Análise Arkade: Debris traz psicose, escuridão e sobrevivência submarina para 2 jogadores
Prepare-se para vivenciar um pesadelo submarino na companhia de um amigo: Debris é um jogo cooperativo diferente de quase tudo o que já experimentamos, confira nossa análise!
Uma descoberta misteriosa
Debris acompanha um grupo de mergulhadores especializados em filmagens subaquáticas que que foi contratado por uma empresa chamada ALTA para produzir um documentário sobre um grande achado: fragmentos de um meteoro que estão no fundo do oceano Ártico e podem servir como uma nova fonte de energia para os seres humanos.
O mergulho logo torna-se um pesadelo quando uma explosão soterra — e separa — os mergulhadores sob toneladas de gelo e água. Divididos, perdidos e confusos, eles devem dar um jeito de cair fora dali, pois o oxigênio é escasso e o fundo do mar esconde criaturas e perigos que irão desafiar o juízo dos sobreviventes.
Falar mais do que isso seria spoiler, mas espere por uma história um tanto confusa, onde realidade e loucura se misturam em meio a um clima de conspiração recheado de diálogos confusos, visões alucinógenas e criaturas marinhas que sofreram mutações por conta da radiação do meteoro.
Mergulhando em dupla
Debris é um jogo pensado para o coop e, embora ele até possa ser jogado sozinho, a melhor maneira de curtir a experiência é online com algum amigo. Claro que isso significa que você e o seu amigo terão que comprar o jogo, mas é um investimento que vale a pena, pois temos 4 finais diferentes, e o gameplay de quem é host e de quem é convidado é bem diferente, ou seja, vale a pena alternar com o amigo para experimentar todas as nuances do jogo.
Funciona assim: o host da partida assume o controle de Ryan, um dos mergulhadores que estava desbravando a região para captar imagens. Ryan perde sua lanterna já no começo da jornada, mas pode equipar uma arma que possui 2 tipos de tiros: um flare vermelho que pode assustar inimigos e iluminar caminhos, e uma carga azul capaz de dar cabo de pequenas ameaças.
O jogador convidado, por sua vez, assume o papel de uma pequena sonda subaquática que está sendo controlada remotamente por uma mulher chamada Sonya, que está em outro lugar. No papel da sonda, o segundo jogador fica responsável pela iluminação e pela coleta do Debris. Ou seja, um jogador carrega a arma, enquanto o outro fica com a lanterna.
Na prática, Debris é quase um walking simulator (ou seria swimming simulator?) cooperativo: a maior parte do gameplay consiste em nadar e explorar, com alguns momentos de tensão esparsos e perseguições, que rolam em águas escuras infestadas de tubarões, águas vivas e outros perigos.
Sincronizando o tempo
Porém, apesar dos tubarões, enguias e tentáculos do mal, o tempo é seu maior inimigo em Debris. Ambos os players possuem um cronômetro na tela, indicando o que deve ser o tempo de oxigênio disponível. Nem sempre os mostradores estão iguais, visto que realizar disparos consome tempo, tomar dano consome tempo… tudo consome tempo. Se o tempo de um jogador zera, os dois perdem.
Para ganhar mais tempo, o jogador convidado precisa coletar Debris do fundo do oceano, e sincronizar seu cronômetro com o do host. Porém, as pedras geralmente são guardadas por peixes agressivos, que devem ser eliminados pelo jogador 1 para abrir caminho para o outro fazer a coleta.
Limpa feita, se o jogador que comanda a sonda coletar 50 minutos, ao sincronizar com o outro, cada um ficará com 25 minutos. É uma mecânica de sobrevivência simples que torna o trabalho em equipe fundamental, praticamente obrigando os jogadores a permanecerem unidos e bolarem estratégias conjuntas para superarem os obstáculos.
Há diversos perigos no fundo do mar que demandam uma abordagem colaborativa. Os tubarões, por exemplo, têm medo da luz, então o jogador com a sonda deve mirar neles, afastando-os do jogador que controla o mergulhador. Por outro lado, há peixes que atacam a sonda, cabendo ao jogador armado a missão de eliminá-los. Os produtores criaram uma relação simbiótica muito interessante, e que fica ainda mais interessante por conta de um inesperado recurso narrativo.
