Análise Arkade – Mortal Kombat 1: Reina o Kaos reforça qualidades (e defeitos) do jogo base

2 de outubro de 2024
Análise Arkade - Mortal Kombat 1: Reina o Kaos reforça qualidades (e defeitos) do jogo base

Desde seu grande reboot lá em 2009, quando já sob o comando da NetherRealm, a franquia Mortal Kombat reestabeleceu bases muito bem sucedidas dentro do nicho para o qual se destina. Há uma ênfase interessante na construção das linhas narrativas que temperam o quebra-pau violento e deliciosamente gore. Mortal Kombat 1, jogo mais recente da marca lançado em 2023 — do qual falamos bastante em nosso review — não foge à regra, ainda que pareça refém dela.

Historinha esfarrapada

O final do jogo anterior abriu uma tela em branco para o que viesse pela frente, e não por acaso, MK1 (até pela sugestão de reinício dada pela numeração do título) precisou recompor tudo aquilo que já sabíamos sobre a trama do tal torneio que define o destino dos mais diferentes reinos, inclusive o Plano Terreno. A história em si dividiu opiniões por se aproveitar deste reboot narrativo para explorar aquilo que, a essa altura, já está manjado e pouco inventivo: o conceito de multiverso.

Análise Arkade - Mortal Kombat 1: Reina o Kaos reforça qualidades (e defeitos) do jogo base

Agora, tal como já experimentado no passado, o jogo ganha não só os tradicionais personagens de segunda temporada de conteúdo extra, como também uma expansão para sua história, um epílogo por assim dizer, mesmo que da trama original aproveite pouco. Uma versão titã de Havik, um dos personagens menos relevantes dessa lore, pretende se aproveitar das confusões com as quais os heróis lidaram para eliminar dimensões divergentes e fazer reinar o Caos (ou Kaos, para manter o konceito) tão bem quisto por ele e por seus asseclas.

Em outras palavras, temos aqui uma repetição da ideia de que está tudo bem até que um cara que não tem muito o que fazer decide bagunçar tudo. Em algo em torno de duas ou três horas de campanha, temos uma reiteração do que já vimos antes, com sequestro, invasão, missão de resgate, pontos de virada, um pouco de reality show (no pior-melhor estilo Mojoverso lá dos X-Men) e desculpas bem mais-ou-menos para algumas brigas estreladas principalmente pelas novatas Cyrax e Sektor; pelo sempre ótimo Noob Saibot e por outros mais antigos que não tinham brilhado na história original, como Rain e Tanya.

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É difícil se apegar aos arquétipos destes novos protagonistas, não pela troca de gênero ou qualquer bobagem que muita gente se importa mais do que deveria, mas sim pelo carisma bastante limitado de todos eles. O bom trabalho de vozes (as brasileiras, inclusive) ajuda, inclusive nas piadinhas, referências ao mundo nerd e farofagens que mostram o quanto o jogo não se leva tão a sério assim, mas o tom bem-humorado não salva um arremedo narrativo que vai do nada para lugar nenhum, principalmente quando eventos significativos perdem força quando lembramos que, dentro da narrativa rocambolesca, esse é só um dentre infinitos universos conflitantes.

Visuais incríveis, mecânicas impecáveis

Por outro lado, é impossível pensar em pular as cenas animadas dessa nova campanha, porque se o plot não empolga, o lado estético da obra continua deslumbrante. Não retiro uma palavra da afirmação que fizera antes de que Mortal Kombat 1 é um dos jogos de luta mais impressionantes dos últimos tempos, com atuações expressivas, texturas detalhadas, uma direção de arte soberba e movimentos incríveis. E se o jogo não se segura no aspecto dramático, são muitas as cenas de ação que valorizam modelagens, ambientações e características específicas de cada herói ou vilão.

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É nesse caráter técnico onde a expansão valoriza ainda mais aquilo que já estava bem sedimentado. Eu gosto da agilidade dos novos personagens já disponíveis (que deve contrastar com a forma mais bruta dos que vem aí, como Conan e T-1000) e da amplitude de movimentos e combos que as armaduras robóticas trazem, enquanto Noob sempre foi aquele com quem eu melhor consigo apelar para momentos de desafogo pela boa capacidade de controlar o combate à distância ou no corpo-a-corpo mais ofensivo. De certo modo, esses três incrementos conseguem dar equilíbrio ao belíssimo elenco atual do game.

Soma-se a tudo isso a adição dos Animalities — adendo disponível para todo mundo, sem a necessidade da compra do pacote dfe expansão. Pela raridade com a qual aparecem nos jogos da franquia, obviamente eles se tornaram os meus movimentos de finalização favoritos, mas confesso que senti falta de algumas transformações mais tradicionais.

Como decidi não me adiantar com trailers e não ver qualquer um deles antes do lançamento para me surpreender quando conseguisse aplicar, tomei alguns sustos com, por exemplo, Liu Kang e Kitana, e ainda não sei se gosto da nova versão deles. Outros, porém, são divertidíssimos, incluindo os de personagens convidados.

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Também é muito bem-vinda a inclusão das famosas Torres do Tempo, material single player com alta rotatividade que adiciona um pouco mais de substância para valorizar aquele retorno contínuo e que, ao mesmo tempo, é mais direto que as famigeradas e longuíssimas Invasões. Estas torres, introduzidas no jogo anterior, garantem boas surpresas com modificadores distintos e boas premiações. Não é algo que ameniza o exagero das microtransações para itens cosméticos, mas é sem sombra de dúvidas algo que valoriza características que já estão presentes no jogo desde sempre.

Conclusão

Por mais que eu realmente goste deste elemento narrativo tão bem quisto pela NetherRealm, toda a satisfação pela boa justificativa ao retornar a um jogo que eu nem tinha deixado de lado por muito tempo desde o lançamento se tornou limitada e vazia muito rapidamente.

A expansão Reina o Kaos (ou Khaos Reigns, no original) traz uma história morna pouco significativa com uma apoteose igualmente modorrenta, salvo pelo fato do chefe final ser realmente desafiador nas dificuldades mais elevadas.

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Aliás, mesmo sendo um antagonista dos mais descartáveis de todos os que já vi até hoje em Mortal Kombat, Havik tem seus momentos divertidos exatamente pelo seu comportamento nonsense, e claramente eclipsa todos os demais personagens da trama, incluindo Liu Kang, que se mostra cada vez mais um verdadeiro porre no papel de divindade. Dos três novos personagens — serão mais três nos próximos meses — dois já se tornaram parte da minha listinha de lutadores aos quais quero me dedicar e melhorar.

As mecânicas de Kameo continuam bastante úteis e tornam cada batalha algo diferente, e nisso o jogo não mudou quase nada desde seu lançamento, salvo alguns ajustes corriqueiros de balanceamento e timing. Já os visuais continuam primorosos, trazendo ainda mais intensidade para a agressividade das novas finalizações, que dão um destaque grande para adições substanciais, com cada personagem se tornando um animal diferente, alguns deles bem medonhos, outros surpreendentes, nem sempre pelo lado bom.

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Ou seja, pelo lado bom e pelo lado mal, esta expansão é mais MK1 em todos os sentidos.

Mortal Kombat 1: Reina o Kaos está disponível digitalmente desde 24 de setembro de 2024 para PlayStation 5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch e PC (via Steam e Epic Games Store), mais uma vez totalmente localizado em texto e vozes para o nosso bom e velho português brasileiro.

Paulo Roberto Montanaro

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