não há aqui que pareça “feito nas coxas”, tudo é inacreditavelmente lindo e detalhado.
A trilha sonora segue a mesma linha de qualidade, trazendo um mix de jazz com fanfarras e canções mais alegres e divertidas que combinam perfeitamente com o game — e também remetem aos desenhos de décadas atrás.
Até a localização do jogo é primorosa. As formas como os nomes dos chefes foram adptados — veja bem, não apenas traduzidos, adaptados — são muito criativas. Os comentários maldosos que eles soltam quando nos vencem também são ótimos.
Salvo o que eu comentei sobre a tradução das dicas do puzzle do cemitério (qu podem deixar tudo ainda mais confuso), o que temos aqui é um jogo que abraça a brasilidade por meio de gírias e piadas. Bom, lembre-se que “Cuphead” e “Mugman” viraram “Xicrinho” e “Caneco” por aqui. O restante da localização segue este nível, e é excelente.
Conclusão
O que temos em The Delicious Last Course não é algo tão grandioso que possa ser confundido com uma sequência… mas é um DLC que agrega bastante conteúdo extra ao jogo original, e foi concebido com tanto carinho e atenção quanto o título de 2017.
Ao deixar de lado certas coisas nem tão interessantes, como as fases de Run N Gun, e focar no que realmente brilha — os chefes –, a nova ilha se incopora com perfeição ao arquipélago que já conhecíamos. É um pouco mais enxuta, é verdade, mas compensa isso com ótimos desafios e um nível de diversão old school que, talvez, só seja superado por sua dificuldade.
Já falamos sobre a dificuldade de Cuphead lá em 2017, então não não vou me estender neste tema. Este é um jogo de tentar de novo (e de novo), de aprender pela repetição e decorar padrões. Nem todo mundo gosta disso. Mas eu acho viciante. E quando vem “embalado” em um jogo lindo como Cuphead, simplesmente não tem como não gostar.
A verdade é que Cuphead não é para todo mundo. Eu sei disso. Mas se você curtiu o game de 2017, sem dúvida vai adorar o DLC The Delicious Last Course, então venha sem medo de ser feliz. Porém, se você não gostou de Cuphead, provavelmente não vai ser o conteúdo extra que irá fazê-lo gostar do jogo.
Cuphead: The Delicious Last Course foi lançado em 30 de junho, e está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch (versão analisada).