Análise Arkade: One Piece Odyssey tem bons combates e erros relevantes
Sendo o primeiro lançamento da Bandai Nanmco de 2023, One Piece Odyssey chegou para quebrar paradigmas sobre os games já tradicionais do pirata que estica mais famoso do mundo. Abandonando o gênero musou mais focado em ação que por anos foi a regra dos games de One Piece, Odyssey traz uma jogatina mais voltada para o JRPG, com batalhas em turno mais estratégicas e cheias de mecânicas.
Entretanto, a principal promessa para os fãs de One Piece desde World Seeker pode não agradar tanto assim em alguns aspectos. A história é agradável e os combates ótimos, mas entre esses dois aspectos todo o restante não apresenta conteúdos tão interessantes assim. Mas vamos com calma analisar todos os detalhes de One Piece Odyssey nessa análise completa.
Lembrando que jogamos a demo de One Piece Odyssey na BGS 2022 e você pode conferir nossas primeiras impressões clicando aqui.
Perdidos em uma ilha misteriosa
A história de One Piece Odyssey leva a tripulação dos Chapéu de Palha a uma ilha um tanto quanto singular chamada Waford, com tempestades monstruosas ao seu redor e algumas modificações climáticas impossíveis, como raios congelados. Após se deparar com a tempestade incomum, o Thousand Sunny, navio de Luffy, acaba naufragado na ilha com toda a sua tripulação.
Após reunir os membros da tripulação após o acidente, Luffy e os outros acabam conhecendo dois personagens inéditos que habitam a ilha há mais tempo, o explorador Adio e a misteriosa menina Lim. Esta última bastante importante para a trama principal do jogo, já que a sua habilidade gira em torno de remover as experiências e memórias de quem ela toca. Ao fazer isso com quase toda a tripulação, nos vemos presos na ilha sem habilidades.
Com isso, Luffy e companhia precisam recuperar suas memórias perdidas após um mal entendido, as quais se espalharam por toda a ilha. E daí vem a desculpa principal da trama de One Piece Odyssey para revisitar momentos marcantes da história de One Piece. Desse modo, revisitamos as sagas de Alabasta, Water 7, Dressrosa e Marineford. Um verdadeiro prato cheio para todos os fãs da obra de Eiichiro Oda.
Na maior parte do tempo a história de One Piece Odyssey funciona muito bem. Tanto em sua narrativa a respeito da ilha misteriosa e seus personagens inéditos como também revisitando momentos marcantes dos Mugiwaras e trazendo uma nova ótica sob cada um deles. Mas claro que a história ser tão boa para os fãs não é por um acaso, já que o próprio Eiichiro Oda, criador de One Piece, desenvolveu o enredo do game.
Combates em turno de primeira
Não é exagero dizer que 80% da experiência de gameplay de One Piece Odyssey gira em torno de seus combates. E digo isso como uma crítica e um elogio ao mesmo tempo. Isso porque, ao mesmo tempo em que mecânicas como movimentação, exploração, crafting e grinding são bem questionáveis e receberão as devidas críticas durante essa análise; o jogo focar basicamente no que deu super certo pra ele não deixa de ser um acerto.
Assim como disse no texto de primeiras impressões sobre One Piece Odyssey, seus combates em turno possuem algumas mecânicas diferenciadas bem interessantes. A principal delas, ao meu ver, é o sistema de frentes de batalha simultâneas. Na qual nossos personagens (até quatro deles) ficam distribuídos pelo cenário de modo independente, podendo assim ter de uma a quatro frentes de batalha diferentes ao mesmo tempo durante a luta.
Existem personagens como Nami e Usopp que funcionam melhor de longe, e por isso conseguem atacar mais os inimigos que estejam em uma zona de combate diferente da sua. Por outro lado, personagens como Zoro e Sanji são mais focados em combate de curta distância, não funcionando para acessar zonas diferentes da sua própria. Todo esse esquema é bem simples de entender na jogatina e substitui muito bem o esquema de quadrinhos de movimentação já tradicional do gênero Tatics.
Além disso, o uso de habilidades bem como a variedade delas durante a jogatina é excelente. Fazendo com que os diversos personagens da tripulação dos chapéu de palha tenham bastante versatilidade em seus golpes, ao mesmo tempo que são movimentos bem fiéis ao anime. Ainda temos golpes combinados entre personagens, fazendo com que os fãs da obra fiquem bem satisfeitos com o resultado final dos combates. Já para os que cansam rápido do esquema de batalhas em equipe, existem mecânicas de aceleração das animações, para evitar a monotonia.
