Análise Arkade – Desafio e diversão na lama e na neve de SnowRunner
Em 2017, a Saber Interactive e a Focus apresentaram um simulador bem interessante: MudRunner. No controle de possantes off-road, o desafio era a lama. Você deveria fazer várias tarefas no mundo do game, precisando lidar com terrenos acidentados, lama, e diversos outros “inimigos naturais”, prontos para atolar seu veículo.
Três anos se passaram, e um novo desafio chegou. Com um novo “inimigo”: a neve. SnowRunner busca evoluir o conceito original, trazer um gameplay desafiante, mas acessível. E, com seus novos cenários, levar mais desafio para quem quer ser o mestre dos off-roads. Me sujei de lama o suficiente para conferir o que o game da Saber tem para oferecer. Por isso, vem comigo conferir o que esperar desta sequência.
Temos que reconectar o mundo, Sam SnowRunner
Em SnowRunner temos que reconectar as pessoas. E sim, estou falando do game de simulação off-road, e não de Death Stranding. Embora seus conceitos básicos sejam compartilhados. Assim como na aventura de Kojima, lançada em 2019, suas missões envolvem andar pelo mundo do game, levando itens essenciais, fazendo entregas e construindo locais essenciais, como pontes, ou espaços para desmoronamentos. Não é um “modo história”, tanto que nem NPCs (tirando o motorista) o game tem. Mas o apelo de apoiar os locais foi um dos pilares da divulgação do game.
Assim, o game nos oferece, basicamente, tarefas neste sentido. Grandes empresas te contratam para efetuar trabalhos mais completos, funcionando como as missões principais. Você, levando equipamentos ou suprimentos, ajudará a construir petroleiras, a restaurar fábricas, entre outras situações. Mas, como missões secundárias, há os habitantes locais, que te pedem favores. É consertar um caminhão, resgatar um veículo ou carga atolada, conhecer lugares de difícil acesso, mas com belas vistas, ou fazer pequenas entregas.
Assim, o game oferece um número considerado de conteúdo. Os mapas em si são bem pequenos, e ainda são divididos em partes. Mesmo assim, o desafio de lidar com a lama, e suas muitas complicações, fazem com que trajetos curtos gastem um tempo considerável para serem atravessados. Ainda mais na sua primeira passagem pelo desconhecido. Além das missões, é possível também explorar os locais, até para conhecer melhor cada pedaço das regiões, e saber como lidar com as muitas situações.
O game oferece três regiões: Michigan, com seus pântanos, várias áreas off-road; Taymyr, na Rússia, com muita lama para lidar; e o “temível” Alasca, com a neve exigindo muito mais do que habilidade com lama e pântanos. Cada região oferece três ou quatro sub-regiões, cada uma com sua particularidade, e exigências diferenciadas de domínios.
Cada trajeto é um trajeto
O game, que busca trazer um gameplay realista, trouxe algumas novidades em relação a seu antecessor. Em SnowRunner, há uma tentativa de balancear o jogo. Oferecendo, assim, desafio para quem quer ação off-road, mas oferecendo algumas liberdades para que tudo não fique “real demais”. Por exemplo, as cargas levadas por engates não se soltam mais com tanta facilidade, e não é mais preciso fazer manobras “perfeitas” para fazer as entregas.
Os veículos contam com um balanceamento de dano esquisito. Uma “má passada” por uma superfície de pedras tira pontos da suspensão, enquanto uma pancada de frente tira pontos do motor. Entretanto, capotar com o veículo não significa nada. Apenas que precisará ser feito um resgate, caso seu guincho seja vinculado ao motor. Mas caso consiga virar o caminhão novamente, você retorna viagem sem nenhum dano ao veículo. É mais uma tentativa de balancear o realismo no game, sem ser um game muito cruel.
Aqui, por exemplo, veja um pouco da exploração do game:
Mas há muito desafio em cada uma das regiões do game. E cada uma exigirá uma estratégia própria para cumprir os objetivos. É preciso encontrar o veículo certo, o acompanhamento correto, e o melhor trajeto, para o veículo com o qual você estará guiando. Esta variedade de alternativas acaba, logo de cara, com o fator repetição do game. Afinal, embora seus objetivos sejam basicamente fazer entregas, ou fazer alguns favores, as várias exigências fazem com que uma viagem para o mesmo ponto sejam bem diferentes, de acordo com as circunstâncias.
Um pequeno grande mundo
Como dito, o mapa de SnowRunner não é muito grande. Mas não precisa. Pois o desafio no jogo, e caminhos aparentemente curtos, mas que te sugarão bons minutos apenas por estarem cobertos de água, serão suficientes para uma jogatina de horas e horas. E, além das missões do game, há muita coisa bacana para se fazer.
Primeiro de tudo: chegando em um novo local, procure a garagem. É lá que você terá acesso ao único fast-travel do jogo. Seja para resgatar seu veículo atolado, ou para mudar de região. Na garagem, também é possível guardar seus veículos, comprar novos equipamentos para seu veículo, além de comprar veículos novos. E também dá pra movê-los entre outras regiões, levando-os, por exemplo, de uma garagem de Michigan, para uma no Alasca.
