Análise Arkade: Os Phantom Thieves estão de volta em Persona 5 Strikers
A franquia Persona, desenvolvida pelo P-Studio da Atlus, vem fazendo um ótimo trabalho de construção de marca no ocidente. Persona 3 e 4 foram bem recebidos por público e crítica, assim como seus derivados de luta, dança e dungeon crawler, mas foi na quinta interação da série que sua popularidade realmente explodiu.
Persona 5 e sua versão definitiva, intitulada Persona 5 Royal, foram muito importantes para mim e, por isso, não poderia deixar de escrever sobre o recém lançado Persona 5 Strikers, que dessa vez foi concebido como um musou (ou RPG de ação) pelo Omega Force, da Koei Tecmo.
Uma nova aventura, mas nem tanto
Em Strikers, Ren Amamiya (nome do protagonista no anime) retorna à Tóquio aproximadamente 6 meses depois dos acontecimentos de P5 para reencontrar seus amigos no período de férias escolares.
Inicialmente interagimos com Ann, Ryuji, Yusuke, Makoto, Futaba, Haru e Sojiro, em diálogos que contextualizam o que está acontecendo em suas vidas no momento. Depois disso a ideia de uma road trip é estabelecida, mas novos casos de surtos mentais começam a minar esse plano.
Um detalhe que ficou claro logo nas primeiras horas, e que pode ser considerado um problema para quem resolver entrar na franquia por Strikers, é que o game não faz nenhum esforço para estabelecer quem são aqueles personagens. Não há nenhuma grande construção nesse sentido, porque tudo que precisamos saber já foi muito bem desenvolvido em P5, então, ter jogado ele antes (e não o P5 Royal, cujos novos conteúdos não são levados em conta) sem dúvida é essencial para quem não planeja ficar boiando — nem tomar spoilers de P5.
O que é evidenciado são seus traços primordiais, por exemplo: Yusuke fala muito sobre arte, Haru destaca seu gosto por cultivar vegetais, Ann comenta sobre ser modelo, e por aí vai. A questão é que essas características são desenvolvidas ao longo de 100 horas em P5 e, por essa razão, acompanhamos o gradual crescimento dessas jornadas.
Em Strikers isso já está estabelecido desde o começo, então não espere grandes introduções. Mesmo já conhecendo os personagens, admiro que isso me trouxe o sentimento de estar vendo uma caricatura, um estereótipo dos personagens. Não é uma escolha ruim de narrativa, mas sem dúvida é bem mais direto ao ponto.
Outra questão que faz com que a aventura “necessite” de um certo conhecimento prévio são os termos usados pelos personagens, que na verdade são os mesmos conceitos de P5, mas camuflados com análogos. Por exemplo:
- Em P5 tínhamos os Palácios, que são as dungeons, e aqui temos a Cadeia/Prisão, que no fim é a mesma coisa.
- Em P5 havia os Donos dos Palácios, que são os chefes, e aqui temos os Monarcas, que no fim é a mesma coisa.
O que acontece é um certo reaproveitamento de conceitos, mas com nomes diferentes e com menos explicações. Para mim, que sou fã da franquia e sei como funciona aquele mundo, tudo isso foi interessante e senti como se estivesse jogando um novo arco de um anime sobre o qual eu já estava familiarizado.
Mas, me colocando no lugar de um leigo em Persona — ou de alguém que foi atraído pela expectativa positiva criada em análises ou por meio de amigos –, talvez me sentisse meio perdido. Ainda há muita conversa aqui, mas ela é mais para desenvolver a história e menos para apresentar conceitos que o jogador (teoricamente) já conhece.
A história tem bons pontos e alguns momentos de Strikers não deixam nada a desejar em relação aos jogos anteriores. Apesar de ser uma aventura menor e mais direta ao ponto, ainda há umas boas 60 horas de campanha, com muitos diálogos e reviravoltas.
Novas mecânicas, mas nem tanto
Enquanto P5 é um JRPG por turnos mais clássico, Strikers é focado na ação por meio de uma mecânica de musou, ou RPG de ação, se assim preferir. As dungeons são construídas em cenários mais abertos, que são propícios para esse tipo de jogo, mas a progressão é bem linear.
Sendo um musou, há dezenas de inimigos na tela e é bem fácil de se sentir poderoso aniquilando dezenas com um só golpe, porém, Strikers é desafiador desde o começo, o que não é tão comum para esse gênero, onde o normal é o jogador sentir-se overpowered o tempo inteiro.
Nos outros jogos do gênero desenvolvidos pelo Omega Force, o desafio está concentrado no gerenciamento das batalhas contra as unidades e nos chefes, já em Strikers há menos inimigos, mas o desafio é constante.
No quesito habilidades/mecânicas existe um meio termo entre o que já conhecíamos e coisas novas, distribuídos em um controle mais solto. Podemos nos mover livremente no cenário, escalar caminhões, postes de luz e prédios com o intuito de surpreender os inimigos. Atacando-os por trás temos uma vantagem tática no combate, assim como em P5.
Sobre os controles: temos o ataque melee padrão, o especial, a esquiva, a troca de personagens, as habilidades das Personas (as quais o tempo congela e há espaço para abordagens mais estratégicas), ataques combinados, etc. São as mecânicas do Persona JRPG, distribuídas em uma configuração de botões familiar ao musou, mais focada em ação.
É tudo muito caótico, cheio de efeitos e explosões na tela, mas extremamente divertido. E, apesar desse jogo ser um musou , eu diria que, proporcionalmente, ele é composto por 1/3 de combate e 2/3 de interações sociais — por meio de visual novel e exploração de cenários –, o que é característico da franquia Persona: salvar o mundo é só uma parte do jogo, também temos que estudar, socializar, explorar a cidade, etc.
Outro elemento que é importantíssimo em Persona são as músicas. Strikers é uma mescla de releituras do que já tínhamos em P5, com a adição de novas composições. São boas músicas, especialmente a de abertura e a de batalha, mas no geral são inferiores comparadas aos títulos anteriores.
Músicas de cenários que já vimos em P5 se mantém iguais. Jogando na televisão as vozes dos personagens, músicas e efeitos sonoros estão bem equalizados, mas no fone de ouvido a mixagem deixa a desejar, hora a voz estando muito baixa, a música muito alta ou vice-versa.
O visual segue a cartilha do que vimos em P5, um anime 3D muito estiloso que esbanja personalidade. A estética dos menus e animações também é imediatamente familiar para quem jogou P5, e continua sendo fantástica.
Não há localização em português do Brasil, nem mesmo legendas, o que dificulta para quem não fala inglês, já que a maioria do jogo é sobre diálogos. Vale destacar também que há dois modos de jogo, um que prioriza os gráficos e outro que dá ênfase na performance/taxa de quadros.
Conclusão
Persona 5 Strikers pode ser visto como uma sequência e também um spin-off de P5, mas independentemente de como vamos chamá-lo existe aqui um bom jogo feito pela Omega Force, que sabe aproveitar o elenco de P5 para contar uma nova história. Em alguns momentos o jogo é derivativo, sim, mas ainda é um prato cheio para quem já conhece os personagens e aquele mundo.
É fato que jogar primeiro P5 é altamente recomendável para tornar a experiência de Strikers ainda melhor, mas quem quiser cair de cabeça nesse musou também vai tirar proveito de um sistema de combate divertido e de uma história interessante, cheia de ótimos personagens.
Persona 5 Strikers foi lançado em 23 de fevereiro para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC via Steam. A cópia de review que recebemos foi a de PS4, e joguei no PS5 por meio da retrocompatibilidade.