Análise Arkade: Fade to Silence é um gélido (e chato) exercício de sobrevivência

4 de maio de 2019

Análise Arkade: Fade to Silence é um gélido (e chato) exercício de sobrevivência

Se você gosta de jogos de crafting e sobrevivência que até podem ser recompensadores, mas vão exigir muita persistência, Fade to Silence pode te interessar (ou não), confira nossa análise!

Sobrevivência Lovecraftiana

Fade to Silence é um jogo que esteve em early access nos últimos dois anos, e agora teve sua versão final lançada para PCs e consoles. O game se passa em um ambiente extremamente inóspito e gelado, que para piorar está sendo invadido por um bando de seres com uma vibe de H. P. Lovecraft.

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Este Dementador Lovecraftiano é o que te mantém vivo

Neste cenário desolado e sombrio, assumimos o controle de um homem que teve seu corpo reanimado por uma dessas criaturas Lovecraftianas. O vilarejo do protagonista está sendo destruído, sua filha está sozinha no frio, e a busca por recursos que mantenham seus corpos aquecidos e suas barrigas cheias é uma prioridade.

Claro que a coisa não é assim tão simples: estamos falando de um mundo aberto implacável, onde o frio, a fome e criaturas sinistras poderão te matar a todo instante. A morte é inevitável aqui, mas ela faz parte da experiência: ao morrer, seu personagem ressuscita no início da jornada, mas conforme evolui, você pode destravar habilidades e perks permanentes, que deixarão suas próximas tentativas mais amigáveis. Ou seja, estamos diante de um jogo de crafting e sobrevivência com elementos de rogue-lite.

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Jogando no modo Normal, você tem um número limitado de vidas para gastar antes que o Game Over seja definitivo e tudo seja reiniciado. Já no modo Easy você pode morrer quantas vezes quiser — mas o jogo desencoraja este nível de dificuldade, bloqueando Troféus e outros recursos. Ou seja, ou você joga com permadeath, ou melhor nem jogar.

Crafting e Sobrevivência

Confesso que Fade to Silence reúne alguns elementos que eu particularmente não gosto, mas né, trabalho é trabalho, e eu me esforcei para gostar dele. No que tange o crafting por si só, o jogo é até competente. Ok, seu mundo é meio feio e nem um pouco aprazível de ser explorado, mas ele entrega o mínimo que se espera do gênero.

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O barril que vai manter seu acampamento quentinho – desde que você tenha lenha

Por “mínimo”, eu quero dizer que você vai chafurdar por locais frios coletando materiais que podem ser utilizados para criar coisas mais úteis. Tipo madeira para aquecer seu abrigo, comida e recursos que possam ser transformados em ferramentas, armas e equipamentos. Há até recursos que podem ser “quebrados” para se tornarem outras coisas, como flechas que podem virar tochas e lenha.

Conforme explora as áridas terras congeladas do game, você pode encontrar outros sobreviventes e arrebanhá-los para o seu acampamento. Se por um lado isso é positivo — cada pessoa tem uma função, podendo caçar ou criar equipamentos — por outro é mais uma boca para ser alimentada e mais um corpo para ser mantido aquecido.

Seu acampamento pode ser ampliado, com novas estruturas que (supostamente) otimizam o ganho de recursos. Porém, quase tudo demanda esforço do jogador, que deve estar sempre levando recursos para que tudo funcione como deveria. Melhorar sua base não a torna sustentável, apenas aumenta a carga de trabalho do jogador para repor seus recursos.

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Quando sua tocha apaga, seu medidor de frio começa a subir

A exploração nunca empolga realmente, mas há algo de instigante naquele mundo que compele o jogador a seguir adiante. A criatura que possuiu o corpo do personagem é tão enigmática quanto interessante, e as figuras estranhas que aparecem no horizonte quando usamos a “visão de sobrevivência” aguçam nossa curiosidade.

Combate e Stamina

O problema é que o jogo não se limita a isso. Se fosse uma espécie de walking simulator de sobrevivência, Fade to Silence até teria seu valor. O problema é que ele também quer ser um Souls-like, mas não faz isso muito bem: seu sistema de combate é péssimo, lento e desajeitado, e administrar a barra de stamina não é tarefa fácil.

A impressão que fica é que o combate não recebeu o polimento que deveria. Na verdade o jogo todo tem um ar meio “tosco”, mas quando isso se manifesta como uma mecânica de jogo essencial para o progresso, o problema sem dúvida fica mais grave. Ao tentar emular o sistema da série Souls, ele entrega algo repetitivo e sem graça, onde a gente bate-bate-bate, rola para longe, bate-bate-bate, se afasta novamente, e assim vai.

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O gameplay dos combates é péssimo e repetitivo

Ou seja, em um jogo onde o frio e a fome deveriam ser nossos maiores inimigos, o que acaba dando trabalho são os inimigos — não por serem difíceis demais, mas porque o sistema de combate é capenga, mesmo. Sua interface extremamente poluída — e a falta de suporte ao nosso idioma — complicam ainda mais as coisas.

Audiovisual

Fade to Silence é mais um daqueles jogos que se encaixa na área obscura entre um Triple A e um jogo indie: um jogo de orçamento médio, feito por uma equipe que não deve ser lá muito grande, e que sem dúvida se esforçou para fazer o melhor, mas não tinha recursos para tal.

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Mesmo agora, dois anos após seu “early access”, Fade to Silence parece um jogo inacabado. Seus modelos de personagens humanos são feios e desajeitados, e há muitos glitches em animações e detalhes, quedas de framerate e até mesmo de resolução. O que é uma pena visto que a atmosfera daquele mundo é muito interessante — o design Lovecraftiano das criaturas que enfrentamos é particularmente inspirado — e merecia ter sido melhor transposto do papel para o jogo.

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Detalhes como o sol congelado e coberto de escombros atiçam a curiosidade

Considerando que o jogo foi produzido em cima da sempre versátil Unreal Engine 4 — que vem entregando dezenas de bons jogos ao longo dos anos –, fica claro que o problema aqui é do estúdio. Se foi falta de tempo, de dinheiro ou mesmo de habilidade, jamais saberemos, mas é fato que falta muito aqui para o jogo ser tecnicamente decente.

Conclusão

Fade to Silence parece um caso de jogo que foi traído por sua própria ambição: ele tenta fazer muitas coisas — misturar sobrevivência e crafting com combate Souls-like, por exemplo — mas não faz quase nenhuma delas direito, resultando em uma experiência pobre, repetitiva e que não empolga o jogador.

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Seu ciclo de repetição só evidencia seus problemas: se não jogar no Easy, a morte se torna permanente após algumas tentativas, e ter de recomeçar tudo de novo — explorando os mesmos lugares, coletando os mesmos recursos, enfrentando os mesmos inimigos — é chato demais, e depois do 5º ou 6º restart eu simplesmente já estava de saco cheio.

Assim, largo Fade to Silence sem ter visto seu final, e sem vontade nenhuma de fazê-lo. Há jogos que nos cativam por sua história, outros por suas mecânicas e alguns até por seu visual — e os títulos que acertam em tudo isso são realmente especiais — mas aqui quase nada se salva, nem me motiva a continuar. Que todos congelem até a morte.

Fade to Silence foi lançado em 30 de abril, e está disponível para PC, Playstation 4 e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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