Análise Arkade: planando e explodindo tudo em Just Cause 3
Dobre seu paraquedas, calibre seu grappling hook, pegue sua bazuca e venha com a gente explorar o belíssimo arquipélago de Medici em Just Cause 3!
Voltando para casa
Rico Rodriguez já explodiu coisas no Caribe, na República de San Esperito no primeiro Just Cause. No segundo jogo, ele foi explodir coisas no sudeste da Ásia, nas Ilhas Panau. Em ambos os casos, ele teve que livrar a população local de algum tipo de déspota tirano que subiu ao poder (de formas questionáveis), cercou-se de militares e transformou o que deveria ser um paraíso em um cenário opressivo de guerrilha civil.
Desta vez, porém, Rico Rodriguez só queria ir para casa e descansar. Dar um tempo nas missões suicidas e nas explosões. Porém, ao chegar lá ele descobre que o seu lar — o belo arquipélago Medici — está sob o domínio do General Di Ravello, ditador que manipulou a mídia, sucateou a polícia e criou uma verdadeira milícia para impor a ordem e garantir sua proteção.
Assim, as férias de Rico são adiadas, pois agora o negócio é pessoal, e ele precisa libertar o seu povo da opressão imposta por Di Ravello. Seus velhos amigos já estão iniciando a Revolução, e as habilidades e gadgets de Rico serão fundamentais para virar o jogo e derrubar a ditadura.
A história é simples e não oferece grandes surpresas, mas serve como força motriz para manter o andamento do game. Temos muitos personagens estereotipados e um andamento que qualquer um que já viu algum filme de ação dos anos 80/90 vai reconhecer. Mas Just Cause sempre foi assim, mais fanfarrão e descompromissado, e a fórmula continua servindo para você curtir o game da forma que quiser e explodir tudo o que surgir pela frente.
Para o alto e avante
O mapa de Just Cause 3 é gigantesco, divide-se em várias ilhas e há muito o que fazer em cada uma delas. Trazendo um pouco do jogo anterior, o estilo do game lembra Far Cry: existem bases inimigas para você conquistar, cidades para libertar, NPCs pedindo favores, eventos aleatórios acontecendo e desafios variados de perícia e velocidade para você cumprir.
Com um mapa tão colossal, precisamos de meios de locomoção que tornem o “ir e vir” prazeroso. E nesse ponto Just Cause 3 acerta em cheio: seu combo “grappling hook + wingsuit + paraquedas” torna a exploração extremamente divertida. Planar pelo cenário é uma delícia, cara! E rolam até desafios de wingsuit onde você deve passar por dentro de checkpoints e fazer rasantes absurdos!
Claro que os mais conservadores podem usar veículos mais tradicionais (carros, motos, barcos, aviões, helicópteros, etc.), mas é fato que boa parte da diversão de Just Cause 3 está atrelada às suas maneiras menos convencionais de se ir “do ponto A ao ponto B”. Faz parte do charme fanfarrônico da série e funciona muito bem.
Explosão é a solução
Quando não estiver planando por aí, você estará explodindo coisas. E esta é outra coisa absurdamente divertida! O mundo de Just Cause 3 é cheio de tanques de combustível, transformadores, antenas, botijões de gás, torres de comunicação e outras dezenas de parafernálias e veículos que estão esperando para serem explodidos!
Qualquer armário de armas vai ter umas granadas e uma bazuca esperando por você, e se passar mais de 5 minutos sem explodir alguma coisa, você provavelmente está jogando errado. E claro, você pode explodir coisas enquanto está no seu paraquedas — ou até mesmo de ponta cabeça usando seu grappling hook –, o que deixa tudo ainda mais legal.
Explodir coisas geralmente resolve os seus problemas no jogo: para tomar uma base inimiga, nada de sutileza: você deve explodir tanques de combustível, aparatos de comunicação, tanques, soldados, e tudo mais. Para libertar uma cidade, você deve explodir vans de propaganda, estátuas de Di Ravello e alto falantes. Para proteger sua base de operações, o que você faz? Explode os barcos, helicópteros e soldados inimigos!
Temos até novas formas de explodir coisas: agora você pode surfar em botijões de gás, botar bombas que viram turbinas e “empurram” objetos ou usar um cabo retrátil para fazer 2 objetos colidirem. Este novo recurso é especialmente útil quando você “junta”, por exemplo, um soldado inimigo e um barril explosivo, ou uma torre de comunicação e um helicóptero inimigo.
Ah, e tem missões de escolta…
Eis aqui uma coisa curiosa. Ao contrário da maior parte dos jogos, em Just Cause 3 as side quests são mais legais do que as missões principais. Isto porque boa parte das missões da campanha são variações das famosas “escort mission” — coisas do tipo proteja esta carga, leve este item até tal lugar, escolte este comboio, acompanhe este inocente até um lugar seguro.
Esse tipo de missão nunca é legal — seja em Yoshi’s Island com o Baby Mario, em Resident Evil 4 com a Ashley ou em Dead Rising com os sobreviventes — e o excesso delas aqui só evidencia essa chatice. Chega a ser estranho; sério que ninguém reparou nisso durante o desenvolvimento do game?
