Análise Arkade – Fantasian respira FF VII, e apresenta um grande RPG como nos velhos tempos
Nos anos 90, o mundo dos videogames receberam RPGs únicos e inesquecíveis. No Super Nintendo, Final Fantasy, Breath of Fire, Chrono Trigger e tantos outros levantaram um gênero, que teria sua consagração no Playstation, com Final Fantasy VII iniciando uma nova geração com diversos outros games. Xenogears, Phantasy Star, Grandia e outros nomes seguem até hoje na memória de quem jogou.
Mega Drive, Saturn, Dreamcast e outros sistemas também tiveram games memoráveis, o que mostra como o gênero estava em alta naqueles dias. Hoje em dia, a dinâmica dos jogos aparentemente não dá mais lugar para games assim, mas abençoados sejam as iniciativas independentes e sistemas alternativos, que permitem que boas ideias sigam surgindo.
Assim, foi com o Apple Arcade, a plataforma de games da Apple, que teve a missão de receber um RPG novo, mas com alma de todos estes games clássicos, especialmente os games Final Fantasy. Fantasian, a mais recente obra de Hironobu Sakaguchi, traz a todos que decidem encarar seu novo game, uma grande aventura, que consegue mesclar o gameplay clássico, com novos e importantes recursos, que o modernizam e o adaptam para os dias atuais.
Em Fantasian você é Leo, personagem misterioso que inicia sua jornada precisando fugir, sem memória, de um local em caos, com inimigos em sua perseguição. Assim como em Final Fantasy VII, o clima dramático nos apresenta um mundo no qual recursos naturais e liberdade são elementos sufocados por poderosos.
Assim, resta ao protagonista, e a você, procurar uma misteriosa garota, chave das memórias perdidas, tentar descobrir o que está acontecendo no mundo do jogo e, enfim, buscar meios de salvar a todos. A história e o game tem muita influência de Final Fantasy VII, com o design de personagens, vilas, indústrias e ambientação se misturando com uma história mais profunda, com inimigos impiedosos e uma luta por liberdade que se une à “salvação do mundo”.
Já seu conceito de game é bem tradicional, e não assustará os veteranos. É tudo muito parecido com os games de 1997. O mapa oferece vilarejos nos quais o progresso é salvo, e conversas, com balões que lembram muito Vagrant Story, fazendo papel de conversas. O controle que muda, se adaptando a celulares e notebooks. Basta, como um point and click, clicar ou tocar no local desejado e o personagem vai até lá.
Tudo isso em um ritmo curioso. Se por um lado, games para smartphones exigem gameplay ágil, tanto pela bateria, passando pela mobilidade do jogo, chegando até à impaciência de muitos de seus jogadores, por outro, este game, embora seja repleto de espaços de saves, tem um ritmo muito lento, digno dos RPGs clássicos, apresentando, pouco a pouco, seu mundo, personagens e enredo.
Joguei em um iPhone e em um MacBook, via trackpad, e em ambos os casos, o controle funciona muito bem. Os combates, em turnos, também são simplificados em controle, mas completos em funcionamento. É possível selecionar de maneira ágil sua ação, ou escolher um item, para atacar, curar ou se defender.
Você pode escolher, em poucas ações com toques ou cliques, a sua próxima ação, com um funcionamento até mais simples do que os clássicos menus do gênero. Isso mostra o capricho da produção de Fantasian nos detalhes de gameplay em um gênero que conta com um público exigente.
E, falando em exigência, é preciso também destacar o estilo visual do game. Mesmo sendo um game moderno, a intenção clara aqui é retratar o ar retrô e trazer alguma lembrança de Final Fantasy VII, com um game construído a partir de 150 dioramas feitos à mão, por uma equipe que trabalhou também em Attack on Titan. A ambientação é excelente, com a população local das cidades e vilas trazendo vida aos locais. O trabalho feito à mão, mais uma vez, denuncia capricho e respeito a quem busca jogar o game.
E, como não poderia faltar, a trilha sonora, que exige que se jogue Fantasian acompanhado de fones de ouvido, é obra de Nobuo Uematsu, veterano de Final Fantasy. A trilha sonora, que também respira FF VII, tem tudo o que um fã do gênero, e do game, podem querer: piano, orquestra, músicas calmas, mas envolventes, e trilhas épicas e poderosas.
No fim, o conjunto de Fantasian chama atenção de formas bem peculiares. Sim, muito do game respira Final Fantasy VII, mas em nenhum momento percebemos a simples “cópia” de seus elementos. Fantasian é original, e suas novidades conseguem, de fato, modernizar o gênero. Suas referências são todas bem planejadas, e garantem ao jogador mais nostalgia, do que a sensação de que “tentaram fazer FF VII de novo”.
É, também, uma das melhores obras de Hironobu Sakaguchi. Talvez, a liberdade deste projeto permitiu ao lendário desenvolvedor pensar mais fora da caixa, buscando fazer o “seu” Final Fantasy, sem chefões e acionistas palpitando em elementos aqui ou ali. Nota-se um certo ar artístico e cuidados de quem queria apresentar algo de fácil assimilação, mas com identidade própria.
O game conta com um visual muito bonito, gameplay simples, porém completo, e ambientação rara de se encontrar em games para smartphones. E, como o Apple Arcade permite o gameplay em dispositivos iOS, Macs e Apple TV, ainda dá pra apreciar o game de várias formas, de acordo com os dispositivos que você possuir.
Fantasian marca, para a Apple Arcade, uma nova era da plataforma, com games mais completos, em um plano de assinatura que tem muito a colaborar, especialmente para projetos independentes. Mas, não duvide se, em breve, o game aparecer nos consoles. Pois, a exclusividade da plataforma de games da Apple se dá apenas no universo de smartphones.
Oceanhorn 2, por exemplo, foi lançado junto com o Apple Arcade, e tempos depois, também desembarcou no Switch. Caminho que Fantasian também pode percorrer no futuro. Mas, por enquanto, Fantasian vale sim a assinatura da Apple Arcade, de R$ 9,90 por mês (e um mês grátis para quem for testar o serviço) por apresentar um game de qualidade ímpar, e que ainda consegue rodar muito bem em diversos dispositivos Apple.