Análise Arkade: a tensão e o terror de Resident Evil Revelations 2 – Episódio 1: Penal Colony
O terror está de volta… agora em formato episódico! Na sequência você confere nossa análise do primeiro episódio de Resident Evil Revelations 2!
Depois do sucesso de The Walking Dead e outros títulos da Telltale, parece que lançar jogos em formato episódico virou moda. Neste tipo de jogo, é essencial que a história seja boa e deixe bons “ganchos” para deixar o jogador na expectativa ao final de cada episódio.
Será que a Capcom conseguiu se sair bem nesta missão? Vamos descobrir!
2 histórias diferentes
Resident Evil Revelations 2 nos conta duas histórias diferentes, que invariavelmente irão acabar se cruzando: na primeira, conhecemos o grupo anti-bioterrorismo Terra Salva, onde a veterana Claire Redfield conhece Moira Burton, jovem com ar rebelde que é filha do bom e velho Barry Burton. Na segunda, acompanhamos o próprio Barry, cuja companhia é a fofinha e enigmática Natalia Korda.
Na trama de Claire e Moira, vemos que uma confraternização da Terra Salva acaba mal quando um mini-exército fortemente armado invade o local, sequestra todo mundo e — pior — injeta algo misterioso em Claire e Moira. Quando acordam, as duas estão em uma sinistra prisão abandonada, usando braceletes estranhos e sendo constantemente vigiadas por câmeras de segurança.
Onde elas estão? Qual é a dos braceletes? Quem é a misteriosa “Observadora” que está o tempo acompanhando seus passos? Estes são alguns mistérios que elas terão que desvendar juntas enquanto exploram o macabro complexo e seus arredores.
Já a campanha de Barry se passa na mesma área do presídio: ele está em busca de sua filha, e no caminho acaba conhecendo Natalia, uma menininha enigmática que parece saber um pouco do que anda acontecendo por ali. Conforme a trama avança, Barry vai percebendo que todos podem estar envolvidos em algo maior e mais sinistro do que parece.
Gameplay
Falando em coisas sinistras, é claro que o presídio não é tão abandonado quanto parece: sem zumbis ou Oozes, o que temos agora são os afflicted, pessoas que foram vítimas de um novo e misterioso vírus e se tornaram aberrações que caçam humanos. Existem variações deles, e cada uma é mais bizarra do que a outra.
Se você jogar sozinho, terá que alternar entre os personagens de vez em quando: embora ambas comecem sem nenhum equipamento, logo Claire descola umas armas de fogo, enquanto Moira empunha uma lanterna — capaz de cegar momentaneamente inimigos e revelar itens escondidos pelo cenário, mais ou menos como o Genesis Scanner do primeiro Revelations –, e pode desferir ataques melee usando um pé de cabra, que também é útil para arrombar baús e portas. As duas ocasionalmente se separam para que Moira abra alguma porta ou opere algum mecanismo.
Já na parte de Barry e Natalia, o ex-integrante dos S.T.A.R.S. chega super bem equipado, com sua inseparável Magnum, um rifle, uma pistola e uma faca. Natalia pode no máximo dar tijoladas nos inimigos, mas ela possui um “dom” que lhe permite “sentir” a presença de inimigos próximos — o que é bem útil –, e por ser pequena ela pode passar por buracos e acessar áreas que Barry não alcança.
Como na prática a inteligência artificial do companheiro acaba não sendo tão inteligente quanto a gente gostaria, trocar de personagens se torna uma necessidade constante — você pode por exemplo, cegar um inimigo com a lanterna de Moira para deixá-lo mais vulnerável aos ataques de Claire.
Felizmente, nos consoles é possível jogar a campanha em modo cooperativo offline (tela dividida), então, caso tenha um player 2 para jogar contigo, é altamente recomendável que você vivencie o jogo em modo cooperativo, o que elimina o “troca-troca” de personagens e torna tanto a exploração quanto os combates bem mais dinâmicos.
O gameplay com todos eles segue a cartilha padrão dos Resident Evils modernos, parecendo uma mistura do que vimos em RE6 e no primeiro Revelations: você pode mirar e atirar (enquanto anda!), ou se abaixar para garantir mais precisão. Ah, e agora podemos andar abaixado para abordagens stealth. Também é possível desferir ataques corpo-a-corpo e se esquivar, e caso a coisa aperte para valer, correr para longe dificilmente salvará sua vida, mas pode pelo menos dar uma aliviada na tensão.
Elementos clássicos como as ervas verdes e vermelhas estão de volta, ficando estocadas em um inventário que — como de praxe — é bem limitado (cadas personagem tem o seu), mas pode ir sendo expandido conforme você encontra bolsas e coldres. Além de tirar sua energia, certos ataques podem te deixar sangrando ou causar cegueira temporária (tipo uns debuff debilitante), para resolver isso entram em cena novos itens como o torniquete e o desinfetante.
Bebendo na fonte de jogos como The Last of Us, agora é possível combinar itens aparentemente inúteis para criar algo melhor: garrafas vazias, por exemplo, podem ser combinadas com álcool ou pólvora para virarem coquetéis molotov ou explosivos. Além de criar itens, também é possível dar uma turbinada em suas armas, com kits de melhorias que aumentam poder de fogo, cadência de tiro e outros status.
