Análise Arkade: Mars 2120, um MetroidVania 100% brasileiro de respeito

1 de agosto de 2024
Análise Arkade: Mars 2120, um MetroidVania 100% brasileiro de respeito

Mars 2120 é um jogo que está no meu radar há anos. Em parte porque gosto muito de MetroidVanias, em parte porque é o projeto mais ambicioso da QUByte Interactive, estúdio brasileiro que acompanhamos de perto há mais de dez anos.

Pois bem, após muita espera, chegou o grande dia: Mars 2120 chega oficialmente hoje aos PCs e consoles. Já estamos com o jogo há algum tempo, e agora vou te contar o que achei dele!

Seja (nem tão) bem-vindo a Marte

A trama de Mars 2120 parte de uma premissa enigmática: em um futuro nem tão distante, a raça humana já avançou muito no processo de exploração espacial — muito para garantir que há para onde fugir, dada a situação da Terra. Um dos planetas já colonizados é Marte.

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Porém, de repente, a primeira colônia humana no planeta vermelho envia um pedido de socorro para as Nações Unidas. As autoridades internacionais decidem enviar a veterana das forças armadas Sgt. Anna “Thirteen” Charlotte para averiguar a situação.

Obviamente, as coisas não correm bem. Depois de um pouso turbulento, Anna escapa por um triz de uma avalanche, que lhe deixa presa na vasta colônia. Para piorar, não estamos sozinhos: entre monstros, mutantes e outros perigos, o foco da missão rapidamente torna-se sobreviver.

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A história não é realmente aprofundada, mas a distribuição de audiologs pelo mapa nos permite entender um pouco mais de como era a vida na colônia. Por estes arquivos de áudio, vamos entendendo, um pouquinho de cada vez, o que ocasionou o caos na colônia.

O equilíbrio entre combate e exploração

Mars 2120 é, como já dito, um jogo no estilo MetroidVania. Porém, ele puxa muito mais de Metroid do que de Castlevania. O fato de ser uma aventura espacial com uma mulher como protagonista já abre um paralelo bem óbvio, mas há muitas outras similaridades, como a ênfase em tiros, por exemplo.

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Pew pew pew

O combate, na verdade, traz uma boa mistura de tiros com ataques corpo a corpo, e combinar ambos costuma ser bastante efetivo. Conforme avançamos, vamos destravar variações de tiros elementais para nossa arma — como um lança-chamas ou uma escopeta de gelo — bem como equipamentos e habilidades que aprofundam não só a pancadaria, mas também a exploração.

Aliás, este é um elemento muito interessante de Mars 2120. No que diz respeito à usabilidade de armas e equipamentos, não existe distinção: estamos o tempo todo utilizando armas na exploração, habilidades de travessia nos combates, e vice-versa.

O vídeo abaixo é um bom exemplo: quando colocadas na água, as granadas de gelo criam uma passarela que nos permite avançar, olha só:

Este é um caso simples, até porque não quero estragar as surpresas de quem vai jogar. Mas, uma coisa é fato: houve muita criatividade na hora de idealizar as possibilidades de uso de cada equipamento. E também no design, uma vez que tudo se integra ao arsenal de Anna com muita naturalidade.

Você gosta de ficar perdido?

Uma coisa que me deu uma canseira nessa minha incursão antecipada por Mars 2120 está na complexidade de seu mapa. A colônia divide-se em diversos ambientes — laboratório, estufa, forja, etc –, e cada uma dessas áreas possui um mapa bastante intrincado.

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O que nem sempre está claro é onde fica a ligação entre as áreas. Tipo, você está lá na parte inferior do mapa e encontra uma nova habilidade que vai lhe permitir acessar novas áreas. Grandes pontos de exclamação vão surgir no mapa, indicando lugares que agora são acessíveis. Aí você dá um zoom out no mapa, vê que está longe pra caramba e pensa: como diabos eu vou chegar lá?

Sei que “ficar perdido” é parte da experiência de um MetroidVania, mas sinto que passei mais tempo do que gostaria andando a esmo. Complica ainda mais o fato de não termos um log de missões, nem nada do tipo para nos orientar.

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Em muitos casos, eu estava vagando pela colônia, até que encontrava “por acaso” um chefe, ou dava de cara com um equipamento ou power up que me permitiria visitar novas áreas. Aí vem outra parte difícil: descobrir como chegar ao lugar que dá acesso à nova área.

Por exemplo: depois que conseguimos o lança-chamas, podemos explodir pilhas de destroços ou derreter barreiras de gelo. Porém, o mapa do jogo não é muito eficiente em diferenciar os tipos de barreiras que bloqueiam nosso caminho. Sem a possibilidade de fazer marcações ou deixar pins no mapa, o que resta é confiar na memória… ou ir revisitando os caminhos sem saída, até encontrar um que possamos abrir.

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Será que eu já consigo passar por essa barreira?

Sendo justo, o game possui um sistema de fast travel que agiliza as coisas… mas, ele tem suas limitações. Primeiro, que precisamos encontrar a “estação do metrô” de uma área para habilitar a viagem rápida. Segundo, que cada área do jogo possui apenas uma estação. Ou seja, mesmo que transitar entre as áreas acabe ficando rápido, se o ponto de embarque/desembarque ficar longe do seu objetivo, você ainda vai ter que caminhar um bocado até lá.

