Análise Arkade: Monster Boy and the Cursed Kingdom, um excelente sucessor espiritual de Wonder Boy

6 de dezembro de 2018

Análise Arkade: Monster Boy and the Cursed Kingdom, um excelente sucessor espiritual de Wonder Boy

Os últimos anos têm sido bem empolgantes para os fãs de Wonder Boy. No ano passado tivemos um belo remake de Wonder Boy: The Dragon’s Trap. Agora, chegou às lojas digitais o divertido Monster Boy & the Cursed Kingdom, título que, em muitos aspectos, é um sucessor espiritual da franquia Wonder Boy!

Contextualizando

Wonder Boy é uma série que nasceu no Master System há mais de 30 anos, e angariou uma legião de fãs que se mantém leais até hoje. Curiosamente, aqui no Brasil a gente teve mais contato com os “hacks oficiais” da franquia, que deram origem a jogos como Mônica no Castelo do Dragão e Turma da Mônica em O Resgate, mods lançados por aqui pela TecToy.

Com os direitos da franquia na mão de outra empresa, coube aos desenvolvedores criarem um jogo que funciona como um sucessor espiritual da franquia — contando inclusive com o aval e a consultoria de Ryuichi Nishizawa, ninguém menos que o criador da série Wonder Boy.

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O início da jornada

A história acompanha Jin, um jovem de cabelo azul cujo tio foi supostamente enfeitiçado, e saiu por aí em um barril voador (?!), transformando todos os habitantes do Monster World em animais — inclusive o protagonista. Nossa missão é viajar pelo undo, coletando orbes mágicas que nos ajudarão a trazer o velho de volta ao normal e, claro, restabelecer a ordem e reverta as mutações de todos.

MetroidVania + Plataforma

Monster Boy & the Cursed Kingdom traz uma estrutura semelhante a do Wonder Boy original: longe de ser um jogo de fases linear, o que temos aqui é um Metroidvania, com um mapa expansivo formado por diversas áreas interligadas através de um hub central.

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O simpático vilarejo de Lupia é o hub central do mapa

Como de praxe em jogos do gênero, nossas possibilidades de exploração vão aumentando conforme angariamos novas habilidades. Neste caso, isso também é pautado pelas novas formas que podemos assumir: nosso personagem pode se transformar em porco, cobra, sapo, e por aí vai. Cada forma chega acompanhada de alguma habilidade específica.

A cobra, por exemplo, pode se espremer por passagens estreitas e andar em paredes e tetos cobertos de limo. Já o sapo usa sua língua como se fosse um grappling hook, içando o personagem através de argolas e pontos de apoio. Certas formas também são capazes de usar magias, e podem ser equipadas com armas e acessórios que por si só concedem alguma habilidade extra, como uma armadura que emite luz para iluminar lugares escuros, ou um par de botas de chumbo que permite ao personagem afundar na água.

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Certas formas são muito leves, e carecem de botas pesadas para não boiarem na água

Isso pode deixar  o jogador meio perdido de vez em quando, pois acontece de uma arma ou equipamento ser necessário para que toda uma nova área seja acessível. Há uma espada de gelo, por exemplo, que congela cachoeiras, permitindo que você crie pontes para atravessá-las. Outro caso são botas que fazem o contrário (derretem gelo), possibilitando que você “caia” para áreas inferiores que, de outro modo, seriam inacessíveis.

Outra coisa que acontece de vez em quando é uma forma que você já tinha ganhar uma nova habilidade. O sapo, por exemplo, torna-se capaz de “engolir” e “cuspir” certos objetos — no melhor estilo Yoshi — bem depois desta transformação ter sido liberada. Isso abre uma nova gama de possibilidades, pois você pode tanto carregar trampolins até lugares inacessíveis quanto devolver bombas  para os inimigos.

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Com o sapo também é possível devorar certos tipos de inimigos

Esse mix de habilidades, transformações e equipamentos pode dar um nó na cabeça do jogador, mas geralmente não é tão complicado quanto parece: na maioria das vezes é fácil saber qual forma/poder precisamos usar, e a simplicidade do gameplay facilita a experimentação.