Narrativa cansativa demais
Aqui temos talvez o maior defeito de One Piece Odyssey: sua narrativa. Veja bem, note que eu estou falando da narrativa e não do enredo em si. Ou seja, não é a história do jogo que é ruim, mas sim a forma pela qual ela é contada. Acontece que por boa parte da jogatina, nós simplesmente andamos por mapas muito bem delimitados até encontrar pontos de interesse que geram diálogos para andar mais um pouco e encontrar outro ponto que gera outro diálogo.
Ok, isso acontece bastante em inúmeros jogos, certo? Certo. Entretanto, em One Piece Odyssey temos momentos simplesmente inúteis, nos quais, logo após uma cutscene, damos literalmente três ou quatro passos com o personagem só para dar início a uma nova cena de diálogo. Você pode pensar: “poxa, esse tempo entre cenas serve para salvar o jogo!” e eu até aceitaria essa justificativa, não fosse o fato que o game utiliza pontos de salvamento fixos no mapa.
Desse modo, toda a história acaba se tornando arrastada e monótona em alguns pontos. Ainda mais quando entramos nas memórias dos tripulantes esperando vivenciar os momentos marcantes tal qual eles se desenrolaram no mangá e no anime para descobrir que precisamos fazer algumas tarefas genéricas indo do ponto “a” ao ponto “b” repetidas vezes para, eventualmente, encontrar algum personagem ou inimigo icônico daquela saga.
Toda essa “enrolação” para fazer a história render mais horas de jogatina torna a experiência como um todo um tanto cansativa. Chega um momento que você acaba ignorando os inimigos para avançar na história e, infelizmente, isso tem um custo. Já que em determinados momentos do jogo é exigido que você faça o famigerado grind para que todos os personagens da tripulação estejam em um nível de poder apto para superar o desafio que se segue.
Um simulador de apertar “A”
Infelizmente, One Piece Odyssey me remeteu a alguns games da franquia Pokémon no que tange a sua jogabilidade. Isso porque na maioria esmagadora da jogatina seguimos simplesmente apertando “A” (ou X no caso do PlayStation) para confirmar diálogos, interagir com o mapa, coletar itens, salvar o jogo, selecionar ataques contra os inimigos e por aí vai. A exploração do mapa deixa bastante a desejar e isso faz falta num game de One Piece.
Até temos habilidades únicas de cada mugiwara que incentivam que o jogador troque constantemente de personagem principal para acessar recursos impossíveis de serem coletados com os demais. Com isso, Luffy se estica para pegar itens isolados, Nami enxerga tesouros, Zoro pode cortar caixas de aço, Sanji enxerga recursos alimentícios, Chopper acessa locais pequenos e por aí vai. Até que a ideia não é nada ruim, porém sua execução cansa, pois a troca de personagens é levemente demorada e burocrática, tornando o processo cansativo.
Veja bem, Genshin Impact é um bom exemplo aqui de como funciona a troca de personagem principal da party de modo dinâmico e bem orgânico com a jogatina. Já em One Piece Odyssey, ao inv´és de termos a troca de personagens ao alcance de um botão, precisamos abrir o menu de trocas, selecionar o personagem que queremos assumir passando a setinha para o lado, confirmar, esperar uma tela preta e aí sim temos a troca.
Posso parecer um chato reclamando disso, mas quando você fica dezenas de horas jogando o game e precisando trocar constantemente de personagens para coletar recursos, essas tarefinhas simplórias se tornam um pé no saco. E não é como se não existissem soluções práticas e dinâmicas para isso, afinal, acabei de citar Genshin Impact, um jogo de 2020 gratuito e online que faz isso com excelência.
Um jogo para fãs
One Piece Odyssey está longe de ser um completo desastre. Ao assumir uma história original com uma desculpa aceitável para revisitar momentos icônicos da história dos Chapéu de Palha, o game alcança um equilíbrio bem saudável entre originalidade e saudosismo. E isso conversa muito bem com o sistema de combate viciante, boa variedade de golpes e fidelidade dos modelos, movimentos, vozes e tudo mais com o material original da obra.
Entretanto, One Piece Odyssey é decididamente um jogo para fãs da franquia e nada mais. O game não perde tempo apresentando personagens já conhecidos da franquia, nem muito menos se preocupa em explicar conflitos passados. Só joga tudo na tela para que fãs identifiquem tudo e se sintam em casa. Por isso fica o aviso: se você é um mero curioso que gosta de JRPG baseado em turnos, esse game pode não agradar você.
Porém, se você é fã de carteirinha de Luffy e seus amigos e não liga para o ritmo quebrado e jogabilidade repetitiva que o game apresenta, aqui está uma experiência bem divertida pra você, mesmo que não memorável.
One Piece Odyssey foi lançado no dia 10 de janeiro de 2023 e está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S e PC (via Steam). Ele possui áudio em japonês com dubladores originais do anime com legendas e menus totalmente em português. Para esta análise, rodamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 (4GB) e SSD M2-2280 de 512gb.