Análise Arkade – GRID diverte com a sua mistura entre arcade e simulação
Em 2008, a Codemasters cravou de vez o seu nome no universo dos games de corrida. Já bastante conhecida pelos competentes games da série Colin McRae Rally (que se tornaria depois a série Dirt), a empresa pegou sua ótima série de corridas, a TOCA Racer Driver, e, com uma nova engine, a EGO, lançou naquele ano GRID.
O game foi, praticamente, o pontapé inicial para que a Codemasters se tornasse o estúdio que conhecemos hoje. Desenvolvendo games de qualidade, como a série oficial da Fórmula 1, e a Dirt, que vai muito bem, obrigado. Mas, onze anos depois, com bons games lançados até para smartphones, era a hora de voltar para as suas raízes.
Assim, sem muito barulho, o game, chamado apenas de GRID, chegou com versões para Playstation 4, Xbox One e Google Stadia (será lançado junto com a plataforma), buscando o seu espaço em um mundo bem diferente. Pois agora, são muitos os games de corrida disponíveis, cada um com suas características próprias e comunidades fortes.
Voltando para as raízes: dos games arcade, e da série GRID
GRID é um game de corrida que, sabiamente, tomou uma decisão um tanto diferente. Ao invés de apostar em realismo e físicas perfeitas, o game volta, literalmente, às raízes. O gameplay vai caminhar mais para um game do tipo Need for Speed, nos tempos de Underground e Carbon, do que os atuais Project Cars e Gran Turismo Sport.
Ao invés de tentar puxar concorrência com estes games, GRID busca trazer corridas mais simples, e divertidas. Apesar de ter cara de simulador, usar a mesma engine de seus games atuais, e oferecer elementos que dão a impressão de simulação, incluindo a visão de dentro do carro, a alma do game é arcade. Até aqueles lances de deterioração do carro, presentes no game original, aqui não se fazem presentes.
Tanto que você pode esquecer os diversos modos de gameplay. É carreira, com suas muitas corridas, que exigirão condições e carros diferentes para cada ocasião, multiplayer e corridas configuradas pelo usuário. E só. É “ligar o jogo e jogar”, tal como era antigamente. Tal iniciativa pode parecer pouco para os dias de hoje, mas são vários os eventos, e as corridas. E, para quem gosta de jogar corridas casualmente, é o suficiente.
Você corre, ganha pontos, compra carros melhores, e segue a jogatina. Nem aquele monte de ajuste de carro se faz presente, dando lugar a um simples sistema “resumido”, que é só uma visão rasa, para mexer aqui e ali no seu carro. Mas, não pense que por ser “arcade”, o game vai te deixar passar por cima de tudo e de todos. Há punições em GRID, e cortar caminho, por exemplo, pode te tirar segundos do tempo final. Além da possibilidade de exclusão da corrida, caso as “cortadas” sejam constantes.
O ontem se mistura com o hoje
Há a destruição completa dos carros em porradas fortes? Sim. Assim como eram em 2008. Mas há um outro elemento bem interessante no game: a IA dos carros. Mesmo nos moldes normais do game, sem mexer em configuração nenhuma, não é lá uma tarefa fácil sair ultrapassando. Você vai passar “todo mundo” quando dominar o jogo? Sim, mas não sempre.
Você tem a boa impressão de estar em um ótimo pega. Os carros controlados pela IA jogam você pra fora, se precisar, defendem a posição a todo custo e, você pode tanto ganhar a corrida, quando chegar em décimo, por causa de um incidente, ou mesmo por chegar nos carros da frente, e não conseguir passar. Esse dinamismo é ótimo, para evitar aquela coisa de “ganhar todas as corridas”.
É um meio termo entre arcade e simulação, que é bem estranho, em um primeiro momento, mas quando você se acostuma, fica bem legal. É aquela direção que não precisa, necessariamente, frear de maneira correta, mas os carros contam com direção específica, respeitando seus pesos, medidas, e potência. É até, mesmo sem ser a intenção, uma ótima porta de entrada para quem quer viver no mundo dos simuladores, mas não tem um game para começar.
Dá pra mexer em alguma coisa, para dar um ar mais de simulação. Mexer em algumas configurações do carro, desligar ajudas de direção e desativar as linhas da pista, já é alguma coisa. Além, claro, do famoso botão de voltar no tempo, para corrigir um acidente.
Um jogo de ontem, com cara de jogo de hoje
Um sentimento estranho presente em GRID, é que você vê um jogo atual, bonito, e cheio de recursos. Mas também tem a impressão de que está jogando Playstation 2, devido aos recursos mais limitados. Os carros são poucos, não chegando a 70. Mas há muitas possibilidades de customização, em uma variedade que faria um fã de NFS Underground pular de alegria.
O modo campanha também é bem simples. São eventos que podem ser conquistados em “missões” que vão dando mais pontos, quanto mais longe você for. São corridas simples, em locais pelo mundo, em climas variados, com Fernando Alonso convidando os melhores para o evento final. Tal como eram os games de corrida em 2004. Pode ser ruim para alguns, mas para quem quer apenas algo mais casual, é algo muito interessante.
O multiplayer só está ali para falar que está, pois está bem longe de trazer uma proposta mais robusta, como os games atuais da Fórmula 1. Mas o que chama atenção, assim como chamava em 2008, é a competência gráfica. GRID é bonito demais! São detalhes, iluminação, sombreamento, e até as marcas nos carros após as batidas, que fazem a diferença, e deixam o jogo muito legal de se ver. Tudo o que o game de onze anos atrás oferecia, mas melhor.
Vamos voltar aos bons tempos?
Este GRID não é remake, mas sim um reboot. Entretanto, engana-se quem achava que a Codemasters inventaria alguma coisa nova para sua série. Eles simplesmente deixaram o título mais arcade, deixando-o como um meio termo, entre os simuladores atuais, e os games Need for Speed. E, entendendo que atualmente, só The Crew 2 consegue entregar uma boa experiência neste sentido, nada mal a ideia de arriscar neste terreno, ao invés de brigar com os “cachorros grandes” atuais.
É um game que tem tudo para agradar o fã dos games de corrida, com corridas mais despretensiosas, e divertidas. Além da pessoa que gosta de corrida, mas não tem interesse de lidar com os cada vez mais complexos simuladores. Tem visual bonito, um gameplay bem divertido, e, mesmo com sua limitação em carros ou pistas, tem tudo para agradar quem gosta de um divertido jogo de corrida, mesmo que só às vezes.