Análise Arkade: a união faz a força no genérico Sonic Forces

18 de novembro de 2017

Análise Arkade: a união faz a força no genérico Sonic Forces

Em 2017, a Sega nos entregou não 1, mas 2 games do Sonic, para celebrar os 25 anos do personagem: já tivemos o memorável Sonic Mania há alguns meses… e agora, o nem tão memorável Sonic Forces.

Um inimigo mais rápido que o Sonic

Sonic Forces parte de uma premissa impensável para os fãs do personagem: Eggman criou/recrutou Infinity, um inimigo mais veloz do que o Sonic. Pior: ele possui misteriosos poderes de controle temporal, e ainda é capaz de criar cópias de alguns dos maiores antagonistas da série!

Sonic é facilmente subjugado por este novo vilão, e acaba aprisionado na nova versão da Death Egg, a Estrela da Morte customizada de Eggman. Vários meses se passam, e o domínio de Eggman só cresce. Para tirá-lo de lá, seus amigos decidem criar uma frente de ataque, e para isso precisarão recrutar todos os aliados que puderem… e é aí que entra o Sonic barrigudinho de outra dimensão e o seu Avatar, personagem totalmente customizável que você cria para ajudar os heróis.

Análise Arkade: a união faz a força no genérico Sonic Forces

A grosso modo, este é um jogo 3D do Sonic com algumas fases em 2D. Por termos o Avatar na jogada, o Sonic “de antigamente” acabou ficando em segundo plano, mas as poucas fases protagonizadas por ele estão entre as melhores do jogo, trazendo um pouco do feeling dos tempos áureos do ouriço.

Gameplay 3 em 1

com 3 personagens jogáveis, somos apresentados a 3 modos ligeiramente diferentes de se jogar: o Sonic barrigudinho se mantém no plano 2D, sem homing attack e com mecânicas bem similares às de antigamente, e até com uma habilidade oriunda de Sonic Mania. O Sonic moderno segue a pegada dos jogos 3D do herói, atropelando tudo o que estiver pela frente, mirando seus alvos durante o salto e “surfando” por trilhos, sempre em altíssima velocidade.

Análise Arkade: a união faz a força no genérico Sonic Forces

O Sonic moderno é tão cool que surfa até no espaço!

O Avatar mantém a essência do gameplay 3D, mas não é tão rápido quanto o Sonic. Para compensar, ele é equipado com uma espécie de manopla chamada Wispom, que pode tanto servir de grappling hook quanto “laçar” inimigos ou atacá-los com lança-chamas, um chicote elétrico e até uma enorme broca.

Estas manoplas ainda tem outra função: com a ajuda daqueles etzinhos de Sonic Colors, elas ganham a habilidade de interagir com certos elementos, acessando áreas e rotas que só podem ser ativadas por elas. A Wispom elétrica, por exemplo, pode seguir linhas flutuantes de anéis, impossíveis de serem acessadas de outra forma, enquanto a Wispom de fogo ganha um boost explosivo que permite que você “exploda” no ar, chegando a lugares mais altos.

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Fiz meu Avatar baseado na minha cachorrinha Panqueca. 🙂

O problema é que você nunca sabe se está com a manopla certa para cada fase, e se achar uma fila de anéis inacessível ou algo do tipo, fique avisado que você terá que mudar a manopla do Avatar e revisitar a fase se quiser ir até lá. O fato de não podermos trocar de manopla em tempo real é uma escolha de design um tanto bizarra, que deve estar ali mais para aumentar o fator replay das fases do que para realmente agregar algo à experiência.

Um jogo genérico

Ok, temos 3 protagonistas, 3 formas (ligeiramente) diferentes de jogar, mas e o jogo em si, é bom? Não muito. Se Sonic Generations foi um gol de placa da Sega que conseguiu agradar fãs de ontem e de hoje justamente pelo carinho nostálgico envolvido em sua concepção, Sonic Forces parece um produto “sem alma”, criado por um time que não soube conciliar level design e criatividade com a velocidade dos heróis.

Análise Arkade: a união faz a força no genérico Sonic Forces

O Sonic clássico, de volta à Green Hill Zone… de novo.

Ainda que tente repetir a fórmula de Generations, Sonic Forces parece qualquer outro jogo meia-boca do Sonic que saiu nos últimos anos. Nada aqui parece remotamente interessante ou criativo. Até temos algumas novas áreas bacanas, mas nenhuma delas tem a personalidade das fases antigas, e mesmo quando revisitamos Green Hill ou Chemical Plant em Sonic Forces, elas parecem destituídas de seu charme original.

Confira abaixo uma das fases da “nova” Chemical Plant (a qualidade do vídeo está meio zoada porque era um stream ao vivo). Repare que nem a icônica música tema da fase retorna:

O gameplay é super básico: nas fases 3D, basicamente mantemos a alavanca direcional para cima e mantemos o botão de boost pressionado o tempo todo. Nas fases 2D, o level design pouco inspirado oferece uma experiência muito mais linear. Na maior parte do tempo, Sonic Forces chega a parecer um jogo on rails: salvo aqueles tokens vermelhos pentelhos escondidos em lugares de difícil acesso, o game nunca nos oferece rotas verdadeiramente distintas para completar uma fase, algo que os jogos antigos faziam tão bem.

Sonic sempre foi um jogo sobre velocidade, mas aqui o level design pouco inspirado transforma isso em algo bem sem graça, ao ponto de parecer que estamos mais assistindo do que realmente jogando. Há coisas acontecendo no background e mudanças de câmera que tentam dar um ao cinematográfico ao game, mas mal conseguem disfarçar a simplicidade do gameplay.

