Análise Arkade: Tartarugas Ninja Out of the Shadows (X360, PC, PS3): pizza, pancadaria e bugs
Hora de pizza e muita pancadaria! Na sequência você confere nossa análise completa de Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows, o novo game das Tartarugas Ninja!
Out of the Shadows é um jogo que já chegou controverso por conta do visual “realista” que concedeu aos protagonistas. Como muitos outros fãs dos personagens – que cresceram assistindo aos desenhos animados e filmes “de Sessão da Tarde” das Tartarugas – também fiquei reticente, mas é fato que isso não incomoda tanto, e no jogo elas parecem “menos feias” do que nas primeiras artes conceituais que foram divulgadas.
Bom, mas antes de se aprofundar neste assunto, vamos falar da trama do game, que parte de uma premissa bem básica: April, a eterna amiga das Tartarugas, desapareceu misteriosamente enquanto investigava as atividades de uma gangue no porto da cidade. Felizmente, Donatello havia acoplado uma espécie de rastreador em suas botas, para poder monitorar os passos da garota.
Sabendo mais ou menos onde procurar, os quelônios partem para o resgate, e no caminho irão enfrentar centenas de capangas genéricos, ninjas, robôs e vários outros inimigos pertencentes a clãs famosos como os Purple Dragons, capitaneados pela ninja Karai, e os ninjas do Foot Clan, chefiados pelo temível Destruidor.
Quem acompanhou os desenhos animados e beat’ em ups da Tartarugas Ninja na década de 90 vai se sentir em casa. Lembra dos Mousers, aqueles robozinhos que parecem pequenos dinossauros que nos infernizavam nossa vida nos jogos de arcade? Pois eles estão de volta aqui, bem como seu criador, o perverso Dr. Baxter Stockman.
Outra coisa que (felizmente) está de volta é a personalidade das Tartarugas. Apesar do questionável novo visual, é bom ver que Leonardo ainda é o líder; Raphael, o esquentadinho brigão, Donatello continua sendo o inteligente (agora com uns dentes bem estranhos) e Michelangelo ainda é o alívio cômico da equipe. Rolam altos papos divertidos entre o quarteto, o que deixa tudo mais legal.
A personalidade de cada personagem é refletida também em estilos de jogabilidade bem distintos. Embora os comandos sejam essencialmente os mesmos (X para ataques armados, Y para chutes e B para contra-ataques), cada Tartaruga apresenta um estilo de luta bem diferente: Raphael segura seus sai ao contrário e dá joelhadas e caneladas em estilo Muay Thai, enquanto Michelangelo rodopia seus nunchucks e faz diversos malabarismos típicos do Ninjutsu enquanto briga.
Esta jogabilidade variada sem dúvida é um dos pontos altos do jogo: a mecânica lembra um pouco o que já vimos nos últimos games do Batman e em Sleeping Dogs, ou seja, mesmo cercadas de inimigos, as Tartarugas podem realizar ataques e contra-ataques multidirecionais, encadeando golpes variados para formar combos devastadores. Porém, cada estilo de luta possui seus golpes, sua cadência e sua velocidade, o que altera sutilmente o gameplay de cada personagem.
A variedade de golpes é tão grande que, mesmo depois de várias horas de jogo, você ainda verá ataques novos, que mudam de acordo com sua habilidade e com o tamanho e o timing do seu combo. A animação das Tartarugas é muito fluida e natural, mesmo nas acrobacias mais mirabolantes.
Temos ainda um grande variedade de golpes especiais que demandam certa prática, pois boa parte deles são aplicados mantendo-se o gatilho direito (RT) pressionando e fazendo comandos do tipo “meia lua” no analógico direito. São vários os tipos de golpes especiais, geralmente acompanhados de efeitos bullet time bem bacanas.
Para a contagem de hits não parar, saiba que aqui a velocidade não é o fator determinante dos combates; o sucesso é mais uma questão de timing para alternar entre socos, chutes, contra-ataques e golpes especiais de maneira fluida. Demora um pouco para pegar a manha, mas depois das primeiras horas de jogo, você estará rodopiando com muita desenvoltura pelos cenários enquanto espanca seus inimigos.
Embora exista a possibilidade de jogo online, confesso que me diverti muito mais jogando a campanha de Out of the Shadows sozinho. Digo isso porque, ao jogar sozinho, pode-se alternar entre as 4 Tartarugas em tempo real (usando o direcional digital), o que acrescenta ainda mais dinamismo ao gameplay. Com um pouco de habilidade, é possível alternar entre os personagens e manter a contagem de hits rolando ininterruptamente, o que resulta em combates bem empolgantes.
Como o trabalho em equipe sempre foi fundamental para esta equipe, o game ainda conta com uma boa variedade de ataques em conjunto. Alguns podem ser comprados conforme você sobe de nível, outros acontecem aleatoriamente quando, por exemplo, 3 Tartarugas estão bem próximas quando você aciona um golpe especial. Isso também vale para os taunts: cada Tartaruga possui sua “zoação” específica, mas vez ou outra elas executam um high five, e até fazem uma dancinha sincronizada.