Você também pode melhorar os atributos dos personagens, “comprando-os” usando BPs. Você consegue BPs coletando pedras preciosas (Moira e Natalia são boas para encontrá-las pelos cenários) e ao final de cada trecho da campanha, de acordo com seu desempenho. A árvore de evolução é bem grande, e concede não só melhorias, como novas habilidades para os personagens.
E o terror?
Resident Evil Revelations 2 traz um pouco o lado “trüe” da série em termos de sobrevivência: a munição e os itens de cura são relativamente escassos, e não há aquela mamata de inimigos mortos droparem dinheiro ou caixas de munição. Para economizar balas, o headshot continua sendo a melhor opção, ainda que o combo lanterna + ataques melee também seja bem útil contra inimigos isolados.
Revelations 2 não chega a dar medo, mas consegue te deixar tenso. Talvez os clássicos da série também não causem o mesmo impacto de antigamente (onde a molecada se borrava com qualquer cachorro quebrando a janela), mas é fato que aqui temos um jogo mais voltado para os momentos de tensão e suspense do que para o terror.
O cenário escuro e claustrofóbico com sangue para todo lado ajuda a criar este clima de tensão. Vez ou outra temos alguns sustos — no estilo daquele famoso cachorro da janela — mas as influências maiores são sem dúvida os jogos mais recentes da série e o próprio Revelations.
Embora seja um fã da série (que cansou de ver jogos ruins), admito que gosto desse meio termo que a série Revelations criou. Nem só terror, nem só ação e tiroteio, mas um pouco dos dois, com ênfase na exploração, na coleta de recursos e na sobrevivência. A receita funcionou bem antes antes, e continua funcionando aqui.
O modo raid
O primeiro episódio por si só deve durar no máximo 3 horas. Para oferecer mais conteúdo aos jogadores, a Capcom trouxe de volta o modo Raid, que está maior e mais completo do que nunca. Em uma pegada meio Animus, o modo Raid agora funciona como uma simulação, rodando na Red Queen (a inteligência artificial de Umbrella Chronicles que até apareceu no filme, lembra?), o que é praticamente uma carta branca para justificar a zoeira frenética.
No lobby — que é inspirado na mansão — você controla um avatar sem corpo que veste a skin de diversos personagens famosos da série, e existem vários personagens destraváveis. Aí é só equipar seu personagem, escolher o tipo de missão que quer fazer e partir para a matança. Existem desafios principais e diários que lhe rendem ouro, para você melhorar os atributos de cada avatar (todos podem chegar ao level 100).
No modo Raid toda a tensão e mistério é deixado de lado em prol da matança frenética: você garante mais ouro quando mata mais inimigos e completa a fase no menor tempo possível. Para evitar o farming, você não pode ficar jogando o mesmo mapa várias vezes, há um sistema de microtransações (feitas com dinheiro in-game, não de verdade) que obrigam o jogador a cumprir desafios e explorar novos mapas.
O modo Raid já chegou com vários mapas (alguns de jogos anteriores da série), e a cada novo episódio lançado, mais desafios serão implementados. Por enquanto ele só aceita jogo local, mas a Capcom já prometeu implementar a jogatina online depois que todos os episódios forem lançados. Na prática o modo Raid deve oferecer incontáveis horas de diversão para os fãs.
Audiovisual
Por ser um Resident Evil mais modesto, não espere pela qualidade gráfica de um AAA. O jogo está longe de ser feio, mas também não almeja ser o game mais bonito do ano nem explorar ao máximo o hardware da geração atual. As texturas deixam a desejar — especialmente em pedras e ambientes externos — e os inimigos possuem um visual “genérico” que se repete bastante.
Apesar disso, o game conta com personagens bem modelados e uma boa direção de arte, com cenários que, em determinados momentos, parecem artworks. As animações também cumprem seu papel — lembrando que o jogo roda em 60fps na nova geração — e as cutscenes tem um visual meio aquarelado bem interessante.
As dublagens são boas, valorizando a interação dos personagens e até tendo um certo sabor de nostalgia — não perca a piada que envolve o memorável “Jill Sandwich“. A trilha sonora se repete um pouco, mas os sons ambientes são muito bons, e jogar com um bom headphone deixa a experiência bem mais imersiva. Ah, e vale ressaltar que o jogo está totalmente legendado em português!
Veredicto do primeiro episódio
Como em uma série de TV, o primeiro episódio de um game serve para “dar o tom” do que vem por aí, na esperança de cativar (ou não) o público. Até aqui, Resident Evil Revelations 2 conseguiu fisgar minha atenção especialmente pelo seu roteiro, que é intrigante e bem trabalhado. O final do episódio é excepcionalmente bom, com um gancho planejado para nos deixar ansiosos.
E o mais legal é que , se pararmos para pensar, Revelations 2 funciona de forma independente: mesmo se você nunca jogou os clássicos e sequer sabe quem são Claire ou Barry, vai poder curtir o game. Esse é um spin off que se mantém perto da série o suficiente para agradar aos fãs old school, mas consegue se sustentar com as próprias pernas. Que a narrativa se mantenha boa, pois o primeiro episódio me deixou curioso.
Resident Evil Revelations 2 – Episódio 1: Penal Colony foi lançado no dia 24 de fevereiro, com versões para PC, PS3, PS4, X360 e XOne. Na semana que vem a gente confere como ficou o episódio 2. Fique ligado! 😉