A movimentação é ágil e agradável, então esse vai e vem não deveria ser um incômodo. Porém, como passei muito tempo vagando sem rumo, me cansou. E, como joguei antes do lançamento, não podia apelar para guias, walkthroughs, nem nada do tipo. É um problema que talvez você não tenha. E por falar nisso…

Problemas que eu espero que você não tenha

Mars 2120 apresentou problemas técnicos pontuais, mas bem irritantes, enquanto eu jogava. Como todo jogo hoje em dia recebe um “patch do dia 1”, é provável que muitos desses problemas já tenham sido corrigidos quando você jogar. Mas seria desonesto da minha parte omitir essas questões.

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Ativando um fast travel

O jogo crashou umas 3 vezes enquanto eu jogava. Mas, felizmente, nunca perdi muito progresso. Um problema mas grave ocorreu quando, após salvar o jogo , a interface do menu de save continuou na tela. Ou seja, eu controlava a personagem, mas a janela do save menu ficou congelada na frente, tampando boa parte da visão. Carregar o mesmo save mantinha o problema. Para corrigir isso, tive que recuperar um save anterior, perdendo cerca de uma hora de progresso.

E já que falamos em save, o simples ato de salvar o game foi se tornando cada vez mais problemático conforme eu avançava. Ao acessar o terminal de salvamento, o jogo trava por vários segundos. Ao selecionar o slot e confirmar o salvamento, mais vários segundos de tela congelada.

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Porém, o mais grave é que o save simplesmente não era acionado na primeira vez que eu fazia esse processo. Eu precisava selecionar o slot de save de novo, acionar o save de novo, esperar a travadinha de novo, para só então o salvamento valer.

O mais curioso é que, conforme eu avançava na campanha, essas travadinhas iam ficando mais demoradas. A impressão é que meu progresso estava deixando os saves mais “pesados” — lembra desse problema em Skyrim? –, o que aumentava o tempo de espera.

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Até gravei esse processo para deixar registrado e até para notificar os produtores. Confira abaixo, e não deixe de reparar nos vários segundos de tela congelada entre cada ação de algo tão simples:

Pode ser que isso já esteja resolvido quando você for jogar, mas na dúvida, fica a dica: preste atenção no relógio que mostra a hora exata do salvamento. Se o horário não mudar, SALVE NOVAMENTE para garantir que não vai perder seu progresso.

Que fique claro: joguei no PS5, e recebi o jogo quase 10 dias antes de seu lançamento. É meio normal que alguns bugs sejam identificados (e corrigidos) até a launch date. Não sei dizer se esses problemas acontecem em outras plataformas, nem se já estarão corrigidos quando o jogo sair.

Audiovisual e chefes

Se não considerarmos os problemas técnicos mencionados acima, Mars 2120 apresentou uma performance satisfatória no PS5. Ok, ele travava nas telas de save, mas durante o gameplay, mantinha a jogatina fluida em 60 frames por segundo.

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Produzido em cima da Unreal Engine, o game segue a tendência 2.5D que se tornou popular no gênero MetroidVania. Visualmente, o jogo é bastante inspirado em Metroid, especialmente no design de alguns chefes.

Aliás, o jogo tem um bom número de chefes, e muitos deles são gigantes e oferecem batalhas empolgantes. Não achei os chefes particularmente difíceis, mas o game faz um bom trabalho em deixá-las variadas, com perseguições, cenários que desabam, etc. Mars 2120 é ousado, com chefes colossais e momentos grandiosos.

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O design dos chefes impressiona

Mas, voltando ao audiovisual: Mars 2120 é muito bem resolvido visualmente. Há belos efeitos visuais nos combates, um character design de chefes inspirado, e muita variação de biomas, o que é bom não só para demarcar territórios, mas também para evitar que o jogo todo tenha aquela estética “estação espacial genérica”.

A trilha sonora também é muito boa, potencializando os momentos mais intensos e preenchendo o silêncio de forma que amplifica a ambientação. E, considerando que é um título brasileiro, Mars 2120 está 100% localizado para o nosso idioma, com menus, legendas e audiologs em português brasileiro.

Conclusão

Mars 2120 não deve nada a tantos outros MetroidVanias produzidos mundo afora. Ele passou muito tempo em desenvolvimento, mas, felizmente, a espera valeu a pena, pois temos aqui um “Metroid-like” 100% brasileiro de muita qualidade. Ouso dizer até que ele é mais Metroid do que Metroid Dread — entendedores entenderão.

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Não é um jogo perfeito — tenho problemas com o mapa, e os problemas técnicos testaram a minha paciência — mas acredito que boa parte dos problemas já deve estar sendo corrigido. Confio que os produtores estejam correndo para aparar as arestas e deixar o jogo redondinho para seu lançamento — que é hoje!

Como alguém que acompanha os trabalhos da QUByte Interactive há mais de uma década e até já entrevistou um produtor da equipe, confesso que dá orgulho de ver a QUByte Interactive lançando um título tão ambicioso. Isso sem falar que ela tornou-se uma publisher de renome internacional, que já firmou grandes parcerias para restaurar franquias icônicas.

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É do Brasil <3

Em resumo, mesmo faltando algum polimento, o saldo final é muito positivo. Mars 2120 é instigante, divertido e gostoso de jogar. Espero muito que ele seja o pontapé inicial de uma nova franquia, pois a Sgt. Anna “Thirteen” Charlotte tem tudo para ser a grande heroína brasileira dos jogos de ação!

Mars 2120 chega hoje (01 de agosto), com versões para PC, consoles Playstation, consoles Xbox e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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