Aliás, falando em Alasca, veja um “simples passeio” pelo local:
É possível também encontrar melhorias em locais específicos (e de difícil acesso) no mapa, além de encontrar também veículos novos, que podem ser utilizados, ou vendidos. Entre as melhorias, é possível obter motores mais potentes, câmbios mais adequados, pneus mais apropriados para cada terreno e apoios, como o AWD e o bloqueio de diferencial, usado para compensar a falta de aderência fora da estrada.
Tais elementos, além de melhorar os seus veículos, ainda incentivam uma melhor exploração, que é muito útil por aqui. Como exemplo da necessidade de exploração, deixo o Lago da Ilha. Lá não há garagem, exigindo que o jogador, para que fique sem combustível no meio do caminho, saiba onde estão cisternas perdidas, com combustível.
E as tarefas locais também são úteis, pois, além de ajudar a entender melhor as regiões do game, também oferecem dinheiro, e pontos de evolução. Tais pontos sobem seu nível, e desbloqueiam ainda mais melhorias para seus veículos, além de caminhões novos.
São elementos que ampliam bastante o gameplay, e que fazem com que o jogador passe horas em atividades diferentes. Hora ele poderá cumprir as missões do game, hora ele passará um bom tempo apenas explorando os locais, encontrando as torres de vigilância, que destacam tudo o que está ao redor dela.
Guiando na lama com estilo
O gameplay de SnowRunner segue a tendência de trazer desafio, realismo, mas sem ser “real demais”. Além da questão já mencionada de danos, a física do game varia entre o excelente e o insano. Se, por um lado, você precisará de muita habilidade para passar por locais cheios de lama, por outro, você achará até hilário ver seu caminhão “saltar” em determinados locais.
O game oferece ciclo de dia, com manhã, tarde e noite. Ocasionalmente há chuva, ou neblina. Mas é tudo bem básico. E ainda é possível, via menu, pular as horas do dia. Com exceção a desafios de tempo, que não são muitos, o recurso serve para quem quer escolher a hora do dia na qual quer dirigir. É mais uma das facilidades que o game oferece.
O resgate também ajuda muito. Caso não consiga levar seu caminhão adiante, é só acionar a opção e voltar para a garagem. Não é preciso ir acionar outro veículo para o resgate, a não ser que você queira. Apenas os menus que seguem, em alguns momentos, um tanto burocráticos. Algumas missões são encontradas, mas só são acionadas se chegar em um determinado ponto, enquanto muita gente vai jogar o game sem saber que é possível trocar de caminhão no mesmo mapa com uma simples opção. O tutorial, importante para um game desta natureza, é simplificado demais.
Mas no geral, o gameplay agrada, e muito. O importante, que é guiar o caminhão num mundo off-road, segue muito divertido. É possível passar horas e horas dirigindo, em um mundo que oferece tanto desafio. E o game oferece uma sensação gratificante, conforme você vai dominando os locais do mapa, além de evoluir seu veículo, atravessando facilmente locais os quais você já tinha sofrido muito, anteriormente. E o save game também ajuda, pois o game salva sozinho, e constantemente, o progresso. Servindo até para “voltar um minuto atrás” no game, e evitar um grande erro, pela segunda vez.
Mesmo nos consoles (o game de review foi testado em um Playstation 4), o game se mostra bem agradável. Mesmo com algumas burocracias nos menus, as muitas opções de um game como este, que tem maior apelo e opções nos PCs, é fácil dominar as opções do game, como engatar um tanque de combustível, ou operar um guindaste.
Menos segue sendo mais
SnowRunner oferece muito mais coisas do que em MudRunner, mas sem necessariamente encher o game de conteúdo. Sim, há mais caminhões, missões, mapas e tudo o mais. Mas o brilho do game está na sua variedade. Os mapas ainda seguem menores do que estamos acostumados com outros games hoje. Mas este não é um game “de pressa”. É preciso ter paciência, saber bem onde está pisando, e pouco a pouco, ir evoluindo no game.
O legal de SnowRunner é que ele é amigável para novatos. Que poderão sofrer bastante, no início, mas que conta com um gameplay fácil, e que exige apenas um pouco de técnica para dominar melhor o jogo. Para quem quer se aventurar na série pela primeira vez, sugiro iniciar o game explorando os mapas, e realizando as primeiras tarefas, ignorando temporariamente as missões principais. É o suficiente para ganhar “casca” no jogo, e entender melhor o seu funcionamento.
Para os veteranos, há locais que exigirão muito da sua habilidade, e que seguem oferecendo uma boa proposta de game off-road. É um game único, que oferece uma ótima alternativa para os amantes do 4×4. Se os veteranos ignorarem algumas questões toscas de física em alguns momentos, e se contentarem com a ótima jogabilidade do game, está tudo bem.
É notório o esforço da Saber Interactive em buscar este ponto de equilíbrio. Acredito que ainda há muito a ser feito neste sentido. Mas SnowRunner já consegue oferecer, mesmo com algumas possíveis reclamações de ambos os universo, um gameplay satisfatório e divertido para novatos e veteranos.
SnowRunner já está disponível, para Playstation 4, Xbox One, e PC.