Análise Arkade: Indiana Jones e o Grande Círculo, uma excelente aventura que honra o legado do Indy

24 de dezembro de 2024
Análise Arkade: Indiana Jones e o Grande Círculo, uma excelente aventura que honra o legado do Indy

Como milhões de outros “millenials” nascidos na década de 1980, eu cresci vibrando com as aventuras de Indiana Jones. E, ainda que eu já tenha jogado um punhado de jogos protagonizados pelo arqueólogo, sentia que faltava um legítimo Triple A do personagem. Um game que realmente fizesse eu me sentir na pele do herói, com chapéu, chicote e tudo mais.

É com alegria que eu lhes digo: a espera valeu a pena. Indiana Jones e o Grande Círculo é uma excelente surpresa, que chega para abrilhantar esta reta final do ano com ação e aventura na medida certa, viagens para lugares exóticos e aquele clima de “Tela Quente” que uma boa aventura do Indy deve ter!

Em busca do Grande Círculo

A história do game — original e canônica — se passa em 1937, entre Os Caçadores da Arca Perdida e O Templo da Perdição. Depois que o roubo de uma múmia de gato (?!) de um museu leva Dr. Jones até os cantos mais secretos do Vaticano, fica claro que a tal múmia é apenas uma peça de algo muito maior.

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Esta busca inicial logo coloca Indy na pista de uma suposta fonte de poder ancestral — o Grande Círculo do título — que está na mira dos nazistas (sempre eles) liderados pelo vilanesco Emmerich Voss. O Grande Círculo faz sentido, em termos científicos ou arqueológicos? Claro que não. Mas, sinceramente: quem se importa?

Para chegar ao Grande Círculo antes dos caras maus, Indy terá de unir forças com a jornalista Gina Lombardi (que tem seus próprios motivos para embarcar nesta aventura) e viajar pelo mundo fazendo o que faz de melhor: descobrir templos secretos, desbravar tumbas, resolver mistérios ancestraise, claro, socar nazistas!

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Indiana Jones e o Grande Círculo merece se encaixar no cânone do personagem por um motivo muito simples: ele é uma legítima experiência Indiana Jones, e entrega tudo o que os fãs esperam de uma obra protagonizada pelo lendário arqueólogo.

Exploração e mundo(s) aberto(s)

A intensa campanha principal do game vai nos levar a três locações principais (com umas paradinhas estratégicas aqui e ali): o já mencionado Vaticano, os arredores das Pirâmides de Giza no Egito e a uma cidadezinha tailandesa chamada Sucotai. Há muita verticalidade em todos eles, o que faz do nosso emblemático chicote uma ferramenta bastante útil na exploração, permitindo que Indy se pendure, se balance, escale e ative certos mecanismos à distância.

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Cada uma destas regiões se apresenta como um (nem tão) pequeno mundo aberto, onde há uma sequência de quests principais (que desenvolvem a narrativa), e um punhado de missões secundárias que podem tanto ser atividades prosaicas quanto divertidas aventuras arqueológicas que tiram proveito dos talentos de Indy e aprofundam relações entre ele e seu elenco de apoio.

A liberdade concedida ao jogador na exploração dá ao jogo um gostinho de immersive simulator. Sabe, daqueles jogos tipo System Shock, Deus Ex e Deathloop, onde podemos abrir gavetas, ler bilhetes e encontrar formas inovadoras (e pouco convencionais) de acessar novas áreas e superar obstáculos.

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O Vaticano talvez seja o mapa que faz isso do jeito mais legal: assim que chegamos lá, ganhamos uma batina, que nos permitirá transitar em meio aos fascistas de maneira (quase) incólume. Porém, existem áreas restritas fortemente guardadas, e os altos oficiais inimigos podem perceber nosso disfarce. Ficar “na maciota” e abusar da furtividade é sempre uma boa ideia para manter as aparências e não perder o disfarce.

As sidequests mais comuns envolvem a coleta de artefatos históricos, e há uma atenção quase documental em fotografar locais e monumentos emblemáticos. Cumprir estas missões também nos ajuda a evoluir: ao levar remédios para os necessitados, por exemplo, Indy ganha acesso a livros que potencializam suas habilidades de luta e seu condicionamento físico.

