Análise Arkade: Gunbrella traz pixels “crocantes”, violência e uma história instigante
Esta semana, a Devolver Digital lançou um novo jogo que carrega alguns dos atributos que a consagraram: visual cheio de personalidade, violência pixelada “crocante” e uma esquisitice mórbida. Com vocês, nossa análise do surpreendente Gunbrella!
Investigação, vingança e Gunbrella
Sabe aquele filme Busca Implacável, em que sequestram a filha do Liam Neeson, e ele vai até as últimas consequências para encontrar e punir os bandidos? Gunbrella tem um pouco dessa vibe. O protagonista é um sujeito mais velho, cansado,maltratado pela vida, que se vê obrigado a partir em uma missão de vingança.
O game conta a história de um lenhador que teve sua esposa assassinada sob circunstâncias misteriosas. A única pista que ele tem é a arma utilizada, que foi deixada no local do crime.
A arma é a tal Gunbrella que dá nome ao jogo. Parte escopeta, parte guarda-chuva, esta arma exótica é útil tanto na exploração quanto no combate. Ela atira, claro (e pode usar diferentes munições), mas também serve como escudo, e ainda é útil para pular mais alto, planar e deslizar por tirolesas.
Munido da Gunbrella, nosso protagonista vai viajar por um mundo lúgubre e decadente, passando por cidades sujas e conversando com pessoas estranhas. Cada diálogo pode trazer alguma pista, cada sidemission pode lhe render um pedacinho novo de informação. O mistério do assassinato é quase como um quebra-cabeça, que vai sendo montado peça por peça.
Embora não pareça quando a gente só bate o olho nas imagens, Gunbrella tem uma história muito interessante. O clima de mistério é realmente instigante, e o excelente trabalho de localização torna a investigação muito mais vívida e acessível.
Eu sei que a descrição que dei até agora parece bastante “séria”, mas Gunbrella também é esquisito (de um jeito bom). Sua trama envolve cultistas malucos, sacrifícios de sangue, criaturas mutantes e conspirações mirabolantes. Mas, por incrível que pareça, tudo isso misturado cria um mundo muito coeso, rico e imersivo.
Atirando e pulando
Gunbrella é um jogo de ação e plataforma 2D com ênfase em mobilidade e combate. E, como já dito, a Gunbrella se faz presente em ambos os momentos de gameplay.
E a jogabilidade é deliciosa. Os controles são ágeis e responsivos, e a física do mundo deixa tudo ainda mais legal. É muito gostoso pular, planar e explodir inimigos variados com cartuchos de grosso calibre — como no vídeo acima.
O mundo de Gunbrella é dividido em áreas que são interligadas por linhas férreas. E, embora seja possível voltar e revisitar outras áreas, isso quase nunca se faz necessário. Simplesmente não há muito a se fazer para justificar um retorno, depois que já fizemos tudo o que havia em uma área.
Gunbrella é um jogo de exploração linear que tem uma boa história para contar e funciona muito bem assim. Seguir em frente, matar monstros, interagir com personagens esquisitos e explorar este mundo distorcido e melancólico é o que realmente faz a experiência valer a pena.
Entre um cenário decrépito e outro, vamos encarar chefes bastante desafiadores. Em geral, os chefes são grotescos, indo desde bolas de carne mutantes com tentáculos que lembram a criatura assassina de Carrion, até ratos gigantes que vomitam gosma corrosiva.
Há um bom nível de desafio aqui, e até a forma como itens de cura são utilizados agrega alguma dificuldade: há comidas que não curam sua saúde, mas lhe concedem corações extras de vida, bem como pílulas que curam gradativamente. O inventário de consumíveis é variado, e é possível até coletar pequenos roedores e peixes para servirem de alimento.
A “crocância” audiovisual de Gunbrella
Você já deve ter visto por aí o termo “crocante” para se referir a jogos em pixel art feitos com máximo esmero, não é mesmo? Pois bem, partindo desta premissa, Gunbrella é um jogo com um nível de “crocância” absurdo.
O visual pode ser um tanto escuro e a paleta de cores puxa forte para tons de marrom, mas há um nível de detalhes impressionante. Apesar de pequeninos, os personagens são detalhados e expressivos. O mesmo vale para os cenários — com destaque para a região do ferro-velho, com seu visual abarrotado de sucata.
Essa “crocância” também se faz presente na jogabilidade. Sabe aquele impacto que a violência pixelada que jogos como Hotline Miami e Carrion (não por acaso, todos da Devolver Digital) tem? Gunbrella segue a mesma linha. Os inimigos explodem em dezenas de pedaços sangrentos com o tiro da escopeta. O combate, por mais simples que seja, tem peso, tem impacto, tem “crocância”.
Coroa este primor técnico um departamento sonoro igualmente caprichado. O efeito sonoro da escopeta — arma básica do jogo — é claro, cristalino e “crocante”, o que acrescenta mais impacto a cada tiro. As falas são só barulhinhos, mas como cada personagem tem sua própria voz e faz seus próprios barulhinhos, mesmo o mais aleatório NPC tem alguma personalidade.
A trilha sonora é igualmente boa, e combina perfeitamente com o clima do jogo. Tudo se soma para criar uma atmosfera muito única. O mundo de Gunbrella é rico, misterioso e até um pouco deformado… mas é também muito interessante.
Conclusão
Gunbrella é mais um grande acerto no catálogo estranho, sangrento e crocante da Devolver Digital. Porém, aqui tudo isso chega acompanhado de uma trama envolvente, que instiga o jogador. Algo que, convenhamos, não costuma se destacar em outros jogos com foco em violência e crocância.
Felizmente, todas as partes de Gunbrella são boas. A jogabilidade, a narrativa, o visual, a “crocância” que eu tanto enalteci ao longo do texto. Cada elemento foi criado e polido com esmero para construir uma experiência satisfatória.
Uma verdadeira pérola em pixel art banhada em sangue, Gunbrella é mais um daqueles indies que surgem “do nada” e de repente figuram em listas de Melhores do Ano. Te garanto que ele vai estar na minha lista. 😉
Gunbrella foi lançado em 13 de setembro, com versões para PC e Nintendo Switch.