Psicose submarina
Debris é sobre escuro, sobre solidão, e sobre como tudo isso pode mexer com a cabeça de uma pessoa — especialmente em um ambiente opressivo e cheio de radiação de meteoro. A história logo envereda para uma conspiração mirabolante, mas o legal é como isso afeta a psique de Ryan, o personagem humano controlado pelo host da partida.
Conforme a história se desenrola, Ryan vai ouvindo (com cada vez mais frequência) a voz de Chris, seu companheiro de expedição que está desaparecido. Essa voz começa a afetar a mente do personagem e, abalado, ele passa a ver, ouvir e sentir coisas que o segundo jogador (que controla um robô) sequer faz ideia que acontecem.
O traje de mergulho começa a travar, a arma muda de munição sozinha, vultos enormes surgem do nada e bizarras interferências limitam nossa visão. Nos papos imaginários de Ryan com o membro desaparecido da expedição, devemos até mesmo tomar decisões, que (suponho) alteram o final que vemos ao final da jornada.
Conectado ao meu amigo via chat, eu descrevia coisas que estavam acontecendo na minha tela e que simplesmente não estavam acontecendo na dele. Para mim, estávamos sendo perseguidos, ou cercados de criaturas sinistras, enquanto na tela dele tudo estava numa boa. Até compartilhamos screenshots para comparar as situações, e a verdade é que esse fator psicológico que consome o host torna sua experiência de jogo completamente diferente da de quem está controlando a sonda.
Como já dito, isso aumenta o fator replay, especialmente se você e seu amigo inverterem os papeis para que ambos tenham a chance de controlar o humano (host) e a sonda (convidado). Eu não lembro de ter visto algum game abordar a psique humana desta forma antes — ok, teve Hellblade, mas ele é 100% single player –, e o recurso por si só transforma Debris em algo realmente único, diferente e criativo.
Claro que nem sempre ele consegue ser tão criativo e intenso: na maior parte do tempo ele mantém um ritmo tranquilo, quase monótono, e não há muito o que fazer além de explorar. Porém, conforme a história avança e a insanidade toma conta de Ryan, as coisas vão ficando cada vez mais tensas.
Audiovisual
É difícil avaliar os gráficos de Debris devido à escuridão constante, mas ele faz um bom trabalho em deixar o jogar imerso naquele ambiente claustrofóbico e opressivo. O visual dele lembra jogos como Subnautica e Narcosis, embora a escuridão também deixe-o bem próximo de jogos como Outlast.
Como em toda boa obra que flerta com o terror, Debris traz no áudio sua maior força: os sons ambientes são muito competentes, e o game opta por inserir uma trilha sonora tensa nos momentos mais dramáticos para potencializar os “cagaços” do jogador. Não é lá muito realista, mas sem dúvida valoriza o potencial destes momentos.
Infelizmente Debris não recebeu nenhum tipo de localização para o nosso idioma, de modo que tudo está em inglês. Considerando que há diversos diálogos rolando durante situações tensas, é comum a gente acabar perdendo partes da conversa enquanto está concentrado em não morrer.
Esse é o tipo de jogo que merecia ser (bem) dublado em português, para que nenhum fiapo de informação nos escapasse. Patches e atualizações andam aumentando o suporte a outros idiomas, e torço para que o português brasileiro esteja na fila.
Conclusão
Ainda que o Debris seja meio arrastado em alguns momentos e confuso em outros, seu forte apelo psicológico é louvável, e o fato de termos profissionais da medicina envolvidos em sua concepção corrobora com a qualidade dele no que tange os sintomas e efeitos da psicopatia.
Debris pode não ser o melhor jogo de suspense/terror disponível na Steam, mas ganha pontos por ser um dos poucos que acrescenta gameplay cooperativo à receita. É possível jogá-lo sozinho, mas a melhor forma de curtir a jornada sem dúvida é online, conversando e trocando experiências com um amigo. e depois, se possível, invertendo os papéis para ver a história por outro ângulo.
Debris foi lançado (em formato Early Access) no Steam no final do ano passado, mas recebeu seu bem-vindo modo cooperativo chegou somente no último dia 26 de fevereiro. Confira a página da loja.