Análise Arkade: Skate City traz “lo fi beats” e boas mecânicas com manobras em 2.5D
Os últimos tempos andam sendo bem movimentados para quem curte fazer umas manobras virtuais: os jogos de skate estão voltando com tudo! Skate City é um título mais indie, que não tem os atletas famosos ou a trilha licenciada de um Tony Hawk’s Pro Skater da vida, mas entrega boa jogabilidade e dezenas de bons desafios.
De 2020 para cá, os skates voltaram a ser assunto frequente no mundo dos games: em agosto, tivemos o interessante porém carente de conteúdo Skater XL. Logo depois, no comecinho de setembro, foi lançado o nostálgico e excelente revival/remake de Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2. Já no comecinho de 2021, soubemos que a EA criou um novo estúdio para trabalhar em um vindouro Skate 4.
Agora, temos um novo competidor querendo a atenção do público: Skate City tem um escopo menor, um orçamento mais modesto, mas não deixa nada a desejar no quesito “manobras radicais”.
Manobras em 2.5D
O game nos leva para dar um rolê por 3 cidades que são points mundialmente famosos do esporte: Los Angeles, Olso e Barcelona. Não há uma narrativa, um modo carreira, nem nada muito elaborado: simplesmente suba no seu skate e saia pelas ruas fazendo manobras.
Longe de transformar isso em uma limitação, Skate City traz mecânicas bastante robustas que, como em Skate e Skater XL, apoiam-se no uso dos dois analógicos do controle. Na verdade, Skate City foi pensado para as telas touchscreen – o jogo foi originalmente lançado no Apple Arcade –, mas as mecânicas foram muito bem adaptadas para os controles.
Funciona assim: como estamos sempre indo da esquerda da tela para a direita, o analógico esquerdo corresponde às manobras tipo tail, que usam a traseira do skate. Já o analógico direito assume a função das manobras tipo nose, utilizando a parte da frente do shape. E, claro, aí no meio existe todo um universo e ollies, flips e coisas do gênero — alguém mais versado em skate deve manjar.
Temos um botão de “acelerar” para pegar impulso, aí movemos um dos dois analógicos em alguma direção para saltar e fazer manobras do tipo tail ou nose — o que muda na prática é o pé de apoio que é usado para começar a manobra, e certas manobras só podem começar pelo tail, enquanto outras começam pelo nose.
Aqui não há os half pipes exagerados nem a física um tanto “flexível” da série Tony Hawk’s: os pulos são mais baixos, comportam uma manobra cada. Porém, ao misturar manobras de ar com manobras do tipo slide (deslizar em corrimãos e beiradas) e os famosos manuals (manobras de equilíbrio), é possível criar combos interessantes. Também pode-se girar no ar durante as manobras (pressionando LB/RB), o que rende mais uns pontinhos caso você mande algo tipo um giro 360º no meio da manobra.
Demora um pouquinho para a gente se acostumar aos controles (não ter um botão de pulo é bem esquisito, pois o próprio comando direcional das manobras já inclui o salto), mas passado o período de adaptação inicial, logo estamos conseguindo fazer bonito sobre o skate.
Conteúdo enxuto, mas variado
Uma das minhas principais críticas ao Skater XL era sua falta de conteúdo: o jogo parecia uma demo, soltava a gente em um mapa para andar de skate a esmo, sem objetivos ou desafios específicos. Algo que a série Tony Hawk’s sempre tirou de letra, com seu S-K-A-T-E colecionável, suas fitas VHS e seus desafios de score.
Skate City encontra um meio termo até que bem interessante entre os dois extremos: em cada uma das 3 cidades, podemos tanto andar livremente no modo Skate Infinito — onde o cenário torna-se um loop que nunca termina — cumprindo diversos desafios específicos — quanto participar dos Desafios, fases curtas onde nossa missão é cumprir algum objetivo específico antes de cruzar a linha de chegada.