Claro que a campanha também possui seus bons momentos — afinal, surfar em um míssil e mudar sua trajetória em pleno ar sempre é legal — , mas no geral a maior parte da diversão consiste em passear pelo mundo, invadir bases, explodir coisas e cumprir desafios, até porque, como já dito, a história não é tão fantástica a ponto de você querer ver como ela continua, tudo aqui é desculpa para explodir coisas.
Algumas coisas irritantes…
Acho que já deixei claro que Just Cause 3 é um jogo muito divertido. Porém, ele tem alguns problemas que vão se tornando bem irritantes conforme você vai passando mais e mais horas em Medici. O excesso de loadings é um desses problemas. Alguns são longos, outros nem tanto, mas o fato é que eles são muitos.
Quando você chega até o lugar onde vai pegar uma nova missão, rola um loading. Aí entra a cutscene que te passa a missão. O engraçado é que, ao fim de quase todas as cutscenes, a câmera vai para as costas do Rico como quem diz “agora você assume o controle”… mas aí vem mais um loading, para só então você voltar ao jogo.
Os desafios também contam com loads irritantes. Veja bem, alguns desafios — como os de wingsuit, por exemplo — mal duram um minuto. Porém ,se você falhar e quiser refazer o desafio, vai encarar um load que é mais longo que o próprio desafio. Isso é pura falta de uma programação decente. Jogos como Max Payne e GTA carregam durante a cutscene e contam com transições para o gameplay é praticamente imperceptível. Falta esse tipo de polimento aqui.
O mapa do game também deixa um pouco a desejar. Quer dizer, ele funciona bem na maior parte do tempo, porém, quando você está em uma base inimiga, ele não destaca onde estão os seus objetivos. Ok, a maioria dos objetivos é bem visível, mas algumas bases são realmente enormes, com muitos níveis, subníveis e túneis. As vezes encontrar seu último objetivo demora um bocado simplesmente porque você não sabe onde encontrá-lo no meio da base.
Por fim, algo que já era um problema antes e não foi resolvido aqui é o sistema de mira. Ao contrário de praticamente todo jogo com armas da atualidade, não é possível usar o gatilho direito para mirar e o esquerdo para atirar. Você tem uma retícula de mira o tempo todo na tela, mas não pode dar aquela aproximada para um tiro mais preciso. Quer dizer, até pode, mas isso é um perk que você precisa comprar, e quando habilitá-la, o comando da mira precisa vai para o analógico direito. Até Halo 5 abraçou a mira precisa no gatilho direito; Just Cause poderia ter feito o mesmo.
Audiovisual
Embora a versão PC do game tenha chegado com alguns problemas, as versões para PS4 e Xbox One funcionam numa boa. Rodando em 1080p no console da Sony e 900p no da Microsoft, em ambos os casos a taxa de quadros tenta se firmar nos 30fps, mas sofre algumas quedas nos momentos mais caóticos, onde há muita coisa explodindo na tela. Incomoda, mas é pontual.
Rodando na engine própria da casa — a Avalanche Engine, mesma de Mad Max — o game entrega um visual muito bonito e colorido, cheio de belas paisagens, bosques floridos, cavernas e cidadezinhas simpáticas. A física faz um bom trabalho, com muitos destroços explodindo em todas as direções. Os personagens também são bem modelados, e suas atuações vão do sério ao fanfarrônico típico da série.
Presenciamos alguns bugs engraçados, mas não é nada que fuja do aceitável, em se tratando de jogos de mundo aberto. No geral, visualmente o game lembra um pouco Far Cry, especialmente por fugir dos tons de cinza/marrom predominantes de outros jogos e nos entregar paisagens paradisíacas.
Just Cause 3 chega ao Brasil 100% em português, e a dublagem não chega a se destacar, mas cumpre bem seu papel. A trilha sonora tem um ar cinematográfico bem bacana, e o game consegue manter o humor característico da série mesmo em português. O destaque aqui vai para a rádio do governo, que conta mentiras deslavadas para a população sempre que você destrói uma base. O próprio Rico, espirituoso que só, manda jargões razoáveis em português, tipo “isso parece confusão… e eu adoro confusão”.
Conclusão
Ainda que tenha algumas falhas irritantes, Just Cause 3 é sem dúvida o jogo de mundo aberto mais divertido que eu joguei nos últimos tempos, e o “fator diversão” faz com que a gente acabe relevando suas falhas simplesmente para continuar curtindo o explosivo parque de diversões que o game oferece.
Jogar Just Cause 3 traz uma espécie de libertação, saca? Depois de um dia estressante aguentando chefe mala, uma montanha de trabalho, trânsito, fila de banco, e tudo mais, é relaxante chegar em casa, ligar o videogame, planar ao sabor do vento e explodir a p**** toda. Pode parecer um pensamento meio psicótico, mas é verdade. =D
Os loads vão testar sua paciência, a história não é nada de mais e você ocasionalmente vai passar um tempão simplesmente procurando o último objetivo de uma base enorme… mas o “recheio” — os voos de wingsuit, as explosões, os desafios, o humor ácido — compensa. A “folga” de Rico Rodriguez mostrou-se um ótimo jogo de uma franquia que sem dúvida merecia mais atenção.
https://youtu.be/Y0P_K4d3fPk
Just Cause 3 chegou no dia 1º de dezembro, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.