Análise Arkade: Spirit Mancer mistura boas ideias, mas que nem sempre funcionam bem juntas
Spirit Mancer é um indie game audacioso. De uma tacada só, ele busca combinar elementos de ação em 2D, com mecânicas de captura de criaturas deck building. Mas será que essa mistura funciona? Descubra em nossa análise!
Mais uma jornada do herói
O enredo de Spirit Mancer nos apresenta a Sebastian, um caçador de demônios um tanto arrogante que, após um incidente, acaba transportado (junto de sua irmã, Mary, que também é um personagem controlável) para um mundo estranho e cheio de criaturas peculiares.
Desprovido de suas armas, não demora para ele encontrar um artefato mágico — sua nova “mão demoníaca”, que é a Spirit Mancer do título — e assumir o papel de herói de uma profecia para derrotar a rainha dos demônios.
Não é uma trama nada criativa — a clássica jornada do herói reformulada pela enésima vez –, mas ganha pontos pelo carisma dos personagens. Temos cutscenes simpáticas e diálogos divertidos que ajudam a manter as coisas interessantes. Contudo, não espere muito aprofundamento nos personagens ou no universo do game em si.
Um detalhe interessante é que, como Mary também é uma personagem jogável, é possível curtir toda a campanha de Spirit Mancer em modo cooperativo local, um plus que sem dúvida pode agradar muita gente.
Pancadaria e cartinhas
A base da jogabilidade em Spirit Mancer é a de um hack ‘n slash 2D com trechos de plataforma. Há bastante ênfase em combos e launchers, o que rende ótimas pancadarias.
Começamos nossa jornada com uma espada demoníaca e uma arma de fogo, e logo descobrimos que, com a Spirit Mancer, podemos absorver a essência dos inimigos, que é então aprisionada em uma carta, que podemos usar para “summonar” a criatura em questão.
Com estes recursos à nossa disposição, entra uma camada um pouco mais estratégica dos combates, que bebe na fonte do famoso jokenpo — com inimigos que são vulneráveis a um tipo específico de ataque.
A chave do sucesso está em explorar essas fraquezas (ataques melee, tiros ou cartas) para quebrar o escudo dos monstros poder capturá-los, para então usá-los como habilidades temporárias. Na teoria é legal… na prática, nem tanto.
Explicando: ainda que esta mecânica de deck building/captura de monstros seja criativa, ela acaba se tornando chata e repetitiva contra inimigos comuns. Vez ou outra é mais simples “passar batido” e ignorar confrontos menores, já que lutar contra hordas similares raramente trará recompensas que valham a pena.
E por falar em recompensas, nossa progressão em Spirit Mancer está atrelada a moedas e gemas, que utilizamos para melhorar habilidades, cartas e desbloquear armas. Porém, a distribuição irregular de recompensas torna a evolução um pouco frustrante, obrigando o jogador a fazer um grinding que, pela própria distribuição irregular de recompensas, nem sempre vale a pena.
Opinião polêmica
E aí entra minha “picuinha” com Spirit Mancer. Sabe aquela frase “menos pode ser mais”? Pois é, temos aqui um jogo que, na minha opinião, seria muito melhor se oferecesse menos ferramentas ao jogador.
Digo isso porque, seu combate direto é muito competente. Emendar combos, jogar os inimigos para cima e continuar batendo, tudo isso é bem legal. Se focasse em ataques físicos + tiros, Spirit Mancer poderia ser quase um Devil May Cry 2D.
Mas ele não para por aí, pois existe a mecânica de captura de monstros. E, com ela, chega o sistema de montar seu deck com os monstros capturados. São muitas mecânicas complementares que não necessariamente deixam o combate mais gostoso — apenas mais burocrático e trabalhoso.
Sinto que, ao “atirar para todos os lados” os desenvolvedores perderam o foco e, com isso, o jogo virou um amálgama um tanto agridoce. Quando tudo se alinha, o combate brilha — as boss battles, por exemplo, são muito boas — mas, no geral, o que poderia ser um hack ‘n slash bastante decente é invadido por nuances que tornam tudo menos interessante. Mas, novamente, esta é só a minha opinião.
O audiovisual de Spirit Mancer
Visualmente, Spirit Mancer esbanja beleza, com uma pixel art colorida e vibrante, boas animações e grande variedade de cenários — ainda que se atenha a biomas manjados, como selvas, regiões vulcânicas, campos de neve e cavernas.
O character design também se destaca, especialmente nos chefes: criaturas enormes e intimidadoras, com animações fluídas e estilos únicos que complementam a experiência de combate.
A trilha sonora e os efeitos sonoros cumprem seu papel, mas não são particularmente marcantes. Vale ressaltar que o game possui menus e legendas em português brasileiro, algo sempre bem-vindo.
Conclusão
Spirit Mancer é um jogo cheio de boas ideias, que claramente foi desenvolvido com muito carinho. Porém, as ideias que ele traz nem sempre funcionam bem juntas, e esta falta de sinergia acaba comprometendo o resultado final.
Ao misturar combate melee e tiro com captura de monstros e construção de decks, nenhuma das mecânicas realmente tem espaço para brilhar. E o que sobra é um jogo que sobrecarrega o jogador com sistemas que não se complementam bem.
Se fosse só uma coisa ou outra, Spirit Mancer seria muito bom. Mas ao tentar ser tudo de uma vez, o jogo acaba derrapando. E quando se equilibra muitos pratos ao mesmo tempo, inevitavelmente alguns vão acabar caindo e se quebrando.
Spirit Mancer está disponível para PC, Playstation 5 (versão analisada) e Nintendo Switch. O game possui menus e legendas em português brasileiro.