Análise Arkade: Spyro Reignited Trilogy é nostalgia refeita com muito capricho
Depois do sucesso nostálgico da Crash Bandicoot N. Sane Trilogy, é hora de revisitarmos outro mundo mágico cheio de animais antropomorfizados que fizeram a nossa alegria nos tempos do Playstation 1. Com vocês, nossa análise da incrível Spyro Reignited Trilogy!
3 grandes aventuras pelo preço de 1
A trilogia original de jogos do dragãozinho Spyro foi lançada entre os anos de 1998 e 2000 — basicamente um jogo por ano. Esbanjando cores e carisma, eles foram produzidos pela Insomniac Games, empresa que anos mais tarde criou a série Ratchet & Clank e recentemente brilhou com seu maravilhoso Marvel’s Spider-Man.
Enquanto as aventuras de Crash Bandicoot foram jogos de plataforma mais tradicionais divididos em fases lineares e auto-contidas, Spyro claramente buscou inspiração em Super Mario 64, game que foi um divisor de águas no gênero plataforma e exploração 3D. Como resultado, temos jogos muito mais abertos, com cenários amplos e cheios de possibilidades de exploração.
Sendo bem honesto, enquanto Crash era um jogo de plataforma bastante desafiador, Spyro era mais um collect-a-thon mais amigável e menos punitivo. O gênero, que anda meio sumido, é caracterizado pela eterna busca dos 100% em todas as fases, coletando tudo o que há para ser coletado.
E há muito o que se coletar aqui: as 3 aventuras de Spyro são pautadas por buscas: no primeiro game, um ogro malvado transformou os outros dragões em pedra. No segundo, ele vai parar no reino de Avalar, e precisa coletar orbes mágicas para frustrar os planos do vilão Ripto e poder voltar para casa. Por fim, no terceiro game, a busca é pelos ovos de dragão, que foram roubados por uma feiticeira malvada.
As histórias são simples, mas ganham força pelo carisma dos personagens e do universo como um todo: os 3 jogos são leves e bem humorados, a exploração é prazerosa e o progresso acontece de forma lenta, mas gradual.
Uma trilogia formulaica (mas sempre evoluindo)
Há 20 anos, o mundo dos games era mais simples, mais pautado por fórmulas e repetições. Jogar os 3 jogos da trilogia Spyro em sequência meio que evidencia isso: os 3 jogos possuem muitos elementos em comum, desde tipos de inimigos até o básico do gameplay, que permanece essencialmente o mesmo ao longo da trilogia.
Por exemplo, há inimigos com escudos e armaduras de metal que são imunes ao seu fogo, e só podem ser derrubados na cabeçada. Eles estão presentes em todos os jogos, com “skins” diferentes, mas com o mesmo padrão de comportamento. Na prática, é meio que o mesmo inimigo, reciclado ao longo da série. Há outros exemplos de situações, criaturas e desafios que se repetem ao longo dos 3 jogos.
Na época dos lançamentos originais talvez isso não fosse tão evidente, pois havia um período de um ano entre um jogo e outro. Ao conferir a série assim, na sequência, porém, isso fica bem nítido. Mas, isso não quer dizer que os jogos sejam só “ctrl c + ctrl v” um do outro: Spyro está sempre passando por novos lugares e conhecendo personagens diferentes.
O primeiro jogo é o mais linear dos três, mecanicamente falando: lá Spyro passa o jogo todo com suas habilidades iniciais. A segunda aventura já traz um gostinho de Metroidvania, com lugares que só podemos acessar depois de adquirirmos alguma habilidade específica — tipo mergulhar ou escalar. Aliás, se no primeiro jogo ele coletava diamantes apenas por coletar, a partir do segundo foi introduzido um personagem que está sempre disposto a lhe ensinar coisas e fazer alguns “favores” em troca de algumas pedras preciosas.
O terceiro jogo vai ainda mais longe, e oferece outros personagens controláveis — tipo Sheila, uma canguru fêmea e Bentley, o Yeti, cada um com alguma habilidade específica — e até alguns mini-games um tanto aleatórios, tipo um desafio de skate (?!).
Aproveite e confira aí a apresentação da Sheila — que envolve o sacana do Gastão — dublada em português brasileiro:
Não acho que colocar um dragão em um skate fosse realmente necessário para o jogo, mas de resto, as novidades foram bem-vindas. E, pensando bem, talvez a Insomniac tenha tentado pegar carona no sucesso de Tony Hawk, que havia acabado de debutar no PS1.
Audiovisual soberbo
Se jogar os 3 games em sequência evidencia suas similaridades, isso também serve para vermos como a trilogia está bonita. Muito mais do que meros remasters, o que temos aqui são jogos totalmente refeitos, mas com total respeito ao design e ao conteúdo original. Isso quer dizer que o layout tanto dos personagens quanto dos inimigos foi mantido (na medida do possível), mas foi totalmente refeito, com novas cores e texturas.
O resultado é um jogo que parece um filme de animação, com cores vivas, animações fluidas e belíssimos efeitos de iluminação. Esta Spyro Reignited Trilogy não fica devendo nada para muito jogo de 2018, e figura fácil entre os remakes mais caprichados que já foram lançados.
Não lembro se o visual dos jogos originais mudou muito conforme a série evoluiu, mas aqui tudo foi feito junto, então há um senso de unidade que se harmoniza, deixando os três títulos equivalentes em termos audiovisuais e igualmente caprichados.
Falando em capricho, vale um destaque mais do que especial para algo que não existia originalmente: a dublagem em português. Todos os games da coletânea estão 100% em português, e as dublagens estão simplesmente excelentes, concedendo personalidade e carisma aos personagens.
Confira abaixo a intro animada dublada do primeiro jogo e me diga se não está incrível:
Se há algo que dá uma escorregada é justamente a qualidade de imagem das CGs. Sabe-se lá porque, elas claramente estão em resolução menor do que o jogo em si, e a diferença fica bastante óbvia em uma TV 4K (jogamos no Xbox One X), como se o vídeo da cutscene tivesse sido comprimido demais, algo assim. Felizmente, é um deslize pequeno, que de forma nenhuma desmerece o valor do conjunto da obra, que claramente foi feito com muito capricho.
Conclusão
Jogar a Spyro Reignited Trilogy é quase como viajar no tempo, e revisitar uma época em que os videogames estavam começando a experimentar coisas novas, que fossem um pouco além das tradicionais fases uma depois da outra. A série instiga o jogador a explorar cada cantinho, e revisitar áreas já concluídas com novas habilidades sempre pode render novas descobertas.
Com personagens carismáticos, gameplay muito bem calibrado e um capricho ímpar na produção, a Spyro Reignited Trilogy é altamente recomendável tanto para a galera das antigas, que conheceu o jogo no PS1, quanto para a turma mais nova, que vai poder descobrir porque o simpático dragãozinho roxo conquistou o coração de tanta gente.
Só, se me permite uma dica, jogue sem pressa, apreciando cada jogo um pouquinho de cada vez. Isso não só fará a experiência render mais, como minimiza a sensação de “já vi isso no jogo anterior” que fica quando a gente passa por todos eles em sequência. Independente disso, são 3 ótimos jogos, refeitos com extremo carinho e esmero.
A Spyro Reignited Trilogy foi lançada em 13 de novembro, com versões para Playstation 4 e Xbox One.