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Um detalhe charmoso é que o mapa é um item físico, que deve ser segurado

Além deste conteúdo tipicamente “sandbox”, Indiana Jones e o Grande Círculo também traz excelentes missões principais, todas altamente roteirizadas e empolgantes, com set pieces cinematográficas, templos repletos de armadilhas e coisas do tipo.

Aí entram em cena as capacidades de dedução de Indy (e do jogador), uma vez que estes momentos geralmente envolvem quebra-cabeças mirabolantes que revelam passagens ocultas e outros segredos. Vamos fazer coisas que já fizemos centenas de vezes nos videogames — tipo alinhar espelhos para um facho de luz chegar ao ponto certo, sabe? –, mas, em se tratando de Indiana Jones, estes clichês não só são perdoáveis, como parecem apropriados.

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Alinhar espelhos nunca perde a graça

Pancadaria e improviso

Ser bom na arte do improviso é uma característica marcante do Indiana Jones nos filmes, e o pessoal da Machine Games fez um ótimo trabalho em adaptar isso aos takedowns e ao combate em si.

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Paz nem sempre é uma opção

Ainda que seja possível utilizar armas de fogo, Indy se sai muito melhor “na mão”. Porém, como já falei, o jogo flerta com o immersive sim, de modo que praticamente qualquer objeto do cenário pode se tornar uma arma em potencial — incluindo vassouras, castiçais, canos, martelos, panelas e objetos ainda mais peculiares.

Aí entram generosas pitadas de humor incidental que rendem divertidas conquistas ao jogador. Que tal eliminar um nazista com um mata-moscas? Ou apagar um inimigo quebrando um violão na cabeça dele? Há muito espaço para experimentação, e a abordagem sorrateira sempre tem um bem-vindo toque de galhofa.

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Verdade seja dita, a inteligência artificial dos inimigos é bem limitada — um soldado simplesmente não percebe que você nocauteou (de forma nada discreta) um capanga que está há 3 metros dele –, mas acredito que isso seja proposital. Estamos lidando com fascistas e nazistas, afinal, e quanto mais burros eles forem, mais satisfatório é lhes quebrar a cara!

Se a furtividade falhar, você sempre pode sair no soco com os nazistas. O sistema de combate é simples, mas efetivo, com cada gatilho controlando um punho do herói e opções de defesa, parry e uso do chicote.

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Não há combos, nem nada muito elaborado, mas os golpes têm muito impacto e tornam o ato de esmurrar nazistas ainda mais satisfatório.

Audiovisual

Como sou proprietário de um modesto Xbox Series S, estava com receio de que Indiana Jones e o Grande Círculo ficasse horroroso na minha TV. Felizmente, não é o que acontece: o jogo roda surpreendentemente bem no S, com direito a ray tracing e taxa de quadros cravada em 60 fps.

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É óbvio que a jornada vai ficar muito mais bonita rodando em um Xbox Series X ou em um PC parrudo, mas o “console de entrada” da Microsoft aguenta o tranco, e entrega uma performance pra lá de satisfatória que realmente me impressionou.

No Series S, temos sombras mais serrilhadas e tudo tende a ser um pouco mais “borrado”, por conta da menor resolução. Mas estas limitações só ficam realmente evidentes se você colocar uma versão ao lado da outra para comparar (como o Digital Foundry costuma fazer). Com o controle na mão, sentado no sofá, ouso dizer que o jogo ficou lindo na minha TV.

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Indiana Jones e o Grande Círculo é um jogo que merece ser apreciado, uma vez que é, claramente, um produto feito com muito carinho e atenção aos detalhes. Os cenários são incríveis, e a grande variedade de locais pelos quais vamos passar ao longo da campanha é algo que só um legítimo jogo de alto orçamento é capaz de oferecer.

É uma experiência extremamente cinematográfica, que faz um ótimo uso da estética, da trilha sonora e da vibe dos filmes. Inicialmente o fato de ser em primeira pessoa tinha me feito torcer o nariz para o game, mas é fato que isso não é um problema — na verdade, potencializa a imersão.