Para manter a jogabilidade bem variada, a Red Fly Studios acrescentou toneladas de habilidades destraváveis para cada personagem. E o legal é que, novamente, não estamos falando de habilidades genéricas, mas de recursos que, em sua maioria, condizem com o perfil de cada Tartaruga.
Raphael, por exemplo, tem um ganho de força por conta do seu pavio curto, enquanto Donatello adquire habilidades que lhe permitem hackear sistemas e destrancar portas com mais rapidez e Michelangelo usa seu alto astral para levantar os atributos do time. Acredite: muitos RPGs modernos não oferecem uma árvore de habilidades tão extensa e variada quanto a que temos aqui.
Quando não estiver espancando acrobaticamente malfeitores, você estará explorando cenários relativamente lineares em busca de itens, hackeando portas (em mini-games bem chatos, então fica a dica: invista seus pontos de experiência nas habilidades cerebrais de Donatello o quanto antes), praticando parkour em terraços e esgotos e até mesmo eliminando inimigos em modo stealth. Geralmente o jogo não te explica quando e onde você pode assumir uma postura stealth ou surfar em um corrimão (a falta de informação é algo bem comum aqui), então sugiro que você gaste algum tempo fazendo experiências para conhecer estas pequenas nuances na jogabilidade.
Com tudo isso, podemos dizer que a jogabilidade de Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows é sólida e extremamente competente. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo de seus aspectos técnicos. Sem exagero, este é um dos jogos mais bugados dos últimos tempos, incluindo aí grandes títulos de mundo aberto como Skyrim ou Red Dead Redemption.
Paredes invisíveis, armas que ficam flutuando no ar, personagens que ficam enroscados em elementos do cenário, câmera que se perde, eventos scriptados que simplesmente não acontecem (e te deixam “travado”, sem saber o que fazer), personagens que atravessam paredes, inteligência artificial altamente questionável, vozes e legendas que se sobrepõem ou somem aleatoriamente, quedas de framerate, inimigos que “morrem e esquecem de deitar”… você terá que conviver com estes – e muitos outros bugs – enquanto joga.
Até o mais caprichado dos jogos tem seus bugs, mas a quantidade e frequência de bugs de Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows é praticamente uma afronta. É impossível jogar mais do que alguns minutos sem esbarrar em algum bug. Isso deixa o jogo com a maior cara de “feito nas coxas”, embora a jogabilidade se esforce para mostrar o contrário.
Essa falta de capricho é especialmente frustrante se considerarmos que, mesmo com a “polêmica” remodelagem das Tartarugas, o visual do game como um todo é bem bacana – para os padrões de um jogo de 15 dólares lançado apenas digitalmente.
Claro que ele está longe de ser um deleite para os olhos, mas sua rica paleta de cores, suas animações extremamente fluidas, seu visual estilizado (com cutscenes que parecem história em quadrinhos) e sua boa iluminação (destaque especial para os relâmpagos) compõem uma mistura interessante.
A trilha sonora é bem variada, misturando temas orientais com batidas eletrônicas e uma pitada de hip hop. As dublagens são muito boas e condizem com a personalidade de cada Tartaruga, embora a falta de variedade nas falas e os já mencionados bugs acabem afetando a qualidade final. Parece que o esmero na criação de uma jogabilidade bacana ficou de fora nas demais áreas que compõem um jogo.
Para fazer valer o seu investimento, a Red Fly colocou muito conteúdo adicional neste jogo. Cada capítulo da campanha que você termina abre uma “mini versão” daquela mesma fase, para ser jogada em estilo side scroll 2.5D (imagem abaixo), mais ou menos como eram os jogos das Tartarugas de antigamente. Esse é um adendo muito legal, pois mistura o estilo de ontem com a jogabilidade de hoje, e rende mais uma boa dose de pancadaria, especialmente no multiplayer local.
Além disso, temos artworks destraváveis (que ficam expostas como imãs na geladeira do QG das Tartarugas, uma boa sacada), um dojo para treinos supervisionados pelo Mestre Splinter e até uma oficina, onde Donatello pode melhorar os equipamentos da equipe e criar armas novas (como uma manopla antigravitacional).
Em resumo, Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows é um jogo de altos e baixos: sua jogabilidade e seu sistema de evolução são extremamente caprichados, mas seu constrangedor excesso de bugs sem dúvida afeta drasticamente a qualidade final do produto e pode até causar frustração: em dado momento, um evento scriptado simplesmente não ocorreu, e tive que refazer um capítulo todo novamente.
Espero que a Red Fly Studios e a Activision estejam preparando uma boa leva de patches para corrigir o game. Do jeito que está, ele parece o beta de algo inacabado, que precisa de (e merece) muito polimento. Um jogo muito divertido de se jogar, mas doloroso de se ver.
http://youtu.be/1wawuCLoCIA
Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows já está disponível para download na Xbox Live e no Steam por 15 dólares. Na PSN, o jogo chega em 24 de setembro.