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Isso para não mencionar o fato de que diversas fases mal duram 2 minutos — e quanto mais rápido você for, melhor é seu placar — o que talvez seja o motivo de o jogo estar o tempo todo querendo que você revisite-as para responder a chamados de SOS que, na prática, não mudam absolutamente nada na fase.

O Sonic Team (que não é mais o mesmo Sonic Team de antigamente, bom deixar claro) não sabe nem como nomear as dificuldades do jogo: temos um modo Normal com vidas infinitas no qual não se pode pegar mais de 100 anéis por fase, e o modo Hard que é meio que a experiência tradicional de Sonic que a gente já conhece. O problema é que muita gente começa jogando no Normal — que aqui corresponde ao Easy — e vai ter uma experiência muito estranha. Se você está lendo isso e já jogou algum game do Sonic na vida, comece logo pelo Hard, que é a maneira certa de se jogar.

Veja nosso gameplay de uma fase 3D do Sonic moderno jogando no modo Normal (que na verdade é o Easy). Novamente, qualidade do vídeo meio zoada é por conta do streaming:

E se estou sendo muito crítico com o jogo, é justamente porque sou um grande fã do ouriço, que sofreu um bocado nos últimos anos e estava esperando Sonic Forces fosse uma sequência digna de Sonic Generations. Infelizmente, ele não é. O que temos aqui é um jogo extremamente genérico, que salvo pelo sistema de criação de personagens, não apresenta nada realmente inovador.

Os Avatares

Sendo bem honesto, acho que o único ponto em que Sonic Forces realmente acerta a mão é na customização de Avatares. Sonic tem uma fan base enorme, que está o tempo todo criando personagens e fanfics que misturam os heróis oficiais com os inventados. Com os Avatares, as criações dos fãs passam a integrar oficialmente o cânone da série.

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Obviamente, a zoeira do Sanic da internet marca presença no game.

Opções de customização não faltam: você pode escolher a raça do seu Avatar — ele não precisa necessariamente ser um ouriço; dentre as opções temos cachorro, gato, pássaro, urso, coelho, e por aí vai, e cada raça tem alguma habilidade única. De início suas opções de personalização não são muitas, mas cada vez que uma fase é terminada ou um desafio é concluído, novas variedades de roupas, chapéus, sapatos e acessórios vão sendo desbloqueados — e existem literalmente centenas de opções.

Confira abaixo um pouco do vasto acervo de roupas e adereços que eu já tinha desbloqueado antes mesmo de terminar o game. Tem até um par de Crocs para equipar no bicho!

Além das fases próprias para Avatares, existem desafios online onde podemos jogar com Avatares criados pela comunidade, ou mesmo fases onde nosso Avatar age junto com o Sonic moderno — em uma pegada que lembra um pouco Sonic Heroes. Com a inclusão dos Avatares, a Sega acalenta sua fan base, mesmo que isso signifique tirar os holofotes de seus personagens principais.

Audiovisual

Sonic Forces é um jogo bem bonito e colorido, mas não é necessariamente uma evolução do que já vimos na franquia. Quase tudo continua sendo igual, não houve nenhum avanço significativo em termos de design e visual. O mais legal é vermos nosso Avatar customizado aparecendo também nas cutscenes, que não são pré-renderizadas, e justamente por isso, mantém o visual do nosso personagem do jeitinho que o deixamos enquanto ele interage com os heróis e vilões do game. Pelos e texturas aparecem muito detalhados nestas cutscenes.

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A trilha sonora traz uma característica dos Sonics mais modernos: muitas músicas cantadas, com uma pegada de J-POP bem grudenta. Particularmente, eu prefiro as boas e velhas músicas apenas “instrumentais”, que também estão presentes aqui, mas em menor quantidade. Nenhuma faixa me pareceu realmente marcante, mas elas também não chegam a ser ruins.

As dublagens e efeitos também são imediatamente familiares para qualquer um que jogou algum game recente do Sonic, incluindo aí alguns dos barulhinhos mais emblemáticos do mundo dos games. Nosso Avatar é mudo, mas o restante das dublagens é competente, ainda que os diálogos em si não sejam nada demais. Ah, e o jogo infelizmente não está localizado para o português brasileiro, então é bom que seu inglês esteja em dia para acompanhar as legendas.

Conclusão

Sonic Forces parece a antítese perfeita do maravilhoso Sonic Mania lançado há poucos meses: enquanto Mania foi claramente feito com extremo carinho e dedicação por verdadeiros fãs do ouriço, Forces parece um jogo qualquer, feito por um Sonic Team tão sem noção quanto aquele que nos entregou “pérolas” como Sonic Unleashed no passado.

Análise Arkade: a união faz a força no genérico Sonic Forces

Sonic e Panqueca salvam o dia! XD

Este ano tivemos 2 jogos do Sonic chegando às prateleiras, mas se você tiver que escolher apenas um para jogar, fique com Sonic Mania. Aquele sim é o legítimo presente de 25 anos que o mascote merece. Sonic Forces, por sua vez, é genérico e esquecível. Só o que vou me lembrar dele mesmo é o fato de minha cachorrinha Panqueca ter feito dupla com Sonic em suas aventuras. De resto, nada há de memorável. E, como fã do Sonic, me dói escrever isso.

Sonic Forces foi lançado em 7 de novembro, com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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