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No departamento sonoro, é uma satisfação ver um jogo deste calibre chegar 100% localizado ao nosso país — com direito a dublagens, menus e legendas em português brasileiro. O trabalho de localização é de extrema qualidade, assim como o trabalho dos dubladores.

Minha única picuinha é essa mania que os exclusivos do Xbox têm de puxar o idioma do sistema. Custa me permitir jogar com áudio em inglês e legendas em português? Do jeito que está, ou é tudo em português, ou tudo em inglês. Uma limitação estúpida, que já devia ter sido abandonada pela Microsoft.

Interlúdio: o legado de Indiana Jones

Antes de encerrarmos esta análise, gostaria de abrir um parêntese para falar sobre algo que me fez refletir enquanto eu jogava: desde 1989 que não temos um bom filme do Dr. Jones. Tentaram em 2008 com o Reino da Caveira de Cristal, tentaram novamente em 2023 com o Chamado do Destino, mas ambos não agradaram.

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Há muito espaço para discussão sobre a qualidade dos filmes, mas uma coisa é fato: Harrison Ford já está com mais de 80 anos. Se “passar o chapéu” para uma nova geração claramente não foi uma boa ideia, também não podemos negar que o ator não tem mais idade para sair por aí virando cambalhotas em catacumbas e esmurrando nazistas.

O que me leva ao seguinte ponto: o videogame pode ser a mídia perfeita para manter vivo o legado de Indiana Jones. Para começar, porque é uma mídia em que o famigerado uncanny valley incomoda bem menos — e a tecnologia não para de evoluir para mitigar isso –, mas também porque, nos videogames, Indy pode ser jovem para sempre. O avatar digital do herói pode estar sempre na idade certa para viver novas aventuras.

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O Indiana Jones digital não precisa envelhecer

Não quero com isso desmerecer os feitos de Harrison Ford e de todos os envolvidos na produção dos últimos filmes. Mas é fato que, se renovar o elenco não é uma opção (e ninguém quer que seja!), não há mais espaço para Indiana Jones no cinema. Nos videogames, por outro lado, este pode ser o pontapé inicial de uma célebre nova trilogia!

Há muito potencial a ser explorado, desde que sempre haja uma boa história para ser contada. Nós, millenials que já passamos dos 30 e tantos, adoramos uma nostalgia, mas não gostamos quando a nostalgia é apenas uma muleta para obras capengas e narrativas medíocres.

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O jogo começa com uma dose cavalar de nostalgia

Queremos nostalgia, mas também queremos boas histórias, bons personagens e esse gostinho especial de filme da Tela Quente que um legítimo Indiana Jones carrega. O Grande Círculo tem tudo isso, e torço para vermos mais deste “novo” Dr. Jones no futuro. Parabéns, Machine Games!

Conclusão

Indiana Jones e o Grande Círculo é uma grande surpresa neste fim de ano, que acabou chegando meio tarde para engrossar a lista do GOTY, mas seria um concorrente de peso. É um jogo muito divertido, que carrega a essência de um herói que, espero, encontre nos videogames uma forma de permanecer vivo — e relevante — na cultura pop.

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Mais do que isso: é fácil notar que este é um projeto feito com muito carinho, por uma equipe que conhece muito bem o personagem e entende o que faz dele tão icônico. A aventura, o humor, a galhofa, a sagacidade… tudo está presente aqui, condensado em uma campanha empolgante e embalado por um departamento audiovisual de qualidade ímpar.

O fato deste jogo estar no Game Pass só o torna ainda mais recomendável, e faz a assinatura valer a pena até para quem nem tem Xbox. Indiana Jones e o Grande Círculo é não só uma grande aventura do Dr. Jones, mas também um jogo incrível por si só, capaz de agradar mesmo aos blasfemos que nunca assistiram a sequer um filme da trilogia clássica.

Indiana Jones e o Grande Círculo está disponível para PC e Xbox Series X|S — também via Game Pass. O game está 100% localizado para o português brasileiro. O game deve chegar ao Playstation 5 no segundo trimestre de 2025.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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