Os Desafios são particularmente divertidos e desafiadores, especialmente caso você queira obter as 3 estrelas em todos os cenários. Em algumas fases você deve alcançar uma determinada pontuação. Em outras, vai ter que fazer manobras específicas em lugares marcados. Também há corridas contra a IA, pistas cheias de pedestres que devem ser evitados e até mesmo fugas da polícia!
Como já dito, são apenas 3 cidades disponíveis, mas cada uma delas rende um bocado de jogatina, considerando que há partidas sem fim e desafios em todas elas. Porém, sinto que falta um senso de progressão, um modo carreira, algo que nos estimule a seguir em frente, visto que nosso avanço depende simplesmente de liberarmos os 3 mapas: de início, podemos visitar apenas a primeira cidade, Los Angeles. As outras poderão ser acessadas depois que juntarmos algum dinheiro — o que conseguimos simplesmente jogando e cumprindo os desafios.
E por falar em dinheiro, o sistema de customização do nosso skatista é igualmente enxuto: sem marcas famosas e conteúdos licenciados, o game entrega variações simples de roupas, acessórios e, claro, partes de skates (shapes, trucks, rodinhas). Não é nada muito elaborado nem afeta o gameplay em si, mas é um lugar para você gastar o dinheiro que sobra. Dá até para comprar algumas manobras especiais.
Audiovisual
Skate City aposta em um visual 2.5D bem clean, quase minimalista, que não é particularmente inspirado, mas também não é feio. O jogo tem seu charme, especialmente por tudo ser pequenininho, o que lhe concede um ar de diorama, sabe?
As animações — especialmente das manobras — são muito boas, o que me leva a crer que houve algum trabalho de motion capture envolvido. Mesmo “presas” no plano 2D, as manobras são muito plásticas e estilosas — e no geral, parecem bastante realistas (falo como um leigo no assunto).
A trilha sonora, obviamente, não traz Offpring ou Bad Religion e muito menos Charlie Brown Jr. Esse é um jogo indie, afinal de contas. Mas, quem curte aquelas playlists estilo “lo-fi beats” vai se amarrar nas músicas do game, que tem essa pegada mais relax.
Não há vozes, mas o jogo recebeu localização para o nosso idioma. Claro que nomes de manobras não foram traduzidos, mas de resto, temos menus, tutorias e explicações em português brasileiro.
Conclusão
Eu estava bem curioso para experimentar Skate City e, no geral, saio satisfeito. Não é um jogo que vai explodir a sua cabeça, nem nada do tipo, mas oferece boas horas de diversão, embalados por músicas gostosas de ouvir e um gameplay que, depois que nos acostumamos, é muito funcional.
Acredito que Skate City se beneficiaria muito de um editor de pistas, algo assim, que estimulasse a comunidade a produzir mais conteúdo para ele. Mesmo com um bom número de missões em cada cidade, apenas 3 “pistas” diferentes é pouco.
Eu diria que o que temos aqui é um jogo competente, que oferece uma boa base para quem sabe virar uma franquia. O gameplay é super competente e o visual, se não impressiona, também não faz feio. Com um pouco mais de conteúdo (talvez um modo carreira, disputas online, leaderboards), Skate City seria ainda melhor. Do jeito que está, ele sem dúvida diverte, mas talvez não segure o jogador por muito tempo.
P.S. No meu review de Skater XL, um leitor apontou que skate “na vida real” é isso: repetição e muitas tombos no mesmo lugar até conseguir executar aquela suada manobra do jeito certo. Acredito que seja bem assim mesmo, e entendo que talvez minha necessidade por um “senso de progressão” seja uma questão absolutamente pessoal.
Mas, só posso falar por mim, da minha experiência com o(s) jogo(s) que analiso. E, na minha opinião, jogos de skate (e de esportes em geral) sempre ficam mais interessantes quando trazem um mínimo de storytelling para incentivar o avanço do jogador e dar um propósito à experiência. ¯\_(ツ)_/¯
Skate City já estava disponível para iOS e foi lançado ontem (06/05) para PC, Playstation 4, Xbox One (versão analisada, rodando no Xbox Series S) e Nintendo Switch.