Falando nisso, uma coisa legal é que, ao contrário do Wonder Boy do ano passado, aqui é possível mudar de forma livremente — depois que você ganhou acesso à determinada transformação, claro. Isso evita o backtracking que havia naquele jogo, no qual, se você desse de cara com uma passagem que só o rato podia passar, precisava voltar até a cidade para trocar de forma. Aqui é só apertar um botão para tocar de forma e pronto. O level design até se aproveita disso, oferecendo desafios que demandam combinações de habilidades dos diferentes animais nos quais podemos nos transformar.

Puzzles & Chefes

Ainda que puzzles não sejam o foco do jogo, Monster Boy & the Cursed Kingdom traz uma boa dose deles. Nenhum é realmente difícil, mas alguns são bem trabalhosos, exigindo muitas idas e vindas (por lugares parecidos) puxando alavancas, acionando mecanismos e liberando passagens. Há uma área em especial — os Templos Perdidos — que é especialmente complicada de ser superada sem um guia.

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Até os chefes esbanjam carisma!

Claro que entre plataforma, puzzle e MetroidVania, também há espaço para os chefes, e em sua maioria eles são bem legais: criaturas gigantes, meio assustadoras e meio fofinhas, que devem ser derrotadas mais com o cérebro do que com força bruta. Aqui também rola muito de termos que combinar poderes de diferentes criaturas para prosperar.

Confira uma pseudo-boss battle no vídeo abaixo:

Um jogo feito à mão

Monster Boy & the Cursed Kingdom é um jogo do estúdio francês Game Atelier, e o fato do estúdio ter esse nome é algo que realmente passa uma mensagem subliminar: ateliês são espaços onde artistas e artesãos fazem seus trabalhos, e o que temos aqui é um jogo 100% artesanal. Explicando: cada criatura, cada cenário e cada frame do jogo foram desenhados à mão. Este é um dos motivos pelos quais o jogo passou mais de 4 anos sendo desenvolvido.

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A forma de leão me lembrou muito o Lyon-O, líder dos Thundercats

O capricho fez valer a espera: este é um jogo visualmente deslumbrante, com belas animações e cenários muito variados e coloridos. O traço é estiloso sem deixar de ser bonitinho, o que concede muita personalidade ao universo do game. É aquele tipo de jogo que claramente foi feito com muito carinho, talento e dedicação, do qual cada frame podia tranquilamente virar um quadro ou pôster.

Aliás, o game tem uma abertura com a maior cara de anime e música cantada que é simplesmente maravilhosa, confere aí:

O departamento sonoro traz um mix de efeitos sonoros old school com músicas bem variadas– muitas, aliás, releituras de temas clássicos de Wonder Boy. Fugindo do chiptune e do estilo orquestrado, a trilha sonora entrega músicas instrumentais muito boas, com muitos solinhos de guitarra, percussão, teclados e saxofones. É daquelas que dá vontade de ouvir mesmo fora do jogo.

Conclusão

Quando analisei o Wonder Boy: The Dragon’s Trap no ano passado, critiquei justamente o fato dele ser um remake muito purista, que trazia não só as qualidades, mas também os defeitos dos jogo original — especialmente algumas questões de game design que não envelheceram bem. Não acho que Wonder Boy seja um clássico irretocável, e melhorias podiam ter sido feitas em prol do gameplay para torná-lo mais condizente com os dias atuais.

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Uma das habilidades do porco é farejar trufas (como na vida real)

Pois Monster Boy & the Cursed Kingdom é tipo isso: um Wonder Boy moderno, que mantém o feeling do clássico, mas não tem medo de mudar, lapidar e aprimorar certos elementos de gameplay. O fato de podermos mudar de forma a qualquer momento e a bem-vinda inclusão de checkpoints são só algumas dessas mudanças, e elas realmente vêm para somar, melhorando muito a experiência.

Então, ainda que este não seja “oficialmente” um jogo da série Wonder Boy, é ele que eu recomendo caso você queira matar a saudade do gênero. Um MetroidVania impecável tecnicamente, com visual de cair o queixo e um nível de desafio estimulante, tudo trabalhando em harmonia para oferecer uma aventura que esbanja carisma e nostalgia.

Monster Boy & the Cursed Kingdom foi lançado em 4 de dezembro, com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch. O jogo conta com menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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